José Pacheco Pereira

político português da 3ª república

José Álvaro Machado Pacheco Pereira GCL[2] (Porto, Bonfim, 6 de janeiro de 1949) é um professor, cronista e político português.

José Pacheco Pereira
José Pacheco Pereira
Deputado e vice-presidente do Parlamento Europeu
Período 20 de julho de 1999
a 19 de julho de 2004
Deputado à Assembleia da República
Período 15 de outubro de 2009
a 19 de junho de 2011
Período 13 de agosto de 1987
a 24 de outubro de 1999
Dados pessoais
Nome completo José Álvaro Machado Pacheco Pereira
Nascimento 6 de janeiro de 1949 (75 anos)
Porto, Bonfim
Nacionalidade português
Alma mater Universidade do Porto
Partido Partido Social Democrata
Religião Agnóstico[1]
Profissão professor
Ocupação cronista
comentador
arquivista
historiador

Biografia editar

José Pacheco Pereira nasceu no Porto, na Rua de Santos Pousada, no seio de uma família de classe média. Neto do pintor Gonçalo Pacheco Pereira, filho de Álvaro Gonçalo de Lima Pacheco Pereira (Porto, Bonfim/Cedofeita, 4 de agosto de 1921 - 5 de maio de 2012), Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que foi docente do ensino superior (ISCTE e UAL)[3][4] e de História e Filosofia no ensino secundário, e de sua mulher (Porto, Bonfim, Igreja de Nossa Senhora da Conceição, 20 de março de 1948) Maria Celina Machado (Porto, Bonfim, 5 de julho de 1920/1 - Porto, Vitória, 17 de junho de 1996/7), funcionária pública nos Correios, Telégrafos e Telefones (CTT).[5]

É bisneto por bastardia do 5.º Senhor de Aveloso e 5.º Senhor do Préstimo, dos antigos Alcaides-Mores do Castelo de Vila de Rei. Sua avó paterna era espanhola. É irmão de Beatriz Pacheco Pereira e cunhado de Mário Dorminsky, e de Maria Manuela Machado Pacheco Pereira, administrativa. Como antepassado ilustre tem Diogo Lopes Pacheco, um dos matadores de D. Inês de Castro. Casou no Porto, a 7 de novembro de 1975 com Isabel Maria de Seabra Correia Soares (Ovar, São Vicente de Pereira Jusã, 11 de setembro de 1949), filha de Manuel Correia Soares e de sua mulher Maria Ludovina Godinho de Seabra, da qual teve um único filho, José Gonçalo Soares Pacheco Pereira (Porto, 1985), licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa com um MBA pela Boston University School of Management, casado com Maria João de Sousa Tadeu.[6]

Por volta de 1965 conheceu Eugénio de Andrade, que veio a influenciar bastante a sua formação, dando-lhe a ler e a discutir muitos livros e poemas.[7]

No Liceu Alexandre Herculano, Pacheco Pereira dirigiu o jornal dos estudantes, chamado Prelúdio,[8] fundado por José Augusto Seabra e Manuel Alegre.

Pacheco Pereira iniciou na juventude a sua actividade política, na oposição ao Estado Novo. Zita Seabra afirma que Pacheco Pereira a terá contactado com vista à sua eventual adesão ao Partido Comunista.[9] Esta informação é, no entanto, negada por Pacheco Pereira:[10]

Viria a aderir ao PCP (m-l) em 1972, de inspiração maoísta, fundando a Secção Norte desse mesmo partido. Já publicara então o seu primeiro livro, As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal: a greve geral de Novembro de 1918, editado em 1971. Este livro seria apreendido e proibido de circular pela PIDE, a qual, pouco depois, instaurou um processo ao autor, sob a direção do inspetor António Rosa Casaco.[11] Após uma rusga da PIDE à sua casa, a 30 de abril de 1973, viveu na clandestinidade, da qual só sairia completamente após o golpe de 11 de março de 1975.[12]

Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1978. Já tinha aí obtido o bacharelato em 1971.[13]

Iniciou então a sua carreira como professor do ensino secundário, que acumularia com uma intensa colaboração nos meios de comunicação social. Posteriormente, viria a lecionar também na Universidade Autónoma de Lisboa e no ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa.[14]

