Irfan Habib (em hindi: इरफान हबीब, em urdu: برفان ببیب, em gujarati: ઈરફાન હબીબ, Vadodara, 10 de agosto de 1931) é um historiador, professor e escritor indiano especializado em história antiga e medieval da Índia.[1] Habib é marxista e adota a análise de materialismo histórico em diversos estudos históricos.[2] É autor de diversos livros incluindo Agrarian System of Mughal India, 1556-1707, considerado um dos principais estudos sobre a condição agrária da Índia pré-colonial.[3][4]

Irfan Habib
Irfan Habib
Irfan habib em sua residência na cidade de Aligarh
Nome completo Irfan Habib
Nascimento 10 de agosto de 1931 (92 anos)
Vadodara
Nacionalidade indiano
Cônjuge Sayera Habib
Filho(a)(s) 1
Alma mater Aligarh Muslim University

Universidade de Oxford

Ocupação historiador, escritor, professor

Primeiros anos e vida pessoal editar

Habib nasceu em uma família indiana de origem muçulmana, filho de Mohammad Habib, notável historiador marxista e considerado um dos principais ideólogos do Partido Comunista da Índia (Marxista), com sua esposa Sohaila Habib (nascida Tyabji).[5][6]

Seu avô paterno era Mohammad Naseem, um rico advogado e membro do Partido do Congresso, e seu avô materno foi Abbas Tyabji, que chegou à ocupar o cargo de Chefe de Justiça do Supremo Tribunal do estado principesco de Vadodara, além de ser um notório seguidor do ativista Mahatma Gandhi.[7][8]

Habib casou-se com Sayera Habib (nascida Siddiqui), que ocupou o cargo de professora de Economia na Aligarh Muslim University (AMU).[9][10] O casal possui uma filha, a bioquímica Saman Habib.[11][12]

 
Irfan Habib em 2007.

Carreira acadêmica editar

Habib completou sua graduação e pós-graduação no curso de História da Aligarh Muslim University (AMU) nos anos de 1951 e 1953, respectivamente.[13] Destacou-se como o melhor aluno da sala em ambos os programas de estudo.[13] Depois de obter seu mestrado, ele começou a atuar como professor na AMU. Posteriormente em 1956, ele realizou seu doutorado na New College Oxford, instituição vinculada à Universidade de Oxford, na Inglaterra.[13][3]

Após retornar de Oxford, Habib ingressou na AMU como membro efetivo do corpo docente; atuou como professor de história na AMU entre os anos de 1969 à 1991, onde atualmente é professor emérito da instituição.[14] No ano de 1991, proferiu a Radhakrishnan Lecture na universidade de Oxford.[15][16]

Habib foi eleito membro correspondente da Royal Historical Society no ano de 1997, academia de historiadores localizada em Londres.[14][17]

Entre suas principais áreas de estudos ao longo de uma carreira de mais de setenta anos estão assuntos como geografia histórica da Índia Antiga, a história da tecnologia indiana, história econômica medieval e o colonialismo e seu impacto na historiografia da Índia.[18]

O economista indiano Amiya Kumar Bagchi descreve Habib como "um dos dois historiadores marxistas mais proeminentes da Índia hoje e, ao mesmo tempo, um dos maiores historiadores marxistas vivos da Índia."[19]

Visões e posicionamentos políticos editar

Habib identifica-se como um marxista.[2]

O autor vem defendendo o secularismo. Foi um dos líderes dos historiadores no Congresso de História da Índia de 1998 que propuseram uma resolução contra a "Aafronização" da história - políticas de direita que implementam uma agenda nacionalista hindu nos livros escolares.[20][21]

Por seu posicionamento no congresso, Habib entrou em uma forte conflito com o Ministério da Educação indiano e o Partido do Povo Indiano (BJP), partido que esteve adiante do país entre anos de 1998 até 2004.[22] O historiador afirmou que o Ministério da Educação e o Partido do Povo Indiano estavam "inventando datas e adequando os fatos para incorporar à interpretação histórica do partido no imaginário popular."[22] Em contraponto à Habib, Murli Manohar Joshi - Ministro de Ciências e Tecnologia da Índia na gestão da BJP - lançou um livro buscando refutar o historiador.[23]

Irfan Habib foi acusado pelo arqueologista K. K. Muhammed de vender falsos conhecimentos sobre o Templo Ram Mandir, desconsiderando completamente as evidências arqueológicas de importantes estruturas anteriores de adoração e valor devocional para os hindus.[24][25]

Em dezembro de 2019, o governador de Querala, Arif Mohammad Khan acusou Irfan Habib de interromper seu discurso na sessão do Congresso de História da Índia realizada na Kannur University.[26] Arif classificou Habib como 'intolerante' e 'antidemocrático'.[27]

Honrarias editar

  • Padma Bhushan, 2005.[29]

