Maifreda de Pirovano

Maifreda de Pirovano (Mayfreda, Manfreda ou Manfredi da Pirovano; m. 1300) foi uma mulher queimada viva na fogueira pelo tribunal da santa inquisição, acusada da heresia de ser adepta e a principal expoente da seita denominada de Guglielmitas.

Maifreda de Pirovano
Morte setembro de 1300
Milão
Ocupação líder religioso
Causa da morte morte na fogueira
Porta de entrada para o claustro do mosteiro dos Umiliati de Brera, em Milão – Foto Palazzo di Brera
Lâmina representando a Papisa no Tarô Visconti-Sforza. Segundo a tradição trata-se de uma representação de Mayfreda
A retratação do Tribunal do Santo Ofício em atuação - Óleo sobre tela de Goia.
A cidade de Brunate (em foto recente), província de Como. Centro de propagação do culto da seita dos Guglielmitas ou Guilhermitas.
O frei herege Dolcino de Novara, contemporâneo de Maifreda de Pirovano e do movimento religioso Guglielmita, em uma litografia de Michel Doyen (1809-1881).
Pedro Berruguete: São Domingos Presidindo a um Auto-de-fé (1475). Representação da atuação do Tribunal da Santa Inquisição.

Biografia editar

Maifreda era uma nobre milanesa, da família de Pirovano ou Pirovani e ligados à família gibelina dos Visconti, senhores de Milão. Ela era filha de Morando de Pirovano, um dos sobrinhos do arcebispo Umberto IV de Pirovano (1206-1211) e irmão de Anastácia de Pirovano (a mãe de Mateus I Visconti, o antipapista e poderoso senhor de Milão). Maifreda e Mateus eram portanto primos (talvez em primeiro grau ou prima irmã talvez). Ela pertencia à aristocracia milanesa e ingressou no convento ou Casa dos Umiliatas de Santa Catarina de Brera, em Biassono. A esta casa também pertenciam Agnese de Montenario, Giacoma Bassani de Nova, Riccadona, Migliori e Fiordebellina Saramita, consecutivamente mãe, irmã e filha de Andrea Saramita. E um integrante da família Casate, de nome Mirano de Casate, na condição de "prelatus et ministro" da casa dos Umiliati di Brera, em Milão. A relação de parentesco entre Maifreda e os Casati, são credenciadas por dois altos dignitários da Igreja de Roma. Os Casati estariam envolvidos no processo de investigação dos Visconti; em 02 de maio de 1322, e um dos principais acusados de devoção à Guglielma, fora um tal Guglielmo de Casate.

Não se sabe se pelo lado materno ou paterno, Maifreda era neta do Conde Anguisoni (Glussano ou Glusianus) Casati, que a incluiu em uma menção testamentária.[1] Neste legado testamentário o avô dedica 10 liras imperiais à neta. Casati, era filho de Giordano Casate, dos condes de Casate. Cardeal da Igreja de Roma.[2][3] em 08 de abril de 1287 [4]

Os Umiliatas editar

Os Umiliatas, desde sua fundação, foram subdivididos em três grupos:

  • O primeiro era formado por uma "ordem clerical, uma fraternidade monástica professa, praticavam o celibato e viviam em uma casa comum, como uma típica comunidade monástica;[5]
  • O segundo grupo, era constituído por leigos, de homens e mulheres organizados em grupos e viviam em comunidade, tendo os votos formais, eles poderiam se casar e viviam juntos em determinados momentos do dia, como, por exemplo, as refeições;
  • O terceiro grupo, igualmente de leigos, praticavam uma forma limitada de pobreza voluntária.

A casa de Santa Catarina de Brera, ou Casa de Santa Maria de Biassono[nota 1], foi, segundo a tradição a primeira casa dos Umiliati [nota 2]. Segundo se conta transformada em convento pela vontade assim expressa da esposa de um de seus fundadores, um nobre de Biassono, Monza,[6] inspirada por sua fé em Guglielma da Boêmia, que era não apenas santa mas a verdadeira encarnação de Deus.

Mais tarde o convento foi dedicada a Santa Catarina de Brera[nota 3]. No final do século XV, as freiras foram aceitas na regra dos Umiliati mesmo após a abolição da ordem em 1571. Depois, em 1782 a instituição foi abolida.

