Iteração de ponto fixo

Em análise numérica, iteração de ponto fixo é um método de se calcular pontos fixos de funções. Ponto fixo de dada função é o número que quando aplicado na função resulta nele mesmo, i.e. . Dada uma aproximação inicial para , o método consiste em iterar sucessivamente a função dada sobre . Ou seja, constrói-se a sequência sendo cada uma nova aproximação do ponto fixo . Uma importante aplicação deste método aparece no cálculo numérico de soluções de equações de uma variável real.[1]

Iteração de ponto fixo.

Descrição editar

 
Ilustração do método.

Seja   uma função com um único ponto fixo  , o qual buscamos determinar. A iteração do ponto fixo consiste em construirmos a sequência recursiva:[1]

 

sendo   uma aproximação inicial de  . Para certas funções, tem-se que a sequência   converge para o ponto fixo  . Por exemplo, o teorema da convergência enunciado abaixo, garante que a convergência do método do ponto fixo para contrações.

Solução de equações editar

Existem diversas maneiras de usar o método para obter a raiz de uma função  . A ideia fundamental é reescrever a equação   em uma equação equivalente da forma:

 

i.e., em um problema de ponto fixo. Se   é uma função para a qual o método do ponto fixo converge, então a sequência:

 

com   uma aproximação inicial da solução, converge para o ponto fixo   da função  . Notemos que o ponto fixo   é também solução da equação  .[1]

Exemplo editar

Há muitas maneiras de manipular uma equação de forma a utilizar o método do ponto fixo. É importante observar que, apesar da simplicidade do método, este pode não convergir dependendo da função (veja, abaixo, o Teorema da Convergência para condições suficientes de convergência). No seguinte exemplo, buscamos mostrar este fato.

Buscaremos aproximar a solução da equação   usando o método do ponto fixo. Notemos que essa equação é equivalente a   e  .

Ao efetuarmos o processo iterativo para a primeira equação, i.e.  , com  , obtemos a seguinte sequência:

 

 

 

 

 

 

E quando realizamos o processo com a outra equação, i.e.  , e novamente iniciarmos o processo com  , a nova sequência se da por:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O teste realizado com as duas equações indica que, apesar delas serem equivalentes, a primeira não é convergente enquanto a segunda equação converge para o valor de   (que é a solução aproximada de  ). As condições para que uma equação convirja para o valor de ponto fixo estão contidas no teorema de convergência.

 
iteração do ponto fixo   com valor inicial  

Teorema de convergência editar

Seja   uma função contração, i.e. uma função que satisfaça:

 

Então, existe um único ponto   pertencente ao intervalo   tal que  . Além disso, para qualquer  , a sequência   dada por:

 

converge para   quando  .

Demonstração:

Existência. Caso   ou   o ponto fixo existe nos extremos. Caso contrário, então   e  . Neste caso, seja:

 

Como   é uma função contínua,   também é. Notemos que:

  e  

ou seja,   troca de sinal no intervalo  . Logo, pelo Teorema do valor intermediário, garantimos a existência de um ponto   tal que  . Esse valor   é um ponto fixo de  , uma vez que

 

Unicidade. Suponhamos que   e   sejam pontos fixos distintos de  . Então:   o que é uma contradição.

Convergência. Seja   a sequência iterada   com   e   o ponto fixo de  . Então, temos:   Isso implica que:   Como  , temos que   quando  . Isso completa a demostração.

Observações editar

  1. A desigualdade estrita   é necessária.
  2. A condição   é necessária.
  3. Determinar os pontos fixos de uma função   é determinar a interseção entre as curvas   e  .
  4. A condição   é satisfeita sempre que   para todo  , pois:
 .

Teste de convergência editar

Seja   uma função   e   um ponto fixo de  . É dito que   é um ponto fixo estável caso exista uma região  chamada de bacia de atração tal que   é convergente sempre que  .

Teorema editar

Se   e   <  , então   é estável. Se   >   é instável e o teste é inconclusivo caso  .

Exemplo editar

Considerando o problema de encontrar a solução da equação   analisando a equação como ponto fixo da função  . A demonstração do Teorema do ponto fixo pode ser aplicado na função com o intervalo  .

Para provar que   basta analisar que   é decrescente no intervalo:

  <   <  

  é verdade pois  .

Agora para provar   <   observamos que  , dessa forma temos a estimativa :

  <   <  

Assim temos que   <   e dessa forma   <  

Agora observamos o processo numérico da sequência fazendo  , iniciando com  , obtemos a sequência:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Verificamos que a sequência converge para o ponto fixo  .

Estabilidade e convergência editar

Consideremos uma função   com um ponto fixo em   e observamos o processo iterativo:

 

 

Sendo possível a função   ser aproximada por seu polinômio de Taylor em torno do seu ponto fixo  , obteremos:

 

 

  

Substituindo o polinômio de Taylor da função na relação de recorrência obteremos:

  

Dessa forma:

  

Aplicando módulos de ambos os lados, obtemos:

  

Podemos obter algumas conclusões através desta relação:

  • Se   <   a distância entre   e o ponto fixo   está diminuindo a cada passo.
  • Se   >   a distância entre   e o ponto fixo   está aumentando a cada passo.
  • Se   a aproximação de primeira ordem não é suficiente para comprender o comportamento da sequência.

Erro de truncamento e tolerância editar

Ao utilizar este método na prática, o valor do ponto fixo   normalmente não é conhecido. Por conseguinte , o erro €   precisa ser calculado tendo como referência os valores obtidos para   . Uma ferramenta frequentemente usada para estudar a evolução da diferença entre dois elementos da sequência é:

 

observando que  

   

Usando também as expressões:

  

  

Subtraindo uma expressão da outra:

  

Dessa maneira:

  

E obtemos:

   

  

      <  

Aplicando o módulo, obtemos:

   

N  

Ao analisarmos a relação   , podemos concluir:

  • Quando   <   , o esquema é alternante e o erro €N pode ser estimado diretamente da diferença  
  • Quando   >  , o esquema é monótono e   >  , pelo que o erro €N é maior que a diferença  . A relação será tão mais importante quanto mais próximo da unidade for  , ou seja, quando mais lenta for a convergência.
  • Como   , temos

  

E obtemos

N 

Obs: Deve-se exigir que   <  

Ver também editar

Referências

  1. a b c J., Faires (2008). Análise Numérica. [S.l.: s.n.] ISBN 9788522106011