Mexilhão-dourado

espécie de molusco

O mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) é um molusco bivalve, aquático, nativo do sul da Ásia, da família Mytilidae[1]. Possui fecundação externa, produzindo larvas livres-natantes. É capaz de se fixar em quase qualquer substrato. Possui grande capacidade adaptativa. Densidades de até 150.000 indivíduos/m². Com 30 dias e aproximadamente 0,5 cm já começam a reproduzir. Podem viver até três anos.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaMexilhão-dourado

Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Ordem: Mytiloida
Família: Mytilidae
Género: Limnoperna
Espécie: L. fortunei
Nome binomial
Limnoperna fortunei
Dunker, 1857

Espécie invasora no Brasil editar

O mexilhão dourado é uma espécie exótica invasora no Brasil. Foi introduzido no Brasil em 1998 (Mansur et al. 1999) no lago Guaíba através do deslastramento de navios mercantes.

Trata-se de um molusco de água doce que possui filamentos (bisso) que grudam no casco das embarcações.[2]

Tornou-se uma praga nas bacias do Paraná, Paraguai, Uruguai e Bacia Jacuí/Patos.

Espécies introduzidas, acidentalmente ou não, são a segunda maior causa de perda de biodiversidade no Planeta (IUCN). Devido à sua extensão, múltiplas fronteiras, diversidade de biomas e biodiversidade, o Brasil é altamente vulnerável à introdução de espécies exóticas. No Brasil, já foram identificadas mais de mil espécies de animais exóticos, mas nem todos tornaram-se um problema para as autoridades. Exemplos de problemas são o caramujo-gigante-africano (África), a rã-touro (África), o javali (Europa), o pardal (Europa), o camarão-vanamey (Ásia), o caracol-de-jardim (Europa), entre outros.

O Brasil participa de um projeto de âmbito global intitulado “Programa Global de Gerenciamento de Água de Lastro” (GLOBALLAST), criado pela Organização Marítima Internacional (IMO), no qual tem-se discutido o manejo da água de lastro para evitar a introdução de espécies exóticas na costa brasileira, bem como em águas interiores, sendo o mexilhão-dourado um excelente exemplo do alcance das invasões de espécies exóticas trazidas pela água de lastro.

Em agosto de 2003 o MMA criou a Força-Tarefa Nacional (FTN) (Portaria Ministerial n. 494 de 22 de dezembro de 2003), lançando o Plano de Ação Emergencial (PAE), uma iniciativa de envolvimento de instituições estaduais e locais no controle do mexilhão-dourado.

Essa espécie de molusco asiático chegou à América do Sul nos anos noventa, a partir do rio da Prata, Argentina, trazida na água de lastro de navios vindos do Oriente. No Brasil, o mexilhão se instalou em rios e lagoas do Rio Grande do Sul, subiu pelos rios Paraná e Uruguai e já foi detectado nos rios do Pantanal, nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Enquanto espécie invasora, o mexilhão representa uma ameaça à fauna e à flora aquáticas. Onde se dissemina, o molusco passa a ocupar o lugar de espécies nativas. Todo o ecossistema começa a ser alterado com a presença do invasor. Hoje é encontrado no trato intestinal de armados ou armaus, piaparas, piavas e piaus sem haver estudos sobre o resultado desta ingestão.

Breve histórico:

  • 1991 – Buenos Aires – Argentina
  • 1996 – Foz do rio Paraguai – Argentina/Paraguai
  • 1999 – Pantanal Mato-grossense – Brasil
  • 2001 – Itaipu Binacional – Brasil/Paraguai
  • 2003 – UHE Sérgio Motta, rio ParanáSP/MS
  • 2004 – Rio TietêSP
  • 2005 – UHE Salto, rio Uruguai - Uruguai

Onde foi encontrado o mexilhão-dourado no Rio Grande do Sul:

  • Lago Guaíba: Em toda a extensão visitada do Lago foram observadas formações densas desses moluscos. Quanto aos rios formadores desse Lago a presença do mexilhão foi diferenciada.
  • Rio Gravataí: Provavelmente devido a pouca navegabilidade do rio até a ponte da BR-116, o mexilhão não está avançando para seus trechos superiores, embora ocorra movimento de algumas embarcações de transporte de areia até Cachoeirinha. Aliado a isto, a forte poluição orgânica, devido aos esgotos cloacais, pode estar impedindo a disseminação do invasor.
  • Rio dos Sinos: O mexilhão foi encontrado junto à foz, na praia Paquetá, em Canoas.
  • Rio Caí: O mexilhão alcançou o Pólo Petroquímico a cerca de 15 km da foz e no canal Santa Bárbara. Nesse trecho o rio é navegável por barcas que transportam areia e por navios que tem como destino o Pólo Petroquímico.
  • Rio Taquari-Antas: Este sistema hídrico é muito navegável até o porto de Estrela, a cerca de 80 quilômetros da foz, já tendo sido constatada a presença do mexilhão pela equipe da FEPAM.
  • Rio Jacuí: Foram encontradas colônias na cidade de Rio Pardo, na eclusa Anel Dom Marco a 167 quilômetros da foz do rio Jacuí e a cerca de quinhentos metros da foz do rio Pardo em embarcação atracada no local. Os pescadores informaram que a embarcação estava atracada há 15 dias e que permanecera em Porto Alegre por três meses sofrendo processos de reforma. Não foram encontrados exemplares na linha d’água ou logo abaixo a ela, ou em outras embarcações fundeadas no local a mais tempo, de onde se deduz que os exemplares observados sejam originados de Porto Alegre. Os pescadores relataram a presença do molusco em pedras submersas. Devido às dificuldades encontradas para a solução do problema faz-se necessária uma estratégia de ação em nível global, pois o transporte marítimo é um agente de disseminação de espécies biológicas.

