May Sinclair
May Sinclair, pseudônimo de Mary Amelia St. Clair Sinclair (Rock Ferry, 24 de agosto de 1863 – Buckinghamshire, 14 de novembro de 1946) foi uma proeminente escritora, poeta, crítica literária, tradutora e feminista britânica.
May Sinclair Mary Amelia St. Clair | |
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May Sinclair c. 1904 | |
Pseudónimo(s) | Julian Sinclair |
Nascimento | 24 de agosto de 1863 Rock Ferry, Cheshire, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda |
Morte | 14 de novembro de 1946 (83 anos) Buckinghamshire, Inglaterra, Reino Unido |
Nacionalidade | britânica |
Ocupação | escritora, poeta, crítica literária, tradutora e feminista |
Gênero literário | ficção, poesia e horror |
Magnum opus | The Combined Maze (1913) |
Escreveu 23 livros, 39 contos de variados estilos, dois tratados filosóficos, uma biografia e várias coleções de poesias, sendo uma das mais famosas escritoras da época e uma das expoentes do Modernismo.[1] Sufragista, foi membro da Liga das Escritoras Sufragistas, tendo se vestido uma vez de Jane Austen em um evento para levantar fundos para ações sufragistas.[2]
May foi uma influente crítica da poesia e da literatura modernista, tendo escrito em variados gêneros, incluindo contos de horror.[3] Acredita-se que ela tenha sido a primeira a usar o termo "fluxo de consciência" em um contexto literário, ao resenhar os primeiros volumes da série Pilgrimage, de Dorothy Richardson, em 1918.[4]
Biografia
editarMay nasceu em 1863, em Rock Ferry, na região de Wirral, que hoje faz parte do condado de Cheshire, filha de William e Amelia Sinclair. Seu pai era armador em Liverpool, mas acabou falido e alcoólatra, deixando a família na pobreza.[4] May era a mais nova de seis irmãos e a única menina. Seus pais se separaram quando May tinha sete anos e em 1901 ela morreu. Ainda criança se mudou com a família para Ilford, nos arredores de Londres. Estudou por um ano no Cheltenham Ladies College, mas foi obrigada a abandonar os estudos para poder cuidar dos quatro irmãos, todos mais velhos que ela. Um deles sofria de uma grave doença cardíaca e precisava de cuidado constante.[1][4] Um de seus irmãos, Harold, morreu em 1887. Outro, Frank, morreu em 1998.[5]
May, a mãe e o único irmão em casa, Reginald, se mudaram para Sidmouth, na costa sul de Devon em 1890, devido à saúde dele, mas seu irmão acabaria falecendo em 1891. A literatura e os estudos acabaram se tornando um lugar seguro para May, autodidata, que escreveu um ensaio filosófico publicado em 1892 e seu primeiro trabalho pago por uma editora, The Ethical and Religious Import of Idealism, em 1893.[5] Para complementar a renda da família, também começou a fazer traduções e resenhas para revistas literárias.[5]
May começou a ler filosofia e poesias ainda criança, além de literatura em geral. Se interessou pelo trabalho de T.H. Green e também pela psicanálise, o que a tornou muito consciente sobre a situação das mulheres, fazendo-a integrar o movimento feminista e sufragista.[4] Enquanto era estudante no Cheltenham Ladies College, sua professora, Dorothea Beale, percebeu a aptidão da estudante e a encorajou a seguir carreira na filosofia. Seus primeiros ensaios e poemas foram publicados na revista da faculdade entre 1882 e 1898.[5]
Carreira
editarPara poder sustentar a família, em especial a mãe doente, May começou a escrever em 1896. Em seus livros, várias discussões feministas são feitas, tratando de casamento e a posição da mulher na sociedade.[6] Seus livros começaram a fazer sucesso, inclusive nos Estados Unidos.[3][4][7]