Pacheco Pereira recolheu, classificou, organizou e estudou de forma sistemática documentação sobre a vida política portuguesa, tendo lançado a revista Estudos sobre o comunismo: Boletim de estudos interdisciplinares sobre o comunismo e os movimentos comunistas (inspirada pela revista Communisme, de Annie Kriegel e Stéphane Courtois) em 1983. Foi director da revista, de cujo conselho de redacção faziam parte, para além do próprio Pacheco Pereira, Fernando Rosas, Rogério Rodrigues, Maria Goretti Matias, António Moreira, José Alexandre Magro («Ramiro da Costa») e Manuel Sertório.[15] Com João Carlos Espada e Manuel Villaverde Cabral, fundou em 1984 o Clube da Esquerda Liberal.

Em 1986 apoiou activamente a primeira eleição presidencial de Mário Soares.[16] Foi deputado pelo Partido Social Democrata durante quatro legislaturas (1987–1991, 1991–1995, 1995–1999 e 2009–2011), tendo sido eleito da primeira vez como independente, pois só se filiaria no PSD em 1988.[17] Acabaria por ser líder parlamentar[18] e presidente da comissão política distrital de Lisboa deste partido.[19] Foi membro da Delegação da Assembleia da República à Assembleia da NATO e Presidente do Subcomité da Europa de Leste e da ex-URSS da Comissão Política da Assembleia do Atlântico Norte. Foi também Vice-Presidente do Instituto Luso-Árabe para a Cooperação.[carece de fontes?]

Já em 1995 seria o cabeça de lista do PSD pelo círculo eleitoral de Aveiro, nas eleições legislativas que culminaram na vitória do Partido Socialista, então dirigido por António Guterres. Pacheco Pereira enfrentou nessa eleição, entre outros, Paulo Portas e Carlos Candal. A disputa desse círculo foi uma das mais polémicas, sendo a razão dessa polémica o Breve manifesto anti-Portas em português suave, da autoria de Carlos Candal. Em 2002, foi cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto, nas eleições legislativas que culminaram com a vitória do Partido Social Democrata, então dirigido por Durão Barroso. Contudo, por ser na altura deputado europeu, não assumiu o cargo de deputado na Assembleia da República. Foi Vice-Presidente do Parlamento Europeu entre 1999 e 2004.

Em 2004 foi nomeado embaixador de Portugal na UNESCO. Um mês após a divulgação de que iria ocupar este cargo, quando se soube que Santana Lopes iria substituir Durão Barroso como primeiro-ministro, demitiu-se por não querer ficar na dependência funcional de um governo que pretendia criticar. Voltou a ser eleito deputado (pelo PSD, como cabeça de lista por Santarém) nas eleições legislativas de 2009.

Foi um dos principais signatários do Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico de 1990, petição on-line que, entre Maio de 2008 (data do início) e Maio de 2009 (data da apreciação pelo Parlamento), recolheu mais de 115 mil assinaturas válidas[20].

É colaborador regular da imprensa escrita. Actualmente é cronista do jornal "Público" e da revista "Sábado", tendo sido no passado colaborador do "Semanário" e do "Diário de Notícias". Também é comentador político na televisão, nomeadamente na Circulatura do Quadrado na TVI24 (até janeiro de 2019 num programa semelhante, Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, programa que por sua vez sucedeu ao Flashback da TSF) tendo na década de 1990 participado no programa Viva a Liberdade! da SIC, juntamente com Miguel Sousa Tavares e António Barreto. Também participou, em 2008, no programa Minuto a minuto, do Rádio Clube e faz actualmente o programa Ponto/Contraponto na SIC Notícias, um programa de comentários sobre comunicação social, media, jornais, rádios, blogues, livros e televisão. Na blogosfera, assina os blogues Abrupto, Estudos sobre o Comunismo e Ephemera.

A 9 de junho de 2005 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.[21]

Desde 2013, é sócio correspondente da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa (3.ª Secção - Filosofia, Psicologia e Ciências da Educação).[22]

Reside na Marmeleira, em Rio Maior.

