Iugonostalgia (português brasileiro) ou Jugonostalgia (português europeu) (em servo-croata: jugonostalgija/југоносталгија, em esloveno: jugonostalgija, em macedônio/macedónio: југоносталгија) é um fenômeno psicológico e cultural pouco estudado que ocorre entre os cidadãos das ex-repúblicas iugoslavas – Bósnia e Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro, Sérvia e Eslovênia. Embora os seus aspectos antropológicos e sociológicos não tenham sido claramente reconhecidos, o termo e o epíteto correspondente "Iugonostálgico", é geralmente usado pelas pessoas na região de duas formas distintas: como uma descrição pessoal positiva e como um rótulo depreciativo.[1]

Bandeira da Iugoslávia durante um carnaval em Ptuj, na Eslovênia, em 2013
Bandeira iugoslava em uma rua em Mostar, Bósnia e Herzegovina, em 2009

As atuais manifestações culturais e econômicas da iugonostalgia incluem grupos de música com iconografia retroativa jugoslava ou titoísta, obras de arte, filmes, apresentações teatrais e muitos passeios organizados e temáticos nas principais cidades das ex-repúblicas iugoslavas. A noção de iugonostalgia não deve ser confundida com o iugoslavismo, que é a ideologia da unidade das nações eslavas do sul.

Sentido positivo editar

 
Camisetas no local de nascimento de Tito, Kumrovec, Croácia, em 2012

Em seu sentido positivo, a iugonostalgia refere-se a um apego emocional nostálgico aos aspectos subjetivos e objetivamente desejáveis da República Socialista Federativa da Iugoslávia. Estes são descritos como: segurança econômica, senso de solidariedade, ideologia socialista, multiculturalismo, internacionalismonão alinhamento, história, costumes e tradições e um modo de vida mais recompensador.[2] Como afirma Halligan, essa nostalgia efetivamente "recupera" artefatos culturais anteriores a 1989, até mesmo filmes de propaganda. Essas facetas positivas, no entanto, se opõem às falhas percebidas nos países sucessores, muitas das quais sobrecarregadas pelas consequências das guerras iugoslavas e que estão em vários estágios de transição econômica e política. As falhas são várias vezes identificadas como paroquimismo, jingoísmo, corrupção na política e negócios, o desaparecimento da rede de segurança social, dificuldades econômicas, desigualdades de renda, taxas de criminalidade mais elevadas, bem como uma desordem geral nas instituições estatais.

Sentido negativo editar

No sentido negativo, o epíteto tem sido usado pelos defensores dos novos regimes pós-dissolução para retratar seus críticos como anacrônicos, irrealistas, antipatrióticos e potenciais traidores. Em particular, durante e depois das guerras iugoslavas, o adjetivo foi usado por funcionários do estado e meios de comunicação de alguns países sucessores para desviar a crítica e desacreditar determinadas posições no debate político. Na verdade, é provável que o termo iugonostálgico tenha sido originalmente cunhado precisamente para este propósito, aparecendo como um rótulo pejorativo politicamente motivado em meios controlados pelo governo, por exemplo, na Croácia, logo após a dissolução da Iugoslávia.[3]

De acordo com Dubravka Ugrešić o termo Iugonostálgico é usado para desacreditar uma pessoa como um inimigo público e um "traidor".[4][5]

Iugoslavismo após a Iugoslávia editar

Após a dissolução da Iugoslávia, a ideia do iugoslavismo perdeu popularidade. Sérvia e Montenegro continuou uma união sul-eslávica como República Federal da Iugoslávia de abril de 1992 a fevereiro de 2003 e então renomeou o país com os nomes individuais das repúblicas federais – Sérvia e Montenegro. O número de "iugoslavos" autodeclarados (no sentido étnico) na região atingiu um mínimo histórico após a dissolução da Iugoslávia. A principal língua da Iugoslávia, o servo-croata, não é a língua oficial de qualquer um das repúblicas constituintes do ex-estado. Existem poucos trabalhos publicados sobre o idioma, e não tem mais um organismo de padronização. O nome de domínio da Internet .yu, que era popular entre sites iugonostálgicos, foi extinto em 2010.

