Klemens von Metternich

diplomata austríaco
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Klemens Wenzel Nepomuk Lothar (ou Clemente Venceslau Nepumoceno Lotário), Príncipe de Metternich-Winneburg-Beilstein (15 de Maio de 1773 – 11 de Junho de 1859[1]) foi um estadista do Império Austríaco e um dos mais importantes diplomatas do seu tempo, a serviço do Ministro do Exterior imperial desde 1809 e Chanceler a partir de 1821 até à revolução liberal de 1848, que forçou a sua demissão.

Klemens Wenzel von Metternich
Klemens von Metternich
Klemens Wenzel von Metternich, chanceler austríaco
Chanceler de Estado da Áustria
Período 25 de maio de 1821
até 13 de março de 1848
Monarca Francisco I (1809-1835)
Fernando I (1835-1848)
Antecessor(a) Wenzel Anton Kaunitz-Rietberg
Sucessor(a) Franz Anton von Kolowrat-Liebsteinsky
2º Ministro do Exterior da Áustria
Período 8 de outubro de 1809
até 13 de março de 1848
Monarca Francisco I (1809-1835)
Fernando I (1835-1848)
Antecessor(a) Johann Philipp von Stadion
Sucessor(a) Karl Ludwig von Ficquelmont
Dados pessoais
Nascimento 15 de maio de 1773
Coblença
Morte 11 de junho de 1859 (86 anos)
Viena
Religião Católica
Profissão Diplomata

Uma das suas primeiras responsabilidades foi o estabelecimento de uma détente com França que incluísse o casamento de Napoleão com a arquiduquesa austríaca Maria Luísa. Pouco depois, tratou da entrada da Áustria na Guerra da Sexta Coligação, no lado Aliado, assinou o Tratado de Fontainebleau que enviou Napoleão para o exílio, e liderou a delegação austríaca presente no Congresso de Viena que dividiu a Europa pós-napoleónica entre as principais potências. Pelo seu papel ao serviço do Império Austríaco, recebeu o título de Príncipe em Outubro de 1813. Sob a sua orientação, o seu "Sistema" de congressos internacionais prolongou-se por mais uma década, com a Áustria aliada à Rússia e, de forma menos alargada, à Prússia. Esta situação assinalou o auge da importância diplomática da Áustria e, a partir deste momento, de forma discreta, Metternich passou a dedicar-se unicamente à diplomacia internacional mais periférica. No seu país, Metternich manteve o cargo de Chanceler de Estado de 1821 até 1848, sob os reinados de Francisco I e do seu filho Fernando I. Após um breve exílio em Londres, Brighton e Bruxelas, que durou até 1851, regressou à corte vienense, desta vez para apenas servir como conselheiro do sucessor de Fernando, Francisco José I. Depois de ter passado por toda a sua geração de políticos, Metternich morreu com 86 anos de idade 1859.

Nascido no seio da família Metternich em 1773, filho de um diplomata, recebeu o nome do seu padrinho, Clemens Wenceslaus da Saxónia, Arcebispo de Trier. Metternich estudou nas universidades de Estrasburgo e Mainz. Participou na coroação de Francisco II em 1792 e na do seu antecessor Leopoldo II, em 1792. Após uma breve viagem a Inglaterra, Metternich foi nomeado embaixador austríaco para os Países Baixos, um cargo de curta duração, dado que este estado ter ficado sob o controlo francês no ano seguinte. Casou pela primeira vez com Eleonore von Kaunitz (descendente de Carolina de Legnica-Brieg, nobre polaca), em 1795, facto que o ajudou a entrar na corte vienense. Apesar de ter tido várias relações extra-conjugais, ficou arrasado pela sua morte em 1825. Mais tarde casaria de novo, desta vez com a baronesa Antoinette Leykam em 1827 e, após a morte desta, em 1829, com a condessa Melanie Zichy-Ferraris em 1831, que faleceu cinco anos de Metternich. Antes de assumir o cargo de ministro do Exterior, Metternich passou por vários pequenos cargos, incluindo o de embaixador no Reino da Saxónia, no Reino da Prússia e na França napoleónica. Um dos filhos de Metternich, Richard von Metternich, foi também um diplomata de sucesso; muitos dos filhos reconhecidos de Metternich também morreriam antes do seu pai. Conservador tradicional, Metternich desejava manter o equilíbrio de poder, em particular ao resistir às ambições territoriais dos russos na Europa Central e territórios pertencentes ao Império Otomano. Não gostava do liberalismo e o seu trabalho ia no sentido de prevenir a desagregação do Império Austríaco, por exemplo, ao esmagar as revoltas nacionalistas austríacas no Norte de Itália e nos estados germânicos. No seu país, seguiu uma política semelhante utilizando a censura e uma vasta rede de espionagem para evitar as agitações domésticas.

