Língua mazandarani

Mazandarani

Mazänderuni مازرونی
Tabäri تبری

Falado(a) em: Irã, província de Mazandarão, Guilão e partes das províncias Alborz, Teerã, Semnã e Gulistão
Região: Litoral sul do mar Cáspio
Total de falantes: 3,3 milhões (1993)
Família: Indo-europeia
 Indo-Iraniana
  Iraniana
   Ocidental
    Noroeste
     Caspiana
      Mazandarani
Escrita: Alfabeto persa
Estatuto oficial
Língua oficial de: Faculdade de linguística – Univ. Babol
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: ambos:
mzn — Mazandarani
srz — Shahmirzadi

Mazandarani (مازِرونی) ou tabari (تبری) (também chamada: Mazaniki) é uma língua iraniana do ramo noroeste e é falada principalmente nas províncias iranianas de Mazandarão, Guilão e Gulistão. Sendo uma língua do ramo noroeste é relacionada na sua origem com a língua guilaqui e de forma mais distante com o Persa, a qual pertence ao ramo do Sudoeste.[1][2]

Áreas onde o mazandarani é falado como língua materna

Dialetos editar

Linguistas identificaram três maiores dialetos do mazandarani:

  • Mazandarani próprio
  • Shahmirzadi
  • Gorgani (extinto)

Etimologia editar

O nome mazandarani (e suas variantes) deriva da histórica região de Mazandarão (Mazerun em Mazandarani), que fez parte do antigo reino do Tabaristão (ou Tapúria). Muitos dos seus falantes chamam a língua de Gileki (não confundir com língua guilaqui), como também assim chamam os guilaquis. Gileki consiste da junção de dois morfemas : Gil + pos-fixo ki. O nome Tapuri (ou Tabari) vem de uma antiga língua de algum local de Tapúria, Esse último nome é mais usado entre os mais jovens para se referir aos gilequis. Assim, Guilão e Mazanderão formaram um antigo estado chamado Tapúria cuja língua nacional foi o guilaqui.

História editar

Dentre as línguas iranianas ainda vivas, mazandarani é uma das que têm mais longa vida com registros escritos, entre os séculos X e XV. Essa condição é devida aos longos reinados independentes a semi-independentes que dominaram Mazandarão nos séculos que se seguiram à invasão árabe.[3]

A literatura dessa língua inclui livros como Marzban Nameh (mais tarde traduzido para o persa) e a poesia de Amir Pazevari. O uso do mazandarani, porém, caiu em declínio. Seu prestígio na literatura e na administração foi possivelmente eclipsado pela língua persa bem antes da final integração da inclusão de Mazandarão na administração nacional no início do século XVII.[4]

Falantes editar

O Ethnologue (relat. De 1993) estimou mais de três milhões de falantes nativos mazandarani, falando diversos dialetos com gorgani, ghadikolahi e palani.[5] O Mazandarani é um idioma relacionado em muita proximidade com a língua gilaki, tendo as duas línguas vocabulários muito similares

Gramática editar

O mazanderani é uma língua inflexionada e sem gêneros gramaticais.[6] Sua ordem de palavras preferencial é Sujeito-Verbo-Objeto.

Casos gramaticais editar

Caso Positção Significado

Sere-a

Nominativo

Casa

Sere re

Acusativo

Rumo à casa

Sereo

Vocativo

Casa!

Sere şe

Genitivo

Da casa

Sere re

Dative

Para a casa

Sere ye jä

Ablativo

Pela casa

Adjetivos editar

Adjetivo Posição Significado

And-e Sere

Aplicativo

 

Gat e Sere

Comparativo

Casa grande

untä Sere

Determinativo

Aquela casa

Səre

Superlativo

Xär Sere

Sufixos editar

A lista a seguir veio de um Dicionário Persa-Mazandarani Online Mazandarani-Persian dictionary.

Locativos editar

Sufixo

Exemplo

Significado

Kash

Kharkash

Bom local

Kel

Tutkel

Limite de morus

Ij

Yoshij

Yoshian

Pequeno pão

Chenarbon

Na banana da terra

Ja

Səre Ja

Da casa

Sar

Bənesar

Em abaixo

Subjetivos editar

Sufixo

Exemplo

Significado

Chaf

Au Chaf

Sugador de água

Rush

Halikrush

Vendedor de drupas

Su

Vərgsu

Caçador de lobos

Kaf

Ukaf

Quem atua na água

Vej

Galvej

Localizador de ratos

Yel

vəngyel

Líder da banda

Ortografia editar

Mazanderani é escrita normalmente com o alfabeto persa.[7] Porém, muitos usam (principalmente para Internet) o alfabeto latino.