Ephemera, biblioteca e arquivo editar

 Ver artigo principal: Ephemera

A sua biblioteca instalada desde 2003 na Marmeleira, com cerca de 110 000 títulos, é possivelmente a maior biblioteca privada portuguesa. Foi criada uma associação entre abril e maio de 2017 com 120 associados . Pacheco Pereira está a estudar a possibilidade de a converter numa fundação.[23][24]
Em 2017 lançou o site Ephemera, que pretende ajudar a difundir o seu arquivo — no site aparece uma história do arquivo, as suas raízes na biblioteca da família Pacheco Pereira, uma descrição dos principais fundos e colecções, eventos, trabalhos de investigação, exposições e publicações.

Exemplos de materiais recebidos:

  • Papéis de Sá-Carneiro deixados à sua secretária;
  • Mobília de Vítor Crespo, antigo presidente da Assembleia da República.

Uma da mais recentes conquistas é um armazém no Parque Empresarial Baía do Tejo, no Barreiro, com espaço para organizar o arquivo.

Associado ao arquivo e biblioteca são dinamizados exposições, conferências e livros.

Obras editar

Obras de Pacheco Pereira editar

Livros de outros autores preparados para publicação por Pacheco Pereira editar

  • Questões sobre o movimento operário português e a revolução russa de 1917 (Portucalense Editora, 1971);
  • A situação política de Portugal vista pelo movimento marxista-leninista internacional (Edições RÉS, 1975);
  • Sem independência nacional, um povo nada terá: Textos e artigos de marxistas-leninistas sobre a luta pela independência (Edições RÉS, 1975);
  • A salvação da República pela intervenção militar interna, de A. M. Strecht de Vasconcelos (Edições Afrontamento, 1978);[26]
  • Notícias históricas do concelho e vila de Boticas, de L. de Figueiredo da Guerra (Câmara Municipal de Boticas, 1982).

Livros prefaciados por José Pacheco Pereira editar

Obras colectivas com artigos de Pacheco Pereira editar

Traduções editar

  • Da práticaDe onde vêm as ideias justas, de Mao Tsé-Tung, com Maria Helena Cunha (Livraria Júlio Brandão, 1971);
  • Questões do Leninismo, de Estaline, com Maria Helena Cunha (Livraria Júlio Brandão, 1972);[36]
  • O materialismo dialéctico — O materialismo histórico, de Estaline, com Maria Helena Cunha (Livraria Júlio Brandão, 1972);[36]
  • O leninismo e a libertação dos povos oprimidos e outros textos, de Ho Chi Minh, com Maria Helena Cunha (Livraria Júlio Brandão).[36]

