A Galateia (em castelhano: La Galatea) é um romance de Miguel de Cervantes publicado em 1585 em Alcalá de Henares com o título de Primera parte de La Galatea, dividida en seis libros (Primeira parte da Galateia, dividida em seis livros).[1]

Costuma-se classificar A Galateia como um romance pastoril. Tal descrição é muito limitada. De fato, suas personagens são pastores, mas o livro é um veículo para um estudo psicológico do amor, e este era o propósito de Cervantes ao escrevê-lo.[1]

Cervantes começou a escrever o romance provavelmente quando voltou de seu cativeiro em Argel (dezembro de 1585). Teve pouco êxito nas livrarias, sobretudo se se compara com o grande sucesso de Diana de Montemayor e o ainda maior de "Diana enamorada", de Gaspar Gil Polo. Cervantes teve durante sua vida altíssimo conceito de seu romance, e planejava publicar a segunda parte, mas morreu sem conseguir fazê-lo.[2]

O romance se ambienta em algum lugar - entre ideal e real - às margens do Tejo. Há uma trama principal e várias secundárias. Na principal, Elicio e Erastro são dois pastores enamorados de Galatéia, uma belíssima pastora que reúne todas as virtudes das heroínas cervantinas: discrição (isto é, inteligência e bom juízo), honestidade e bondade. Mas Galateia adora sua independência espiritual e não quer se ver sujeita ao jugo amoroso; assim, desdenha os dois pastores.[2]

Além de belos poemas e interessantes narrativas curtas intercaladas no tema principal (como Cervantes faría mais tarde também no Dom Quixote e o em Os trabalhos de Persiles e Sigismunda) encontramos duelos dialéticos jocosos sobre a natureza do amor (livro IV, os pastores Lenio e Tirsi fazem suas respectivas apologias do desamor e do amor), ou sobre a psicologia amorosa (livro III, Orompo, Marsilo, Crisio e Orfinio discutem, em verso, sobre qual paixão derivada do amor causa mais dor, se os ciúmes, o desdém, a saudade ou a morte do ser amado).[3]

No livro VI encontramos o grande Canto de Calíope: a musa da poesia aparece aos pastores e isto serve de pretexto a Cervantes para encaixar um extenso canto no qual ele elogia a todos os gênios vivos da poesia espanhola de então. Menciona e elogia, por exemplo, Góngora, Lope de Vega, Alonso de Ercilla, Fray Luis de León, Francisco Díaz e muitos outros.[4]

Ao final do livro, os acontecimentos do romance ficam interrompidos bruscamente:

O fim desta história amorosa (...) com outras coisas sucedidas aos pastores citados até aqui, ficam prometidos para a segunda parte desta história, a qual, se esta primeira parte for bem sucedida, terá o atrevimentno de sair brevemente para ser vista e julgada pelos olhos e pelo entendimento dos leitores.[5]

Mas nunca se publicou a segunda parte, várias vezes prometida. De fato, durante a queima de livros no Dom Quixote, vários romances pastoris acabam na fogueira. O sacerdote e o barbeiro salvam a Galateia e anunciam que muito em breve Cervantes publicará a segunda parte. Mas não há dados reais da produção desta obra, só anúncios que não se cumpriram. [6]

Referências

  1. a b «La Galatea - Museo Casa Natal de Cervantes» (em inglês). 14 de janeiro de 2022. Consultado em 12 de outubro de 2023 
  2. a b Almeida, Edwirgens Aparecida Ribeiro Lopes de (31 de dezembro de 2016). «Cervantes - um mestre na arte de narrar». Caletroscópio (7): 41–55. ISSN 2318-4574. doi:10.58967/caletroscopio.v4.n7.2016.3699. Consultado em 12 de outubro de 2023 
  3. Tini, Valéria (1 de março de 2007). «A (in)discrição: aspectos do decoro em 'Dom Quixote' de Miguel de Cervantes». São Paulo. doi:10.11606/d.8.2007.tde-27072007-114555. Consultado em 12 de outubro de 2023 
  4. Dourado-Lopes, Antonio Orlando (14 de outubro de 2019). «A Musa Calíope e a beleza do canto em Homero e em Hesíodo». Nuntius Antiquus (1): 13–60. ISSN 1983-3636. Consultado em 12 de outubro de 2023 
  5. Miguel de Cervantes. "A Galatéia". Rio de Janeiro, Editora Três: 1974, pg 377
  6. Miguel de Cervantes. "Don Quijote de la Mancha". Edição do IV centenário patrocinada pelas academias espanholas. São Paulo: Alfaguara, 2004, capítulo VI, pg. 60.


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