Abu Maomé Abedalá Ruzbi ibne Daduia (em persa: ابومحمد عبدالله روزبه بن دادویه; romaniz.:Abū Muhammad ʿAbd Allāh Rūzbih ibn Dādūya), melhor conhecido como ibne Almocafa[1] (em árabe: ابن المقفع; romaniz.:Ibn al-Muqaffa; em persa: ابن مقفع) ou Rūzbeh pūr-e Dādūya (em persa: روزبه پور دادوَيه), foi um pensador persa do século VIII (724 - c. 756) e um Zoroastrista convertido ao Islão.[2]

Abu Maomé Abedalá Ruzbi ibne Daduia
Ibne Almocafa
Ocupação tradutor e escritor

Obra editar

Destacou-se pela tradução do persa para o árabe da obra "Kalila e Dimna" (Kalīla wa Demna),[3] uma versão da colecção de fábulas hindus "Panchatantra" ("Cinco Casos de Sabedoria"). Estes contos alcançaram enorme popularidade durante a Idade Média, e a versão árabe de ibne Almocafa foi em grande parte responsável por isso, uma vez que foi a base para traduções ao siríaco, persa, hebreu, latim e castelhano. Vários manuscritos árabes de Calila e Dimna existem, mas nenhum deles é o original de ibne Almocafa e há várias diferenças estilísticas entre eles, de maneira que é difícil reconstruir exatamente a tradução original. Sabe-se, porém, que esta e outras obras de ibne Almocafa contribuíram para o desenvolvimento da literatura árabe em prosa, inspirando imitadores e artistas.[4]

Além de Calila e Dimna, ibne Almocafa também traduziu do persa ao árabe o Livro de Senhores, uma crónica semi-lendária dos antigos reis, nobreza e heróis da época do Império Sassânida (224-651), antes da conquista do Império pelos muçulmanos. Ibne Almocafa também escreveu obras originais como Ketāb al-ādāb al-kabīr, em duas partes: a primeira trata da importância do legado cultural e espiritual sassânida e a segunda é um livro de conselhos para os príncipes[4].

Traduções editar

 
Calila e Dimna: ilustração de manuscrito persa do século XV (Palácio de Topkapı, Istambul, Turquia

A obra mais importante de ibne Almocafa pode ser considerada Calila e Dimna, traduzida a várias línguas. Já no século IX a obra havia sido traduzida de volta ao persa, tanto em prosa como uma versão em versos[4]. Na Europa, em 1251, o então infante Afonso, futuro Afonso X de Castela, determinou a tradução de "Calila e Dimna" para o castelhano. Esta tradução foi oferecida como presente à esposa de Filipe, o Belo, Joana de França, que por sua vez incumbiu Ramon de Bèziers de traduzi-la para o latim[5].

Paralelamente, entre 1263 e 1278, João de Cápua traduziu a obra do hebraico para o latim, com o título de "Directorium humanae vitae". É possível que Raimundo Lúlio tenha tido contato com uma destas versões, possivelmente esta última, tendo-a usado por sua vez para a sua doutrinação, em termos de instrução e de moral, das monarquias de seu tempo. Desse modo, vários exemplos do bestiário medieval de "Kalila e Dimna" - o leão e a lebre, o papagaio, o macaco e o vaga-lume -, estão presentes na narrativa em "O Livro das Bestas", incluído no "Livro das Maravilhas" de Lúlio[5]. Os exemplos narrados nesta ultima obra têm o mesmo sentido moralizante da primeira: a perversidade da raposa (homem que se corrompe com a proximidade do poder) deverá servir de exemplo para que os monarcas estejam precavidos contra os maus conselheiros.

Referências

  1. Brandão 1995, p. 59.
  2. McComas Taylor. The Fall of the Idigo Jackal. p. 3
  3. Robert Irwin (2006). The Penguin Anthology of Classical Arabic Literature. Penguin Books Limited. p. 128. ISBN 978-0-14-196261-0.
  4. a b c «Ibn Al-Mukafa na Encyclopaedia Iranica». Consultado em 9 de novembro de 2018. Arquivado do original em 23 de novembro de 2009 
  5. a b da Costa, Ricardo. A novela na Idade Média: O Livro das Maravilhas (1288-1289) de Ramon Llull [1]

Bibliografia editar

  • Brandão, Adelino. A presença dos irmãos Grimm na literatura infantil e no folclore brasileiro. São Paulo: Instituição Brasileira de Difusão Cultural 
  • IBN AL-MUKAFA. Calila e Dimna (trad. e apres. de Mansour Challita). Rio de Janeiro: Associação Cultural Internacional Gibran, s/d.
  • Dževad Karahasan "Al-Mukaffa" ARBOS-Wieser-Edition, Klagenfurt-Salzburg 1994, ISBN 3 85129 141 7.

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