Referências

  1. Leia-se citação de Pacheco Pereira na reportagem Bento XVI: Cinco anos sem descanso.
  2. Presidência da República (10 de junho de 2005). «Lista de agraciados · 10 de Junho de 2005». Consultado em 22 de junho de 2020. Arquivado do original em 22 de agosto de 2007 
  3. Pereira, José (6 de Outubro de 2018). «"As profissões infernais"». "Público". Consultado em 7 de Outubro de 2018 
  4. Wook, Desconhecido (4 de Outubro de 2018). «"José Pacheco Pereira"». Wook. Consultado em 7 de Outubro de 2018 
  5. António Luís Cansado de Carvalho de Matos e Silva (2006). Anuário da Nobreza de Portugal 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. pp. Tomo IV. 20 
  6. António Luís Cansado de Carvalho de Matos e Silva (2006). Anuário da Nobreza de Portugal 1.ª ed. Lisboa: Dislivro Histórica. pp. Tomo IV. 20 
  7. Veja-se o texto Adeus, de José Pacheco Pereira.
  8. Expresso
  9. No seu livro Foi Assim (p. 27), Zita Seabra descreve os encontros que tiveram (em 1966) nos seguintes termos: «Só conheci um caso de alguém que entrou na vida política dessa altura depois de ter optado por ler os clássicos e considerar que estava teoricamente preparado para o fazer: foi o José Pacheco Pereira. O meu liceu era a Carolina Michaëlis e todo o movimento associativo existente nos liceus se encontrava lá e no D. Manuel II, pois não tínhamos, para nosso desespero, contactos com os liceus do outro lado da cidade, o Rainha Santa Isabel e o Alexandre Herculano. O José Pacheco Pereira queria entrar para o movimento associativo e ser comunista e procurou-me com esse objectivo. Para poder entrar tinha feito uma enorme preparação teórica e já tinha lido uma série de obras dos clássicos do marxismo-leninismo. Primeiro, encontrámo-nos no Café de São Lázaro e tivemos posteriormente vários outros encontros. Achei aquilo muito estranho e disse-o ao controleiro […], que concordou comigo: ou ele era um génio para ler tanto e preparar-se daquela forma, ou era suspeito. O José Pacheco Pereira, já com uma enorme capacidade de leitura e preocupação intelectual, falava com à vontade d' O Capital de Marx, ou do Materialismo e Empiriocriticismo de Lenine. Nós achámos melhor pô-lo de quarentena, para termos a certeza de que tão estranho comportamento não seria o de um provocador. Nunca chegou a entrar para o PCP: eu deixei de acompanhar o caso, passei nessa altura à clandestinidade e ele não gostou do tempo de espera. Impaciente, criou o seu próprio partido marxista-leninista. Foi caso único.»
  10. Veja-se também a entrevista dada ao jornal i
  11. Ver o prefácio da 2ª edição do livro As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal: a greve geral de Novembro de 1918.
  12. Ver a entrevista por Maria João Avillez, bem como o Dicionário de Personalidades Portuenses do Século 20.
  13. Ver a biografia de José Pacheco Pereira na página dos antigos estudantes ilustres da Universidade do Porto.
  14. Pacheco Pereira, José (6 de Outubro de 2018). «As profissões infernais -A escola perdeu a sua função e, no meio de tudo, estão professores sitiados no meio de um inferno cheio de hormonas sem regras.». O Público 
  15. Veja-se o texto Estudos sobre o Comunismo — Terceira série.
  16. Ver o cap. XXII de Soares — Democracia.
  17. Ver Dicionário de Personalidades Portuenses do Século 20.
  18. Veja-se o capítulo Tempo de partir do segundo colume da Autobiografia Política de Cavaco Silva.
  19. Fez dois mandatos consecutivos de um ano cada, em 1996–1998.
  20. «Petição em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico» 
  21. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "José Álvaro Machado Pacheco Pereira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 18 de outubro de 2014 
  22. Site da Academia das Ciências de Lisboa
  23. Almeida, São José (6 de Maio de 2009). «Um homem cercado de livros». O Público 
  24. Lopes, Maria de Lurdes (4 de Maio de 2012). «Pacheco Pereira diz que a sua biblioteca "não pode continuar privada"». O Público 
  25. Foi re-editado pela Editora Nova Crítica em 1976.
  26. Esta edição do texto de A. M. Strecht de Vasconcelos foi publicada sob o título A preparação ideológica da intervenção militar de 28 de Maio de 1926.
  27. Contém o texto Um livo para queimar.
  28. Contém o texto Atitudes do trabalhador rural alentejano face à posse da terra e ao latifúndio.
  29. Contém o texto As lutas sociais dos trabalhadores alentejanos: Do banditismo à greve.
  30. Contém o texto Problemas da História do PCP
  31. Contém o texto Elementos para o estudo da origem do movimento operário no Porto: As associações mutualistas.
  32. Contém o texto A Federação Nacional dos Trabalhadores Rurais (1912–1926): síntese da comunicação.
  33. Contém o texto A case of orthodoxy: The Communist Party of Portugal.
  34. Contém o texto O Partido Comunista Português e a esquerda revolucionária.
  35. Contém o texto Paz, segurança e democracia, originalmente publicado no jornal Público (jornal) em 2003
  36. a b c Os tradutores publicaram a tradução sob o pseudónimo Álvaro Machado.

Bibliografia editar

Livros editar

  • Avillez, M. J., Soares — Democracia, Público, 1996
  • Seabra, Z., Foi Assim, Lisboa: Alêtheia, 2007
  • Cavaco Silva, A., Autobiografia Política II: Os anos de governo em maioria, Lisboa: Temas e Debates, 2004
  • Silva, Germano e Duarte, L. M. (eds.), Dicionário de Personalidades Portuenses do Século 20, Porto: Porto Editora, 2001

Artigos editar

Ligações externas editar

 
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