A Iugonostalgia está retornando nos ex-estados da Iugoslávia.[6] Em Vojvodina (norte da província da Sérvia), um homem estabeleceu a Iugolândia, um lugar dedicado a Tito e à Iugoslávia.[7][8] Cidadãos da ex-Iugoslávia viajaram grandes distâncias para celebrar a vida de Tito e o país da Iugoslávia.[9]

Na Croácia, a "Aliança dos Iugoslavos" (Savez Jugoslavena) foi criada em 2010, em Zagreb, uma associação com o objetivo de unir os Iugoslavos da Croácia, independentemente de religião, sexo, política ou outros pontos de vista.[10] Seu principal objetivo é o reconhecimento oficial da nação iugoslava em todos os estados sucessores da Iugoslávia: Croácia, Eslovênia, Sérvia, Macedônia, Bósnia e Herzegovina e Montenegro.[11]

Outra organização de defesa do Iugoslavismo é a Associação "Nossa Iugoslávia" (Udruženje "Naša Jugoslavija"), fundada em 30 de julho de 2009,[12] sediado em Pula,[13] que é oficialmente uma organização registrada na Croácia.[14] A associação tem a maioria de seus membros nas cidades de Rijeka, Zagreb e Pula.[15] Seu objetivo principal é a estabilização das relações entre os estados sucessores iugoslavos. Também é ativo na Bósnia e Herzegovina, no entanto, o registro oficial como associação foi negado pelas autoridades do estado da Bósnia.

Provavelmente organização iugoslavista mais conhecida de Montenegro é o "Consulado-geral da RSFI", com sede na cidade costeira de Tivat. Antes do censo populacional de 2011, Marko Perković, o presidente da organização, pediu aos iugoslavos de Montenegro que declarem livremente sua identidade iugoslava no próximo censo.[16]

Reunificação iugoslava editar

A reunificação iugoslava refere-se a uma ideia de reunificação das seis repúblicas. Apesar de um apelo popular em todo o território anterior, seus defensores estão conformados com a noção de que tal estado não é susceptível de se concretizar desde que os regimes sucessores tenham firmemente consolidado seu compromisso com uma existência independente, estabelecido suas instituições e escolhido suas direções.[17]

Ver também editar

Referências editar

  1. Nicole Lindstrom, Review essay on: "Yugonostalgia: Restorative and Reflective Nostalgia in Former Yugoslavia."
  2. Brenda Luthar and Marusa Puznik, Remembering Utopia: The Culture of Everyday Life in Socialist Yugoslavia. Washington, DC: New Academia Publishing, 2010
  3. «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 26 de dezembro de 2017. Arquivado do original (PDF) em 4 de março de 2016 
  4. Ugrešić, Dubravka (1998). The Culture of Lies: Antipolitical Essays. [S.l.]: Pennsylvania State University Press. p. 231. ISBN 0-271-01847-X 
  5. Müller, Jan-Werner (2002). Memory and Power in Post-War Europe: Studies in the Presence of the Past. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 12. ISBN 0-521-00070-X 
  6. Telegraph (29 de dezembro de 2007). «Many in Slovenia yearn for old Yugoslavia». The Daily Telegraph. London. Consultado em 21 de maio de 2010 
  7. https://www.youtube.com/watch?v=MRASojQfNWI
  8. BBC (10 de maio de 2004). «Nostalgic Yugoslav re-creates land of Tito». BBC News. Consultado em 21 de maio de 2010 
  9. BBC (23 de maio de 2008). «Ex-Yugoslavs pine for unity and dignity». BBC News. Consultado em 21 de maio de 2010 
  10. U Zagrebu osnovan Savez Jugoslavena (in Croatian). Jutarnji list. Portal Jutarnji.hr; 23 March 2010
  11. U Zagrebu osnovan Savez Jugoslavena: Imamo pravo na očuvanje baštine Jugoslavije (in Croatian). Index.hr. L.J.; 23 March 2010
  12. Osnovano udruženje "Naša Jugoslavija" u Puli (in Serbian). Radio Television of Vojvodina. Tanjug; 30 July 2009
  13. Udruženje "Naša Jugoslavija" osniva Klubove Jugoslavena Arquivado em 1 de abril de 2012, no Wayback Machine. (in Croatian). Dubrovački vjesnik. Silvana Fable; 25 July 2010
  14. Yugoslavs in the twenty-first century: ‘erased’ people openDemocracy.net. Anes Makul and Heather McRobie; 17 February 2011
  15. "Naša Jugoslavija" širi se Hrvatskom (in Serbian). Vesti online. Novi list; 27 July 2010
  16. Perković pozvao Crnogorce da se izjasne i kao Jugosloveni Arquivado em 5 abril 2011 no Wayback Machine (in Serbian). Srbijanet. 03-03-2011
  17. Bilefsky, Dan (30 de janeiro de 2008). «Oh, Yugoslavia! How They Long for Your Firm Embrace». The New York Times. Consultado em 16 de março de 2015 

Bibliografia editar

Ligações externas editar