Os Guglielmitas editar

 Ver artigo principal: Guglielmitas

Ela, a seita, foi fundada a partir dos preceitos e concepções de Guglielma da Boêmia, uma Beguina e foram seus discipulos os que estrturaram propriamente a parte liturgica da seita. Dentre eles estava Maifreda de Pirovano, a lider e Andrea Saramita, o teólogo. Contava com mais de trinta ingressos, dentre os quais pessoas importante e ricas, a nata da aristocracia milanesa, incluindo o filho do senhor de Milão e primo em segundo grau de Maifreda, Galeazzo I Visconti e pessoas oriundas do populacho, como Bianca de Ceriani uma copeira e Taria de Pontari, uma costureira, sendo que esta última havia sido proposta como cardeal pela seita, ao mesmo tempo que Maifreda foi eleita como Papisa,, vigário do Espírito Santo sobre a terra, por seus companheiros [nota 4]. Cerca de 7 famílias milanesas faziam parte do circulo de pessoas de maior ascendencia dentro da seita, eram elas as famílias Garbaganate, Carentano, Fern, Pontari, Crimella, Saramita, Novate, Malconzato, Oldegardi, sendo que o número maior de adeptos eram de pessoas do sexo femino.

A seita, teve sua atividade em um tempo conturbado, época em que a Inquisição mandava pra a fogueira Gerardo Segarelli, fundador dos Irmãos apostólicos e frei Dolcino de Novara(ver [nota 5], descendente dos condes Tornielli de Novara, discípulo de Gerardo Segarelli e fundador dos dolcinianos (uma espécie de degeneração dos Irmãos apostólicos), típico lider messiânico que questionava a autoridade do Papa e dos inquisidores. Capturado em 1306, foi parar na fogueira juntamente com os discípulos Margarida de Trento e Longino de Bérgamo. Os dolcinianos chegaram a ter mais de 1400 adeptos e sobreviveram à morte de Dolcino já que em 1333, praticavam assaltos para fazer doações aos pobres, segundo aprenderam com o seu fundador (alusivo talvez à Frei Tuck da lenda de Robin Hood, originário do poema épico Piers Plowman, escrito em 1377, pelo escritor William Langand).

Os Guglielmistas, entretanto e diferentemente eram uma seita do tipo milenarista, e que tinha uma visão da salvação da humanidade a partir do sexo feminino. Acreditavam que sua fundadora, Guglielma da Boêmia, era a encarnação do Espírito Santo. Guglielma era reverenciada em toda Milão, ela pregava a igualdade entre os sexos, dizia aos seus devotos que eles deveriam permanecer em uma vida fraterna, como uma família, praticava a cura e administrava sermões à comunidade religiosa que a ela se ajuntou. Guglielma se auto-declarava como a terceira pessoa para S. Trindade, encarnada, recordando as palavras de São Paulo: "No Senhor não há homem sem a mulher nem a mulher sem o homem", e que a encarnação de Deus tinha ocorrido no corpo de uma mulher.

Após a morte de Guglielma e, aos anos que se seguiram, Maifreda foi a máxime expoente da seita que se formou em torno dos ensinamentos de Guglielma, os Guglielmitas. Ela foi a sucessora de Guglielma, era quem administrava os sacramentos, ela escreveu hinos, ladainhas e celebrou missas. A sua autoridade dentro da seita consistia na crença de que ela própria era a representação do Espírito Santo, encarnado na terra. Ela era considerada, dentre eles, como "dominus meus dominus vicarius", a exemplo do que ocorrera em séculos antes com a Papa João. À sua frente colocavam-se os adeptos que, sob o gesto de suas mãos, ajoelhavam-se beijando-lhe os pés (prática até então ordinária, a partir de 1073, apenas reservada ao Sumo Pontífice).

Locais de culto editar

  • A ermida de Santa Maria Madalena está localizado em um local isolado, perto Montepescali, no município de Grosseto, atingido por trilhas e estradas de terra.
  • O Oratório do pântano, próximo ao lago Prile. Trata-se de uma construção religiosa rústica, situada a oeste da cidade de Grosseto. Era um lugar isolado de culto dos Guglielmitas.