Metternich tem sido, simultaneamente, elogiado e criticado pelas suas políticas. Os seus apoiantes destacam a sua presidência na "Era de Metternich", quando a diplomacia internacional ajudava a evitar as principais guerras na Europa. As suas qualidades como diplomata são elogiadas, salientando-se que os seus sucessos eram muito consideráveis face à sua fraca posição de negociação. A sua decisão de se opor ao imperialismo russo é vista como positiva. Os seus críticos descrevem-no como teimoso e descuidado, com princípios conservadores por vaidade, e uma sensação de infalibilidade. Argumentam que ele podia ter feito melhor para assegurar o futuro da Áustria; em vez disso, as suas propostas de 1817 para a reforma administrativa foram maioritariamente rejeitadas, e a sua oposição ao nacionalismo germânico terá sido a causa para a unificação da Alemanha com a Prússia e não com a Áustria. Outros historiadores discutem ele teria menos poder do que é sugerido e que as suas políticas eram exercidas quando estavam em linha com as perspectivas da monarquia de Habsburgo da Áustria.

Biografia editar

 
Klemens Wenzel Lothar Nepomuk von Metternich.

De nobre família de origens alemãs, estudou em colégios de Estrasburgo e Mogúncia. Partiu, após completar os estudos, para Viena, na Áustria, e suas ideias tradicionalistas o levaram a se colocar ao serviço dos Habsburgos, assim que a expansão da Revolução Francesa afectou os negócios da família na Alemanha.

A partir de 1794, passa a desempenhar missões diplomáticas, sem grande importância, porém, sendo notório o rigor e habilidade com que tratou tais funções, em estados como a Reino Unido, a Saxónia, a Prússia e a França. Embaixador em Paris de 1806 a 1809, as derrotas sucessivas do Império Austríaco contra a França de Napoleão e as convulsões sociais resultantes da malograda guerra, todavia, levaram-no ao poder como Ministro dos Assuntos Exteriores, em 1809.

Desde então, a sua "concepção conservadora" do equilíbrio europeu foi posta por si em marcha, destinada a impedir que a grande potência liberalista francesa exercesse a sua hegemonia sobre a Áustria e que o continente fosse repartido consoante as influências, que variavam entre o liberalismo e o absolutismo, defendido este último pelo Império Austríaco, pela Suécia, pela Alemanha e, até mesmo, pelo Império Otomano, que punha em causa o liberalismo de Napoleão, estando ele a contribuir para o sufrágio europeu. Assim, e com a ajuda das potências autoritárias, manteve as fronteiras austro-húngaras.

Todavia, dado o poderio militar francês, Metternich aconselhou o imperador a acordar com a França um pacto de Paz, tendo este sido simbolizado pelo casamento entre Napoleão e um das filhas do imperador, D. Maria Luísa de Habsburgo, realizado em 1810. Inconformado, aprovou até a colaboração da Áustria na campanha napoleónica contra a Rússia, em 1812.

Porém, secretamente, manteve negócios com o tsar, a fim de buscar um subtil manejo da diplomacia a favor dos interesses do país em solo francês, tal como o mantimento da fronteiras. Além disso, manteve-se, teoricamente, à margem da coligação russo-prussiana.

