Memento mori

Memento mori é uma expressão latina que significa algo como "lembre-se de que você é mortal", "lembre-se de que você vai morrer" ou traduzido literalmente como "lembre-se da morte".[1]

Esta expressão era a saudação utilizada pelos paulianos "Eremitas de Santo Paulo da França" (1620 — 1633), também conhecidos como "Irmãos da Morte".[2] Todas as obras memento mori são produtos da arte cristã.[3] Os anéis memento mori foram manufaturados a partir do fim do século XVI e durante o século XVII.[4]
Filosofia ocidental antigaEditar
O Fédon de Platão, onde a morte de Sócrates é recontada, introduz a ideia da prática apropriada da filosofia como "sobre nada além de estar morrendo e morrer".[5]
Memento mori é também um conceito fundamental do estoicismo, que trata a morte como algo natural e certo que não deve ser temido, mas sim, elaborado.[6] Os estoicos da antiguidade clássica eram particularmente conspícuos por seu uso desta disciplina, e as cartas de Séneca estão repletas de injunções à meditação sobre a morte.[7] Séneca diz:
"Muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza e se apegam e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens mínguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer."[6]
O estoico Epiteto disse a seus estudantes que quando beijassem suas crianças, irmãos, ou amigos, deviam lembrar-se da própria mortalidade, restringindo seu prazer, como fazem "aqueles que permanecem com os homens nos triunfos e os lembram de que são mortais".[8]
OrienteEditar
No Japão, a influência do budismo zen com a contemplação da morte sobre a cultura indígena pode ser estimada pela seguinte citação, extraída do tratado samurai em ética, o Hagakure:[9]
"O caminho do samurai é, manhã após manhã, a prática da morte, considerando se estará aqui ou lá, imaginando a mais levemente forma de morrer, e entregando a mente firmemente à morte. Ainda que isto possa ser uma coisa muito difícil, se alguém a fizer pode ser feito. Há nada que um deva supor que não possa ser feito."[10]
A "lembrança da morte" (em árabe: تذكرة الموت, Tadhkirat al-Mawt) tem sido um tema importante na espiritualidade islâmica (i.e. "tazkiya" significando autopurificação, ou purificação do coração) desde a época do profeta Maomé em Medina. Está baseada no Alcorão, onde há recorrentes injunções a dar atenção ao destino das gerações anteriores.[11] Alguns ṣūfiyyah são chamados "ahl al-qubur" ("povo dos túmulos"), devido à sua prática de frequentar cemitérios a fim de ponderar sobre a mortalidade e a vaidade da vida — seguindo ensinamentos de Maomé para visitar tais locais.[12]
Arte modernaEditar
Em The Austere Academy, quinto livro da série A Series of Unfortunate Events, a expressão é usada como lema da escola onde os protagonistas estudam.
Ver tambémEditar
Referências
- ↑ «Literally "remember (that you have) to die"» 3 ed. "Oxford English Dictionary". Junho de 2001
- ↑ McGahan, F. (1912). Paulists. Col: Enciclopédia Católica (em inglês). [S.l.: s.n.] s.v. "Paulists"
- ↑ Loverance, Rowena. Christian Art. [S.l.]: "Harvard University Press". p. 61
- ↑ Taylor, Gerald; Scarisbrick, Diana (1978). Finger Rings From Ancient Egypt to the Present Day. [S.l.]: Museu Ashmolean. p. 76. ISBN 0-900090-54-5
- ↑ Platão. Fédon. [S.l.: s.n.] 64a4.
- ↑ a b «Carta IV: Sobre os Terrores da Morte». Consultado em 31 de janeiro de 2019
- ↑ Séneca. Epistulae morales ad Lucilium. [S.l.: s.n.]
- ↑ Epiteto. Discursos. [S.l.: s.n.] 3.24
- ↑ «Hagakure (Book of the Samurai)» (em inglês). Consultado em 31 de janeiro de 2019
- ↑ «A Buddhist Guide to Death, Dying and Suffering». Consultado em 31 de janeiro de 2019
- ↑ Alcorão. [S.l.: s.n.] Ya-Seen — 36:31.
(em inglês) Have they not seen how many generations We destroyed before them, which indeed returned not unto them?
- ↑ «Hadith: Book of Funerals (Kitab Al-Jana'iz) - Sunan Abi Dawud (صلى الله عليه و سلم)»
Ligações externasEditar
- O Wikcionário possui a entrada memento mori
- (em inglês) Memento mori and vanitas elements in the funerary art at St. John's Co-Cathedral, Valletta, Malta, artigo publicado em dezembro de 2004 pelo jornal Treasures of Malta, sobre memento mori e Ars Moriendi