João Escoto Erígena

 Nota: Não confundir com João Duns Escoto.

João Escoto Erígena (em latim: Johannes Scotus Eriugena; Irlanda, 810Paris, 877), também conhecido como Escoto de Erigena, foi um Filósofo, teólogo e tradutor irlandês da corte de Carlos, o Calvo. Expoente máximo do renascimento carolíngio, no século IX, Erígena concentrou seus estudos nas relações entre a filosofia grega e os princípios do cristianismo.

João Escoto Erígena
João Escoto Erígena
Nascimento 810
Irlanda
Morte 877
Frância Ocidental, Inglaterra
Cidadania Irlanda
Ocupação filósofo, tradutor, escritor
Religião Igreja Católica
João Escoto Erígena

Biografia editar

Suas origens irlandesas podem ser deduzidas do seu nome. De fato, ele era scoto, ou melhor, habitante da Scotia Maior, que era o nome da Irlanda, na época. Além disso, em seus manuscritos, assinava Eriugena, que significa "irlandês" (Ériu + gena).

Em 843 transferiu-se para o reino dos francos, para dirigir a Schola Palatina de Carlos o Calvo. Na corte, ensinou gramática e dialética. Além disso, o rei encarregou-o de traduzir, do grego, o Corpus Areopagiticum ou Corpus Dionysianum, de Pseudo-Dionísio o Areopagita, obra que Escoto Erígena estudou e comentou em latim, aproximando-se do neoplatonismo.

Erígena foi também estudioso e tradutor dos escritos de Orígenes e dos Padres da Capadócia, dentre os quais São Basílio Magno, São Máximo o Confessor e São Gregório de Níssa. Suas traduções tornaram acessíveis aos pensadores ocidentais os escritos dos fundadores da teologia cristã.

A sua filosofia segue a linha de Agostinho com relação ao platonismo e à teologia negativa. Erígena quis explicar a realidade através de um sistema racional e unitário que contradizia o dualismo da religião — segundo o qual, Deus e Mundo são duas realidades diferentes — e os dogmas relativos à criação do mundo e à vontade divina.

Sua obra caracterizou-se pela poderosa síntese filosófico-teológica e pela obscuridade estrutural. Para ele, razão e são fontes válidas de conhecimento verdadeiro e por isso não podem estar em contradição; mas se assim ocorresse, a razão divina e as escrituras deveriam prevalecer. Essa afirmação, juntamente com a perspectiva de tendência panenteística que ele sustenta em De divisione naturae, valeram-lha a suspeita de heresia.

Concebeu a natureza sob quatro categorias cujo ponto de partida era Deus e cujo termo terminava em Deus, portanto, como um círculo que parte do Supremo e volta para ele. Tudo começa no Supremo e retorna ao Supremo. Está no Uno várias perspectivas legítimas sobre como finitas. Todos os seres criados são assim absorvidos pelo seu criador. A noção de bem e mal é específica para a manifestação como tempo e espaço; inocentes e culpados precisam conhecer um destino temporal estrangeiro ou não ao destino eterno. O inferno não é um lugar terrestre, de manifestação espacial, mas nada está fora do espaço da natureza divina; todavia, é ser, dor e cegueira.[1]

Sobre sua morte circularam diversas histórias fantásticas. Segundo uma delas, após a morte do seu protetor, Carlos o Calvo, Erígena refugiou-se na Inglaterra, junto ao Alfredo o Grande, e lá teria sido assassinado a golpes de pena, por alguns monges que o consideravam herético.

Seus principais livros foram De prǣdestinatione (851), que foi condenado pelas autoridades eclesiásticas, em concílio, e De divisione naturæ (862-866), sua obra mais conhecida e também a mais importante, na qual mostra sua visão sobre a origem e a evolução da natureza, na tentativa de conciliar a doutrina neoplatônica da emanação com o dogma cristão da criação. Posteriormente, esse livro também seria condenado pela Igreja Católica.

Posteriormente, suas ideias inspirariam os Irmãos do Livre Espírito.

Referências

  1. L'homme, le monde sensible, et le péché dans la philosophie de Jean Scot Erigène. Avital Wohlman. Vrin, 1987.

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