Jamena

Capital do Chade

Jamena[1][2][3][4] ou N'Djamena é a capital e a maior cidade do Chade, centro da atividade econômica do país, sendo também uma região autônoma (ou com estatuto especial).

Jamena
  Cidade  
Praça da Nação, com o icônico Monumento da Independência em forma de arco ao centro, durante as celebrações do festival Dary de 2018.
Praça da Nação, com o icônico Monumento da Independência em forma de arco ao centro, durante as celebrações do festival Dary de 2018.
Praça da Nação, com o icônico Monumento da Independência em forma de arco ao centro, durante as celebrações do festival Dary de 2018.
Símbolos
Brasão de armas de Jamena
Brasão de armas
Localização
Jamena está localizado em: Chade
Jamena
Localização de Jamena no Chadde
Coordenadas 12° 6' 47" N 15° 2' 57" E
País Chade
Setor Autônomo Jamena
Administração
Distritos
Prefeito Ali Haroun
Características geográficas
Área total 100 km²
População total (Censo 2013) 1 093 492 hab.
Densidade 11 000 hab./km²
 • Conurbação 2 899 763
Altitude 298 m
Fuso horário UTC (UTC+1)

Localiza-se na confluência do rio Logone com o rio Chari, formando uma conurbação transfronteiriça com a cidade de Cousséri (nos Camarões), capital do departamento de Lagoa e Chari, que está na margem ocidental de ambos os rios.[5] Tinha 1.093.492 habitantes em 2013.

Fundada em 1900 pelos franceses, foi conhecida pelo nome de Fort-Lamy até 1973. Após a independência chadiana, ganhou o nome de Jamena (1973) e tornou-se uma região com estatuto especial, subdividida em 10 distritos ou arrondissements.[6]

Etimologia editar

Antes da independência chadiana, a cidade chamava-se Fort-Lamy, em homenagem ao herói de guerra francês Amédée-François Lamy, morto em combate nos Camarões pouco antes da fundação de Jamena. Seu nome atual deriva do nome árabe Niǧāmīnā, que significa "local de descanso". Este era o nome de uma aldeia próxima ao sítio original da cidade, que após o crescimento, foi absorvido por Jamena.

História editar

 
Pessoas circulando na antiga Fort Lamy.

Jamena foi fundada como Fort-Lamy pelo comandante francês Émile Gentil, em 29 de maio de 1900, recebendo o nome de Amédée-François Lamy, um oficial do exército francês que havia sido morto, poucos dias antes, na Batalha de Cousséri. Rapidamente tornou-se uma importante cidade comercial, sendo elevada a capital da região e da colônia do Chade Francês, que depois uniu-se à África Equatorial Francesa.[7][8]

Décadas de 1940-1960 editar

Durante a Segunda Guerra Mundial, os franceses dependiam do aeródromo da cidade para transportar tropas e suprimentos.[9] Em 21 de janeiro de 1942, um único piloto alemão de uma Heinkel He 111, do Comando Especial Blaich (Sonderkommando Blaich), do sul da Líbia Italiana, bombardeou com sucesso o aeródromo de Fort-Lamy, destruindo suprimentos, combustíveis e dez aeronaves.[10]

Fort-Lamy recebeu sua primeira correspondência bancária em 1950, quando o Banco da África Ocidental (BAO) abriu uma agência lá.[8]

Em 6 de abril de 1973, o presidente François Tombalbaye mudou seu nome para Jamena, como parte de seu programa de africanização.[8]

Décadas de 1970 e 1980: guerras editar

A cidade foi parcialmente destruída durante a Guerra Civil do Chade, entre 1965 e 1979, principalmente na Primeira Batalha de Jamena. Como efeitos do conflito, a cidade foi ocupada, na Segunda Batalha de Jamena, por forças estrangeiras durante a intervenção na Líbia de 1980-81, como parte do conflito Líbio-Chadiano, sendo governada pelo Governo de Unidade Nacional de Transição (GUNT).[11] Um período de turbulência na cidade seguiu-se pela tentativa frustrada de golpe do primeiro-ministro do norte, Hissène Habré, contra o presidente sulista Félix Malloum. Enquanto Malloum e o exército nacional leal a ele foram derrotados, a intervenção líbia e de outras facções do norte rivais à Habré complicou a situação, levando a uma nova destruição de Jamena em 1980. Jamena foi dividida em setores controlados por vários senhores da guerra, com a maior parte citadina dominada por Goukouni Oueddei.[12]