Bibliografia selecionada editar

Livros de sua autoria
  • The Agrarian System of Mughal India 1556–1707. Primeira publicação em 1963 pela Asia Publishing House. Segunda, aumentada revisada, edição publicada em 1999 pela Oxford University Press.[3]
  • An Atlas of the Mughal Empire: Political and Economic Maps With Detailed Notes, Bibliography, and Index. Oxford University Press, 1982.[32]
  • Essays in Indian History – Towards a Marxist Perception. Tulika Books, 1995.[33]
  • The Economic History of Medieval India: A Survey. Tulika Books, 2001.[34]
  • Medieval India: The Study of a Civilization. National Book Trust, 2008.[35]
  • People's History of India – Part 1: Prehistory. Aligarh Historians Society e Tulika Books, 2001.
  • People's History of India Part 2 : The Indus Civilization. Aligarh Historians Society e Tulika Books, 2002.
  • A People's History of India Vol. 3 : The Vedic Age. (Coautoria com Vijay Kumar Thakur) Aligarh Historians Society e Tulika Books, 2003.
  • A People's History of India – Vol 4 : Mauryan India. (Coautoria com Vivekanand Jha) Aligarh Historians Society e Tulika Books, 2004.
  • A People's History of India – Vol 28 : Indian Economy, 1858–1914. Aligarh Historians Society e Tulika Books, 2006.
  • The National Movement: Studies in Ideology & History, 2011.[36]
Livros editados e organizados
  • The Cambridge Economic History of India – Volume I: 1200–1750 (coedição com Tapan Raychaudhuri).[37]
  • UNESCO History of Civilizations of Central Asia, Vol 5 : Development in contrast: from the sixteenth to the mid-nineteenth century. (coedição com Chahryar Adle and K M Baikapov).[38]
  • UNESCO History of Humanity, Vol 4: From the seventh to the sixteenth century. (Com vários coeditores).
  • UNESCO History of Humanity, Vol 5: From the sixteenth to the eighteenth century. (Com vários coeditores).
  • A Shared Heritage, the Growth of Civilizations in India and Iran, Tulika Books, 2002.[39]
  • Sikh History from Persian Sources, UBS Publishers, 2001.[40]
  • Akbar and His India, Oxford University Press, 1997. (coedição com Sheldon Dick).[41]
  • India – Studies in the History of an Idea, Munshiram Manoharlal Publishers, 2005.
  • State & Diplomacy under Tipu Sultan: documents and essays, Tulika Publishers, 2002.[42]
  • Confronting Colonialism :Resistance and Modernization Under Haidar Ali & Tipu Sultan, Anthem Press, 2002.[43]
  • Medieval India 1: Researches in the History of India 1200–1750. Edited por Irfan Habib. Delhi: Oxford University Press, 1992.[44]
  • A World to Win – Essays on the Communist Manifest (coedição Aijaz Ahmed com Prakash Karat).[45]