 
Metternich fez entrar a Áustria na coligação contra a França em 1813, participou do Congresso de Viena e opôs-se ao desenvolvimento dos movimentos liberais na Europa.

Assim, o Conde de Metternich foi decisivo na atribulada e arrasadora derrota de Napoleão, que levou, consequentemente, à restauração dos Bourbon na França, que, desgastada de uma exaltada guerra, não teve outra opção senão aceitar a restauração do trono a favor de uma família que a governou e a engrandeceu durante séculos.

Foi então que, em 1813, o imperador austríaco lhe concedeu o título de Príncipe, já que, até então, era somente conde.

Depois de realizados os seus objectivos de manter a hegemonia absolutista e o vigor das famílias reais e da Nobreza na Europa, consagrou o feito diplomático da sua vida presidindo, em 1815, o famoso Congresso de Viena, no qual foi decisivo em quaisquer decisões tomadas. Com este congresso pôde, sem objecções, reorganizar o mapa político do continente europeu, sob as teorias da legitimidade dinástica e nobiliárquica e o equilíbrio europeu.

Para a reorganização política do continente, contou com total apoio da Prússia e da Rússia, não tendo feito objecções às pretensões destes dois países, já que, por um lado, neles tinha vastos interesses, e por outro, para se manter um equilíbrio na Europa era essencial que a paz vigorasse na Rússia e na Prússia, que eram, afinal, duas das mais ricas e importantes potências europeias.

Todavia, receando uma nova revolução, manteve o sufrágio liberalista em França, criando, fronteirescos a esta, diversos estados, entre eles a Sardenha-Piemonte, os Países Baixos, para além do alargamento da Prússia para oeste e sudoeste.

Negou-se à reconstrução do Sacro Império Romano Germânico, pedida pela Espanha, substituindo-o por uma fraca e débil Confederação Germânica, presidida pela Áustria-Hungria. Converteu igualmente o Norte da Península Itálica, num protectorado austríaco, o Reino Lombardo-Vêneto, anexando aos seus territórios a Lombardia e Veneza, regiões a partir das quais manteve uma influência decisiva sobre a vasta península mediterrânica.

Nos seguintes anos, Metternich esforçou-se vigorosamente para amenizar os motins ou revoluções liberalistas ou nacionalistas que sacudiam a Europa, entre 1820 e 1848.

Seu sistema "anti-revolucionário" começou a debilitar-se, sobretudo devido à independência da Grécia, em 1827 e da Bélgica, em 1830, assim como a queda dos Bourbon em França, também em 1830. Assim, nunca conseguiu que o imperador e o seu sucessor, lhe concedessem a influência decisiva no Assuntos Internos, ficando, as suas pretensões políticas para o país ao qual sempre se dedicou, sem efeito.

A explosão da Revolução de 1848, na Itália, na Alemanha e dentro do próprio Império Austríaco, pôs em causa todo o sistema tradicionalista revigorado por Metternich, caindo este do poder. Teve então que exilar-se e, Fernando I, o imperador, que abdicar da Coroa. Foi o culminar do declínio de um dos maiores diplomatas que a Europa já conheceu.

Regressou àquele que considerava o seu país no ano de 1851. Mas, o novo imperador, Francisco José I, não o convidou a participar do governo, enquanto a ascensão do poderio prussiano sobre Alemanha e da ascensão da França punha em causa o equilíbrio europeu, ditado por Metternich em 1815.

Décadas 1830-1840 editar

Durante mais de 30 anos Metternich dominou a política exterior austríaca como principal ministro e depois de 1835 como membro do Conselho de Regência, pois o imperador Fernando I era incapaz de reinar.

Supremo garante da ordem européia abalada pelas revoluções de 1830, Metternich se fez o campeão do conservadorismo no interior do Império. O sistema da Santa Aliança permitia à Áustria conter os movimentos de rebelião dos alemães, italianos, eslavos e húngaros, cuja emancipação provocaria a dissolução do Império. Metternich desconfia mesmo dos inícios da industrialização na Boêmia. Contribui a estabelecer um regime com base numa polícia eficiente, no exército, na burocracia e na Igreja. Sua política imobilista permitiu à Áustria deixar de fazer as reformas necessárias, mas não pode impedir a monarquia de vacilar na crise de 1848.

