Lei de Brandolini

dificuldade de refutar informações falsas ou enganosas

A lei de Brandolini, também conhecida como o princípio de assimetria da estupidez, é um aforismo segundo o qual "a quantidade de energia necessária para refutar a idiotice é uma ordem de grandeza maior do que a necessária para produzi-la".[1] Esse pensamento estabelece que é mais fácil criar ou espalhar desinformação do que desmascará-la, devido à quantidade de esforço e tempo necessários para desmentir informações falsas em comparação com a rapidez e facilidade com que elas podem ser criadas e disseminadas.[2][3]

O princípio critica a técnica de propaganda que consiste em disseminar notícias falsas em massa, a fim de explorar a credulidade de um determinado público apelando para seu sistema de raciocínio rápido, instintivo e emocional.[4] Em síntese, a desinformação pode ser amplamente divulgada e aceita rapidamente, enquanto o processo de desmascará-la exige um esforço considerável para provar a sua falsidade.[5][6]

Origem editar

O princípio foi formulado publicamente pela primeira vez em 11 de janeiro de 2013 pelo desenvolvedor de software italiano Alberto Brandolini sob o título em inglês bullshit assimetry principle,[7][8] e mais tarde ganhou popularidade, depois que uma foto foi publicada no Twitter mostrando um diapositivo de uma apresentação feita por Brandolini durante uma conferência de tecnologia, em 30 de maio de 2014.[9] Brandolini disse que se inspirou ao ler o livro Rápido e Devagar, de Daniel Kahneman, pouco antes de assistir a um talk show político italiano com o jornalista Marco Travaglio e o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que se atacavam mutuamente.[10]

Interesse editar

Resulta-se deste ditado que a desinformação tem uma vantagem importante sobre a verdade, porque estabelecer a verdade é particularmente caro em tempo e energia. Este princípio é uma das razões pelas quais o ônus da prova não deve ser invertido.[11] Na ciência e no direito, em particular, o ônus da prova recai sempre sobre quem afirma, caso contrário, qualquer um pode afirmar qualquer coisa sem a menor prova.[12]

Aplicações editar

O fenômeno é amplificado pelo desenvolvimento das redes sociais. A abordagem inicial é o sensacionalismo; o discurso e o boato, muitas vezes alarmistas e conspiratórios, têm o vento em suas velas, graças às mídias sociais que divulgam informações com ainda mais velocidade quando parecem chocantes, ou em contracorrente das convenções sociais.[11] A lei de Brandolini afeta particularmente a comunidade científica, que não tem meios para combater todas as "mentiras e imprecisões" disseminadas na web, mas que deveria, segundo o biólogo britânico Philip Williamson, explorar o poder da internet para criar sistemas de classificação moderados para sites que alegam fornecer informações científicas.[1]

A técnica retórica denunciada pela lei de Brandolini assemelha-se ao galope de Gish (expressão cunhada pela antropóloga Eugenie Scott a partir do nome do criacionista Duane Gish), uma estratégia de debate que consiste em atacar o adversário com uma quantidade excessiva de argumentos, desconsiderando sua qualidade ou precisão.[4]

Ver também editar

Referências

  1. a b Williamson, Philip (dezembro de 2016). «Take the time and effort to correct misinformation». Nature (em inglês). 540 (7632): 171. ISSN 1476-4687. doi:10.1038/540171a . Consultado em 6 de novembro de 2022 
  2. Reis, Nuno (18 de setembro de 2021). «A rentrée na normalidade possível». Jornal de Leiria. Consultado em 6 de novembro de 2022 
  3. Thatcher, Jim; Shears, Andrew; Eckert, Josef (abril de 2018). «Rethinking the Geoweb and Big Data: Mixed Methods and Brandolini's Law». Thinking Big Data in Geography: New Regimes, New Research (em inglês). [S.l.]: University of Nebraska Press. p. 232. ISBN 978-1-4962-0537-7 
  4. a b Swynghedauw, Bernard (2 de julho de 2020). «Le principe de Brandolini et les fake news» [O princípio de Brandolini e as notícias falsas]. EDP Sciences. Médecine/sciences (em francês). 36 (6–7): 654. ISSN 1958-5381. doi:10.1051/medsci/2020114 . Consultado em 5 de novembro de 2022 
  5. Ambasciano, Leonardo (27 de dezembro de 2018). «Ghosts, Post-truth Despair, and Brandolini's Law». An Unnatural History of Religions: Academia, Post-truth and the Quest for Scientific Knowledge (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing. p. 11. ISBN 978-1-350-06239-9 
  6. Maestri, Rogério (30 de abril de 2019). «Lei de Brandolini, quando um TI produz filosofia pura». Jornal GGN. Consultado em 6 de novembro de 2022 
  7. Alberto Brandolini [@ziobrando] (11 de janeiro de 2013). «The bullshit asimmetry: the amount of energy needed to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it.» (Tweet) (em inglês). Consultado em 5 de novembro de 2022 – via Twitter 
  8. Petrocelli, John (27 de julho de 2021). The Life-Changing Science of Detecting Bullshit (em inglês). [S.l.]: St. Martin's Press. 320 páginas. ISBN 978-1-250-27163-1 
  9. LaBouche, Moxie (16 de junho de 2020). Your Brain on Facts: Things You Didn't Know, Things You Thought You Knew, and Things You Never Knew You Never Knew (em inglês). [S.l.]: Mango Publishing. 290 páginas. ISBN 978-1-64250-254-1 
  10. Lapierre, Matthew (18 de junho de 2021). «Truth, lies and the disinformation problem that won't go away». Montreal Gazette (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2022 
  11. a b Vercueil, Laurent (9 de dezembro de 2016). «La loi de Brandolini ou le principe d'asymétrie du baratin : un défi pour les scientifiques». Echosciences Grenoble (em francês). CCSTI de Grenoble. Consultado em 6 de novembro de 2022 
  12. Marmelstein, George (22 de março de 2021). «O negacionismo pandêmico mata». JOTA. Consultado em 6 de novembro de 2022