História dos surdos no Brasil

A história dos surdos no Brasil é marcada por entraves, opressões e luta. Considerados inferiores e ineducáveis pelos ouvintes, os surdos lutaram e ainda lutam para terem seus direitos básicos garantidos, principalmente no que diz respeito à educação. Suas histórias tanto no Brasil quanto no mundo são demarcadas pelo silenciamento, pois não lhes era dada a oportunidade de falar sobre questões que lhes são próprias, sendo os ouvintes aqueles que discutiam e determinavam muitos fatores em suas vidas.

A língua oficial e utilizada pelos surdos no Brasil é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Além da Libras, há também uma segunda língua de sinais reconhecida, a Língua de sinais kaapor brasileira, falada pela comunidade indígena Ka'apor (presente no sul do Maranhão, no Brasil), criada pelo grupo e com características próprias que compõe sua identidade.

No século XIX editar

 
Nomeação de Leopoldo Doyle Silva para ocupar interinamente o cargo de repetidor do Instituto dos Surdos Mudos, 1884

No ano de 1857, D.Pedro II convida o professor de surdos francês chamado Ernest Huet para fundar o Instituto Imperial de Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro, que mais tarde viria a ser o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ernest Huet foi um nobre[1] que trabalhava com a educação de suAcademia de Librasrdos na França utilizando língua de sinais. A mescla da língua de sinais aplicada por Huet com a língua utilizada pelos surdos brasileiros deu origem a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS). O instituto era voltado para educação de meninos pertencentes a alta classe social.

O ano de 1880 é considerado um marco histórico na história mundial dos surdos, pois, neste ano foi realizado o Congresso de Milão. Pessoas influentes e líderes de diversos países se reuniram para discutir acerca das formas de se educar os surdos, e decidiram condenar e proibir as línguas de sinais, definindo assim, o oralismo como método ideal para educação dos surdos. Um fato importante é que poucos surdos participaram, porém sem direito ao voto, deste congresso que instaurou um período de aproximadamente 100 anos de obrigatoriedade do oralismo na maioria dos países.

É válido ressaltar que durante todo o período de proibição do uso da língua de sinais os surdos continuaram utilizando-a, porém na ilegalidade. Eram realizadas reuniões escondidas para que eles pudessem perpassar a língua de sinais para outros surdos, evitando que ela se perdesse.

No século XX e XXI editar

Somente no ano de 1929 surgiu um instituto voltado para mulheres. O Instituto Santa Terezinha era um internato que educava meninas surdas também pelo método oral, depois passando a usar a filosofia da comunicação total. Assim como as demais escolas para surdos alterou a metodologia de ensino na década de 90 para a filosofia do bilinguismo.

Filosofia do bilinguismo surge em decorrência da nova forma de se estudar a surdez a partir da década de 60 quando passa a ser pelo viés etnográfico, o que leva a ideia de existência de uma cultura surda que, por sua vez, propõe uma mudança na forma de ensinar. Esta filosofia começa a substituir, na década de 90, a chamada Comunicação Total, que nos anos 80 aparece como outra forma de educar os surdos, tomando o lugar, em algumas escolas, do antigo método oral. Desta forma, a entrada do bilinguismo faz com que muitas escolas abandonem a Comunicação Total e o Oralismo e passem a adotar a educação bilíngue no Brasil.

A partir da década de 70 a situação dos surdos começa a obter avanços. Em 1977 funda se a Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos (FENEIDA), contudo, esta federação era composta somente por ouvintes, gerando uma ineficácia em sua atuação, pois ouvintes não compreendiam as necessidades da comunidade surda. Devido a esta falta de representatividade dentro da FENEIDA, em 1983 é criada a Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, que reivindicava, principalmente, a participação de surdos dentro da federação. Já em 1987, a Comissão consegue assumir a presidência da FENEIDA por meio de uma assembleia geral e, então, cria-se a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), que logo em seu primeiro ano e atividade oferece apoio para que a profissão de intérprete de libras obtivesse o reconhecimento necessário. No ano de 1993, a FENEIS redige um documento intitulado: “As comunidades surdas reivindicam os seus direitos linguísticos”, sendo de suma importância, pois nele é requerido o reconhecimento da língua de sinais como língua natural dos surdos e por isso, o Estado e a sociedade deveriam reconhecer a comunidade surda como uma minoria linguística e cultural.

A Constituição Federal de 1988, nos artigos 205 e 208, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, nos artigos 4, 58, 59 e 60 garantiam às pessoas surdas o direito de igualdade de oportunidade no processo educacional. Mas, somente em 1994, na cidade do Rio de Janeiro, quando ocorre a marcha do grupo Surdos Venceremos, que mobilizou cerca de 2 mil pessoas, surdas e ouvintes, é que a causa ganhou uma relevância nacional.

Como resultado desta marcha e da crescente mobilização social, em 2002 é criada a lei n°10.436/02, que reconhece a libras oficialmente, e em 2005 é assinado o decreto n°5.626/05, que regulamenta a lei de libras e torna obrigatório o ensino de libras nos cursos superiores de licenciatura e formação de professores. A partir da implementação deste decreto, é inaugurado em 2006 a primeira licenciatura em libras do Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina, sendo a referência na área em todo Brasil hoje em dia. Atualmente este curso é ofertado em diversas universidades federais, na região norte: UFRA, UFRR e UFAM; na região nordeste: UFAL, UFPI, UFC, UFS e UFRB; na região centro-oeste: UFMT e UFG; na região sudeste: UFMG, UFJF, UFES e UFRJ; na região sul: UFSC.

Já no ano de 2019, houve um retrocesso em relação às políticas públicas voltadas para os surdos, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) foi extinta e transformada em uma subpasta do governo e o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) está sofrendo com supostas fraudes nas eleições para o cargo de diretor, pois foi colocado para ocupar o cargo uma pessoa que perdeu a eleição e não prioriza as pautas da comunidade surda, fato que causa grande revolta nos servidores do Instituto e na comunidade surda como um todo.

Bibliografia editar

MORIL, Nerli N. R.; SANDER, Ricardo Ernani. História da educação dos Surdos no Brasil. 2015. Universidade Estadual de Maringá, PR.

NASCIMENTO, Lilian C. R. Um Pouco mais da história da educação dos Surdos, segundo Ferdinand Berthier. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.255-265, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592.

BENTES, JOSÉ A. Oliveira. Normalidade, diversidade e alteridade na história do instituto nacional de surdos. Revista Brasileira de Educação v. 21 n. 67 out.-dez. 2016

MACHADO, Fernanda de Camargo. História, comunidade e as representações culturais da surdez. Universidade Federal de Santa Maria, RS.

ALBRES, Neiva Aquino. A educação de alunos surdos no Brasil do final da década de 1970 a 2005: análise dos documentos referenciadores. 20005. Dissertação (Mestrado em Educação) - Curso de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Mato Grasso do Sul, 2005.

Referências

  1. «O Homem que Inventou o Libras». Consultado em 1 de abril de 2022