Vocabulário editar

Português Mazandarani Persa Proto-Indo-Europeu Exemplo
Novo Neo No/Now *newos Adjetivo
Grande Gat Bozorg, Gonde, Katte Adjetivo
Melhor Better Behtar Advérbio
Ser (pass.) Bine Budeh Verbo auxiliar
Ser (pass.) Bien Budan Verbo no infinito
Lua Moong/Mong Mâh *mehnos Substantivo
Filha Deter Dokhtar *dheugh Substantivo
Vaca Go/Gu/Guw Gâv/Gow Substantivo
Meu Me/Mi (antes do subst.) am (depois do subst.), om Verbo
Tagarelar Gap Gap Verbo
Corrigir Rast Râst Verbo

Quase todos os falantes de Mazandarani são fluentes também em persa e muitos dialetologistas concluíram que a língua está convergindo para o persa.

Influências do mazanderani editar

Irã de hoje editar

No Irã há produtos e empresas bem populares, como Rika (filho) ou Kija (filha), que tomaram seus nomes de palavras mazandarani.[8]

Línguas não iranianas editar

Há palavras oriundas do Mazanderani na língua turcomena.[9] A maioria vive nas margens sudoeste do mar Cáspio, muitos são fazendeiros ou pescadores. São próximos a outros povos iranianos que habitam do planalto iraniano. A recente onda de nacionalismo iraniano na atual história do país está associada à inspiração na Dinastia Pahlavi (em língua persa دودمان پهلوی), cuja origem é mazandarani. Durante esse período houve promoção de tal crescimento junto com a revitalização de tradições locais pré-islâmicas, reformas da língua persa, etc.[10]

Língua editar

A língua mazandarani pertence ao ramo noroeste das línguas iranianas e seus falantes Mazandaranis são fluentes tanto nessa língua como no Persa. Porém, com o crescimento da educação e com a influência maior da imprensa, as diferenças entre o mazandarani e outros dialetos iranianos vão tendendo a desaparecer. O mazandarani é muito relacionada à língua guilaqui, tendo as duas línguas muito em comum no vocabulário. Tais duas línguas (ou dialetos) mantiveram muito mais do que o Persa antigas características das antigas línguas iranianas.

O especialista Borjan verificou que o mazandarani tem diversos subdialetos com muita inteligibilidade mútua entre eles. Raymond Gordon em Ethnologue os lista como gorgani, palani, etc., chamados de dialetos.

Famosos Mazarandanis editar

Personagens históricos editar

  • Abu Jafar ou Maomé ibne Jarir Atabari (838–923), historiador e teólogo.
  • Abu Jafar Maomé ibne Jarir ibne Rustum Atabari, pensador xiita, por vezes confundido com o homem acima. Escreveu a obra Dala'il al-Imamah (Provas da Doutrina Shi'a - Imamah .
  • Ali ibn Sahl Rabban al-Tabar], "Ali, o estudioso do Tabaristão" (838–870 0.) – escreveu uma enciclopédia médica e ensinou o médico Zakariya al-Razi.
  • Alboácem Atabari, médico do século X.
  • Atabarani, ( 821–918 CE) escreveu muitos “ahadeetha”.
  • Amir Pazevari, poeta.
  • Maziar, aristocrata iraniano da “Casa de Karen”.

Personagens recentes editar

  • Reza Pahlavi, Imperador do Irã (Pérsia) de 1924 a 1941
  • Nima Yooshij (poeta)
  • Emamali Habibi (Campeão Olímpico de luta livre — Babreh Mazandarão)
  • Ali Larijani (ex-membro da Suprema Corte do Conselho de Segurança do Irã — porta voz dos Majlis)
  • Mohammad Javad Larijani (matemático e ex-membro dos Majlis)
  • Sadegh Larijani (líder do Judiciário da República Islâmica do Irã)
  • Mohammad Zohari (poeta)
  • Delkash (cantora)
  • Gholam-Hossein Banan (cantor)
  • Ehsan Tabari (teórico marxista)
  • Noureddin Kianouri (político)
  • Dr. Parviz Khanlari (escritor, tradutor)
  • Habibollah Badiei (músico)
  • Reza Allamehzadeh (diretor de cinema)
  • Rashid Mostaghim (cantor)
  • Behdad Salimikordasiabi (atleta olímpico — levantamento de peso)

