Hipólita Jacinta Teixeira de Melo

Hipólita Jacinta Teixeira de Mello (Prados,? de 1748 — Prados, 27 de abril de 1828) foi a mais rica proprietária rural na região do Rio das Mortes, em Minas Gerais, no Brasil. Destacou-se por seu envolvimento na Inconfidência Mineira, em 1789, sendo uma das primeiras do panteão da Inconfidência[1]

Hipólita Jacinta Teixeira de Melo
Nascimento 1748
Cidadania Brasil

História editar

Filha de portugueses, seu pai era o capitão-mor Pedro Teixeira de Melo sua mãe Clara Maria de Melo[2] e seu irmão era o então ocupante desse posto na vila de São José del Rei, Gonçalo Teixeira de Carvalho. Foi batizada na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Prados, a 15 de setembro de 1748, com o nome de Theodozia e retificado, posteriormente, para Hipólita. Residia na Fazenda da Ponta do Morro, entre a vila de São José e o arraial de Prados, sendo descrita como mulher de fino trato, possuidora de vasta cultura. A sua residência era decorada com muito luxo, com peças de porcelana chinesa, prataria e finos tapetes também importados, e servida por vasta criadagem.[3]

Foi desposada pelo coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, com quem não teve descendentes. Adotou e educou, entretanto, duas crianças: uma, abandonada na porteira de sua fazenda, recebeu o nome de Antônio Francisco Teixeira Coelho (era filho de Maria da Silveira Bueno, irmã de Bárbara Heliodora); outra, de nome Francisco da Anunciação Teixeira Coelho, mais tarde veio a ser padre em Formiga (Minas Gerais) e deputado à Assembleia Provincial nos anos de 1866-1867. Além disso, foi madrinha de diversas crianças humildes da região e, como também pode ser constatado por seu testamento, deixou grande quantidade de ouro para os pobres da então "Freguezia de Prados".[4]

A Inconfidente editar

Um dos motivos que levou Hipólita Jacinta a participar da Inconfidência Mineira foi a situação das mulheres nas minerações.[3] Como representado na pintura do viajante Rugendas, mulheres carregavam gamelas cheias de ouro para ser lavado e algumas atividades nas minas requeriam muito esforço físico.[5]

 
Lavage du Mineral d'Or de Johann Moritz Rugendas, onde mulheres carregam gamelas com pedras, c. 1820-1825.

É de sua autoria uma carta que denunciou Joaquim Silvério dos Reis como o traidor de seus "companheiros" de revolução. Foi autora ainda de diversos avisos sigilosos, dando conta de que o Tiradentes fora detido no Rio de Janeiro. Escreveu e enviou ao padre Carlos Corrêa de Toledo e Mello, Vigário da Comarca do Rio das Mortes, através de seu compadre Vitoriano Gonçalves Veloso, o seguinte bilhete:[4]

Quando percebeu que o movimento fracassava, tentou alertar o coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, aconselhando-o para “montar uma reação, a partir lá do Serro.”[4]

Em sua Fazenda da Ponta do Morro, ocorriam reuniões dos inconfidentes. Devido à sua fortuna, Melo subsidiou algumas das iniciativas empreendidas por esse grupo. [4]

A Devassa editar

Devido sua participação na Inconfidência, quando se iniciou os autos da devassa, Hipólita Jacinta Teixeira de Melo foi punida pelo governador, o Visconde de Barbacena, com o confisco total de seu patrimônio.[3] E seu marido foi detido e sentenciado ao degredo perpétuo, na colónia portuguesa de Moçambique.

Para diminuir os efeitos do confisco, omitindo a existência de alguns bens, Hipólita Jacinta subordinou o ouvidor Luís Ferreira, com a doação de gado, três vacas paridas.[3] Com o intuito de obter o perdão da Coroa, ela mandou confeccionar um cacho de bananas, em ouro maciço, solicitando ao seu irmão que o oferecesse a Maria I de Portugal. A valiosa peça, entretanto, não chegou ao seu destino, uma vez que terá sido interceptada pelo então governador da Capitania de Minas Gerais, Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro, Visconde de Barbacena.[4]

Hipólita sempre agiu em defesa de seu patrimônio e após um difícil e longo processo judicial, com a ajuda de alguns amigos, em 1808, conseguiu reaver boa parte de seu patrimônio.[3]

Referências

  1. «Quem é Hipólita Jacinta, a primeira mulher a fazer parte do Panteão da Inconfidência em Ouro Preto». G1. 29 de abril de 2023. Consultado em 17 de fevereiro de 2024 
  2. «Hipólita, mulher inconfidente». CartaCapital. 14 de agosto de 2015. Consultado em 17 de fevereiro de 2024 
  3. a b c d e Rodrigues, André Figueiredo (2008). «Estudo econômico da Conjuração Mineira : análise dos sequestros dos bens dos inconfidentes da comarca do Rio das Mortes». Universidade de São Paulo 
  4. a b c d e Auto da Devassa da Incônfindencia Mineira. [S.l.: s.n.] 
  5. Del Priore, Mary (2018). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto