João José Bigarella
João José Bigarella GCONMC (Curitiba, 23 de setembro de 1923 – Curitiba, 5 de maio de 2016) foi um geólogo, geógrafo, geomorfólogo, engenheiro químico e professor universitário brasileiro.[1]
João José Bigarella | |
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Nascimento | 23 de setembro de 1923 Curitiba |
Morte | 5 de maio de 2016 (92 anos) Curitiba, Paraná, Brasil |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Universidade Federal do Paraná |
Ocupação | geólogo, geógrafo, engenheiro químico, professor universitário |
Instituições | UFPR, UFSC, |
Nos mais de 70 anos de carreira, publicou mais de 200 artigos técnicos e científicos em diversos países, sobre os mais variados temas das Ciências da Terra, principalmente no campo da Geologia. Além disto fez parte de inúmeras entidades e sociedades científicas, tanto como membro quanto dirigente e foi extensivamente premiado e condecorado.[2] Foi um dos primeiros defensores da proteção do meio-ambiente, muito antes de a ecologia tornar-se um assunto importante.[3] Bigarella foi professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de 1949 até 1980, quando se aposentou como Professor Titular,[4] tornando-se professor visitante na Universidade Federal de Santa Catarina. As principais áreas de atuação do Professor Bigarella eram o estudo sobre a movimentação dos continentes, a revisão global dos depósitos eólicos ou dunas, tanto recentes como antigos, na Bacia do Paraná, e a geologia e geomorfologia do quaternário brasileiro.[5]
Biografia
editarJoão José Bigarella nasceu na Rua Barão de Rio Branco, 444, centro de Curitiba e era filho de José João Bigarella, descendente de imigrantes vindos do sul do Tirol, Austria e da Itália e Ottilia Schaffer Bigarella, descendente de imigrantes alemães vindos da Boêmia, na atual República Tcheca. Iniciou os estudos em 1930 no Colégio Divina Providência e estudou no Instituto Santa Maria, entre 1933 e 1939. Cursou o curso de Pré-Engenharia no Ginásio Paranaense, entre 1940 e 1941. Era casado com a artista plástica curitibana Íris Koehler Bigarella, com quem teve três filhos, cinco netos e quatro bisnetos.[6][7]. Em 1943 o Professor Bigarella formou-se em Química, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (instituição que, posteriormente, integraria a Universidade do Paraná). Em 1945 formou-se em Química Industrial pelo Instituto de Química do Paraná e em 1953 em Engenharia Química pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) [8]. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências Físicas e Químicas, pela UFPR. Finalmente, em 1953 tornou-se Professor catedrático em Mineralogia e Geologia econômica, também pela UFPR.[2]
Vida profissional
editarComo químico, começou a trabalhar para a indústria do cimento, na prospecção e análise de matéria-prima mineral.[2] Em 1944 ingressou no Museu Paranaense: “O museu foi minha escola de vida, onde eu desenvolvi capacidade de pesquisa”, relembrou o professor. Em 1945 foi contratado pelo Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas, atual Instituto de Tecnologia do Paraná, para trabalhar na divisão de Mineralogia e Geologia. “Nesse momento, eu me envolvi muito com a geologia e decidi que minha carreira seguiria esse caminho”.[5] Iniciou sua carreira no magistério em 1949, como professor das disciplinas de Mineralogia e Petrologia, na Universidade Federal do Paraná. Até sua aposentadoria, em 1980, ministrou diversas outras disciplinas, principalmente Sedimentologia, tanto na UFPR quanto em outras universidades. Com a criação do Departamento de Geologia, na UFPR, foi o primeiro chefe do departamento, entre os anos de 1975 e 1976.[4] Além de professor, ele colaborou na implantação de diversos cursos de Pós-Graduação em universidades espalhadas pelo Brasil.[2]
Desenvolveu um equipamento chamado estereohelioplanímetro e que serve para medir a direção e o ângulo de mergulho das paleocorrentes, ou seja, que existiam durante a deposição dos sedimentos. Este aparelho ficou conhecido como “bigarelômetro”.[5] A utilização deste aparelho nos estudos da Formação Botucatu, de idade jurássica a cretácica e formada por arenitos eólicos, ajudou na determinação da direção dos ventos que ocorriam durante aquela época.[9]
Produção científica
editarBigarella foi autor de mais de 200 trabalhos publicados em vários países, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Rússia e África do Sul, além do Brasil. Entre eles, destacam-se o estudo sobre a movimentação dos continentes, a revisão global dos depósitos eólicos ou dunas e da geologia e geomorfologia do quaternário brasileiro.[5] Realizou pesquisas geológicas e geográficas em vários países da América do Sul e da África, interessado principalmente nos problemas relacionados com a deriva continental.[2] O seu trabalho sobre dunas recentes no litoral paranaense até hoje é referenciado nos mais importantes livros e artigos sobre ambientes eólicos.[10]