O Julgamento editar

Praticamente o erro maior da seita foi pronunciar-se contra o papa Bonifácio VIII e seu (no dizer deles) corrupto governo. Isto e mais o fato de Maifreda dirigir missa e distribuir sacramentos e ajuntando os desentendimentos notórios e convulsivos entre a Casa de Visconti e o papado, fez com que os ollhos da inquisição que já havia, em 1284, apreendido para interrogatório as adeptas Allegranza Perosio e Carabella de Toscana, quatro outras adeptas e um homem foram, ambos, processados, questionados formalmente, renunciaram à heresia, foram punidos simbolicamente e absolvidos; depois em 01 de agosto de 1296, o papa Bonifácio VIII, através da bula Sepe sanctam ecclesiam condena formalmente aos ditos iluminados de algumas seitas e em 21 de setembro do mesmo ano, assina a bula Firma cautela , contra as chamadas inovações ou surgimentos ou seitas do tipo espirituais. Na primeira parte da bula expressamente se aplica aos Guglielmitas, aos quais a Inquisição, neste mesmo ano, convocou novamente para interrogatório, desta vez fora convocado apenas um integrante para prestar esclarecimentos. Por esta ocasião Maifreda e outras freiras, temendo as incursões dos inquisidores, deixam o convento de Biassono e mudam-se (ou refugiaram-se) na casa de Guglielmo Codega.

O desfecho final contra os Guglielmitas viria somente quatro anos depois. Em 10 de abril de 1300, no dia da páscoa, os adeptos comemoraram, e fora a irmã Maifreda quem dirigiu a liturgia. Em 19 de abril do mesmo ano, ela foi nomeada para interrogatório, perante o Tribunal do Santo Ofício. Em 20 de Julho ainda do mesmo ano, abriu-se formalmente o processo contra a seita dos Guglielmitas, citando-se diretamente a falecida Guglielma e em setembro, diante dos inquisidores: Guido de Cochenato, Ranieri de Pirovano, Nicolau de Varena, Leonardo de Bergamo, Nicolau de Cumano, Alberto de Corbella e Leonardo de Pérgamo, foram ouvidas 30 pessoas acusadas formalmente de heresia. Não foram ouvidas as pessoas de Galeazzo I Visconti, filho de Mateus I e este segundo, senhor de Milão, tratou de safar-se de qualquer envolvimento. Os três membros mais importantes da seita receberam a pena máxima e foram queimados vivos junto com o corpo (exumado) de Guglielma, eram eles Maifreda de Pirovano, Giacoma dei Bassani da Nova e Andrea Saramita. Este último, fora um dos primeiros seguidores de Guglielma, a quem ela chamava de filho primogênito e que fora encarregado (por Maifreda) de escrever ou reescrever os Evangelhos. Todo o teor do processado encontra-se, em forma de manuscrito, do julgamento e preservada na Biblioteca Ambrosiana, em Milão

Pessoas ouvidas editar

Dois anos depois, em 1302 processou-se o interrogatório de um (outro) membro da seita e foi quando, pela primeira vez, se ouviu a menção de que Guglielma tivera um filho. O interrogado disse comparativamente que os monges de Caraval e Guglielma eram como as estrelas e a lua e ainda emendou que o que a ela e eles foi feito havia sido um mal, um dano.[7]

Durante o processo fora questionado sobre a emersão ou mergulho, próprio das práticas religiosas não-cristãs (pagãs): "Alguma vez coisas ou objetos eram lançados ao fogo? - Parece aqui que o inquisidor, por um momento, retorna ao caminho histórico e ainda inexplorado, relacionando o caso com a com a magia e a feitiçaria feminina".[8]

Consta que houve tentativas ao longo de 1300 para continuar a lembrança de Guglielma, escondendo-a em pinturas e chamá-la por outro nome.

