Haroldo Lima
Haroldo Borges Rodrigues Lima CBJM (Caetité, 7 de outubro de 1939 – Salvador, 24 de março de 2021) foi um político brasileiro filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB).[1]
Haroldo Lima | |
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Em 18 de agosto de 2009, durante depoimento à CPI da Petrobras no Senado. Foto:José Cruz/ABr. | |
Diretor geral da ANP do Brasil | |
Período | 15 de janeiro de 2005 até 11 de dezembro de 2011 |
Antecessor(a) | Sebastião do Rego Barros Netto |
Sucessor(a) | Magda Chambriard |
Deputado federal pela Bahia | |
Período | 1 de fevereiro de 1983 até 31 de janeiro de 2003 |
Dados pessoais | |
Nascimento | 7 de outubro de 1939 Caetité, Bahia |
Morte | 24 de março de 2021 (81 anos) Salvador, Bahia |
Partido | PCdoB (1972-1982) PMDB (1982-1985) PCdoB (1985-2021) |
Biografia
editarFilho de Benjamin Teixeira Rodrigues Lima e da professora Adelaide Borges Rodrigues Lima, Haroldo Lima, nasceu em Caetité, Bahia. Pertence a tradicional família caetiteense - descendente do Barão de Caetité e do primeiro governador eleito do Estado da Bahia, Joaquim Manoel Rodrigues Lima
Em 1958 ingressa no curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal da Bahia, onde milita nos movimentos estudantis como a Juventude Universitária Católica, União dos Estudantes da Bahia (UEB) e a UNE - nesta última ao lado do também caetiteense Oliveiros Guanais.
Entre 1961 e 1963, participa do grupo constituído por Herbert José de Souza, o Betinho, Aldo Arantes e outros, que fundou a Ação Popular (AP), movimento revolucionário armado que posteriormente fez oposição ao regime militar.
Trabalhou por algum tempo na Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia - Coelba, da qual afastou-se entre 1967 e 1968, para dedicar-se à militância política na clandestinidade, condição em que permaneceria por dez anos. Pouco depois, sua esposa Solange Silvany Rodrigues Lima seria presa e condenada, no primeiro caso de mulheres presas políticas da Bahia, durante o regime militar.
À época da promulgação do AI-5, em novembro de 1968, trabalha como diarista na lavoura, na Região Cacaueira da Bahia, em Itabuna e Buerarema. Sua missão era organizar politicamente os trabalhadores rurais, para combate ao regime.
Em 1969, transfere-se para São Paulo, de onde coordena a Comissão Nacional Camponesa de AP. Nessa condição percorre praticamente todo o Brasil, visando escolher as futuras áreas de guerrilha.
Em março de 1971, a AP adotou formalmente o leninismo e se proclamou partido com a denominação de Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Entre 1971 e 1972, participa do núcleo principal das discussões políticas e ideológicas que resultaram na incorporação da Ação Popular Marxista Leninista do Brasil ao Partido Comunista do Brasil.
Haroldo passa a compor a Comissão Executiva do Comitê Central do PCdoB, que tinha João Amazonas como dirigente principal, e passa a integrar a Comissão de Organização do Partido. Na época, todo esforço do partido destinava-se a apoiar guerrilha do Araguaia, iniciada em abril de 1972.
Em 15 de dezembro de 1976, o aparelho onde acontecia uma reunião do Comitê Central do PCdoB, no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, foi invadido pela repressão.[2][3] No episódio, que ficou conhecido como "Chacina da Lapa", foram mortos Ângelo Arroyo, Pedro Pomar e João Batista Drumond, e presos Haroldo Lima, Aldo Arantes, Elza Monnerat, Vladimir Pomar e Joaquim Celso de Lima.[2][3][4]
À prisão, seguiram-se torturas, denunciadas por Haroldo nos tribunais militares, após o que passou quase três anos entre o Presídio do Barro Branco, em São Paulo, e a Penitenciária Lemos Brito, em Salvador. Com o início do processo de abertura política, Haroldo foi solto em 1979, por força da anistia política.
Em 1981, é novamente preso, acusado de ter articulado um grande "quebra-quebra" de ônibus urbanos, em protesto contra aumento do preço das passagens de ônibus em Salvador.
Nessa época, junta-se a Rômulo Almeida, Waldir Pires, Francisco Pinto, Élquisson Soares e outros para fundar o PMDB na Bahia, em cujo interior, Haroldo, juntamente com Francisco Pinto e Elquisson, organiza a "Tendência Popular" do PMDB. O PCdoB passa a atuar politicamente sob essa forma, por força das leis discricionárias ainda em vigor. O Presidente do PMDB, Ulisses Guimarães, sabia e apoiava a atividade dos comunistas dentro do PMDB.
Por essa ampla frente política que era o PMDB, Haroldo Lima foi eleito deputado federal em 1982, sendo um dos mais votados de Salvador, com aproximadamente 30 mil votos naquela capital. Com a legalização dos partidos de esquerda, em 1985, Haroldo Lima pode filiar-se oficialmente ao PCdoB.
Foi deputado federal constituinte, em 1988, ganhando notoriedade por sua briga com o português naturalizado brasileiro José Lourenço, representante da direita e líder do PFL, que o acusava de ser o "Enver Hoxha brasileiro".