Foi membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Latino-Americana de Ciências. Participou da Sociedade Brasileira de Geologia, da Geological Society of America, da Associação dos Geógrafos Brasileiros e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.[2] Foi membro do International Geological Correlation Program da UNESCO entre 1973 e 1976 e seu vice-presidente de 1975 a 1976.[11] Fez parte do corpo editorial de diversas revistas científicas européias.[2]
Participações em Congressos
editarO Professor Bigarella participou do primeiro Congresso Brasileiro de Geologia, da Sociedade Brasileira de Geologia, realizado no Rio de Janeiro, em novembro de 1947.[12] Desde então, participou de eventos semelhantes em todo o mundo, tanto como autor de trabalhos quanto como organizador, coordenador ou presidente. A seguir uma lista de alguns eventos em que participou:
- Symposium on Gondwana Stratigraphy and Paleontology (1967) Mar Del Plata, Argentina: Além de apresentar trabalhos no referido simpósio, foi co-editor do livro Problems in Brazilian Gondwana Geology, que representou a contribuição brasileira no mesmo. Foi a primeira vez que uma síntese do conhecimento geológico produzido por especialistas brasileiros sobre o antigo supercontinente Gondwana foi apresentado no cenário internacional;[13][14]
- Presidente do XXI Congresso Brasileiro de Geologia (Nov-1967) Curitiba, Brasil;[15]
- Organizador do International Symposium on the Quaternary, Curitiba, 1975: O simpósio contou com a participação de 23 paises;[16]
- Presidente de honra do 44º Congresso Brasileiro de Geologia, realizado em Curitiba (PR) em outubro de 2008.[12]
Ambientalista
editarEm 1974, Bigarella foi um dos fundadores da Associação de Defesa e Educação Ambiental (ADEA), a primeira organização ambientalista, sem fins lucrativos, do Estado do Paraná e uma das primeiras no Sul do País. A ADEA teve importante papel em diversos projetos ambientais no Estado do Paraná.[3] Foi presidente da ADEA entre os anos de 1974 e 1994.[2] O tombamento da Serra do Mar no estado do Paraná, em 1978, e que culminou com a criação do Parque Estadual Pico Marumbi foi baseado em trabalhos do Prof. Bigarella que mostraram que o assoreamento da Baía de Paranaguá e dos canais de navegação do Porto de Paranaguá era conseqüência do desmatamento da serra.[17]
Fundação João José Bigarella
editarEm 1998 foi fundada a Fundação João José Bigarella (FUNABI), cuja missão é desenvolver projetos que busquem melhorar a qualidade da vida humana e ambiental, além de promover e estimular a investigação e pesquisa científica, tecnológica, cultural e artística. O Professor Bigarella foi membro do Conselho Curador. O principal projeto da Fundação é a instalação do Museu de Geologia e Paleontologia do Parque Estadual de Vila Velha. Em maio de 2010 foi também lançada uma campanha em defesa das baleias Jubarte e Franca.[18]
Condecorações e homenagens
editarO reconhecimento aos esforços do professor Bigarella no desenvolvimento das ciências no Brasil, e sua luta em prol do meio ambiente, renderam ao mesmo inúmeros prêmios e homenagens:
- Foi condecorado em duas ocasiões com a Ordem Nacional do Mérito Científico – Presidente da República do Brasil, ordem honorífica concedida pelo governo brasileiro a personalidades brasileiras e estrangeiras como forma de reconhecimento das suas contribuições científicas e técnicas para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Em junho de 1995 recebeu o grau de Comendador e, em julho de 2000, recebeu o grau de Grã-Cruz.[19]
- Em setembro de 1966, é agraciado com a medalha de ouro José Bonifácio de Andrade e Silva, a maior condecoração da Sociedade Brasileira de Geologia, durante o XX Congresso Brasileiro de Geologia, em Vitória, ES.[20]
- Em 5 de março de 2013 assumiu a cadeira 22 da Academia Paranaense de Letras, anteriormente ocupada pelo médico e cientista Metry Bacila.[21]
- Em 2019 a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Paraná publicou o livro DIREITO AMBIENTAL NA ATUALIDADE: Homenagem ao Dr. JOÃO JOSÉ BIGARELLA.[22]
Outros prêmios e títulos honoríficos seguem abaixo:[2]
- Engenheiro de Destaque – Instituto de Engenharia do Paraná – 1969;
- Prêmio Heleno Fragoso – Centro Heleno Fragoso pelos Direitos Humanos;
- Prêmio Francisco Sales de Azevedo – Sociedade Brasileira de Cerâmica;
- Prêmio Almirante Álvaro Alberto – Conselho Nacional de Pesquisa – 1992;
- Título "Cidadão Benemérito do Paraná" - Governo do Estado do Paraná – 1997;
- Título "Vulto Emérito" – Município de Curitiba – 1998;
- Título "Cidadão Benemérito" – Município de Matinhos – 1999.
