Urutau-pardo

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O urutau-pardo[2] (nome científico: Nyctibius aethereus), também chamado genericamente de chora-lua, ibijaú-guaçu, jurutau, mãe-da-lua, manda-lua, preguiça e urutago,[3] é uma espécie de ave nictibiiforme da família dos nictibiídeos (Nyctibiidae). Pode ser encontrada nos seguintes países: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru e Venezuela. Os seus habitats naturais são: florestas subtropicais ou tropicais húmidas de baixa altitude.[1]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaUrutau-pardo
Espécime avistado na porção peruana da Amazônia
Espécime avistado na porção peruana da Amazônia
Desenho do urutau-pardo no Avium species novae, quas in itinere per Brasiliam de Johann Baptist von Spix
Desenho do urutau-pardo no Avium species novae, quas in itinere per Brasiliam de Johann Baptist von Spix
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Nyctibiiformes
Família: Nyctibiidae
Género: Nyctibius
Espécie: N. aethereus
Nome binomial
Nyctibius aethereus
(Wied-Neuwied, 1820)
Distribuição geográfica
Distribuição do urutau-pardo na América do Sul
Distribuição do urutau-pardo na América do Sul

Etimologia editar

'Urutau, jurutau e urutago derivam do tupi uruta'gwi, que tem o mesmo sentido definido do português. Foi registrado em 1857 como urutáo, em 1876 como urutaú e em 1876 como urutauí.[4] Na forma jurutau, foi registrado em 1911 como jurutauhy;[5] e na forma urutago foi registrado em 1594 como urutagui.[6] Por sua vez, ibijaú-guaçu, derivou do tupi ïmbïya'u ("aquele que come terra"), segundo Antenor Nascentes) e gwa'su ("grande").[7] Ibijaú foi registrado em 1587 como ubujaú.[8]

Taxonomia e sistemática editar

Vários autores sustentam que longicaudatus deve ser tratado como uma espécie separada com chocoensis como uma subespécie dela.[9][10] São reconhecidas três subespécies:[11]

  • Nyctibius aethereus aethereus (Wied-Neuwied, 1820) - ocorre do Sudeste do Paraguai até o Sudeste do Brasil e Nordeste da Argentina;
  • Nyctibius aethereus chocoensis (Chapman, 1921) - ocorre localmente no Oeste da Colômbia, na região de Chocó;
  • Nyctibius aethereus longicaudatus (Spix, 1825) - ocorre da região tropical Leste do Equador até o Peru e nas Guianas.

Descrição editar

O urutau-pardo possui de 42 a 58 centímetros (17 a 23 polegadas) de comprimento e pesa de 280 a 447 gramas (9,9 a 15,8 onças). As partes superiores da subespécie nominal são castanho-amareladas. A coroa e a nuca têm manchas amarelas e listras marrom-enegrecidas. O manto, o dorso e a parte de trás são mosqueados de marrom e amarelo com listras marrom-escuras. A cauda é graduada e marrom, com uma barra marrom-amarelada e listras marrons ou em vermiculação. Grande parte do rosto é pardo e tem um "bigode" cor-de-couro. As asas são geralmente marrons com largas barras castanho pálidas. O queixo e a garganta são acinzentados. O peito e os flancos são marrons com manchas e listras marrom-enegrecidas. A barriga inferior é amarela com listras marrons e vermiculação. N. a, longicaudatus é menor que a subespécie nominal; muitas vezes sua cor é de um marrom mais fulvo, especialmente no peito. N. a. chocoensis é menor que longicaudatus, porém mais escuro. As listras pretas nas partes superiores são maiores e mais marcantes e a cor marrom da base tende para o castanho.[12]

Distribuição e habitat editar

A subespécie nominal do urutau-pardo é encontrada no extremo nordeste da Argentina, sudeste do Paraguai e sudeste do Brasil aproximadamente de Minas Gerais e sul da Bahia ao sul do Paraná N. a. chocoensis é encontrado apenas no departamento de Chocó, no oeste da Colômbia. N. a. longicaudatus é de longe o mais amplamente distribuído. É encontrado na Amazônia do Equador e Peru a leste através do sul da Colômbia e Venezuela até as Guianas, no extremo norte da Bolívia e em grande parte do oeste do Brasil.[13] O urutau-pardo habita o interior das florestas tropicais perenes das terras baixas. Geralmente é encontrado do sub-bosque ao subdossel. As florestas variam em umidade de bastante seca a muito úmida. Na região da Mata Atlântica, a subespécie nominal é encontrada em até 1200 metros. As outras subespécies ocorrem em altitudes mais baixas, atingindo apenas 700 metros no Equador e 750 metros no Peru.[12]

