Manipulação da mídia
A manipulação da mídia ou manipulação da informação veiculada pela mídia refere-se ao uso de táticas ou técnicas de apresentação da informação transmitida pelos meios de comunicação, de modo a favorecer interesses de determinada parte.
Origem
editarEmbora os jornalistas sejam os gestores diretos do material informativo, nem sempre se pode atribuir a eles a origem ou a responsabilidade nos casos de manipulação dos meios de comunicação de massa. Frequentemente, o fluxo de informação tem como origem organizações complexas (órgãos de governo, empresas privadas, instituições científicas) dotadas de uma competência específica e, portanto, não passíveis de verificação imediata.[1] Geralmente essas organizações são dotadas de spin doctors, autorizados a relacionar-se diretamente com a imprensa. Embora também possam estar sujeitas a obrigações de independência ou de imparcialidade (como é o caso dos órgãos da administração pública), as atividades de divulgação de informações dessas organizações não são submetidas ao código deontológico do jornalista; portanto, algumas vezes, a manipulação da informação tem origem fora dos órgâos de imprensa.
Padrões de manipulação
editarSegundo Perseu Abramo, é possível distinguir e observar pelo menos quatro padrões de manipulação da informação presentes na imprensa brasileira, em geral, e mais um, específico do telejornalismo: [2]
- Padrão de ocultação
- Padrão de fragmentação
- Padrão da inversão
- Inversão da relevância dos aspectos
- Inversão da forma pelo conteúdo
- Inversão da versão pelo fato
- Inversão da opinião pela informação
- Padrão da indução
- Padrão global ou o padrão específico do jornalismo de televisão e rádio
Táticas
editarAs táticas de manipulação da informação veiculada pela mídia incluem desde o uso de falácias lógicas e outros artifícios retóricos, passando por técnicas de propaganda e de manipulação psicológica, até a pura e simples fraude. Frequentemente envolvem a omissão de dados e a exclusão de opiniões divergentes, com a finalidade levar determinados argumentos ao descrédito; outras vezes, procura-se desviar a atenção do público mediante um excesso de oferta de informações sobre diversos assuntos. Vários métodos de manipulação dos meios de comunicação de massa baseiam-se na distração, assumindo-se o pressuposto de que o público tem um limiar de atenção restrito. Um exemplo disso é a manipulação de gráficos de barras, frequentemente utilizados pela televisão. Nesse caso, podem ser usadas barras de tamanho não correspondente aos números (que são verdadeiros), na esperança de que o telespectador (um "Homer Simpson", nas palavras de William Bonner[3]) não perceba a falcatrua.
A veiculação de propaganda não comercial também é uma tática utilizada por grupos de interesse, partidos políticos, governos e movimentos religiosos, para difundir uma causa ou ideias e influenciar a opinião pública.[4][5]
Grandes empresas, assim como os governos, podem controlar a informação veiculada pela mídia de um país. Em alguns países, grandes corporações multinacionais são proprietárias de estações de rádio e televisão.[6] Ainda que aumente o número de publicações nos diferentes canais de distribuição (jornais, revistas, rádio, televisão e, especialmente, Internet), verifica-se, paralelamente, uma crescente Concentração de propriedade da mídia, sobretudo graças às fusões de empresas, tanto aquelas ligadas à mídia convencional, como as que operam os principais serviços da Internet.[7][8]
Referências
- ↑ (em italiano) Alcune ragioni per sopprimere la libertà di stampa. Laterza, 1995, pp. 26-31.
- ↑ ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2016 ISBN: 978-85-5708-008-9 (disponível para download)
- ↑ «Leia nota de Bonner sobre caso Homer». Folha de S. Paulo. 6 de dezembro de 2005. Consultado em 28 de maio de 2018
- ↑ (em inglês) «Non-commercial Advertising». Business Dictionary. 2015
- ↑ (em italiano) Marco Benadusi, Il falso nell’epoca della sua riproducibilità tecnica. Mondoperaio nº 4, 2017, p. 8.
- ↑ (em inglês) Monopoly Media Manipulation. Michael Parenti Political Archive. Maio de 2001.
- ↑ Efeitos da globalização e da sociedade em rede via Internet na formação de identidades contemporâneas. Por Marcelo D. Prates da Silveira. Psicologia: ciência e profissão, vol. 24, nº 4. Brasília dezembro de 2004.
ISSN 1414-9893 - ↑ Media Conglomerates, Mergers, Concentration of Ownership. Por Anup Shah. Global Issues, 2 de janeiro de 2009.
Veja também
editarBibliografia
editar- ALBERGUINI, Audre C. A Ciência nos Telejornais Brasileiros - O papel educativo e a compreensão pública das matérias de CT&I. Universidade Metodista de São Paulo, 2007
- ECO, Umberto Número zero. Record, 2015.
- Libby case witness details art of media manipulation. Former Cheney aide explains how leaks are used. The Boston Globe, 28 de janeiro de 2007 (matéria sobre manipulação da mídia e vazamento seletivo de informações, no caso da suposta existência de armas químicas no Iraque.
Ligações externas
editar- Media Manipulation. Por Anup Shah. Global Issues, 17 de abril de 2006.