Gregório, o Patrício
Gregório, o Patrício (também conhecido como Gregório de Cartago e Conde Gregório; em grego: Γρηγόριος; em latim: Flavius Gregorius; m. 647) foi um patrício bizantino que se notabilizou como exarco de Cartago (governador provincial). Parente da dinastia heracliana, Gregório foi um feroz calcedoniano e liderou uma rebelião em 646 contra o imperador Constante II devido ao apoio deste último ao monotelismo. Logo após declarar-se imperador, ele enfrentou uma invasão árabe em 647. Apesar de ter enfrentado os invasores, foi decisivamente derrotado e morto na sua capital, Sufétula. A África retornou à lealdade imperial depois de sua morte e da retirada dos árabes, mas os fundamentos do domínio bizantino haviam sido fatalmente comprometidos.
Gregório, o Patrício | |
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Morte | 647 Sufétula |
Causa da morte | batalha |
Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | patrício, exarco de Cartago, imperador de África |
Religião | Cristianismo |
Biografia
editarGregório tinha laços de sangue com o imperador Heráclio (r. 610–641) e seu filho Constante II (r. 641–668), pois o seu pai, Nicetas, era primo de Heráclio. A primeira menção histórica a Gregório é de Teófanes, que o menciona como exarco de Cartago ("patrício de África") em julho de 645,[1][2][3] mas pode ter sido nomeado ainda durante o reinado de Heráclio.[4][5]
O exarcado encontrava-se então em turbulência interna, devido ao conflito entre a maioria de ortodoxos calcedônios e os partidários do monotelismo, uma tentativa de compromisso entre o calcedonismo e o monofisismo criado e promovido por Heráclio em 638. Na África, o último foi principalmente defendido por refugiados do Egito. Em um esforço para diminuir as tensões, em julho de 645 Gregório organizou um debate teológico em sua capital Cartago entre o calcedoniano Máximo, o Confessor e o monotelista e ex-patriarca de Constantinopla, Pirro. Gregório ajudou a promover a reconciliação entre os dois, e Pirro re-adotou a posição calcedoniana.[4][2][3] Ao longo dos meses seguintes, o monotelismo foi condenado como heresia em vários sínodos locais reunidos na África.[1]
Em 646, Gregório iniciou uma rebelião contra Constante. A razão óbvia foi o apoio deste último ao monotelismo, mas, sem dúvida, foi também uma reação à conquista muçulmana do Egito e à ameaça que esta representava para a África bizantina.[1] Dado ao fracasso do governo imperial em Constantinopla para parar o avanço muçulmano, foi, nas palavras de Charles Diehl "uma grande tentação para o poderoso governador da África de separar-se do império fraco e remoto que parecia incapaz de defender seus súditos". Diferenças doutrinárias e a autonomia de longa data do exarcado africano, reforçaram também essa tendência.[6]
O cronista árabe Atabari por outro lado alega que a revolta de Gregório foi provocada por um tributo pedido por Constante de cerca de 90 quilos de ouro. Fontes árabes afirmam que após ele proclamar-se imperador ele cunhou moedas com sua efígie, mas até agora nenhuma foi encontrada.[2][7][8] Parece que ambos Máximo, o Confessor e o papa Teodoro I encorajaram ou ao menos ajudaram Gregório neste empreendimento. Assim, o papa supostamente enviou um emissário para transmitir um sonho de Marcos, segundo o qual dois coros de anjos rivais gritavam "Vitória de Augusto Constantino [Constante]" e "Vitória para Augusto Gregório", com o primeiro gradualmente silenciando-se.[1][3] A revolta parece ter encontrado amplo apoio entre a população, não só entre os africanos romanizados, mas também entre os berberes do interior.[7]