O Império conserva suas instituições pluralistas, em partículas suas dietas numerosas, dominadas pela nobreza, mas cujos poderes são reduzidos. O despertar das diversas nacionalidades dentro do Império teve origem no domínio literário, nos círculos instruídos de sábios e poetas (o historiador checo Palacký, o poeta húngaro Petöfi), assim como no domínio político como o demonstrou a ação de Kossuth, deputado à Dieta da Hungria, de tendência liberal. Metternich não se preocuparia com tais movimentos e seu aparente imobilismo teve fim na revolução de Viena em março de 1848 que o forçou a fugir.

Com relação a Portugal editar

 
Klemens, príncipe de Metternich-Winneburg.

Tentou reprimir ao máximo a conquista do poder, em Portugal, pelos liberalistas. Contudo, estes conseguiram, atribuladamente, alcançar o poder. Assim, estrategicamente, Metternich, que não tinha quaisquer tipo de interesses económicos no estado ibérico, cortou, simplesmente, relações com o país, opondo-se com rigor às muitas tentativas do embaixador D. Francisco de Almeida Portugal de restabelecer os intercâmbios diplomáticos entre Portugal e a Áustria.

Aquando da sua estadia em Paris, por ordem do rei, Almeida Portugal foi mandado a Viena, para restabelecer a diplomacia entre Portugal e a decadente potência austríaca. Todavia, a sua entrada no país foi negada por Metternich, tendo Almeida Portugal que se manter em Paris, onde, posteriormente, tentou renegociar os interesses portugueses com o embaixador austríaco, que acabaram por não ter sucesso. Aqui é notável a influência de Metternich sobre a potência da qual era ministro, exercendo um poder praticamente maior que o do imperador, que quase metia o Estado nas suas mãos.

Casamentos e descendência editar

Casou-se pela primeira vez em Slavkov a 27 de Setembro de 1795 com Maria Leonor, princesa de Kaunitz-Rietberg, com quem teve:

  1. Maria Leopoldina Metternich-Winneburg, nascida a 17 de janeiro 1797;
  2. Franz Karl Johann Georg Metternich-Winneburg, nascido a 21 de fevereiro de 1798;
  3. Clemens Eduard Metternich-Winneburg, nascido a 10 de junho de 1799;
  4. Viktor Metternich-Winneburg, nascido a 12 de janeiro de 1803;
  5. Clementine Marie Octavie Metternich-Winneburg, nascida a 30 de agosto de 1804;
  6. Maria Antonia Metternich-Winneburg, nascida a 25 de agosto de 1806;
  7. Leontine Adelheid Maria Pauline Metternich-Winneburg, nascida a 18 de junho de 1811;
  8. Hermine Gabriele Marie Eleonore Leopoldine Metternich-Winneburg, nascida a 1 de setembro de 1815.

Casou-se pela segunda vez em Viena a 5 de Novembro de 1827 com Maria Antónia de Leykam, com quem teveː

  1. Richard Clemens, Fürst von Metternich-Winneburg, nascido a 7 de janeiro de 1829;

Casou-se pela terceira vez em Viena a 30 de Janeiro de 1831 com Melanie de Zichy-Ferraris, condessa de Zich e Vasanykeö, com quem teve:

  1. Melanie von Metternich-Winneburg, nascida a 27 de março de 1832;
  2. Clemens von Metternich-Winneburg, nascido a 21 de abril de 1833;
  3. Paul Clemens Lothar von Metternich-Winneburg, nascido a 14 de outubro de 1834;
  4. Maria von Metternich-Winneburg, nascida a 1836;
  5. Lothar von Metternich-Winneburg, nascido a 12 de setembro de 1837.

Ver também editar

Referências

  1. Palmer 1972, pp. 5–6, 339

Bibliografia editar

 
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