Ilha da Queimada Grande

ilha brasileira
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A Ilha da Queimada Grande é uma ilha localizada a cerca de 35 km do litoral do estado de São Paulo. É desabitada e tem acesso proibido e restrito a analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão federal que administra as unidades de conservação do Brasil, bem como a cientistas autorizados por essa Instituição.[4]

Ilha da Queimada Grande
Categoria IV da IUCN (Área de Manejo de Habitat/Espécie)
Ilha da Queimada Grande
Ilha da Queimada Grande
Localização
País  Brasil
Estado  São Paulo
Mesorregião Litoral Sul Paulista
Microrregião Itanhaém[1]
Localidade mais próxima Itanhaém e Peruíbe
Dados
Área 137,73 ha[2]
Criação 5 de novembro de 1985
Gestão ICMBio[3]
Sítio oficial www.ICMBio.gov.br
Coordenadas 24° 29' 8.5" S 46° 40' 31.22" O
Ilha da Queimada Grande está localizado em: Brasil
Ilha da Queimada Grande

Desde 31 de janeiro de 1984 a ilha está inserida em uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) (ARIE da Queimada Grande e Queimada Pequena), seguindo o que estabelece o Decreto nº 91.887, de 5 de novembro de 1985, o qual é amparado pelo que é disposto no Decreto nº 89.336, de 31 de janeiro de 1984 sobre as Reservas Econômicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico.[5]

Características editar

A ilha possui aproximadamente 430.000m², topografia irregular e altitude máxima de 206 m. A profundidade ao redor pode chegar até 45 m. Não possui praias, somente costões rochosos. Um farol automático está instalado na parte mais plana da ilha, mantido e conservado pela Marinha.

A ilha está a 18 milhas náuticas (aproximadamente 35 km) da costa de Itanhaém e Peruibe,[1][6] e apresenta difíceis condições de desembarque e difíceis condições para fundeio de embarcações. O desembarque não é aconselhado e até mesmo foi proibido pela Marinha do Brasil devido à grande quantidade de cobras, especialmente a jararaca-ilhoa, espécie endêmica da ilha. Outro motivo para a inibição do desembarque é a preservação da fauna e flora da ilha.[3]

A denominação "Queimada Grande" tem origem no fato de, no passado, eventuais visitantes (sobretudo pescadores da região) atearem fogo na vegetação costeira para afugentar as serpentes e então poder desembarcar em terra firme.[1]

As águas ao redor da ilha abrigam o recife de coral mais ao sul do Oceano Atlântico[7] que suporta variadas espécies de peixes como garoupas, budiões e caranhas, além de eventuais visitas de outras espécies, como tartarugas-marinhas. Apesar disso, não é incomum a prática de pesca amadora de arremesso e de mergulho, apesar de a visitação à área ser restrita pelo Instituto Chico Mendes.[3] Ao sul, no Parcel de Fora, em profundidades variando de três a trinta metros, existem espécies de maior porte.

Biodiversidade e Conservação Marinha editar

Houve, no início da década de 2000, interesse por parte de ONGs, mergulhadores, cientistas e outros segmentos da sociedade, de transformar essa ARIE em um Parque Nacional Marinho. Devido a múltiplos usos do espaço marinho do entorno da Ilha da Queimada Grande o processo foi interrompido. Atualmente, a conservação e gestão do espaço marinho que circunda a Ilha da Queimada Grande está a cargo da Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Centro (APAMLC), uma unidade de conservação de uso sustentável, administrada pela Fundação Florestal do Estado de São Paulo. Dada a importância ecológica, a presença do recife de coral mais ao sul do Atlantico e após um intenso trabalho de participação social e consultas públicas o plano de plano de manejo da APAMLC (publicado em março de 2021[8]) consolida uma Área de Interesse Turistico ao redor da Ilha da Queimada Grande a qual o Plano de Ordenamento de uso tem sido formulado dentro do Conselho Gestor da APAMLC. O objetivo é que o plano garanta usos consolidados do espaço (pesca recreativa, pesca subaquatica e mergulho contemplativo) em consonância com a conservação da biodiversidade marinha local.

