Alexander Grothendieck
Alexander Grothendieck (Berlim, 28 de março de 1928 — Saint-Girons, 13 de novembro de 2014)[3] foi um matemático nascido na Alemanha e naturalizado francês em 1971. Foi o fundador de uma escola própria sobre geometria algébrica, cujo desenvolvimento influenciou profundamente na década de 1960. Em 1966 recebeu a Medalha Fields, que recusou. Foi célebre por suas firmes posições pacifistas e ecologistas.
BiografiaEditar
Desconhecido para o grande público e considerado por muitos de seus colegas um dos matemáticos mais importantes do século XX, Grothendieck era filho de uma jornalista socialista revolucionária e de um fotógrafo anarquista judeu russo, que emigrou para a Alemanha após ser condenado primeiro pelo regime czarista e depois pelos comunistas. Seus pais também tiveram que abandonar a Alemanha em 1933 após a ascensão dos nazistas ao poder e partiram para a França, antes de seguir para a Espanha para se somarem à causa republicana.
O pequeno Alexander ficou aos cuidados de um amigo da família em Hamburgo até que a família voltou a se reunir em Nîmes ao término da guerra civil espanhola, em 1939, mas os Grothendieck passaram pouco tempo juntos. Meses depois, o pai foi enviado a Auschwitz, onde morreu em 1942. A mãe e ele terminaram no campo de concentração de Rieucros, nos Pirenéus, onde Alexander começou a se interessar pela matemática. Formou-se e foi estudar matemática em Montpellier, onde um professor detetou no jovem formado algumas aptidões extraordinárias.
Influenciado pelas ideias políticas do maio de 1968, afastou-se por volta de 1970 de sua posição central na vida matemática de Paris e, por exemplo, procurou auxiliar os matemáticos norte-vietnamistas que padeciam sob a Guerra do Vietnã, mediante manifestações pessoais, desaparecendo completamente do contato público em 1991. Residiu nos Pirenéus, em local conhecido apenas por poucos amigos.
Mas o mito sobre sua genialidade não surgiu até que os grandes matemáticos Laurent Schwartz e Jean Dieudonné entregaram a ele, quando tinha 20 anos, uma lista com 14 problemas sobre os quais trabalhar nos próximos anos e pediram que elegesse um. Meses mais tarde Alexander Grothendieck voltou a se encontrar com seus professores e entregou os 14 problemas resolvidos. Nos meses posteriores redigiu o equivalente a seis teses, trabalho que um aluno aplicado teria levado entre três e quatro anos. Nos anos seguintes, o jovem prodígio dedicou-se à análise funcional, um trabalho revolucionário, mas menos transcendente que seus estudos posteriores, onde se destacou por sua capacidade para generalizar e criar novos pontos de vista.
Com o passaporte Nansen que a ONU dava aos refugiados sem pátria, já que se recusava a assumir a nacionalidade francesa, Grothendieck trabalhou a partir de 1953 durante dois anos como professor no Brasil e nos Estados Unidos antes de se alistar no Instituto de Altos Estudos Científicos (IHES), ao sul de Paris e financiado pelo empresário Léon Motchane. Foi nessa instituição que dirigiu um seminário de geometria algébrica que trouxe uma nova visão sobre a geometria inspirada em sua obsessão por repensar o espaço com noções sobre as quais os matemáticos ainda hoje trabalham.
Em 1966 recebeu a medalha Fields, considerada o Nobel da matemática, um prêmio que não foi receber por motivos políticos e que depois leiloou para financiar os norte-vietnamitas na guerra contra os Estados Unidos. Não foi a única distinção – e dotações econômicas – que Grothendieck recusou. Ele dizia que seus trabalhos deveriam ser julgados pelo tempo e não pelos homens. Paulatinamente foi se afastando da comunidade científica e se aproximando de movimentos ecologistas radicais. Nesses anos recusou também seu posto no prestigiado Colégio da França para se transformar em professor da Universidade de Montpellier e, entre 1984 e 1988, no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS).
Em 1990 retirou-se para os Pirenéus franceses, passando a viver discretamente num local que era conhecido somente por poucos amigos e exigiu que seus escritos não publicados fossem destruídos.
ObrasEditar
Suas publicações matemáticas abrangem as áreas da topologia, geometria algébrica e análise funcional. Posteriormente publicou nas áreas da ecologia, filosofia, religião e principalmente esoterismo.
Devido a ter passado a maior parte de sua vida na França, seu nome é habitualmente citado como Alexandre (e não Alexander) Grothendieck, enquanto ele mesmo afirmava ter mantido seu nome original.
BibliografiaEditar
- Serre (Ed.): Grothendieck-Serre correspondence, AMS 2003
- Cartier, Illusie, Katz (Ed.): Grothendieck Festschrift, 3 Bde., Birkhäuser 1998 (Bibliografia de seus escritos )
- Pierre Cartier: A mad days work - from Grothendieck to Connes and Kontsevich, Bulletin AMS 2001, online[4]
- ders. Grothendieck et les motifs, IHES 2000 preprint, online[5]
- Leila Schneps, Lochak (Ed.): Geometric Galois actions- around Grothendiecks Esquisse d'un programme, Londres Math.Society Lecture Notes, Cambridge 1997 (com Grothendiecks Esquisse)
- Pragacz: The life and work of Alexander Grothendieck, American Mathematical Monthly, Novembro de 2006
- Robin Hartshorne: Algebraic geometry, Springer 1997
Referências
- ↑ «Alexandre Grothendieck, ou la mort d'un génie qui voulait se faire oublier» (em francês)
- ↑ Alexander Grothendieck (em inglês) no Mathematics Genealogy Project
- ↑ publico.pt (15 de novembro de 2014). «Morreu um gigante da matemática e eremita radical». Consultado em 15 de novembro de 2014
- ↑ «American Mathematical Society». American Mathematical Society (em inglês). Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ «Pierre Cartier Prepublications». www.ihes.fr. Consultado em 28 de março de 2021
Ligações externasEditar
- Literatura de e sobre Alexander Grothendieck (em alemão) no catálogo da Biblioteca Nacional da Alemanha
- John J. O’Connor, Edmund F. Robertson: Alexander Grothendieck. In: MacTutor History of Mathematics archive.
- Alexander Grothendieck (em inglês) no Mathematics Genealogy Project
- «Grothendieck Circle», dort auch links zu online Arbeiten (z.B. EGA, SGA, Esquisse, Recoltes et semailles)
- Comme Appelé du Néant – As If Summoned from the Void: The Life of Alexandre Grothendieck, de Allyn Jackson http://www.ams.org/notices/200409/fea-grothendieck-part1.pdf und http://www.ams.org/notices/200410/fea-grothendieck-part2.pdf
- «Scharlau, Poenaru a Grothendieck, Notices AMS 2008»
- «Barry Mazur „What is a motive?", Notices AMS Novembro de 2004, inglês, pdf-Datei»
- «Luc Illusie „What is a topos?", Notices AMS Outubro 2004, inglês, PDF»
- «Würdigung von Scharlau anlässlich des 80. Geburtstages» Die Zeit, 27 de Março de 2008
- «Scharlau com material Materialien para sua planejada Grothendieck Biografia»
- «Deutschlandradio Kultur a Grothendieck»
Precedido por Lars Hörmander e John Milnor |
Medalha Fields 1966 com Michael Atiyah, Paul Cohen e Stephen Smale |
Sucedido por Alan Baker, Heisuke Hironaka, Sergei Novikov e John Griggs Thompson |