Dá nome ao Museu Ecológico João José Bigarella, localizado na cidade de Matinhos, litoral do Paraná.[23]
Dá nome ao novo prédio do Setor Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná, Edifício Professor João José Bigarella.[24]
Referências
- ↑ gazetadopovo.com.br (5 de maio de 2016). «Professor Bigarella morre aos 92 anos». Consultado em 6 de maio de 2016
- ↑ a b c d e f g h i Academia Brasileira de Ciências. «Página de membros da Academia Brasileira de Ciência: Bigarella». Consultado em 3 de novembro de 2010
- ↑ a b Reserva Volta Velha (2009). «Associação de Defesa e Educação Ambiental». Consultado em 4 de novembro de 2010
- ↑ a b «Prof. Bigarella na UFPR». Consultado em 3 de novembro de 2010
- ↑ a b c d Brum, Gabriel (1 de outubro de 2006). «Documentário sobre Bigarella é lançado no Museu Paranaense». Jornal Comunicação – Ano 14 (curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná). Consultado em 3 de novembro de 2010
- ↑ UGSC Geosul. «Entrevista com o Professor João José Bigarella» (PDF). Consultado em 27 de outubro de 2019
- ↑ Paran@shop (2009). «Autora curitibana lança O Grande Enigma» (PDF). Consultado em 7 de novembro de 2010
- ↑ Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. «NOTÁVEIS - João José Bigarella». Consultado em 2 de agosto de 2024
- ↑ Bigarella, J.J.; Salamuni, R. (1961). «Early mesozoic wind patterns as suggested by dune bedding in the Botucatu sandstone of Brazil and Uruguay». USA: GSA. Geological Society of America (em inglês). 72 (2): 1089–1106
- ↑ Bigarella, J. J. (1972). Eolian environment; their characteristics, recognition, and importance. (inglês) IN: Recognition of ancient sedimentary environments. J. Keith Rigby [and] Wm. Kenneth Hamblin (ED:). Vol. 16: pp. 12 – 62: 340 p.
- ↑ UNESCO (2009). «Bigarella na International Geological Correlation Program» (em inglês). Consultado em 4 de novembro de 2010
- ↑ a b Palestra de abertura do 44º Congresso Brasileiro de Geologia (2008) Anais…; Curitiba, Brasil.
- ↑ Bigarella, J.J.; et al. (1967). Bigarella, J.J.; Becker, R.D.; Pinto, I.D. (Ed.), ed. Problems in Brazilian Gondwana Geology (em inglês). Curitiba: UFPR
- ↑ Iannuzzi, R. & Boardman, D.R. (Ed.) (agosto de 2007). «Problems in Western Gondwana Geology – I Workshop» (PDF) (em inglês). Gramado, RS, Brazil. 206 páginas. Consultado em 4 de novembro de 2010
- ↑ XXI Congresso Brasileiro de Geologia (1967) Anais…; Curitiba, Brasil.
- ↑ Bigarella, J.J. & Becker, R.D. (1975). International Symposium on the Quaternary. (em inglês) Curitiba: UFPR, Bol. Paranaense de Geociências. Vol 33: 370 p.
- ↑ Funabi (2010). «Fundação João José Bigarella». Consultado em 6 de novembro de 2010[ligação inativa]
- ↑ Funabi (2010). «Fundação João José Bigarella - projetos». Consultado em 6 de novembro de 2010
- ↑ Ministério da Ciência e Tecnologia - Brasil. «Ordem Nacional do Mérito Científico». Consultado em 9 de novembro de 2010
- ↑ Sociedade Brasileira de Geologia (2010). «Prêmio José Bonifácio de Andrada e Silva». Consultado em 9 de novembro de 2010
- ↑ «Cadeira 22 – João José Bigarella». Consultado em 4 de outubro de 2014. Arquivado do original em 5 de novembro de 2014
- ↑ OAB/PR. «DIREITO AMBIENTAL NA ATUALIDADE: Homenagem ao Dr. JOÃO JOSÉ BIGARELLA» [1]
- ↑ «Museu Ecológico João José Bigarella». Consultado em 9 de novembro de 2010
- ↑ «Edifício Prof. João José Bigarella». Consultado em 6 de julho de 2014
Publicações selecionadas
editar- Bigarella, J. J.; Contribuição ao Estudo dos Calcários do Estado do Paraná (1956). Tese de concurso para a cátedra de Mineralogia e Geologia Econômica da Escola de Química da Universidade do Paraná, Curitiba, PR.
