A Merendera montana (Lange), comummente conhecida como noselha[1], é uma espécie de planta com flor geófita[2][3], pertencente à família Colchicaceae.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaMerendera montana
Colchicum montanum
Colchicum montanum
Classificação científica
Reino: Plantae
Clado: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Liliales
Espécie: M. montana
(L.)
Nome binomial
Colchicum montanum
Merendera montana

Trata-se de uma planta bolbosa, amplamente endémica da Península ibérica.[4]

Nomes comuns editar

Dá pelos nomes comuns de noselha, cólchico-menor[5], quita-merendas[6] (também grafado quita-merenda[7]) e merendera[8][9].

Etimologia editar

Do que respeita à etimologia do primeiro nome, este aparenta tratar-se duma corruptela regional da palavra «noz», que nas regiões do Douro fora usada, em tempos remotos, para aludir aos bolbos de certas plantas, dando origem por homofonia, ao nome nozelha, que diz respeito à Monizia edulis .[10]

Os últimos dois nomes terão origens espanholas, sendo que em inúmeras regiões de Espanha, a planta exibe nomes alusivos à merenda.[11] Tal facto fica a dever-se à época de floração da noselha, que ocorre já durante o Outono, altura em que a diminuição do número de horas de sol durante o dia, implicava a supressão da refeição da merenda. Assim, a flor foi crismada «quita-merendas» (lit. tira merendas; saca merendas), pelo seu florescimento aludir ao Outono e ao fim da altura do ano em que se poderia merendar.[11]

Características editar

É uma planta perene, que mede entre 5 e 15 centímetros de altura.[12] As Folhas são basais, lineares, acanaladas e glabras. Quanto ao seu tipo fisionómico, é um geófito bolboso, cujas folhas começam a despontar no Outono, seguindo-se a floração. As folhas mantêm-se verdes até à Primavera, sendo que assim que chega o Verão caem.[9]

Toda as partes desta planta contêm um alcalóide tóxico chamado colchicina, se bem que este se apresenta em maiores concentrações nas folhas, pelo que é graças a ele que, durante o período vegetativo, a noselha consegue arredar os herbívoros da superfície de ao pé de si.[4]

As flores são solitárias, hermafroditas e actinomorfas, exibindo entre 6 a 7 pétalas, sendo que as anteras dos estames são mais compridas do que os filamentos.[4] O gineceu possui 3 carpelos soldados.[12]

Floresce no Outono, entre Setembro e Novembro[3], se bem que espécimes mais lampas podem já florescer em finais de Agostos entre as sabinas.[9]

Quanto ao seu fruto, trata-se duma cápsula.[9]

Distribuição editar

Ocorre em Portugal , Espanha e no Sudoeste de França junto aos Pirenéus.[4][9]

Portugal editar

Trata-se de uma espécie presente no território português, nomeadamente em Portugal Continental.[12] Mais concretamente, nas zonas do Noroeste Ocidental, do Noroeste montanhoso; da Terra Quente e da Terra Fria transmontanas; do Centro-Norte; do Centro-Oeste calcário; do Centro-Oeste olissiponense; do Centro-Oeste cintrano e do Centro-Sul arrabidense.[3]

Em termos de naturalidade é nativa da região atrás referidas.

Habitat editar

A noselha prefere os ambientes serranos, zonas sáfaras, abixeiras e húmidas, a altitudes que medeiem os 900 metros e os 2 quilómetros e meio de altura.[2]

Também tem tendências ruderais, pelo que pode medrar nas margens de caminhos pedregosos de montanha.[9]

Solos editar

Os sítios com maior densidade de bolbos costumam ser zonas com expressiva presença de ratos-toupeira (Microtus duodecimcostatus), pelo que há alguns autores[13] que sugerem que pode haver uma relação cooperativa entre ambas as espécies. Os ratos-toupeira alimentam-se da parte subterrânea da noselha, que é, por sinal, bastante menos tóxica, o que, por seu turno activa processos de reprodução assexual nas noselhas, que não se observam em pastos imperturbados pelos ratos-toupeira.[13]

Farmacologia editar

Trata-se duma planta tóxica, sendo certo que, apesar de todas as partes da planta conterem a colchicina, aquela que tem o teor e a quantidade menos substancial é o bolbo.[4] Por conseguinte, é tida por uma espécie imprópria para o consumo humano.[7]

No reverso desta medalha, à noselha também são reputadas propriedades medicinais, mormente pelas suas aplicações anti-inflamatórias e antiartríticas.[7]

