Kogda my byli na voine...

Kogdá my býli na voiné... (em russo: Когда́ мы бы́ли на войне́…, pronúncia russa: [kɐɡˈda mɨ ˈbɨlʲɪ nə vɐjˈnʲe], em português: "Quando estávamos na guerra..."), originalmente chamado Pésenka gusára (em russo: Пе́сенка гуса́ра, pronúncia russa: [ˈpʲesʲɪnkə ɡʊˈsarə], em português: "Canção do hussardo"), é um poema de David Samoilov de 1982, publicado originalmente em sua coleção "Golosa za kholmami". Foi notoriamente musicado por Viktor Stoliarov, em versão popularizada entre cossacos, e, apesar de sua recentidade, é hoje folcloricamente conhecida como tradicional desta etnia.[1]

"Kogda my byli na voine..."
Canção
Gênero(s) Música folclórica russa, música militar
Idioma(s) Russo
Letra David Samoilov
Composição Viktor Stoliarov

Texto original editar

A letra da música é:

Russo[1][2] Transliteração Português

Когда мы были на войне,
Когда мы были на войне,
Там каждый думал о своей
Любимой или о жене.

И я бы тоже думать мог,
И я бы тоже думать мог,
Когда на трубочку глядел,
На голубой её дымок.

Как ты когда-то мне лгала,
Как ты когда-то мне лгала,
Как сердце легкое своё
Другому другу отдала.

А я не думал ни о ком,
А я не думал ни о ком,
Я только трубочку курил
С турецким табаком…

Когда мы будем на войне,
Когда мы будем на войне,
Навстречу пулям понесусь
На молодом коне.

Я только верной пули жду,
Я только верной пули жду,
Что утолит мою печаль
И пресечет[nota 1] мою вражду.

Kogda my byli na voine,
Kogda my byli na voine,
Tam kajdy dumal o svoei
Liubimoi ili o jene.

I ia by toje dumat mog,
I ia by toje dumat mog,
Kogda na trubotchku gliadel,
Na goluboi eio dymok.

Kak ty kogda-to mne lgala,
Kak ty kogda-to mne lgala,
Kak serdtse legkoe svoio,
Drugomu drugu otdala.

A ia ne dumal ni o kom,
A ia ne dumal ni o kom,
Ia tolko trubotchku kuril,
S turetskim tabakom...

Kogda my budem na voine,
Kogda my budem na voine,
Navstretchu puliam ponesus,
Na molodom kone.

Ia tolko vernoi puli jdu,
Ia tolko vernoi puli jdu,
Tchto utolit moiu petchal
I presetchot moiu vrajdu.

Quando estávamos na guerra,
Quando estávamos na guerra,
Cada um lá pensava em sua
Amante ou esposa.

E eu poderia pensar também,
E eu poderia pensar também,
Quando olhava para o cachimbo,
Para sua fumaça azul.

Como você um dia mentiu para mim,
Como você um dia mentiu para mim,
O quão facilmente seu coração
Você entregara a outro.

Mas eu não pensei nisso,
Mas eu não pensei nisso,
E apenas fumava o cachimbo
Com tabaco turco...

Quando nós estivermos na guerra,
Quando nós estivermos na guerra,
Voarei ao encontro das balas
No meu jovem cavalo.

Eu só estou esperando a bala certa,
Eu só estou esperando a bala certa,
Para acabar com a minha tristeza
E para aniquilar minha inimizade.

Eu-lírico editar

 
Gravura alemã de hussardo russo

O texto do poema, estilizado como canção folclore, é um monólogo interno de um soldado de cavalaria, especificado no título como hussardo, apesar de nada no texto indicar esta afiliação particular. Em verdade, Samoilov escolheu a figura do hussardo como eu-lírico por sugestão de seu editor, para evocar uma imagem mais clara e deixar o texto menos vulnerável à censura. Nesta reflexão, o hussardo ostenta a indiferença com a qual encara o adultério de sua mulher amada, expressando a esperança de que seja morto em combate.[1]

Crítica poética editar

O poeta russo Stanislav Minakov, analisando o poema, chama a atenção para o fato de que o único termo utilizado no diminutivo é "cachimbinho" (em russo: трубочка, transl. trubotchka), para o qual o eu-lírico heroico transfere toda sua ternura. Minakov faz analogia com o estereótipo de que o cossaco "deve trocar a mulherzinha por tabaco e cachimbinho", além do grande número de outras músicas na qual o tabaco tem papel semelhante, como a marcha da Segunda Guerra Mundial "Davai zakurim" (em russo: Давай закурим) ou "Okurotchka", canção de Iuz Aleshkovski sobre os gulagues.[1]

No último verso do poema, Minakov percebe o uso da expressão neologística "minha inimizade" (em russo: моя вражда, transl. moia vrajda), conotando que apenas o eu-lírico, e não a adúltera à qual o poema se refere, sentia inimizade, tanto em relação a ela quanto a si próprio. Esta expressão encontra paralelismo com "acabar com minha tristeza" (em russo: утолит мою печаль, transl. utolit moiu pechal) no verso anterior, uma clara referência à expressão corrente da Ortodoxia russa "acabe com minha tristeza" (em antigo eslavo eclesiástico: утоли моя печали, transl. utoli moia petchali), nome de ícone da Teótoco. Ainda, as sílabas tônicas -tchot e -du (em russo: -чёт e -ду) no último verso, que fala sobre o desejo do eu-lírico em ser alvejado e morto, imitariam o som de um tiro.[1]

Notas e referências

Notas

  1. O texto original inconsistentemente opta por não indicar o trema no ё, como permitido na ortografia russa, enquanto a forma mais conservadora de escrever esta palavra seria "пресечёт".

Referências

Bibliografia editar