Após divergências entre Goukouni e Muammar Gaddafi, e a desaprovação internacional da intervenção líbia, as tropas estrangeiras deixaram a capital e o Chade em 1981. Isso abriu as portas para Habré, que marchou sobre Jamena, ocupando a cidade, com pouca resistência, em 1982.[13]

Nestes anos, quase toda a população fugiu de Jamena em busca de refúgio na margem oposta do rio Chari, nos Camarões, próximo à cidade de Cousséri. Permaneceram em campos de refugiados até 1981-82, após o fim dos confrontos. Até 1984, as instalações e serviços da capital estavam sujeitos a racionamento e as escolas permaneciam fechadas.[14]

Década de 1990 - presente editar

Em 13 de abril de 2006, a cidade esteve sob ataque do grupo rebelde Frente Unida para a Mudança Democrática, ocorrendo a Terceira Batalha de Jamena.

No entanto, em 2007, o Chade retornou a uma guerra civil e o palácio presidencial, localizado na cidade, foi tomado de assalto por rebeldes armadas, que penetraram também nas zonas nobres da capital, provocando caos e inúmeros estragos. Entretanto, o então embaixador do Chade na Etiópia afirmou que a cidade estaria sob controle das forças oficiais e que o presidente, Idriss Deby, estaria seguro no seu palácio. O presidente permaneceu sitiado em seus escritórios até a Quarta Batalha de Jamena, quando conseguiu expulsar os rebeldes que cercavam a capital.[15]

Geografia editar

 
Imagem de Jamena tirada da Estação Espacial Internacional (ISS) durante a expedição 23, em 18 de maio de 2010.

Localiza-se na confluência do rio Logone com o rio Chari, numa rica e populosa planície fértil que é cercada por zonas áridas, já nos limites do Sahel com as savanas subsaarianas. Está no centro-sul ocidental da nação, na fronteira do Chade com os Camarões.

Demografia editar

A cidade tinha apenas 9.976 habitantes em 1937, mas uma década depois, em 1947, a população quase dobrou para 18.435. Em 1968, após a independência, a população chegava a 126.483. Em 1993, sua população havia multiplicado por quatro, chegando a 529.555 habitantes, crescimento devido ao retorno dos refugiados que estavam nos Camarões. A cidade ultrapassou a marca de um milhão em população no início de 2010.

Religião editar

O islão é a religião com maior número de seguidores em Jamena, abrangendo uma parcela de cerca de 50% da população, seguido pelo cristianismo, com 45%. Esse equilíbrio entre o número de cristãos e muçulmanos dá-se pela posição geográfica da cidade em relação ao país, entre o norte (mais islâmico) e o sul (mais cristão). O cristianismo católico na localidade está sob a égide da Arquidiocese de Jamena.[16]

Política e administração editar

Jamena sedia a maioria dos organismos políticos do país, incluindo a Assembleia Nacional do Chade, o Supremo Tribunal e o Tribunal de Recursos. Além disso, estão na cidade as sedes de muitas organizações e partidos políticos, além de todos os ministérios nacionais e todas as embaixadas estrangeiras — incluindo as embaixadas da França e dos Estados Unidos.

Está subdividida em 10 distritos ou arrondissements, além de 64 bairros.[6]

Cidades-irmãs editar

Cultura e lazer editar

Após o fim da guerra, vagarosamente a cidade de Jamena vem retomando sua reputação de jardim do Sahel. A cidade vem crescendo e se modernizando rapidamente, oferecendo grandes mercados, artigos artesanais e uma pujante vida cultural.

A cidade é dividida em duas seções: a europeia ou administrativa e a maior, mais palpitante, seção africana. Alguns locais de interesse para a visitação dos turistas são as mostras do Museu Nacional do Chade, o enorme Grande Mercado Central (Grand Marché Central) e a Praça da Nação, com o icônico Monumento da Independência em forma de arco ao centro.