Comportamento editar

O urutau-pardo é noturno. Forrageia atacando insetos voadores em voos curtos a partir de um poleiro, parecendo "desajeitado e superdimensionado". Sua dieta não foi detalhada, mas é conhecida por incluir cupins, mariposas e besouros. Empoleira-se durante o dia, geralmente em tocos ou galhos até 20 metros acima do solo. Se abordado, estica o corpo verticalmente e congela. Sua época de nidificação não está ainda totalmente definida. No Paraguai, um ninho estava ativo do final de agosto a novembro. Na Guiana Francesa, a nidificação foi registrada entre julho e setembro. A espécie não faz um ninho convencional, mas põe seu único ovo em cima de um toco ou em um galho em uma depressão ou curva. A vocalização do urutau-pardo é "um suave e ondulante waa-OO-uh ou ra-OOH ", e é cantado à noite, em especial nas noites iluminadas pela lua. Também faz "uma série distinta de pios ou notas de woof semelhantes a corujas".[12]

Conservação editar

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) avaliou o urutau-pardo como sendo de menor preocupação, embora sua população seja desconhecida e acredita-se que esteja diminuindo.[1] Embora N. a. longicaudatus tem um alcance muito grande, a Amazônia está passando por um crescente desmatamento. As outras duas subespécies têm áreas de distribuição muito limitadas e o habitat da Mata Atlântica da subespécie nominal foi reduzido a remanescentes.[12] No Brasil, consta em várias listas de conservação: em 2005, foi classificado como vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[14] em 2010, sob a rubrica de "dados insuficientes" no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná;[15] em 2014, como em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo;[16] e em 2018, como pouco preocupante na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)[17][18]

Referências

  1. a b c «IUCN red list Nyctibius aethereus». Lista vermelha da IUCN. Consultado em 15 de junho de 2022 
  2. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 108. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  3. «Urutau». Michaelis. Consultado em 26 de abril de 2022 
  4. Grande Dicionário Houaiss, verbete urutau
  5. Grande Dicionário Houaiss, verbete jurutau
  6. Grande Dicionário Houaiss, verbete urutago
  7. Grande Dicionário Houaiss, verbete -açu
  8. Grande Dicionário Houaiss, verbete ibijaú
  9. Gill, F.; Donsker, D.; Rasmussen, P. (julho de 2021). «IOC World Bird List (v 11.2)». Consultado em 14 de julho de 2021. Cópia arquivada em 18 de março de 2022 
  10. Remsen, J. V., Jr.; Areta, J. I.; Bonaccorso, E.; Claramunt, S.; Jaramillo, A.; Lane, D. F.; Pacheco, J. F.; Robbins, M. B.; Stiles, F. G.; Zimmer, K. J. «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society 
  11. «mãe-da-lua-parda (Nyctibius aethereus) | WikiAves - A Enciclopédia das Aves do Brasil». www.wikiaves.com.br. Consultado em 19 de setembro de 2021 
  12. a b c d Gibson, S. (2020). «Long-tailed Potoo (Nyctibius aethereus), version 1.0». In: Schulenberg, T. S. Birds of the World. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia. doi:10.2173/bow.lotpot1.01. Cópia arquivada em 19 de outubro de 2021 
  13. Remsen, J. V., Jr.; Areta, J. I.; Bonaccorso, E.; Claramunt, S.; Jaramillo, A.; Lane, D. F.; Pacheco, J. F.; Robbins, M. B.; Stiles, F. G.; Zimmer, K. J. «Species Lists of Birds for South American Countries and Territories». American Ornithological Society 
  14. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  15. Livro Vermelho da Fauna Ameaçada. Curitiba: Governo do Estado do Paraná, Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná. 2010. Consultado em 2 de abril de 2022 
  16. Bressan, Paulo Magalhães; Kierulff, Maria Cecília Martins; Sugleda, Angélica Midori (2009). Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo - Vertebrados (PDF). São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA - SP), Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  17. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  18. «Nyctibius aethereus (Wied, 1868)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 26 de abril de 2022. Cópia arquivada em 6 de julho de 2022