Monte Hélicon (ou Helicão;[1][2] em grego antigo: Ἑλικών ou Ηλικών, transl. Helikồn, lit. "[monte] tortuoso", de ηλιξ, hélix, "espiral"; em grego moderno: Ελικώνας, Elikónas) é uma montanha na região de Téspias, na Beócia, Grécia,[3] celebrada na mitologia grega. Com uma altitude de 1749 metros acima do nível do mar, localiza-se próximo ao Golfo de Corinto.

Monte Hélicon
Monte Hélicon
Escarpa do Monte Hélicon.
Monte Hélicon está localizado em: Grécia
Monte Hélicon
Coordenadas 38° 21' 10" N 22° 49' 21" E
Altitude 1 749 m
Localização Téspias, Beócia
 Grécia
Cordilheira Hélicon

Mitologia grega editar

Na mitologia grega, duas fontes consideradas sagradas para as Musas localizavam-se no monte: Aganipe e Hipocrene. Ambas trazem "cavalo" (ἵππος, hippos) em seus nomes; uma das explicações seria o mito de que o cavalo alado Pégaso teria atingido um rochedo com tanta força que uma fonte brotou no local. Também no Hélicon localizava-se a fonte na qual Narciso teria sido inspirado por sua própria beleza.[4]

Em seus Écios, Calímaco reconta o sonho no qual era jovem novamente, e conversava com as Musas no Hélicon.[5] Existia um templo construído sobre a montanha, com estátuas das três Musas,[6] e o poeta romano Ovídio, em suas Metamorfoses, menciona a visita da deusa Minerva a elas no Monte Hélicon.[7]

A fonte Hipocrene era considerada uma fonte de inspiração poética. No fim do século VII a.C., o poeta Hesíodo cantou sobre como ele havia, em sua juventude, levado suas ovelhas para pastar sobre as encostas do Hélicon,[8] onde Eros e as Musas já tinham santuários e um campo de danças próximo a seu topo, onde "irrompendo com os pés fizeram coros belos ardentes".[9] Lá, as Musas lhe teriam inspirado, cantando-lhe sobre a origem dos deuses. O Hélicon, assim, teria se tornado um emblema de inspiração política.[10] Calímaco segue de maneira explícita os passos de Hesíodo, e situa no Hélicon o episódio no qual Tirésias encontra Atena se banhando e acaba sendo cego, porém recebe o dom da profecia.[11]

No Hino Homérico a Posídon, uma breve invocação, o deus é saudado como "Senhor do Hélicon".[12]

Os centros de culto no Hélicon estabelecidos no Vale das Musas, um vale fértil próximo a Téspias e Ascra, sob a influência dos textos hesiódicos, no período helenístico - ou mesmo antes - já haviam sido visitados pelo geógrafo Pausânias no segundo século d.C.[13] Pausânias teria explorado detalhadamente o bosque sagrado ao lado da fonte Aganipe, e deixado uma descrição completa do que viu; imagens de Eufeme, ama das Musas, e do lendário poeta Lino, "sobre uma pequena rocha que havia sido esculpida na forma de uma caverna".[14] No temenos encontravam-se estátuas - algumas de artistas famosos - de Apolo e Dioniso, ou de poetas célebres. A ausência de Homero no Hélicon foi comentada pelo classicista Richard L. Hunter:[15] "A presença de Homero estragaria a festa, pois a tendência de ver estes dois como figuras rivais disputando a supremacia no epos era conhecida desde a Competição entre Homero e Hesíodo, que tinha partes que datavam do período clássico. O tripé sacrificial que Hesíodo venceu numa competição em Cálcia, na ilha de Eubeia, ainda podia ser visto no Hélicon na época de Pausânias; a presença de Homero no festival mencionado por Hesíodo em Os Trabalhos e os Dias (650-59) seria uma interpolação posterior.

Renascimento editar

A imagem poética do Hélicon estabelecida pelos poetas romanos se tornou mais uma vez um emblema de inspiração cultural com o advento do Renascimento, e frequentemente foi mencionada na poesia da época e posterior.[16] O Hélicon serviu de inspiração para os bailes organizados pelo compositor húngaro Leó Festetics, em seu castelo em Keszthely. Festetics também deu o nome à biblioteca que ele fundou de Biblioteca Helikon, promovendo a alfabetização e a cultura em sua cidade natal.

No Cinema editar

No filme Xanadu, Kira (vivida pela atriz/cantora Olivia Newton-John) afirma ser filha de Zeus e morar no Monte Helikon, junto com suas irmãs. Xanadu foi lançado nos EUA no dia 8 de agosto de 1980.

Referências

  1. Costa, Ricardo da (24 de julho de 2019). «Ética y Estética de la Música na filosofía de Ramón Llull (1232-1316)». Mirabilia: electronic journal of antiquity and middle ages (28): 5. ISSN 1676-5818 
  2. Hasegawa, Alexandre Pinheiro (7 de junho de 2016). «Mescla genérica e forma editorial nos epigramas bucólicos atribuídos a Teócrito». Organon. 31 (60): 134. ISSN 2238-8915. doi:10.22456/2238-8915.62014 
  3. Kerenyi, 1951:172.
  4. Grant, Michael e Hazel, John. Who's Who in Classical Mythology. Oxford University Press, USA; reimpressão de 1993.
  5. Calímaco, Écios, mencionado por Richard Hunter, The Shadow of Callimachus: Studies in the Reception of Hellenistic Poetry at Rome 2006:16.
  6. Grimal, Pierre. The Dictionary of Classical Mythology. Blackwell Publishing Limited, 1996.
  7. Ovídio. Metamorfoses, livro V. ll. 250-678.
  8. Hesíodo, Teogonia, 23.
  9. Hesíodo, op. cit. 8.
  10. Hesíodo menciona outras fontes que seriam frequentadas pelas Musas: "Banharam a tenra pele no Permesso ou na fonte do Cavalo ou no Olmio divino".
  11. A associação entre profecia e poesia é apontada por Hunter 2006:17 ao recordar esta ligação entre Calímaco e o Hélicon.
  12. Kerenyi, Karl, The Gods of the Greeks 1951
  13. Pausânias, Descrição da Grécia, ix. 29.5 e seções seguintes.
  14. Comparar com grutas religiosas.
  15. Hunter 2006:18f
  16. Era um tópico tão familiar que uma referência bem-humorada ao Hélicon é feita na obra Princess Ida, de Gilbert e Sullivan, no início do seu segundo ato.
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Mount Helicon».

Bibliografia editar

  • Hunter, Richard. The Shadow of Callimachus: Studies in the Reception of Hellenistic Poetry at Rome (Cambridge University Press) 2006:16ff "De Monte Sororum: In the Grove".