Não há como erradicar completamente o Mexilhão-dourado mas pode-se controlar o expansão da espécie.

Controle em sistemas de geração de energia editar

Um método que comprovou-se eficaz e seguro do ponto de vista ambiental é o que foi implementado em unidade geradora de energia elétrica no extremo oeste do Rio Paranapanema. A infestação do Limnoperna fortunei tem sua ação nos dutos de condução de água destinada a refrigeração dos eixos das turbinas. As larvas fixam-se nas paredes interiores e ao prosperarem aumentam seu volume, diminuindo assim o diâmetro da tubulação e consequentemente a vazão de água destinada a troca de calor, que sendo insuficiente pode causar pane no sistema de geração.

Neste caso, após estudos que envolveram profissionais das áreas de meio ambiente, segurança e indústria química, optou-se pela aplicação de cloro gás. Para tanto, foram observados aspectos relativos ao volume de água a ser tratada e qual o seria, caso houvesse, o impacto ambiental. Esses estudos indicaram que os valores de aplicação cloro necessários à eliminação das larvas são menores aos verificados no tratamento de água para consumo humano. Outra constatação importante, é que ao contrário dos sistemas de tratamento convencionais para consumo humano, onde a dosagem é ininterrupta, o tempo de dosagem para eliminação das larvas é reduzido em 92%, podendo até ser interrompido em determinadas épocas do ano. Outro aspecto importante em relação ao tratamento de água convencional, é a não aplicação de outros produtos necessários para o padrão de potabilidade, permitindo assim que a água bruta captada a montante conserve as mesmas características ao ser lançada à jusante. Do ponto de vista operacional, essa metodologia mostrou-se ser a mais indicada, pois tem suas ações baseadas em normas conhecidas e consolidadas do ponto de vista da segurança, saúde e meio ambiente. É também economicamente viável pelo baixo custo tanto da aquisição do produto, como pelos equipamentos envolvidos.

Procedimentos para o controle da dispersão editar

Ao contrário do que ocorre em usinas, o controle do mexilhão em sistemas naturais é impossível com a tecnologia e os recursos hoje existentes. Por isso, é importante evitar a ocorreência de novas infestações. Ao mesmo tempo, uma larva microscópica sozinha tem potencial para desencadear contaminação num local até então livre do invasor. Isso inviabiliza a fiscalização pelos órgãos competentes como forma de proteger os locais não contaminados. É importante que todos os cidadãos tomem cuidado para não serem vetores de mexilhão dourado, especialmente navegantes, pescadores, aquicultores e usuários de irrigação. Lembre-se que qualquer manancial de água doce pode estar contaminado pelo mexilhão sem que isso seja visível. Veja os cuidados:

  • Monitorar a disponibilizar informações atualizadas sobre a área de ocorrência de L. fortunei no RS;
  • Verificar em barcos e motores, transportados por via terrestre, a presença de incrustação na parte externa dos mesmos, e retirar *Não devolver ao ambiente aquático ou galerias de drenagem os mexilhões retirados durante o processo de limpeza, descartá-los em terra;
  • Não transferir material oriundo de pesca dos rios da bacia do Guaíba-Patos, ou de outros locais onde ocorra o mexilhão-dourado, para tanques de piscicultura, a fim de não contaminar os cultivos;
  • Não transferir qualquer tipo de material oriundo dos rios da bacia do Guaíba-Patos, ou de outro lugar onde o mexilhão dourado está presente, para rios e córregos onde o mexilhão não ocorra;
  • Não descartar água de recipiente contendo iscas vivas nos corpos d’água ou galerias de drenagem, mas em terra;
  • Estudar a possibilidade do uso de tintas anti-incrustantes nas cisternas, reservatórios e cascos das embarcações que navegam no dos rios da bacia do Guaíba-Patos.
Importante
  • Não lavar embarcações próximo a mananciais hídricos, pois se estará transferindo a infestação para outros lugares.
  • Não descartar água de cursos naturais na rede pluvial, pois eles sobrevivem!
  • Não usar substâncias químicas tóxicas, pois isso afetará outros organismos e as águas subterrâneas.
  • Manter os barcos limpos, livres de incrustações.
  • Fazer vistorias freqüentes no casco da embarcação bem como partes que fiquem em contato com o ambiente.
  • Revisar freqüentemente o motor e o sistema de refrigeração, o mexilhão-dourado pode se instalar ali.
  • Não abandonar ao ar livre as conchas retiradas, colocá-las em sacos plásticos e descartar na coleta urbana de lixo.

O IBAMA e a SEMA são os responsáveis pelas orientações técnicas e monitoramento por meio do Plano de Ação de Controle e Monitoramento do Mexilhão-dourado, a ser executado no RS.

Ver também editar

Referências

  1. «WoRMS - World Register of Marine Species - Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)». www.marinespecies.org. Consultado em 22 de julho de 2021 
  2. Dossiê Espécies invasoras. Lara Lima.Revista Galileu, agosto de 2003.

Ligações externas editar

Zanella, Tiago Vinicius. Água de Lastro: um problema ambiental global. Curitiba; Juruá, 2016.