Infraestrutura editar

Educação editar

A maior e mais importante instituição de ensino superior do país, a Universidade de Jamena, está sediada nesta cidade. Há ainda a Escola Nacional de Administração, o Instituto Superior de Ciências da Educação, o Instituto Nacional da Juventude e Desportos, a Escola Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação, a Escola Nacional de Obras Públicas e a Escola Normal Superior de Jamena, que também são públicas.[17]

Dentre as privadas, as principais são a Universidade Emi Koussi e a Universidade HEC-Chade, além de um polo de ensino da instituição confessional islâmica saudita Universidade Rei Faisal.[17]

Transportes editar

Dentro dos projetos da Rede Rodoviária Transafricana, a cidade de Jamena serve como um ponto de conexão entre várias rodovias. Pela Rodovia Trípoli–Cidade do Cabo têm acesso à Bertoua (sul dos Camarões) e a Faya-Largeau e Zouar (norte do Chade). Além desta, serve de conexão para a Rodovia Dacar–Jamena, de acesso, pela ponte de N'Gueli, à Cousséri e Cano (oeste), e para Rodovia Jamena–Jibuti, de acesso à Abéché e Geneina (oeste).[18]

A cidade é servida pelo Aeroporto Internacional de Jamena, o maior e mais movimentado do país.[19]

Referências

  1. Serviço das Publicações da União Europeia. «Anexo A5: Lista dos Estados, territórios e moedas». Código de Redacção Interinstitucional. Consultado em 18 de janeiro de 2012 
  2. Porto Editora. «Jamena». Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Infopédia – Enciclopédia e Dicionários Porto Editora. Consultado em 18 de janeiro de 2012 [ligação inativa]
  3. Macedo, Vítor (Primavera de 2013). «Lista de capitais do Código de Redação Interinstitucional» (PDF). Sítio web da Direcção-Geral da Tradução da Comissão Europeia no portal da União Europeia. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias (n.º 41). 15 páginas. ISSN 1830-7809. Consultado em 23 de maio de 2013 
  4. Instituto Internacional da Língua Portuguesa. «Jamena». Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa. Consultado em 28 de maio de 2017 
  5. Cahiers de l'Afrique de l'Ouest Dynamiques de l'Urbanisation Africaine 2020: Africapolis, Une Nouvelle Géographie Urbaine. OCDE. 20 fevereiro 2020
  6. a b Décret n° 285/PR/PM/MISP/2009 portant restructuration des arrondissements municipaux dans la commune de N'Djaména. Legitchad. 10 de março de 2009.
  7. Roman Adrian Cybriwsky, Capital Cities around the World: An Encyclopedia of Geography, History, and Culture, ABC-CLIO, USA, 2013, p. 208
  8. a b c Zurocha-Walske, Christine (2009). Chad in Pictures. [S.l.]: Twenty-First Century Books. p. 17. ISBN 978-1-57505-956-3. Consultado em 15 de novembro de 2015. Cópia arquivada em 30 de abril de 2016 
  9. Zeleza, Tiyambe; Dickson Eyoh (2003). Encyclopedia of twentieth-century African history. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 379. ISBN 978-0-415-23479-5. Consultado em 15 de novembro de 2015. Cópia arquivada em 19 de maio de 2016 
  10. MESSERSCHMITT Bf 108 – 'TAIFUN' Arquivado em 2012-03-23 no Wayback Machine accessed: 29 April 2011
  11. «N'Djamena (Chad)». Encyclopædia Britannica Online. 2009. Consultado em 29 de novembro de 2009. Cópia arquivada em 25 de março de 2011 
  12. Collelo, Thomas (Dezembro de 1988). Chad: A country study. [S.l.]: Federal Research Division / Civil War and Multilateral Mediation, 1979–82 
  13. R. Buijtenhuijs, Le Frolinat et les guerres civiles du Tchad, pp. 177–225
  14. Samuel Decalo, Historical Dictionary of Chad, Scarecrow, 1987, pp. 229–230
  15. Rebeldes controlam parte da capital do Chade após confrontos, BBC Brasil, in Globo Online
  16. 2020 Report on International Religious Freedom: Chad. U.S. Departament of State. 12 de maio de 2021.
  17. a b 2021 Chadian University Ranking. UniRank. 2021.
  18. Mindur, Maciej. Economic and transport aspects of the African Union. Scientific Journal of Silesian University of Technology. Setembro de 2018.
  19. Presentation. N'Djamena International Airport. 2021.