João Vicente Friedrichs

João Vicente Friedrichs (Bom Jardim, 30 de outubro de 1880 — ?, ? de ?) foi um escultor, ornatista, canteiro e marmorista brasileiro, ativo especialmente na primeira metade do século XX.

João Vicente Friedrichs
Nascimento 30 de outubro de 1880
Morte século XX
Cidadania Brasil
Progenitores
Detalhe da fachada da Igreja das Dores, com esculturas de Friedrichs.

Carreira editar

Era filho de Miguel Friedrichs e sobrinho de Jacob Aloys Friedrichs, também artistas de destaque no estado do Rio Grande do Sul, e com eles aprendeu os rudimentos do ofício. Também recebeu instrução de Carlo Fossati. Mas sua educação se completaria principalmente na Alemanha, para onde se dirigiu em 1895, frequentando a Kunstgewerbeschule (Escola de Artes Industriais) da cidade de Colônia, recebendo aulas de modelagem e desenho, e praticando em diversas oficinas. Em 1898 deixa a escola antes de diplomar-se, e passa a viajar por alguns países europeus a fim de ampliar seus conhecimentos. Regressando a Porto Alegre em 1899] abre um pequeno atelier de ornamentação predial, usando contudo os materiais aqui costumeiros — o gesso, o cimento e a argila — e não o grês e o mármore, mais usuais nas oficinas de decoração da Europa.[1]

 
Fachada dos antigos prédios do Cine Guarany e da Farmácia Carvalho, hoje o Banco Safra.
 
Detalhe da fachada da Cervejaria Brahma, ornamentada pelo atelier de Friedrichs. O elefante é obra do escultor Schob (ou Schauff).

Sua oficina logo foi reconhecida pelos seus bons serviços, e em 1901 já se destacava na Grande Exposição Commercial e Industrial, em cuja Seção de Artes apresentou dezenas de trabalhos, entre maquetes para ornamentações de edifícios e esculturas independentes. Diversas destas peças não eram de sua autoria, sendo declaradamente realizadas a partir de modelos importados, mas ajudaram a divulgar a proficiência da sua empresa e de sua equipe. No Salon da Gazeta do Comércio, realizado em 1903, volta a ser aplaudido, com cópias de obras clássicas de escultura, como de O Rapto da Sabina e da Vênus de Médici.[1]

Nesta época em Porto Alegre ocorria um surto de edificações públicas e privadas de grande porte, e Friedrichs tomou partido das circunstâncias favoráveis, atendendo diretamente a inúmeros particulares, colaborando com Affonso Hebert, que era o arquiteto do Governo do Estado, e logo se tornando o fornecedor exclusivo de ornamentos e esculturas decorativas para a firma de Rudolph Ahrons, a mais importante empresa construtora da capital no começo do século XX.[1] Em vista da magnitude dos projetos de Ahrons, este incentivou Friedrichs a contratar colaboradores experimentados. Assim chega a Porto Alegre em 1902 Frederico Pellarin, vindo de Buenos Aires, mas ele logo se desligou da oficina, juntando-se a Gustavo Steigleder. Em 1906 foi contratado também em Buenos Aires Luis Sanguin.[2] Em 1908 juntou-se ao escritório de Ahrons mais um colaborador de primeira linha, o arquiteto Theodor Wiederspahn, que doravante assinaria os projetos. Em 1910 Friedrichs contratou Wenzel Folberger.[2] Este período foi dos mais produtivos, e a associação de Friedrichs com Ahrons e Wiederspahn resultou na construção e decoração de alguns dos mais notáveis prédios históricos da cidade, como a Delegacia Fiscal, os Correios e Telégrafos, a Previdência do Sul e a Cervejaria Bopp.[1]

Esta frutífera colaboração duraria até 1915, quando a firma de Ahrons fechou. O volume sempre crescente de encomendas forçaria uma rápida expansão na oficina de Friedrichs, e assim foram contratados outros profissionais, em sua maioria estrangeiros, para auxiliar nos trabalhos. Com essa colaboração adicional, e por causa do costume de não se assinar as peças individuais, hoje em dia fica difícil determinar quais são de autoria do próprio Friedrichs e quais as de seus colaboradores, até mesmo porque na fase de maior movimento do atelier sabe-se que o titular ficava muito tempo absorvido em tarefas administrativas e deixava o trabalho escultórico prático para a sua equipe realizar, apenas supervisionando o processo. De sua autoria pessoal são as estátuas da fachada da Igreja das Dores, representando a Fé, a Esperança e a Caridade, e a ornamentação da desaparecida Confeitaria Schramm. Embora a oficina com seu nome recebesse os créditos finais pelas decorações, algumas peças podem com alguma segurança ser atribuídas a determinados artífices de sua empresa, como a estátua de Gambrinus na fachada da antiga Cervejaria Bopp, as estátuas da Delegacia Fiscal e o grupo de São José com o Menino Jesus na Igreja São José, todas obras de Alfred Adloff; o Atlas nos Correios e Telégrafos de Folberger, e as esculturas para a fachada da Faculdade de Direito e da Faculdade de Medicina, trabalho de Pellarin.[1][3]

 
O Atlas nos Correios e Telégrafos.

A sua oficina tornou-se uma verdadeira escola, e nela se formou ou atuou uma plêiade de mais de 60 artistas, que contribuíram decisivamente para dar um novo rosto à capital do estado. Dentre eles, além dos já citados, contam-se também Jesús Maria Corona, Franz Radermacher, André Arjonas, Alfredo Staege, Giuseppe Gaudenzi, Fernando Corona e Vitório Livi.[1]

A produção de seu atelier se caracteriza por um ecletismo de traços vigorosos e originais, ainda que mostre frequentemente alguma rigidez e um acabamento rústico nas figuras, mas sempre com uma rica inventividade para os ornamentos, num estilo que se distancia dos rígidos cânones clássicos e se aproxima do gosto e entendimento do público comum e, nos prédios públicos, amiúde serve de ilustração para um programa narrativo simbólico de caráter positivista, que era uma forte tendência na época.[1]

Referências

  1. a b c d e f g Damasceno, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Editora Globo, 1971
  2. a b Doberstein, Arnoldo Walter. "A Porto Alegre Positivista". In: Cadernos de História do Memorial e Banrisul. Memorial do Rio Grande do Sul, sem data. [1]
  3. Corona, Fernando. "100 Anos de Formas Plásticas e seus Autores". In: Becker, Klaus (org.). Enciclopédia Rio-Grandense, volume 2, 2ª ed. Sulina, 1968, pp. 141-161

Ver também editar

 
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