Georgianos editar

Na era dos Safávidas, houve assentamento de migrantes georgianos para Mazandarão, cujos descendentes ainda vivem na região.[11] Muitas aldeias, cidades e áreas ainda têm nos seus nomes a partícula "Gorji" (de georgiano), mesmo que quase todos descendentes dessa etnia tenham se assimilado aos Madanzaranis locais. A história desses imigrantes da Geórgia é descrita pelo estudioso Eskandar Beyg Monsh, do século XVII, autor de “Tarikh-e Alam-Ara-ye Abbas”. Autores estrangeiros também encontraram e registraram essa presença externa entre os Mazandaranis, tais como Chardin e Della Valle.

Amostras de textos editar

áme kεrkā šúnnε nεfār-sar. nεfār-sar xεsέnnε. badími nεfār-sar-e čεl-o-ču hamε bapíssεnε. bāútεmε, “vačε jān! injε, kεlum-e pali, mé-vesse έttā kεrk-kεli dεrεs hā́kεn!” vε εm nεmāšun ke pe dar-biārdε, hamun šō badímε bεmúnε sεre piεr o vačε. ande-tumi piεr o vačε bεmúnε sεre, nεmāz kέrdεnε, qεzā xέrdεnε; ba:d εz nεmāz šínε ún-var, sāāt-e čār harkεt kέrdεnε.

Nossas galinhas vão para o nefār e aí dormem. [Certa vez] eu notei que a madeira do nefār estava toda carcomida. Eu disse [a meu filho], “Querida criança! Aqui, junto ao estábulo, me faça uma gaiola para galinhas.” Na tarde em que [meu filho] fazia a construção, o pai [sogro] e [seu] filho chegaram em casa. Logo que o pai e o filho chegaram em casa, eles quiseram fazer suas preces, comeram algo e, depois das preces, eles quiseram ir para lá (a sala ao lado); então, as quatro horas tiveram que ir embora.

(de Maryam Borjian e Habib Borjian, “Ethno-Linguistic Materials from Rural Mazandarão [: Mysterious Memories of a Woman],” Iran and the Caucasus 11/2, 2007, pp. 226–254.)

mosalmunun! mέrε šabgir varέnnε
āx, mέrε bā kamεr-e haftir varέnnε
mέrε bavέrdεnε Tεrkεmun-e dam
Tεrkεmun kāfεr o gεlilε be-ra:m
Muçulmanos! Eles estão me levando no raiar da aurora.
Ó, eles estão me levando com pistolas na cintura (deles).
Eles me levaram para próximo às (tribos) Turcomenas.
Turcomenos [are] são infiéis e as balas (são) impiedosas.
gεtε,
ašun xō badimā mεn še Ali-rε
sio dasmāl davέsso še gali-rε
age xā́nnε bā́urεn ámi badi-rε
bázεne xεrusεk šέme gali-rε
volvol sar-e dār gέnε εy zāri-zāri
me gol dāš báio sarbāz-e Sāri
Ele diria,
Esta noite sonhei com meu Ali.
Ele [tinha] amarrado uma echarpe negra sobre sua garganta.
Se isso teve uma intenção maligna sobre nós,
Minha tosse de crupe ataca sua garganta!
O rouxinol sobre a árvore se queixa constantemente (?)
Meu querido irmão vestido com um Sāri.
Poemas de quatro versos por Sabura Azizi, transcritos e traduzidos por Habib Borjian (Ref. Habib Borjian e Maryam Borjian, “Mysterious Memories of a Woman: Ethno-Linguistic Materials from Rural Mazandarão,” Iran and the Caucasus 11/2, 2007).