Haroldo denunciava, da tribuna, ser Gorbatchev um "traidor do socialismo", clamava por uma assembleia "democrática e progressista". Foi eleito, neste mandato, com uma expressiva votação de 40 mil eleitores - que nunca mais se repetiu - sob o slogan "Botando pra quebrar na Constituinte". Apresentou cerca de 1 200 emendas ao projeto de Constituição, conseguindo aprovar várias delas. Recebeu do DIAP nota 10 e o jornal Folha de S.Paulo o colocou entre os 40 mais destacados constituintes.
No Congresso Nacional foi crítico das políticas neoliberais, que incluíam o desmonte das estruturas do Estado e a minarquia, privatização de empresas estatais estratégicas, quebra dos monopólios constitucionais. Criticou também a abertura comercial sem critérios e alertou para os riscos da inserção do Brasil na economia globalizada em condições desfavoráveis para o país.[5]
Foi derrotado na eleição para o Senado Federal em 2002, sendo nomeado diretor geral da ANP, no governo Lula. A Agência tem sido criticada, notadamente pelo movimento sindical,[6] por continuar as licitações, iniciadas na era FHC, visando a exploração de blocos petrolíferos brasileiros por empresas privadas. Em 2011 foi condecorado com o título de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira[nota 1], que é concedido a brasileiros reconhecidamente dedicados às causas nobres, humanas e sociais que tenham resultado no desenvolvimento político e socioeconômico do Brasil, melhorando significativamente a vida das pessoas.[7][8]
Deixou o cargo em dezembro de 2011.[9] O cargo foi ocupado interinamente pelo diretor Florival Rodrigues de Carvalho. Em março de 2012 a presidente Dilma Rousseff nomeou Magda Chambriard para ocupar a vaga de diretora-geral.[10]
Após deixar a ANP, Haroldo foi consultor da petroleira HRT, fundada em 2008 por ex-funcionários da Petrobrás.[11]
Haroldo Lima contraiu Covid-19 no início de março e foi internado por duas semanas num hospital de Salvador, falecendo em 24 de março de 2021.[12]
Anúncio polêmico
editarNo dia 14 de abril de 2008, durante o 4º Seminário de Petróleo e Gás Natural promovido pela FGV, no Rio de Janeiro, Haroldo Lima falou sobre a possível descoberta do terceiro maior campo de petróleo do mundo,[13] na Bacia de Santos.
O megacampo estaria localizado no poço conhecido como Carioca, ou BM-S-9 e seria cinco vezes maior que o megacampo de Tupi, com reservas em torno de 33 bilhões de boe (barris de óleo equivalente). O BM-S-9 é operado pelo consórcio constituído pela Petrobras, que detém 45% do campo, BG, com 30%, e Repsol, com 25%. "Seria a maior descoberta feita no mundo nos últimos 30 anos e seria também o terceiro maior campo do mundo na atualidade," segundo Lima, citando reportagem da revista americana "World Oil" de fevereiro de 2008.[14]
O fato gerou protestos por parte da CVM, segundo a qual o anúncio não caberia à ANP mas à própria Petrobrás, após informar a CVM, dado o impacto da notícia sobre o valor das ações da empresa.
O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, relativiza a notícia da "World Oil". Segundo ele, trata-se de "palpite de uma revista" e palpites de revistas ou de bancos não são relevantes; serão necessários pelo menos três meses para que o tamanho da reserva seja avaliado. [15]
Diante da repercussão do caso, a ANP publicou nota sobre o fato[16] e o Ministério Público Federal anunciou que vai investigar se a divulgação das informações foi ilegal ou causou dano ao patrimônio.[17]
Notas e referências
Notas
- ↑ Título criado em 1993. Apenas seis cidadãos fizeram jus ao mesmo, dentre os quais; Jorge Amado,Taurino Araújo, Waldir Pires e Fernando Santana.
Referências
- ↑ Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «HAROLDO BORGES RODRIGUES LIMA». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 24 de março de 2021
- ↑ a b «DOI-CODI comanda chacina da Lapa». Memorial da Democracia. Consultado em 21 de fevereiro de 2023
- ↑ a b «Chacina da Lapa, o último grande crime da ditadura militar». vermelho.org.br. 16 de dezembro de 2020. Consultado em 21 de fevereiro de 2023
- ↑ Atos relembram 30 anos de Chacina da Lapa[ligação inativa]
- ↑ «Biografia de Haroldo Lima no website do PCdoB». Consultado em 27 de abril de 2008. Arquivado do original em 21 de maio de 2008
- ↑ Fórum pede que ANP suspenda licitações para exploração de blocos de petróleo
- ↑ «AL homenageia Haroldo Lima por sua contribuição ao país»
- ↑ «Taurino Araújo receberá título na Assembleia Legislativa»
- ↑ «Após 8 anos na ANP, Haroldo Lima se despede». O Globo. 1º de dezembro de 2011. Consultado em 23 de outubro de 2013
- ↑ «Magda Chambriard assume comando da ANP». UOL. 9 de março de 2012. Consultado em 23 de outubro de 2013
- ↑ «Haroldo Lima, ex-ANP, é agora 'consultor' da HRT». Hora do Povo. Consultado em 23 de outubro de 2013
- ↑ «Falece o ex-deputado Haroldo Lima, vítima da Covid-19». Vermelho. 24 de março de 2021. Consultado em 24 de março de 2021
- ↑ «Bloco na Bacia de Santos pode ser cinco vezes maior que Tupi». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 27 de março de 2021
- ↑ Three super-giant fields discovered offshore Brazil
- ↑ Petrobras terá informações sobre megacampo em três meses, diz diretor
- ↑ Nota da ANP sobre o fato
- ↑ «Procuradoria investiga divulgação de dados de megacampo da Petrobras». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 27 de março de 2021
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