José Embala o Menino

(Redirecionado de José embala o Menino)

"José embala o Menino" é uma canção de embalar tradicional portuguesa originária da antiga freguesia de Monsanto (incluída desde 2013 na União das Freguesias de Monsanto e Idanha-a-Velha) no concelho de Idanha-a-Nova.[1] Uma vez que a sua letra inclui referências ao Menino Jesus também é considerada uma canção de Natal.[2]

História editar

 
São José com o Menino Jesus no Mosteiro de Pombeiro.

"José embala o Menino" foi recolhida pelo etnomusicólogo de origem corsa Michel Giacometti no ano de 1968 na aldeia de Monsanto. O fonograma então coligido foi transcrito para partitura pela compositora brasileira Kilza Setti e publicado no livro Cancioneiro Popular Português em 1981.[1] Na verdade, outras versões monsantinas já haviam sido publicadas em 1947 pelo folclorista Eurico de Sales Viana no seu Cancioneiro Monsantino e por Fernando Lopes-Graça n'A Canção Popular Portuguesa[1] e outras canções de embalar com melodias e letra semelhantes são cantadas noutros locais da Beira Baixa como por exemplo em Paul.[3]

A primeira quadra, a mais característica deste embalo, parece ser a conjugação de duas quadras tradicionais portuguesas; atente-se às seguintes recolhidas no Alentejo e publicadas em 1902 por António Tomás Pires:

José, embala o Menino,
Com a mão, nanja co pé,
O menino que ali vês
É Jesus de Nazaré.

Cantai, anjos, ao Menino,
Que a Senhora logo vem,
Foi lavar os cueirinhos
À ribeira de Belém.[4]

As quadras são interrompidas de forma regular pela sequência de vogais "Ó, ó, ó, ó…" que se trata de uma neuma utilizada frequentemente em cantigas de embalar na Península Ibérica. Surge mais frequentemente na forma "ro, ro, ro…" e o seu registo mais antigo é "Ro, ro, ro, nuestro Dios y Redentor" do Auto da Sibila Cassandra de Gil Vicente.[5]

Em 1997 o compositor português Eurico Carrapatoso fez desta canção o segundo andamento da obra a que chamou "Natal Profano" (os outros temas incluídos são "Oh bento airoso" e "Ó meu Menino").[2] Em 1998, o mesmo compositor tornou a harmonizar a obra, desta vez como um dos andamentos da obra "Magnificat em Talha Dourada".[6] Este embalo já tinha sido arranjado anteriormente pela compositora Maria de Lourdes Martins[7] e pelo padre Manuel Luís.[8]

A canção tem sido gravada por várias intérpretes de relevância internacional, notavelmente a catalã Montserrat Figueras[9] ou as portuguesas Maria João[10], Filipa Pais[11] e Maria Ana Bobone[12], mas também faz parte do repertório de muitos outros como Carlos Mendes[13], Né Ladeiras[14], Susan Palma-Nidel[14] ou Vozes da Rádio.

Letra editar

A letra desta canção é particularmente notável por relatar na primeira das suas quadras um momento de cumplicidade entre o Menino Jesus e São José enquanto Maria lava roupa na fonte de Belém. Esta partilha de tarefas entre marido e mulher, presente, aliás, noutras cantigas tradicionais portuguesas como "Oh bento airoso", seria provavelmente bastante incomum no tempo e local de criação deste tema.[15][16]

 
Fonte na Aldeia Velha de Monsanto.

José embala o Menino,
Que a Senhora logo vem,
Ó, ó, ó, ó…
Foi lavar os cueirinhos,
À fontinha de Belém,
Ó, ó, ó, ó…

Quem tem o nome de mãe
Nunca passa sem cantar,
Ó, ó, ó, ó…
Quantas vezes ela canta,
Com vontade de chorar,
Ó, ó, ó, ó…

Vai-te embora, passarinho,
Deixa a baga do loureiro,
Ó, ó, ó, ó…
Deixa dormir o menino,
Que está no sono primeiro,
Ó, ó, ó, ó…[1]

Discografia editar

Ver também editar

Referências

  1. a b c d Giacometti, Michel; Fernando Lopes-Graça (1981). Cancioneiro Popular Português 1 ed. Lisboa: Círculo de Leitores 
  2. a b Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Natal Profano». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 18 de setembro de 2015 
  3. Carvalho, Maria; Pereira, Tiago; Morais, Sara (2011). «Maria José Ramos Carvalho, interpretação de "José Embala o Menino"». Música Portuguesa A Gostar Dela Própria. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  4. Pires, A. Tomás (1902). Cantos Populares Portuguezes. I 1 ed. Elvas: Tipografia Progresso 
  5. Neves, Guilherme Santos (maio de 1958). «O rô rô rô das canções de berço». A Gazeta 
  6. Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Magnificat em Talha Dourada». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  7. Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «José Embala o Menino». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  8. «Canções Tradicionais Populares Harmonizadas para Vozes Iguais - Homenagem ao Padre Manuel Luís». Essemble Vocal Introitus. 2006. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  9. a b Andrew McGregor (2003). «Montserrat Figueras Ninna Nanna Review» (em inglês). BBC Music. Consultado em 30 de setembro de 2015 
  10. a b «Fábula». Maria João. Consultado em 30 de setembro de 2015 
  11. a b «Filipa Pais ‎– À porta do mundo» (em inglês). Discogs. Consultado em 30 de setembro de 2015 
  12. a b «Senhora da Lapa» (em inglês). Maria Ana Bobone. Consultado em 30 de setembro de 2015 
  13. a b «Carlos Mendes ‎– Chão Do Vento». Discogs. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  14. a b c Morais, Nuno (novembro de 2016). «Susan Palma-Nidel - "Lisboa Íntima"». Antena 1. Consultado em 16 de novembro de 2016 
  15. «Natal: Música mostra o «fascínio» pelo mistério celebrado e traduz a ideia de «revelação» e «júbilo»». Agência Ecclesia. 22 de dezembro de 2014 
  16. «Música: Repertório tradicional de Natal centra-se na Sagrada Família». Agência Ecclesia. 22 de dezembro de 2012 

Ligações externas editar