Maracajá-Guaçu

cacique temiminó e pai de Arariboia (m. 1568)
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Maracajá-Guaçu (tupi: maracaiaguaçu, «Grande gato-maracajá»)? foi um líder indígena (cacique) dos temiminós das primeiras décadas do século XVI, conhecido aliados dos conquistadores portugueses. Era o pai de Arariboia, fundador da aldeia de São Lourenço dos Índios, que deu origem a cidade de Niterói.[1]

Maracajá-Guaçu
Outros nomes Vasco Fernandes Coutinho
Nascimento ?
Paranapuã, Rio de Janeiro, Brasil
Morte 1568
Serra, Espírito Santo, Brasil
Etnia temiminó
Filho(a)(s) Arariboia
Ocupação líder temiminó
Religião católica

Vida editar

Maracajá-Guaçu era cacique dos temiminós. Segundo as cartas dos jesuítas, era muito conhecido entre os cristão, muito temido entre os indígenas e mais aparentado entre eles. Vivia no Rio de Janeiro e há vários anos que estava em guerra com os tamoios, que o derrotaram e cercaram em sua aldeia. Mandou um filho seu à Capitania do Espírito Santo para pedir que lhe mandassem embarcação para ajudá-lo, bem como para converter ele, sua mulher, filhos e outros que queriam se tornar cristãos.[2] Segundo outra carta, já havia se aproximado dos portugueses na figura do governador-geral Tomé de Sousa (1549–1553), provavelmente numa das ocasiões que o último esteve na baía de Guanabara.[3] Em 1556, para comodidade dos jesuítas, o capitão-donatário Vasco Fernandes Coutinho ordenou que os índios de Maracaiaguaçu e os da aldeia de Maraguai fossem unidos num único aldeamento "perto da vila".[4]

Em 20 de janeiro de 1558 a doença, resultante do ferimento de uma flechada, de um dos filhos de Maracaiaguaçu precipitou o batismo e casamento daquele, precatando-se, assim, a salvação da alma do neófito que recebeu o nome de Sebastião Lemos em honra do santo do dia e do senhor da ilha onde residiam e na altura estava presente;[5] seus padrinhos foram Duarte de Lemos, Bernardo Sanches da Pimenta e André Serrão Em 2 de abril, na última semana da Quaresma, Sebastião faleceu e em seu pomposo ritual funerário foram mesclados rituais da morte católicos e indígenas.[6] Na noite seguinte, Maracaiaguaçu falou aos seus acerca da excelência da conversão à nova fé. Dias depois, os jesuítas celebraram uma missa pela alma do defunto, em officio cantado, na qual o cacique se sentou na primeira fila da igreja de Santiago entre Vasco Fernandes Coutinho e o filho deste de mesmo nome.[7]

Depois da missa, o capitão donatário convidou Maracaiaguaçu e alguns dos seus para, juntamente com o padre Francisco Pires, irem a sua casa. Aí trataram das questões que afligiam os dois chefes, mormente os conflitos entre indígenas e cristãos que conduzira a confrontos entre as duas comunidades. Nas conversações, com intérprete, o padre teve participação ativa, pois foi sua a sugestão de se estreitarem mais os laços entre as duas comunidades através dos batizados de Maracaiaguaçu e sua mulher e o casamento de ambos, que concordaram. Para selar o acordo simbolizado pelo ato religioso, Maracaiaguaçu, a mulher e os filhos receberiam respetivamente o nome de Vasco Coutinho, o da mãe e dos filhos deste. O pacto seria comemorado com uma festa que Vasco Coutinho se propôs a organizar.[8]

Referências

  1. Wehrs 1984, p. 31.
  2. Cunha 2014, p. 28.
  3. Cunha 2014, p. 29.
  4. Cunha 2014, p. 30.
  5. Cunha 2014, p. 31.
  6. Cunha 2014, p. 32.
  7. Cunha 2014, p. 33.
  8. Cunha 2014, p. 33-34.

Bibliografia editar

  • Cunha, Maria José dos Santos (2014). «Maracaiaguaçu, o Gato Grande, Aliás, Vasco Fernandes, ou o Elogio do Discurso Evangelizador». Vitória. Revista Ágora (20): 24-40. ISSN 1980-0096 
  • Wehrs, Carlos (1984). Niterói, Cidade Sorriso. A história de um lugar. Rio de Janeiro: [s.n.] pp. 31–40