Massacre na Universidade Thammasat

O massacre na Universidade Thammasat (na Tailândia conhecido simplesmente como "o evento de 6 de outubro", em tailandês: เหตุการณ์ 6 ตุลา) foi um ataque das forças policiais tailandesas e paramilitares de extrema-direita contra manifestantes estudantis no campus do cais da lua da Universidade Thammasat, em frente ao campo de Sanam Luang em Bangkok, Tailândia, no dia 6 de outubro de 1976. Antes do massacre, de quatro a cinco mil estudantes de várias universidades protestavam durante mais de uma semana contra o retorno do ex-ditador militar Thanom Kittikachorn, que estava em exílio em Singapura.[1]

Monumento do Memorial do Massacre de 6 de outubro de 1976 no campus do Cais da Lua, Universidade Thammasat, Bangkok, Tailândia.

O estopim para o massacre foi um acontecimento do dia 4 de Outubro, quando estudantes da Universidade Thammasat encenaram uma peça para protestar contra o assassinato de dois empregados da companhia elétrica que foram mortos possivelmente pela polícia. No dia seguinte um jornal tailandês publicou uma matéria afirmando que os estudantes teriam simulado durante a apresentação o enforcamento do príncipe herdeiro Vajiralongkorn. Em resposta a estes rumores, militares e a polícia, bem como forças paramilitares, cercaram a universidade. Pouco antes do amanhecer no dia 6 de outubro, o ataque contra os manifestantes estudantis começou e prosseguiu até o meio-dia. O número de vítimas permanece incerto. Segundo o governo, 46 morreram assassinadas com 167 feridos e 3 mil presos. Muitos sobreviventes afirmam que o número de mortos foi bem maior que 100.[1]

Histórico editar

Causas imediatas editar

Em 14 de outubro de 1973, grandes manifestações lideradas por estudantes derrubaram o regime impopular do então primeiro-ministro tailandês Thanom Kittikachorn, obrigando-o a fugir da Tailândia em conjunto com o General Praphas Charusathien e o General Narong Kittikachorn, conhecidos coletivamente como os "três tiranos". A Tailândia inicia, nesse processo, uma transição para aquele que seria seu primeiro governo democrático.

Entretanto, a crescente inquietação e instabilidade entre 1973 e 1976, bem como o medo do comunismo de países vizinhos se espalhar pela Tailândia e ameaçar os interesses da monarquia, convenceram os militares de que tinham que trazer os ex-líderes Thanom e Praphas de volta para Tailândia para controlar a situação. Em resposta ao retorno de Praphas, em 17 de agosto, milhares de estudantes protestaram na Universidade Thammasat durante quatro dias, até que um confronto com os gaurs vermelhos e o Nawaphon deixou quatro mortos.[1] Em 19 de setembro, Thanom voltou à Tailândia e foi direto do aeroporto para o Wat Bowonniwet Vihara, onde foi ordenado como monge numa cerimônia privada. Protestos antiThanom eclodiram nas ruas de Bangkok, com o governo enfrentando uma crise interna depois que a tentativa de demissão do primeiro-ministro, Seni Pramoj, foi rejeitada pelo Parlamento tailandês. Em 25 de setembro, em Nakhon Pathom, a oeste de Bangkok, dois ativistas chamados Chumporn Thummai e Vichai Kaetsripongsa colocavam cartazes antiThanom em um muro quando foram espancados até a morte e pendurados pelo pescoço em uma parede.[2] Esse acontecimento foi logo associado ao trabalho da polícia tailandesa.[1] Em busca de tornar o caso mais conhecido e com o intuito de convencer mais estudantes de que tinham que participar das manifestações, um grupo de alunos decide realizar uma espécie de peça teatral onde a morte e enforcamento dos dois ativistas seriam reencenadas. A dramatização deste caso ocorreu no dia 4 de outubro no campus Cais da Lua da Universidade Thammasat. Um dos alunos participantes da encenação tinha uma grande semelhança com o príncipe herdeiro, Vajiralongkorn. No dia seguinte, o jornal Dao Siam publicou uma fotografia da encenação em sua primeira página, onde o jovem com características semelhantes ao príncipe Vajiralongkorn tinha grande destaque. Acredita-se hoje que o jornal tenha adulterado a imagem para parecer que os alunos estavam sugerindo o enforcamento do príncipe.[2] Com a aprovação tácita do rei Bhumibol Adulyadej, o exército acusou os manifestantes de Lesa-majestade e mobilizou forças paramilitares do rei, o Nawaphon e os gaurs vermelhos para "matar os comunistas". Ao anoitecer do dia 5 de outubro, cerca de 4 mil pessoas dessas forças paramilitares, bem como militares e policiais, se reuniram em frente à Universidade Thammasat, onde os manifestantes estudantis estavam protestando por semanas.[1][3][4]