Ver também editar

Bibliografia editar

  • Carlo Pirovano, Sotto il cielo di Lombardia. Breve storia degli Umiliati, Barzago (Lc), Marna, 2007. (ISBN 9788872033487);
  • Benedetti, Marina (a cura di), Milano 1300 - I processi inquisitoriali contro le devote e i devoti di santa Guglielma, Milano, Libri Scheiwiller, 1999;
  • Pietro Tamburini, Storia della generale Inquisição, Milão, 1862, Vol. I, p. 587-592, Vol. II, p. 5-72;
  • Michele Caffi: dell'Abbazia Chiaravalle na Lombardia. Iscrizione e Monumenti. Aggiuntava la Storica dell'eretica Guglielmina Boema, Milão 1842;
  • Andrea Ogniben, I Guglielmiti del Secolo XIII, Perugia 1867;
  • Henry Lea, História da Inquisição na Idade Média, Bonn 1913, pp 102–115;
  • Stephen E. Wessley, A Century Guglielmites Thirtheenth: A salvação através da Mulheres, Derek S. Baker (ed.), Mulheres Medieval, Oxford, 1978, 289-303;
  • E. Cattaneo; Instituições, p. 642 = Cattaneo, E., Milanese instituições eclesiásticas, em História de Milão, pela Fundação Treccani de Alfieri para a História de Milão, IX, Milão 1961, p. 509-722 - Fiorio, Igrejas, Igrejas de 240-244
  • Serviliano Latuada, Descrição de Milão, 5, 223 - 225 = LATUADA, S., Visão Geral de Milão (...), as fábricas que estão mais em evidência, esta Metropolis (...), 5 volumes, Milão, Giuseppe Cairoli, 1737-1738, (Volume V, New porta / Comasina, 1738), reproduzido em sua totalidade por G. MASTRULLO para os tipos de edições a vida feliz: Volume V;
  • M. Pogliani; Contribuição para uma bibliografia das fundações religiosas de Milão, "Pesquisa Histórica sobre a Igreja ambrosiana", 1985, XIV, p. 157-281;
  • Felice Tocco; Guglielma a Bohemian e Guglielmite, "O processo de Guglielmites", Anais do r. Accademia dei Lincei. Classe de Ciências Morais, 1900;
  • Ettore Verga, História da vida em Milão, Milano, 1900 e 1931;
  • Girolamo Biscaro, Guglielma la Boema ei guglielmiti, in "Archivio storico lombardo", ser. VI, 57 (1930), pp. 1–66. 6. Si veda a tal riguardo: S. Wessley, The thirteenth-century guglielmites. salvation th- rough women, in Medieval Women, Firenze, 1983;
  • Luisa Muraro, Guglielma e M. Storia di un 'cres ia femmimsta, Mila­no, 1985;
  • Patrizia Maria Costa; Bohemian Guglielma Clairvaux herética, Milano, 1986; G. Merlo, Eretici ed eresie medievali, Milano, 1989;
  • Salimbene de Adam; Crônica - por Ferdinando Bernini, Bari, 1942.

Notas

  1. Biassono é o berço do Ansperto, Bispo de Milão (868-881 morte) ter sido. Possivelmente o nome do município é em uma parte traseira de montagem (Fortezza dei Blasoni).
  2. Historicamente, o primeiro grupo dos Humiliati tornou-se uma ordem religiosa (Ordo Humiliatorum, sigla O. Hum ) com as normas aprovadas pelo Papa Inocêncio III, em 1201
  3. O nome Brera foi agregado porque era o nome da estrada que levva àquela parte do país
  4. Supostamente, é o retrato dela que é a Papessa do baralho de Tarot Visconti-Sforza
  5. Historia de fray Dolcino, herético, pp. 80-81; as Atas do Santo Ofício de Bolonha; As Atas do processo Trentino de 1332-1333; G. A. Bocchio: Statutum ligae contra heréticos e as Bulas de Clemente V, editadas em 15 de abril, 04 de Julho e 11 de agosto de 1307

Referências

  1. "irmã Mainfreda, filha de Morandi de Pirovano"
  2. «Os Cardeais da Santa Igreja Romana». Consultado em 23 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 6 de junho de 2015 
  3. Dicionário Biográfico de italiano - Volume 21 (1978)
  4. Eubel, Hierarchia Catholica Medii Aevi, I, p. 10, n. 9, diz que ele ainda é mencionado em uma carta do Papa Nicolau IV, datada de 09 de abril de 1288.
  5. «Viboldone». Consultado em 23 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 13 de dezembro de 2011 
  6. Latuada, diz que o nome "Biassono" ou "de Biassono" assim foi dado por ser o sobrenome de seu fundador. Assim também escreve Rachele Farina em seu Dizionario biografico delle donne lombarde: 568-1968, p. 880 e 881. Este nome foi mantido até pelo menos o século XIV
  7. Luisa Muraro: Vilemína e Mayfreda - A história de uma heresia feminista. Kore, editor Traute Hensch, Freiburg, 1987 Page 46
  8. Luisa Muraro: Vilemína e Mayfreda - A história de uma heresia feminista. Kore, editor Traute Hensch, Freiburg, 1987 Page 88