Referências

  1. Coon, "Iran:Demography and Ethnography" in Encyclopedia of Islam, Volume IV, E.J. Brill, pp. 10,8. Excerpt: "The Lurs speak an aberrant form of Archaic Persian" See maps also on page 10 for distribution of Persian languages and dialect
  2. Kathryn M. Coughlin, "Muslim cultures today: a reference guide," Greenwood Publishing Group, 2006. p. 89: "...Iranians speak Persian or a Persian dialect such as Gilaki or Mazandarani"
  3. Windfuhr, G. L. 1989. New Iranian languages: Overview. In Rüdiger Schmitt, ed., Compendium linguarum Iranicarum. Wiesbaden: L. Reichert. pp. 246–249.
  4. Borjian, Maryam. 2005. Bilingualism in Mazandarão: Peaceful Coexistence With Persian Arquivado em 21 de setembro de 2006, no Wayback Machine.. Language, Communities and Education. Languages, Communities & Education: A Volume of Graduate Student Research. New York: Society for International Education Arquivado em 27 de julho de 2011, no Wayback Machine., Teachers College, Columbia University. pp. 65–73.
  5. Ethnologue report for language code:mzn
  6. Fakhr-Rohani, Muhammad-Reza. 2004. She means only her 'husband': politeness strategies amongst Mazanderani-speaking rural women. (Conference abstract) CLPG Conference, University of Helsinki, Finland, PDF
  7. Language-keyboard.com
  8. [1] Behshah Irã
  9. Nasri-Ashrafi, Jahangir-e (ed.). Farhang-e vāžegān-e Tabarī [A Dictionary of Tabari]. v. 5, p. 5, Tehran: Eḥyā’-ketāb”: 2002/1381 A.P. Glossário comparativo com léxicos dos principais centros rurais e urbanos das províncias de Guilão, Mazandarão e Gulistão. Revisão em Iran and the Caucasus, 2006, 10(2).
  10. Iranian nationalism and Reza Shah, MR Ghods – Middle Eastern Studies, 1991 – informaworld.com
  11. ^ Muliani, S. (2001) Jaygah-e Gorjiha dar Tarikh va Farhang va Tammadon-e Iran. Esfahan: Yekta [The Georgians’ position in the Iranian history and civilization]

Bibliografia editar

  • Borjian, Habib. 2006. The Oldest Known Texts in New Tabari: The Collection of Aleksander Chodzko. Archiv Orientálni 74(2):153–171.
  • ______________. 2006. A Mazandarani account of the Babi Incident at Shaikh Tabarsi. Iranian Studies 39(3):381–400.
  • ______________. 2006. Textual sources for the study of Tabari language. I. Olddocuments. Guyesh-shenâsi 4.
  • ______________. 2008. Tabarica II: Some Mazandarani Verbs. Iran and the Caucasus 12(1):73–82.
  • ______________. Two Mazandarani Texts from the Nineteenth Century. Studia Iranica 37(1):7–50.
  • Borjian, Habib, and Maryam Borjian. 2007. Ethno-Linguistic Materials from Rural Mazandarão: Mysterious Memories of a Woman. Iran and the Caucasus 11(2):226–254.
  • Borjian, Habib, and Maryam Borjian. 2008. The Last Galesh Herdsman: Ethno-Linguistic Materials from South Caspian Rainforests. Iranian Studies 41(3):365–402.
  • Le Coq, P. 1989. Les dialects Caspiens et les dialects du nord-ouest de l'Iran. In Rüdiger Schmitt (ed.), Compendium linguarum Iranicarum. Wiesbaden: L. Reichert. pp. 296–312.
  • Nawata, Tetsuo. 1984. Māzandarāni. Tokyo: Institute for the Study of Languages and Cultures of Asia and Africa. Series: Asian and African Grammatical Manual; 17. 45 + iii pp.
  • Shokri, Giti. 1990. Verb Structure in Sāri dialect. Farhang, 6:217–231. Tehran: Institute for Humanities and Cultural Studies.
  • _________. 1995/1374 A.P. Sārī Dialect. Tehran: Institute for Humanities and Cultural Studies.
  • Shokri, Giti. 2006. Ramsarī Dialect. Tehran: Institute for Humanities and Cultural Studies.
  • Yoshie, Satoko. 1996. Sārī Dialect. Tokyo: Institute for the Study of Languages and Cultures of Asia and Africa. Series: Iranian Studies; 10.

Ligações externas editar

ozεrε-vâ énε dámbe sεvâí
iấnnε búye dεlbárrε dεvấi
qam o qossέye dεl vónε kεnârí
me jấne gεl dénε búye xεdâí

Ao raiar da aurora soprou uma brisa fria.
Ela trazia o odor da amada.
A tristeza do coração irá embora.
Minha querida flor cheira como Deus.

basutέ sinέye miónnε hấreš!
tévεsse – nấzεnin! – baímε nâxεš
tε armúne dέl i, εy nâzεnin yâr!
tévεsse mέsle bεlbεl zámbε nâlεš

Olhe no centro do peito em chamas!
Para você – Ó, adorável! – eu fico desconfortável.
Você é a aspiração de do coração, ó adorada!
Por ti lamento como um rouxinol..

 

Dεl-e armun “Aspiração de um coração”
Rezaqoli Mohammadi Kordekheyli
Transcribed and translated by: Habib Borjian