Referências

  1. Narayan, T. (23 de abril de 2007). «Prof Irfan Habib». Outlook India. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  2. a b Chakrabarty, Dipesh (1996). Habib, Irfan, ed. «Marxist Perception of Indian History». Economic and Political Weekly (28): 1838–1840. ISSN 0012-9976. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  3. a b c Habib, Irfan (1999). The Agrarian System of Mughal India, 1556-1707 (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  4. Islam, Riazul (abril de 1965). «Agrarian System of Mughal India (1556–1707). By Irfan Habib. pp. 453; 1 map. Asia Publishing House. London1963.». Journal of the Royal Asiatic Society (em inglês) (2): 143–144. ISSN 2051-2066. doi:10.1017/S0035869X00124360. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  5. Patil, Sharad (1976). Engineer, Asgharali, ed. «A Marxist Exposition of Islam». Social Scientist (10): 65–78. ISSN 0970-0293. doi:10.2307/3516423. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  6. Prasad, Madhu (24 de setembro de 2021). «Irfan Habib: Defender of history». Frontline (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  7. Awasthi, Sushant (1 de janeiro de 2020). «Irfan Habib: Historian or Liar? – 3 recent incidents which raise doubts about his credibility». The Youth (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  8. «Abbas Tyabji». Google Arts & Culture. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  9. Hasan, Mushirul (8 de maio de 2008). «AMU: Inheritor Not of Colonial Rule and Partition But of a Modernist and Reformist Legacy». The Citizen (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  10. «Irfan Habib writes to CPM, asks party to change position to defeat BJP in 2019». CatchNews.com (em inglês). 26 de junho de 2016. Consultado em 8 de novembro de 2021 
  11. «'What a bunch of liars': Irfan Habib's daughter denies that she is married to Moody's report author». Scroll.in (em inglês). 5 de novembro de 2015. Consultado em 8 de novembro de 2021 
  12. «Saman Habib, Ph. D.». Central Drug Research Institute, Sector. Consultado em 8 de novembro de 2021 
  13. a b c «Irfan Habib History | the Pioneer of History | Notesmyfoot». AMU Notes (em inglês). 8 de setembro de 2021. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  14. a b «CV Prof. Irfan Habib» (PDF). Aligarh Muslim University Aligarh. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  15. Ashraf, Ajaz. «Irfan Habib: The Indian variant of secularism opens the door to majority communalism». Scroll.in (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  16. «Prof. Irfan Habib». Aligarh Movement. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  17. Chaudhary, Pranava (9 de setembro de 2011). «Historian Irfan Habib feted | Patna News - Times of India». The Times of India (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  18. Habib, Irfan (2002). The Making of History: Essays Presented to Irfan Habib (em inglês). [S.l.]: Anthem Press 
  19. Kumar Bagchi, Amiya (1996). «Social Scientist, issues 272-74, Jan-Mar 1996, page 89. -- The Social Scientist -- Digital South Asia Library». Digital South Asia Library. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  20. Gohain, Hiren (2002). «On Saffronisation of Education». Economic and Political Weekly (46): 4597–4599. ISSN 0012-9976. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  21. Raza, Danish (7 de dezembro de 2014). «Saffronising textbooks: Where myth and dogma replace history». Hindustan Times (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  22. a b «Govt trying to 'invent' history, says Habib». Times of India. 1 de janeiro de 2002. Consultado em 7 de novembro de 2021. Cópia arquivada em 16 de julho de 2012 
  23. «Revised edition of RS Sharma's ancient history book released». Outlook India. 19 de setembro de 2014. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  24. «Left historians prevented resolution of Babri Masjid dispute, says KK Mohammed, former ASI regional head-India News , Firstpost». Firstpost (em inglês). 21 de janeiro de 2016. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  25. «Irfan Habib and Communists misled Muslims on Ayodhya: K K Muhammed». Awaz - The Voice. 15 de fevereiro de 2021. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  26. सदियों रहा है दुश्मन दौरे जहां हमारा..-आरिफ़ मोहम्मद ख़ान ने 'India ka Arth' में जो कहा, वो कमाल, consultado em 7 de novembro de 2021 
  27. «Kerala governor says eminent historian Irfan Habib tried to disrupt his speech | India News - Times of India». The Times of India (em inglês). 28 de dezembro de 2019. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  28. «Discontinued Awards | AHA». American Historical Association. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  29. «Padma Awards 2005». Outlook India (em inglês). 25 de janeiro de 2005. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  30. a b «Former Honorary Degree Recipients» (PDF). Universidade de Calicute. 7 de novembro de 2013. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  31. «CM presented Yash Bharati awards». The Pioneer (em inglês). 22 de março de 2016. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  32. Robinson, Francis (janeiro de 1983). «An Atlas of the Mughal Empire: Political and Economic Maps with Detailed Notes, Bibliography, and Index. By Irfan Habib. pp. xvii, 105, 32 maps. Delhi, etc., Oxford University Press, 1982. Rs. 400, £39.50.». Journal of the Royal Asiatic Society (em inglês) (1): 135–136. ISSN 2051-2066. doi:10.1017/S0035869X00160447. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  33. Habib, Irfan (2015). Essays in Indian History: Towards a Marxist Perception (em inglês). [S.l.]: Tulika 
  34. Habib, Irfan (2001). The Economic History of Medieval India: A Survey (em inglês). [S.l.]: Tulika 
  35. Habib, Irfan (2007). Medieval India: The Study of Civilization (em inglês). [S.l.]: National Book Trust 
  36. Habib, Irfan (2011). The National Movement: Studies in Ideology and History (em inglês). [S.l.]: Tulika Books 
  37. Habib, Professor Emeritus History Irfan (1982). The Cambridge Economic History of India: Volume 1, C.1200-c.1750 (em inglês). [S.l.]: CUP Archive 
  38. Dani, Ahmad Hasan; Masson, Vadim Mikhaĭlovich; Unesco (1 de janeiro de 2003). History of Civilizations of Central Asia: Development in contrast : from the sixteenth to the mid-nineteenth century (em inglês). [S.l.]: UNESCO 
  39. «A Shared Heritage, The Growth Of Civilizations In India And Iran». Goodreads. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  40. Grewal, Jagtar S.; Habib, Irfan. Sikh History from Persian Sources (em inglês). [S.l.]: Ubs Publishers 
  41. Dick, Sheldon (1997). Akbar and His India (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  42. Habib, Irfan (2001). State and Diplomacy Under Tipu Sultan: Documents and Essays (em inglês). [S.l.]: Tulika 
  43. Habib, Irfan (1 de setembro de 2002). Confronting Colonialism: Resistance and Modernization Under Haidar Ali & Tipu Sultan (em inglês). [S.l.]: Anthem Press 
  44. Ludden, David (novembro de 1994). «Medieval India 1: Researches in the History of India 1200–1750. Edited by Irfan Habib. Delhi: Oxford University Press, 1992. vii, 225 pp. $16.95.». The Journal of Asian Studies (em inglês) (4): 1297–1298. ISSN 1752-0401. doi:10.2307/2059301. Consultado em 8 de novembro de 2021 
  45. Karat, Prakash (1999). A World to Win: Essays on the Communist Manifesto (em inglês). [S.l.]: LeftWord Books