Em 642–643 os árabes haviam tomado a Cirenaica e a metade oriental da Tripolitânia, juntamente com Trípoli. A expansão islâmica para ocidente só parou por ordem do califa ortodoxo Omar (r. 634–644).[9] Em 647, contudo, o sucessor de Omar, Otomão (r. 644–656), ordenou que Abedalá ibne Sade e Abedalá ibne Zobair invadissem o exarcado com 20 000 homens. Os muçulmanos invadiram a Tripolitânia ocidental e avançaram até o limite norte da província bizantina de Bizacena. Gregório confrontou os árabes em seu retorno para Sufétula, mas foi derrotado e morto.[10][11] Agápio de Hierápolis em algumas fontes siríacas reivindica que ele sobreviveu à derrota e fugiu para Constantinopla, mas estudiosos mais modernos aceitam o registro das crônicas árabes de sua morte em batalha.[1][3][12] Os registros árabes também reivindicam que os muçulmanos capturaram a filha de Gregório, que lutou ao lado de seu pai. Ela foi levada de volta para o Egito como parte do espólio, mas caiu de seu camelo em marcha e foi morta.[2][13]
Após a morte de Gregório, os árabes saquearam Sufétula e invadiram todo o exarcado, enquanto os bizantinos retiraram-se para suas fortalezas. Incapazes de atacar as fortificações bizantinas, e satisfeitos com os lucrativos saques levados a cabo, os árabes concordaram em partir em troca do pagamento de um pesado tributo em ouro.[14] Apesar de não se terem registado mais ataques árabes durante algum tempo e dos laços do exarcado com Constantinopla terem sido restabelecidos, o domínio bizantino sobre a África foi agitado devido à rebelião de Gregório e à vitória árabe. As tribos berberes, em particular, não mantiveram a sua aliança com o império, e a maior parte do que é atualmente o sul da Tunísia parece ter saído da órbita de controle de Cartago.[15] Assim, a batalha de Sufétula marcou "o fim, mais ou menos próximo, mas inevitável, da dominação bizantina na África".[16]
Referências
- ↑ a b c d e Hollingsworth 1991, p. 875.
- ↑ a b c d Winkelmann 2000, p. 49–50.
- ↑ a b c d Martindale 2000, p. 554.
- ↑ a b Moore 1999.
- ↑ Pringle 1981, p. 46.
- ↑ Diehl 1896, p. 554–556.
- ↑ a b Diehl 1896, p. 557.
- ↑ Guery 1981, p. 66–68.
- ↑ Diehl 1896, p. 557–558.
- ↑ Diehl 1896, p. 558–559.
- ↑ Pringle 1981, p. 47.
- ↑ Diehl 1896, p. 556–557.
- ↑ Diehl 1896, p. 559.
- ↑ Diehl 1896, p. 559–560.
- ↑ Diehl 1896, p. 560–561.
- ↑ Diehl 1896, p. 562.
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Gregory the Patrician», especificamente desta versão.
Bibliografia
editar- Diehl, Charles (1896). L'Afrique Byzantine. Histoire de la Domination Byzantine en Afrique (533–709). Paris: Ernest Leroux
- Guery, R. (1981). «Le pseudo-monnayage de l'usurpateur Grégoire, patrice d'Afrique». Bulletin de la societé francaise de numismatique
- Hollingsworth, Paul A. (1991). «Gregory». The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-504652-6
- Martindale, John Robert; Arnold Hugh Martin Jones; J. Morris (2000). The Prosopography of the Later Roman Empire, Volume III: A.D. 527–641. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-20160-5
- Moore, R. Scott (1999). «Gregory (646-47 A.D.)» (em inglês). Indiana University of Pennsylvania. Consultado em 18 de dezembro de 2015
- Pringle, Denys (1981). The Defence of Byzantine Africa from Justinian to the Arab Conquest: An Account of the Military History and Archaeology of the African Provinces in the Sixth and Seventh Century. Oxford: British Archaeological Reports. ISBN 0-86054-119-3
- Winkelmann, Friedhelm; Ralph-Johannes Lilie et al (2000). «Gregorios (# 2345)». Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit: I. Abteilung (641–867), 2. Band: Georgios (# 2183) – Leon (# 4270). [S.l.: s.n.] ISBN 978-3-11-016672-9