Luís Aranha

escritor brasileiro
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Luís Aranha (São Paulo, 17 de maio de 1901Rio de Janeiro, 29 de junho de 1987) foi um poeta e diplomata brasileiro.

Luís Aranha
Nascimento 17 de maio de 1901
São Paulo
Morte 29 de junho de 1987 (86 anos)
Rio de Janeiro
Cidadania Brasil
Alma mater
Ocupação escritor, poeta, diplomata

Biografia editar

Concluiu o ginasial no Colégio dos Irmãos Maristas em 1919, ano em que trabalhou por breve período como balconista na então famosa Drogaria Bráulio, no centro da capital, na região do chamado "Triângulo". Essa experiência serviu-lhe como inspiração para a composição do longo poema “Drogaria de éter e de sombra”, um dos mais conhecidos de sua obra.

Em 1920, foi apresentado por seus irmãos mais velhos a Mário de Andrade, passando a frequentar as reuniões de terça-feira à noite na casa do escritor, junto com Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Ronald de Carvalho, entre outros.

Leu alguns de seus poemas na segunda noite da Semana de 22, em 15 de fevereiro, a chamada "Noite das Vaias", após a conferência sobre a estética modernista de Menotti del Picchia,[1] além de ter sido encarregado de apresentar a seção de artes plásticas do evento, conforme relatou na única entrevista concedida, publicada cinco meses antes de sua morte.[2][3]

Membro ativo da primeira geração do modernismo brasileiro, em Klaxon teve publicados os seguintes poemas: “O Aeroplano”, “Pauliceia Desvairada”, “Crepúsculo” e “Projetos”. Fato menos conhecido: teve um quinto e último poema, “O vento”, publicado na Revista do Brasil . Fora os quatro poemas publicados em Klaxon, os datiloscritos dos outros 22 poemas que figuram em Cocktails foram entregues a Mário de Andrade, que os conservou (hoje pertencentes ao acervo Mário de Andrade, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, IEB/USP).

Embora pouco lembrado pela crítica, ganhou certa notoriedade por seus três poemas longos: o já citado "Drogaria de éter e de sombra", bem como "Poema Pitágoras" e "Poema giratório". O primeiro destes foi previsto para publicação na revista modernista carioca Estética, em 1924-25.

Em 1926, concluiu o curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco. Mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1929, ingressou no Ministério das Relações Exteriores, onde exerceria diversas funções ao longo de sua carreira diplomática. Aposentado, Luís Aranha passou a dedicar-se ao estudo das artes plásticas. Faleceu em 29 de junho de 1987, na capital fluminense.

Sua poesia, embora inédita, logo foi lida, apreciada e divulgada pelos amigos Mário de Andrade, que a comentou nos ensaios A Escrava que não é Isaura (redigido em 1922 e publicado em 1925) e "Luís Aranha ou a poesia preparatoriana" (1932), e Sérgio Milliet, já em 1923, no artigo La poésie moderne au Brésil, e depois no pequeno artigo "Inéditos" (1926, publicado na revista modernista Terra roxa e outras terras). Alguns fragmentos poéticos de Luís Aranha também foram transcritos por Manuel Bandeira na sua Antologia de poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946).

Depois de ter sido objeto de uma reconsideração pelo crítico Mario da Silva Brito e por poetas como José Lino Grünewald e Mário Chamie, sua obra completa (26 poemas) foi reunida em 1984 pelo poeta Nelson Ascher e pelo crítico literário Rui Moreira Leite no livro Cocktails, edição fundamentada sobre os originais entregues a Mario de Andrade.

Conquanto Luís Aranha não tenha publicado mais nada por iniciativa própria além dos poemas da RevistaKlaxon, a leitura de sua correspondência com Mário de Andrade revela que ele continuou escrevendo poesia, pelo menos, até 1932. Em uma das cartas, datada de 7 de março de 1923, contando de suas leituras e da rotina em Cândido Mota (cidade para a qual havia se mudado no início daquele ano), Luís Aranha mencionou, inclusive, o projeto de um novo livro que se intitularia Poemas do Rio Macuco.[4] No entanto, não se tem notícia de que os originais desses poemas posteriores a 22 tenham resistido ao tempo.

Em 2010, a poesia de Luís Aranha começou a ser revisitada através de traduções para o francês, o espanhol e o inglês, publicadas na França, México, Argentina, Espanha e Estados Unidos, além de um primeiro projeto de tese (ainda inédita) dedicada à análise de alguns poemas de Cocktails.

Referências

  1. DEL PICCHIA, Menotti (1992). A “semana” revolucionária: conferências, artigos e crônicas sobre a Semana de Arte Moderna e as principais figuras do movimento modernista no Brasil. Org. Jácomo Mandatto. Campinas: Pontes 
  2. Kac, Eduardo (2004). A teia do desconhecido: entrevista com Luís Aranha. Rio de Janeiro: Contra Capa. ISBN 858601186X 
  3. Publicação original: KAC, Eduardo; BORGES, Antonio Fernando. A teia do desconhecido: entrevista de Luís Aranha. Folha de S.Paulo - “Folhetim”. 30 jan. 1987. p. B6 e B7.
  4. Marcia Regina Jaschke (junho de 2001). [www.revistas.fflch.usp.br/manuscritica/article/download/936/848 «Manuscritos do modernista Luís Aranha»] Verifique valor |URL= (ajuda). Manuscrítica, FFLCH-USP/Annablume. Consultado em 14 de fevereiro de 2015 