- Bigarella, J. J.; Salamuni, R.; Marques Filho, P. L. (1961). Considerações sobre a Formação Furnas. Bol. Paranaense de Geografia. 4/5: 53 pp., Curitiba, PR.
- Bigarella, J. J. & Andrade, G. O. (1965). Contribution to the study of the Brazilian quaternary. (em inglês) Geological Society Special Publication, 84:433-451.
- Bigarella, J. J. & Oliveira, M.A.M., (1966). Nota preliminar sobre as direções de transporte dos arenitos Furnas e Botucatu na parte Setentrional da Bacia do Paraná. Boletim Paranaense de Geografia, Curitiba, 18/20: 247-56. 1 fig. 2 tab.
- Bigarella, J. J. & Salamuni, R. (1967). A review of South American Gondwana Geology. (em inglês) IN: Symposium on Gondwana Stratigraphy and Paleontology, Mar Del Plata, Argentina, 1967, Reviews…, p. 7-138.
- Bigarella, J. J. e Salamuni, R. (1967). The Botucatu Formation. (em inglês) IN: J. J. Bigarella, R.D. Becker, J.D.Pinto (eds). Problems in Brazilian Gondwana Geology. UFPR, Curitiba, p. 198-206
- Bigarella, J. J. (1971). Wind pattern deduced from dune morphology and internal structures. (em inglês) Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, 28/29: 21 fig.
- Bigarella, J. J. & Van Eeden, O.R. (1971). Mesozoic paleowind patterns and the problem of Continental Drift. (em inglês) Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, 28/29: 115-44.
- Mendes, J. C.; Bigarella, J. J.; Salamuni, R. (1972). Estratigrafia e sedimentologia. Brasília: INL: MEC, 1972. 1v. (varias paginaçőes): il., mapas. –
- Bigarella, J. J. (1973). Paleocurrents and the problem of continental drift. (em inglês) Geol. Rundschau. vol. 62: pp. 442 – 477.
- Bigarella, J. J. (1973). Textural characteristics of the Botucatu Sandstone. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, 31:85-94. 15 fig.
- Bigarella, J. J. (1973). Paleocorrentes e Deriva Continental (comparação entre América do Sul e África). Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, 31: 141-224, 6 tab. 48 fig.
- Bigarella, J.J. & Becker, (1975). International Symposium on the Quaternary. (em inglês) Curitiba: UFPR, Bol. Paranaense de Geociências. 33, 370 p., 1975.
- Bigarella, J. J. (1975). Lagoa dune fields (State of Santa Catarina, Brazil), a model of eolian and pluvial activity. (em inglês) Curitiba: UFPR, Bol. Paranaense de Geociências, vol. 33: pp. 133 – 167
- Bigarella, J. J. (1975). The Barreiras Group in Northeastern Brazil. (em inglês) Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro,v. 47 (Suplemento), p. 365-393.
- Bigarella, J.J. Andrade Lima, D.; Riehs, P.J. (1975) Considerações a respeito das mudanças paleoambientais na distribuição de algumas espécies vegetais e animais no Brasil. Acad. Bras. Ciências. Anais, Rio de Janeiro, 47 (suplemento):411-464.
- Bigarella, J. J. e Salamuni, R. (1977). Some palaeogeographic features of the Brazilian Devonian. (em inglês) Bol. Paranaense de Geociências, vol. 21, p. 133 – 167.
- Bigarella, J.J.; Becker, R.D.; Santos, G.F. (1996) Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. V. I e II. Editora da UFSC, Florianópolis.
- Bigarella, J.J.(1998) Imigrantes da Morávia: de Römerstadt a Curityba (Saga dos Schaffer).
- Bigarella, J. J. (2003) Nas Trilhas De Um Geólogo. Editora: Imprensa Oficial.
- Bigarella, J.J.(2004) Fragmentos Étnicos.
- Bigarella, J.J.(2009) Matinho: Homem e Terra – Reminiscências…