Taxonomia editar

Sinonímia editar

  • Colchicum montanum L . [12]
  • Syn , (M. bulbocodium Ram., o M. pyrenaica Auct.).
  • Merendera bulbocodioides Willd., Mag. Neuesten Entdeck. Gesammten Naturk. Ges. Naturf. Freunde Berlin 2: 27 (1808), nom. superfl.
  • Bulbocodium montanum (L.) Heynh., Alph. Aufz. Gew.: 81 (1846), nom. illeg.
  • Merendera montana (L.) Lange in M.Willkomm & J.M.C.Lange, Prodr. Fl. Hispan. 1: 193 (1862).
  • Colchicum pyrenaicum Pourr., Mém. Acad. Sci. Toulouse 3: 316 (1788).
  • Merendera bulbocodium Ramond, Bull. Sci. Soc. Philom. Paris 2: 178 (1801).
  • Geophila pyrenaica Bergeret, Fl. Basses-Pyrénées 2: 184 (1803).
  • Colchicum bulbocodioides Brot., Fl. Lusit. 1: 597 (1804).
  • Colchicum hexapetalum Pourr. ex Lapeyr., Hist. Pl. Pyrénées, Suppl.: 51 (1818), pro syn.
  • Bulbocodium lusitanicum Heynh., Alph. Aufz. Gew.: 81 (1846), nom. superfl.
  • Bulbocodium colchicoides Nyman, Syll. Fl. Eur.: 379 (1855), nom. superfl.
  • Merendera montana var. bulbocodioides (Brot.) Lange in M.Willkomm & J.M.C.Lange, Prodr. Fl. Hispan. 1: 193 (1862).
  • Merendera bulbocodium var. bulbocodioides (Brot.) Baker, J. Linn. Soc., Bot. 17: 441 (1879).
  • Bulbocodium broteroi Welw. ex Baker, J. Linn. Soc., Bot. 17: 441 (1880), pro syn.
  • Merendera montana subsp. bulbocodioides (Brot.) K.Richt., Pl. Eur. 1: 189 (1890)
  • Bulbocodium pyrenaicum (Pourr.) Samp., Herb. Portug.: 27 (1913).
  • Merendera pyrenaica (Pourr.) P.Fourn., Quatre Fl. France: 157 (1935).
  • Merendera gredensis Caball., Anales Jard. Bot. Madrid 5: 512 (1945).
  • Merendera montana var. gredensis (Caball.) Rivas Mart., Anales Inst. Bot. Cavanilles 21: 280 (1963).
  • Merendera bulbocodium f. alba Q.J.P.Silva, Agron. Lusit. 34: 182 (1972 publ. 1973).[14]

Referências

  1. Infopédia. «noselha | Definição ou significado de noselha no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 16 de outubro de 2021 
  2. a b «Flora-On | Flora de Portugal». flora-on.pt. Consultado em 20 de março de 2021 
  3. a b c «Merendera montana». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 17 de março de 2020 
  4. a b c d e Persson, K. (2007). Nomenclatural synopsis of the genus Colchicum (Colchicaceae), with some new species and combinations. Leipzig: Botanische Jahrbücher für Systematik, Pflanzengeschichte und Pflanzengeographie. pp. 165–242. ISSN 1869-6155 
  5. «Flora Iberica. Vascular plants of the Iberian Peninsula and Balearic Islands». www.floraiberica.es. Consultado em 21 de março de 2021 
  6. Infopédia. «quita-merendas | Definição ou significado de quita-merendas no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 21 de março de 2021 
  7. a b c O que procurar no Outono: a quita-merenda, por Carine Azevedo, Wilder, 15.10.2021
  8. S.A, Priberam Informática. «merendera». Dicionário Priberam. Consultado em 21 de março de 2021 
  9. a b c d e f Castroviejo, S. (1986–2012). «Merendera montana» (PDF). Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid. p. 98-99. Consultado em 17 de março de 2020 
  10. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de nozelha». aulete.com.br. Consultado em 21 de março de 2021 
  11. a b «Las 'quitameriendas' y el origen de su curioso nombre». La Gaceta de Salamanca (em espanhol). 2 de setembro de 2015 
  12. a b c d Webb, D. A. (1964). Flora Europaea: Alismataceae to Orchidaceae (Monocotyledones) (em inglês). Cambridge: Cambridge University Press. pp. 1–452 
  13. a b D. Gómez, J. Azorín, J. Bastida, F. Viladomat& C. Codina (2003): Seasonal and spatial variations of alkaloids in Merendera montana in relation to chemical defense and phenology. J. Chemical Ecol. 29(5): 1117-1126
  14. «Colchicum montanum». Royal Botanic Gardens, Kew: World Checklist of Selected Plant Families. Consultado em 11 de Janeiro de 2010 

Liagações externas editar