Diversidade de espécies editar

Queimada Grande tem espécies ameaçadas de extinção, como a dormideira-da-ilha-da-queimada-grande, além de algo em torno de trinta outras espécies de aves, das quais a mais abundante é a corruíra.[9] Há ainda pelo menos três espécies de anfíbios endêmicos e três de lagartos, além de dois tipos de cobras-cegas e setenta espécies de aranhas, as quais foram todas catalogadas.[9]

Serpentário natural editar

A Queimada Grande é também conhecida como "Ilha das Cobras", não sendo aconselhado o desembarque devido ao elevado número de serpentes da espécie jararaca-ilhoa (Bothrops insularis).[10]

O desenvolvimento dessa espécie endêmica da ilha foi devido ao isolamento geográfico submetido após a última glaciação no final do Pleistoceno.[6] Isolada numa ilha rochosa com cadeia alimentar baseada em aves, a jararaca passou a subir em árvores, o que não é natural nas espécies do continente. Entretanto, estudos relacionando filogenia e hábitos alimentares demonstram que a jararaca-ilhoa possui uma mudança em sua dieta, com os indivíduos jovens alimentando-se de anfíbios e lagartos e os adultos apenas de aves migratórias. Seu veneno tornou-se mais potente para garantir a morte imediata da presa que, se demorasse para morrer, poderia acabar por se afastar em voo.

A ilha é considerada no meio científico como o maior serpentário natural do mundo. Alguns afirmam existir cerca de 5 serpentes por metro quadrado, mas estudos recentes demonstraram existir cerca de 2000 serpentes na ilha.

História editar

Naufrágios editar

Nas águas da face oeste da ilha existem dois navios naufragados, próximo ao Saco das Bananas:

  • O navio mercante Rio Negro, do Lloyd Brasileiro, naufragado a 17 de julho de 1893. Construído em 1872, era uma embarcação a vapor de pequeno porte, com cerca de 450 toneladas. Naufragou por colisão com a ilha, devido ao mau tempo, encontrando-se atualmente a uma profundidade de 12 a 18 metros.

Até hoje pode-se ver o que sobrou dos navios, já que as águas no entorno da ilha são bastantes claras, possibilitando uma visibilidade de 30 a 40 metros de profundidade.

Referências

  1. a b c Adm. do portal (2013). «Ilha de Queimada Grande». Prefeitura Municipal de Itanhaém. Consultado em 3 de março de 2014. Arquivado do original em 16 de abril de 2012 
  2. Ilha da Queimada Grande. Cadastro Nacional de Unidades de Conservação do Ministério do Meio Ambiente. Página visitada em 28 de janeiro de 2013.
  3. a b c Assessoria do governo (5 de novembro de 1985). «Decreto nº 91.887» (PDF). ICMBio.gov.br. Consultado em 3 de março de 2014 
  4. Da redação (2013). «10 lugares que você não deve visitar». Revista Galileu. Consultado em 3 de março de 2014. Arquivado do original em 19 de setembro de 2010 
  5. Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil (Presidência) (31 de janeiro de 1984). «—». Decreto da Presidência da República. Consultado em 3 de março de 2014 
  6. a b Otávio A.V Marques et alii (2002). «A jararaca da ilha da Queimada Grande» (PDF). Ciência Hoje. Consultado em 3 de março de 2014 
  7. Pereira-Filho, Guilherme H; Shintate, Gustavo SI; Kitahara, Marcelo V; Moura, Rodrigo L; Amado-Filho, Gilberto M; Bahia, Ricardo G; Moraes, Fernando C; Neves, Leonardo Mitrano; Francini, Carlo Leopoldo B (1 de abril de 2019). «The southernmost Atlantic coral reef is off the subtropical island of Queimada Grande (24°S), Brazil». Bulletin of Marine Science (2): 277–287. doi:10.5343/bms.2018.0056. Consultado em 10 de junho de 2021 
  8. «Decreto nº 65.544, de 02 de março de 2021». www.al.sp.gov.br. Consultado em 10 de junho de 2021 
  9. a b Da redação (23 de fevereiro de 2013). «Ilha Queimada Grande + Saúde do oceano». SupTravessias das Ilhas. Consultado em 3 de março de 2014 
  10. White, Robyn (29 de abril de 2022). «On an island off Brazil, snakes rule the land and humans are banned». Newsweek (em inglês). Consultado em 4 de maio de 2022