Quisquilila

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Quisquilila (Kiskil-lilla), também grafada Quissiquililaque, é uma súcuba da mitologia suméria, também denominada Lilitu ou Ardatelili. Filha de Anu e Ninursague, de acordo certos autores, e filha de Lilite, de acordo com outros.[1][2][3]

Era uma das servas promíscuas da deusa Inana, possivelmente trazida da viagem até o reino de Eresquigal. Segundo os mitos sumérios, era uma divindade das tempestades noturnas e guardiã da Árvore Haluppu, cuja semente fora dada a Enqui por Eresquigal[4], sendo que, ulteriormente, terá assumido um papel mormente associado à noite, enquanto súcuba.[5] Era representada como uma mulher bela e sensual, segurando dois laços e com garras de ave de rapina no lugar dos pés, pousada sobre dois gatos selvagens.[6]

Abonações histórico-literárias editar

Quisquilila figura na adenda acádia do épico de Gilgamés, enquanto demónio encerrado numa árvore decana, votiva do culto de Inana, acompanhada por uma serpente e por um pássaro Anzu. Gilgamés trucida a serpente, o que leva Quisquilila a fugir do seu lar, na árvore, destruindo-a.[7] O sufixo “lil-la-ke” traduz-se por "espírito d'água", se bem que há autores que entendem que é um termo alusivo a corujas.[8]

Ardate-Lili editar

Este nome traduz-se por "açafata de Lilite" ou "serva de Lilite".[8] A palavra "Ardatu" significa "manceba" (no sentido de rapariga casadoira) e era um término amiúde usado para aludir a prostitutas. Ardatelili é por vezes associada a Naamá (filha de Lilite ou irmã mais nova de Lilite).[7] Figura amiúde em textos mágicos assírios, que a descrevem como um espírito feminino, sem marido. Há certos escritos que sugerem a hipótese de ter um alterne masculino, chamado idlulili, que será um íncubo.[1]

Há orações de exorcismo assírias, que aludem à figura de Ardat Lili[9][10]:

Aquele a quem o espírito maligno açodou

Aquele a quem o demónio maligno abraçou no leito,

Aquele a quem o fantasma maligno tombou à noite

Aquele a quem o grão-diabo açoitou

Aquele cujos membros o deus do mal derreou

Aquele a quem as bruxas caçaram

Aquele a quem as avantesmas derrubaram

Aquele a quem os trasgos enfermaram

Aquele a quem Ardat Lili esguardou

O homem com quem Ardat Lili comungou

Obras editar

  • Na obra de banda desenhada, Black Magick de Greg Ruca, Ardatelili figura como umas das vilãs, assumindo a forma de uma menina de vestido de folhos, com os lábios cosidos, que leva consigo uma boneca de trapos, com a qual pratica magia.[11]

Referências

  1. a b Thompson, R. Campbell (1 de fevereiro de 2000). Semitic Magic: Its Origins and Development (em inglês). [S.l.]: Weiser Books. pp. 67–71 
  2. Walter Farber, in Reallexikon der Assyriologie und vorderasiatischen Archäologie (RLA), 7, Berlin, de Gruyter, 1990, pp. 23–24, ISBN 3-11-010437-7.
  3. Manfred Hutter, Lilith, in K. van der Toorn et al. (eds.), Dictionary of Deities and Demons in the Bible, Leiden, Brill 1999, pp. 520–521. ISBN 90-04-11119-0.
  4. Raphael Patai, The Hebrew Goddess, Third Enlarged Edition, p. 221–222, ISBN 978-0-8143-2271-0
  5. S.A.L. Butler: Mesopotamian Conceptions of Dreams and Dream Rituals. Ugarit-Verlag, Münster, 1998. p. 62
  6. Rankine, David (2007). Practical Planetary Magick. [S.l.]: Avalonia. 220 páginas 
  7. a b Flowers, Stephen (1995). The Sacred Book of Abramelin the Mage, Hermetic Magic. [S.l.]: Weiser Books. 320 páginas. ASIN 0877288283 
  8. a b Thompson, R. Campbell (2000). Semitic Magic: Its Origins and Development (em inglês). [S.l.]: Weiser Books. 68 páginas 
  9. Sabrina, Lady (2008). Witch's Master Grimoire: An Encyclopaedia of Charms, Spells, Formulas and Magical Rites. [S.l.]: Weiser. 224 páginas. ISBN 1564144828 
  10. Thompson, R. Campbell (1 de fevereiro de 2000). Semitic Magic: Its Origins and Development (em inglês). [S.l.]: Weiser Books. 67 páginas 
  11. «Black Magick». Image Comics (em inglês). Consultado em 10 de fevereiro de 2021