Seu primeiro livro foi Audrey Craven (1897). Interessada no progresso moral de seus personagens e nas formas como a abnegação pode alimentar ou retardar esse progresso, May escreveu um romance best-seller sobre esse tema, The Divine Fire (1904).[4] Seus romances criticavam a instituição do casamento, como Sr. e Sra. Nevill Tyson (1897) e The Helpmate (1907). Seu romance de 1910, The Creators, indicou as forças sociais patriarcais que impediam a criatividade das mulheres daquela época, forçando-as às demandas da vida familiar e doméstica.[6][4][7]
Ativa no movimento sufragista, suas ações foram lembradas até por Sylvia Pankhurst. Escrevia suas ideias feministas para o periódico da Liga das Escritoras Sufragistas, em 1912, onde refutou as alegações machistas de Sir Amroth Wright, que dizia que as sufragistas eram frustradas sexualmente pela "escassez de homens".[4] May disse que o sufrágio e a luta de classes eram aspirações semelhantes e que a mulher trabalhadora não deveria competir com as ambições da classe trabalhadora masculina.[8]
Em 1913, May foi uma grande apoiadora da Clínica Médico-Psicológica, em Londres, fundada por Jessie Murray.[8] May se interessava pela psicanálise e chegou a trabalhar com alguns temas tratados por Sigmund Freud em seus livros, tendo sido uma das primeiras autoras a fazer isso.[4] Em 1914, foi voluntária na Munro Ambulance Corps, uma organização de caridade administrada por um dos fundadores da Clínica Médico-Psicológica, que prestou assistência aos soldados belgas no fronte ocidental da Primeira Guerra Mundial, em Flanders. May ficou apenas algumas semanas nas trincheiras e ao retornar para casa escreveu sobre essa experiência em seus livros e poemas.[4][8] Seu romance The Tree of Heaven (1917) falava de como a guerra afetava as famílias e principalmente as mulheres.[4]
Ainda em 1913, seu livro The Combined Maze foi altamente elogiado pela crítica. George Orwell fez altos elogios ao livro em sua resenha, enquanto Agatha Christie considerava a obra um dos maiores romances ingleses de todos os tempos. May foi também bastante crítica ao Imagismo.[6] Foi bastante positiva com a poesia de T. S. Eliot e com os livros de Dorothy Richardson. Foi em contato com as obras de Dorothy que May introduziu no meio literário o termo "fluxo de consciência", tendo sido desde então adotado por outros autores e críticos.[4][8]
Além das poesias e dos romances realistas, May escrevia ficção sobrenatural e contos de terror. Escreveu duas coletâneas de contos de horror, Uncanny Stories (1923) e The Intercessor and Other Stories (1931).[6] Alguns críticos dizem que ainda que a contribuição de May para o horror tenha sido pequena, ela foi significativa.[6][9]
Brian Stableford uma vez declarou:
“ | Os contos sobrenaturais de May Sinclair foram escritos com uma incomum delicadeza e precisão, e estão entre os melhores exemplos do gênero.[10] | ” |
Últimos anos
editarNo começo da década de 1920, May começou a demonstrar sintomas relacionados ao Mal de Parkinson e parou de escrever. Fixou residência em Buckinghamshire em 1932 com sua dama de companhia e enfermeira e se retirou da vida pública, levando uma vida solitária e reclusa.[4]
Morte
editarMay ficou muito debilitada física e mentalmente por conta da doença e morreu em decorrência do Mal de Parkinson em 14 de novembro de 1946, em Buckinghamshire, aos 83 anos. Ela foi sepultada no cemitério da igreja de St John-at-Hampstead, em Londres.[11]
Publicações
editarLivros
editar- sem data The Small Room
- Audrey Craven (1897)
- Two Sides of a Question (1901)
- Divine Fire (1904)
- Superseded (1906)
- The Helpmate (1907)
- Kitty Taileur (1908)
- The Creators (1910)
- Feminism (1912) panfleto
- The Combined Maze (1913)
- The Return of the Prodigal (1914)