Bibliografia editar

  • ARANHA, Luís. Cocktails: poemas. Organização, apresentação, pesquisa e notas de Nelson Ascher e Rui Moreira Leite. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984. 143p. [prefácio de Nelson Ascher, p. 9-21 ; "Fortuna critica" e bibliografia, p. 107-143]
  • ARANHA, Luís. Cocktails: poèmes choisis. Seguido por um estudo de Mario de Andrade. Escolha, tradução em francês, apresentação e notas por Antoine Chareyre. Toulon: Librairie La Nerthe, 2010. "Collection Classique". 117p. [1a. ed. francesa, com uma escolha de 15 poemas; inclui o artigo de Milliet de 1926 e o ensaio de Mario de Andrade de 1932; notas sobre os poemas e os textos do dossiê critico, p. 99-110 ; bibliografia bilíngue e atualizada, p. 111-116]
  • ARANHA, Luís. Cocktails. Tradução e notas de Marie-Christine del Castillo. Prefácio de Juan Manuel Bonet. Sevilha: La Isla de Siltolá, 2012.
  • ANDRADE, Mário de. A escrava que não é Isaura: discurso sobre algumas tendências da poesia modernista. Obra imatura. Rio de Janeiro: Agir, 2009.
  • _______. Luís Aranha ou a poesia preparatoriana [1932]. Aspectos da literatura brasileira. 5. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 47-87.
  • BASTOS, Jorge Henrique. Antologia de poesia brasileira do século XX: dos modernistas à actualidade. Lisboa: Antígona, 2001.
  • BONILLA, Juan (org.). Aviones plateados: 15 poetas futuristas latinoamericanos. [1a. ed. 1993], 2. ed. revista. Málaga: "Puerta del Mar", 2009. [com uma escolha de 8 poemas do autor, transcritos no original português.
  • CHAREYRE, Antoine. Luís Aranha, génie potache de l’avant-garde brésilienne [prefácio]. In: ARANHA, Luís. Cocktails (Poèmes choisis): suivi d’une étude par Mário de Andrade. Trad. Antoine Chareyre. Toulon: Librairie La Nerthe, 2010.
  • _______. Luís Aranha. In: CARVALHO, Max de (org.). La poésie du Brésil: du XVIe au XXe siècle. Trad. Max de Carvalho. Paris: Éditions Chendeigne, 2012.
  • COELHO, Eduardo. Luís Aranha: a química e a crise. In: Revista Diadorim / Revista de Estudos Linguísticos e Literários do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vol. 11, Julho 2012. p. 11-22. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20130824234901/http://www.revistadiadorim.letras.ufrj.br/>. Acesso em 14/10/2013.
  • DONADON-LEAL, José Benedito. Nas sendas brasileiras do haicai. Jornal Aldrava. Disponível em: <http://www.jornalaldrava.com.br/Doc/sendas_do_haicai.pdf>. Acesso em: 04/10/2013.
  • GIORGI, Artur de Vargas. Anestesia e contato: reprodutibilidade técnica e singularidade na modernidade brasileira. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Literatura do Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2011.
  • GUEDES, Luiz Roberto (org.). Paixão por São Paulo. São Paulo: Terceiro Nome, 2004.
  • GUTILLA, Rodolfo Witzig (org.). Haicai. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
  • KAC, Eduardo; BORGES, Antonio Fernando. A teia do desconhecido: entrevista de Luís Aranha. Folha de S.Paulo - “Folhetim”. 30 jan. 1987. p. B6 e B7.
  • MACHADO, Marcia Regina Jaschke. Manuscritos do modernista Luís Aranha. In: Manuscrítica – revista de crítica genética. n. 10. São Paulo: FFLCH-USP/Annablume, jun. 2001. p. 75-97. Disponível em: <http://manuscritica.fflch.usp.br/article/view/936[ligação inativa]>. Acesso em: 25 ago. 2012.
  • MASSAGLI, Sérgio Roberto. Do tempo ao espaço e da escrita à imagem: a espacialização da linguagem na poesia visual. In: Estudos linguísticos, São Paulo, 39 (1): p. 1108-1123, mai-ago 2010. Disponível em: <http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/39/v2/EL_V39N3_33.pdf>. Acesso em: 14/10/2013.
  • PASINI, Leandro. A Semana de 22 e a poesia: contradições e desdobramentos. In: Remate de Males. Campinas-SP, Jan./Dez. 2013. p. 191-210. Disponível em: <http://www.iel.unicamp.br/revista/index.php/remate/article/download/3877/3472>. Acesso em: 14/10/2013.
  • RASULA, Jed & CONLEY, Tim (org.). Burning City: poems of metropolitan modernity. Indiana: Notre Dame/Action Books, 2012.
  • RÍOS, Sergio Ernesto. Dos poemas de Luís Aranha. Revista No-Retornable. n. 11. Buenos Aires: abril/2012. Disponível em: <http://www.no-retornable.com.ar/v11/poetas/rios.html>. Acesso em: 23 ago. 2012.
  • _______. Droguería Sociedad Anónima. Revista Dédalo ­– crítica, cultura, arte. Ano 1, n. 4. Guanajuato: março/2012. Disponível em: <http://www.culturaguanajuato.gob.mx/PUBLICACIONES/PDFS/Revistas/Dedalo_IV.pdf[ligação inativa]>. Acesso em: 23 ago. 2012.
  • _______. Poema Pitágoras. La Colmena – Revista de la Universidad Autónoma de México, Sección “La colmena na janela”, n. 71, jul-set/2011. Disponível em: <http://www.uaemex.mx/plin/colmena/Colmena_71/Najanela/Luis_Aranha.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2012.

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