Massacre editar

 
Exposição que relembra o 44º aniversário do massacre de 6 de outubro na Universidade Thammasat, cais da lua.

Na madrugada de 6 de outubro, os militares e a polícia, bem como as três forças paramilitares, bloquearam as saídas da universidade e começaram a atirar em direção ao campus, usando fuzis, carabinas, pistolas, lança-granadas e canhões sem recuo. Impedidos de sair do campus ou até mesmo enviar feridos para o hospital, os alunos pediram um cessar-fogo. Os ataques continuaram. Os atores da encenação de enforcamento se entregaram aos militares, sendo levados para Seni, no escritório do primeiro-ministro. Quando um aluno saiu para se entregar, ele foi baleado e morto. Depois que uma ordem de cessar-fogo foi emitida pelo chefe de polícia de Bangkok, o campus foi tomado pelas forças policiais. Alunos que mergulharam no rio Chao Phraya para fugir do massacre foram alvejados por navios de guerra, enquanto outr6 ตุลา ธรรมศาสตร์ 2563 ครบรอบ 44 ปี 04.jpgos que se renderam foram forçados a deitar no chão e espancados, alguns até à morte. Vários estudantes foram pendurados em árvores e espancados, outros tiveram seus corpos incendiados. Estudantes do sexo feminino foram estupradas, vivas ou mortas, pela polícia e pelos gaurs vermelhos. O massacre continuou por várias horas, e só foi interrompido ao meio-dia por causa de uma tempestade.[1][5][6]

Na tarde de 6 de outubro de 1976, após o massacre, as principais facções dos militares concordaram, em princípio, em derrubar o primeiro-ministro Seni, uma trama que o rei Bhumibol estava bem ciente. Mais tarde naquela noite, o almirante Sangad Chaloryu, comandante supremo recém-nomeado, anunciou que os militares, sob o nome do "Conselho Nacional de Reforma Administrativa" (NARC) haviam tomado o poder para "evitar uma conspiração comunista vietnamita orientada no Vietnã" e para preservar a "monarquia tailandesa sempre". O rei nomeou o juiz anticomunista e monarquista Thanin Kraivichien para liderar um governo que era composto por aqueles que eram leais ao rei. Thanin e seu gabinete restabeleceram o clima repressivo que existia antes de 1973.[4]

Referências

  1. a b c d e f Handley, Paul M (2006). The King Never Smiles; A Biography of Thailand's Bhumibol Adulyadej. New Haven: Yale University Press. ISBN 0-300-10682-3. Consultado em 5 de outubro de 2016 
  2. a b «'The performance was not wrong' victim whose image spurred 6 Oct massacre insists». Prachatai English (em inglês). Consultado em 5 de julho de 2023 
  3. Rithdee, Kong (30 de setembro de 2016). «In the eye of the storm». Bangkok Post. Post Publishing. Consultado em 5 de outubro de 2016 
  4. a b Supawattanakul, Kritsada (6 de outubro de 2016). «Coming to terms with a brutal history» (Opinion). Bangkok Post. Consultado em 6 de outubro de 2016 
  5. «OCT. 6 MASSACRE: THE PHOTOGRAPHER WHO WAS THERE». Khaosod English. Associated Press (AP). 5 de outubro de 2016. Consultado em 5 de outubro de 2016 
  6. Rojanaphruk, Pravit (5 de outubro de 2016). «THE WILL TO REMEMBER: SURVIVORS RECOUNT 1976 THAMMASAT MASSACRE 40 YEARS LATER». Khaosod English. Consultado em 5 de outubro de 2016 

Ligações externas editar

 
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