- The Belfry (1916)
- Tasker Jervons (1916)
- The Tree of Heaven (1917)
- Mary Olivier (1919)
- The Romantic (1920)
- Mr. Waddington Of Wyck (1921)
- Anne Severn and the Fieldings (1922)
- Life and Death Of Harriett Frean (1922)
- Arnold Waterlow (1924)
- A Cure of Souls (1924)
- The Rector of Wyck (1925)
- Far End (1926)
- The Allinghams (1927)
- History of Anthony Waring (1927)
- The Three Sisters (1982)
Coletâneas
editar- The Flaw in the Crystal (1912)
- Uncanny Stories (1923)
- Tales Told by Mrs Simpson (1930)
- The Intercessor (1931)
Não ficção
editar- The Three Brontes (1914)
Contos
editar- The Villa Desiree (1921)
- Where Their Fire is Not Quenched (1922)
- The Finding of the Absolute (1923)
- The Flaw in the Crystal (1923)
- If the Dead Knew (1923)
- The Nature of the Evidence (1923)
- The Token (1923)
- The Victim (1923)
- The Mahatma's Story (1931)
- The Intercessor (1932)
Antologias com seus contos
editar- The Ghost Book (1926)
- Great Short Stories of Detection, Mystery and Horror (1928)
- A Century of Creepy Stories (1934)
- The Mystery Book (1934)
- The Mammoth Book of Thrillers, Ghosts and Mysteries (1936)
- And the Darkness Falls (1946)
- Who Knocks? (1946)
- Spine Chillers (1961)
- The 2nd Fontana Book of Great Horror Stories (1967)
- The 6th Fontana Book of Great Ghost Stories (1970)
- Mind in Chains (1970)
- The Penguin Book of Classic Fantasy by Women (1977)
- Witches' Brew (1984)
- The 20th Fontana Book of Great Ghost Stories (1984)
- Haunting Women (1988)
- The Book of Fantasy (1988)
- The Oxford Book of Twentieth-Century Ghost Stories (1996)
Referências
- ↑ a b «May Sinclair Biography». Bookrags. Consultado em 17 de dezembro de 2019
- ↑ Looser, Devoney (2017). The Making of Jane Austen. Baltimore: Johns Hopkins University Press. p. 174. ISBN 1421422824
- ↑ a b Charlotte Jones (ed.). «May Sinclair: the readable modernist». The Guardian. Consultado em 17 de dezembro de 2019
- ↑ a b c d e f g h i j k l m «May Sinclair 1863–1946». Poetry Foundation. Consultado em 17 de dezembro de 2019
- ↑ a b c d «May Sinclair, 1863-1946». May Sinclair Society. Consultado em 17 de dezembro de 2019
- ↑ a b c d e Sullivan, Jack (1986). The Penguin Encyclopedia of Horror and the Supernatural. São Paulo: Viking Press. 512 páginas. ISBN 978-0670809028
- ↑ a b Boll, Theophilus Ernest Martin (1973). Miss May Sinclair: Novelist; A Biographical and Critical Introduction. Londres: Associated Univ Press. p. 332. ISBN 978-0838611562
- ↑ a b c d Wallace, D. (2000). Sisters and Rivals in British Women's Fiction, 1914-39. [S.l.]: Palgrave Macmillan. p. 79–. ISBN 978-0-230-59880-5
- ↑ Bleiler, E. F. (1983). The Guide to Supernatural Fiction. Kent: Kent State University Press. 723 páginas. ISBN 978-0873382885
- ↑ Smith, Andrew (2007). Gothic Literature. Edimburgo: Edinburgh University Press. p. 130. ISBN 0748623701
- ↑ Wilson, Scott (2010). Resting Places: The Burial Sites of More Than 14,000 Famous Persons. Londres: McFarland. p. 452. ISBN 978-0786479924
Ligações externas
editar- The homepage of the May Sinclair Society
- An essay on May Sinclair, Dorothy Richardson, and 'Stream of Consciousness'
- A 2001 essay by Leigh Wilson (Universidade de Westminster), de The Literary Encyclopedia
- Obras de May Sinclair (em inglês) no Projeto Gutenberg
- Obras de ou sobre May Sinclair no Internet Archive
- The Cellar-House of Pervyse (1917) no Internet Archive
- We Brought Succour to Belgium (1914) no 'A Nurse at the War'
- May Sinclair and the First World War (Parte 1) (1999) no National Humanities Center
- Escritos de May Sinclair Kislak Center for Special Collections, Rare Books and Manuscripts, Universidade da Pennsylvania