Montes é uma aldeia portuguesa da freguesia de Olalhas, no concelho de Tomar, Distrito de Santarém.

Cabeça da Moura, Montes.

A Aldeia dos Montes fica a 14 km da cidade de Tomar e a 7 km da vila de Ferreira do Zêzere. Confina com a albufeira da Barragem de Castelo de Bode[1] no Rio Zêzere[2] e com os seguintes lugares e aldeias: Alqueidão,[3][4] Bodegão, Cabeça de Carvalho, Sesmarias, Cardal e Bairrada. Por meio do Rio Zêzere, confina ainda com o Maxial[5] no concelho de Abrantes.

A aldeia tem uma área total de cerca de 6 Km2 (área urbana, terrenos agrícolas, floresta e área fluvial).

Brasão da Freguesia das Olalhas.

Estruturas locais editar

Tem praia fluvial[6], uma capela em honra de Santa Sofia[7][8], alojamentos em Turismo Rural, moinhos de água (rodízios), vários lagares de azeite, uma escola primária com infantário (encerrados em 2010), alguns cafés, etc..

A Praia dos Montes tem vindo a ser, repetidamente, distinguida pela Quercus, com o galardão “Praia com Qualidade de Ouro", desde 2016[9][10][11]. Em 2019, foi recomendada pela revista TimeOut ao público do Festival Bons Sons, referindo que, não sendo a praia mais próxima do evento, é das mais belas e sossegadas da região[12]. Em 2020 foi distinguida pela revista VortexMag como a melhor praia fluvial de Tomar e arredores[13].

Na praia fluvial encontra-se instalado um sistema para a prática de wakeboard[14].

Tem muitas fontes[15][16], algumas das quais muito belas.

  • A Fonte das Lameiras, com traça de 1952[17], foi restaurada em 2012, integrando a "Rota das Águas" da freguesia de Olalhas[18]. A imagem no cume desta linda fonte é o logótipo da referida rota.
  • A Fonte da Cabeça da Moura, com traça de 1952[17], é uma belíssima obra localizada perto da estrada para a praia.
  • A Fonte do Vimieiro localizava-se no Caminho da Fonte, que vai até ao Largo do Soeiro.
  • A Fonte dos Sombreireiros localiza-se nas imediações deste lugar, na vertente voltada para as Lameiras.
  • A Fonte da Ribeira encontra-se junto à estrada da Ribeira do Alqueidão.
 
Rio Zêzere, visto dos Montes.


Festejos editar

A celebração religiosa e profana, intitulada Festa de Santa Sofia,[19] é celebrada anualmente a 15 de Agosto,[20] sendo famosa pelos animados bailes e pela antiguidade. Sendo uma das festas mais características da região tomarense[19], foi a última festa da região a manter a tradição de fazer anualmente pelo menos um arco festivo[21], com mais de 10 metros de altura.

História editar

Nos tempos do Império Romano o território desta aldeia era atravessado por uma via romana que ligava Seilium (atual Tomar) a Igaeditania (atual Idanha-a-Velha).

O possível traçado desta estrada atravessava a Ponte D. Manuel ("Ponte Velha" de Tomar), depois seguia pela atual Avenida Dr. Aurélio Ribeiro, passando a ponte romana ainda existente a jusante da Barragem do Carril. Continuava por Noroeste da atual estrada da Junceira e sensivelmente paralela a esta, servindo as minas de ouro do Poço Redondo e dos Cepos. A partir do Carqueijal seguia pela estrada das Vendas do Rijo e Ventoso, passando então a atravessar o Fateixo em direção ao troço ocidental da "Rua da Pereira" (Foro) nos Montes, por onde seguia em direção à Bairrada onde havia outra mina de ouro e uma travessia para o atual concelho de Vila de Rei.[22]

A existência desta aldeia, bem como a respectiva capela já se encontravam referidas em 1712 na "Corografia portuguesa, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal" de António Carvalho da Costa.[23] O site oficial da Diocese de Santarém refere que a Capela de Santa Sofia é mais antiga que a Igreja das Olalhas edificada em 1554.[24]

Esta localidade, outrora denominada de "Lugar de Santa Sofia", é uma terra fértil de construtores e lavradores, sobretudo olivicultores,[25][26][27] antigamente conhecida na região por "aldeia dos ricos". As suas casas solarengas,[8] ainda existentes, são testemunhas dum passado próspero.

 
Vista dos Montes para a margem esquerda do Rio Zêzere


O Rei D. Carlos I de Portugal costumava passar férias incógnito na mansão do médico Dr. Heitor de Deus, localizada por trás do Lagar da Cooperativa dos Olivicultores dos Montes. Nesta região praticava regularmente caça grossa e descansava dos assuntos da chefia de estado.[28] A estrada que liga a aldeia a Tomar[16] passando por Torrão e Aboboreiras foi mandada alargar[29][30] pelo Rei por influência do Dr. Heitor de Deus, passando nessa altura a ser a Estrada Nacional n.º 9. Por esta estrada, com muitas curvas circula o autocarro que faz a ligação da aldeia à cidade de Tomar, transporte popularmente conhecido, em tempos idos, como "a Cangona".[3]

Foi nesta aldeia que viveu o Dr. Aurélio Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal de Tomar durante décadas, no antigo regime. Licenciado em Direito, olivicultor e sendo o maior proprietário da aldeia, distribuía generosamente o seu ordenado de autarca pelas colectividades de Tomar. Atualmente, a casa onde residia é um empreendimento turístico de alojamento rural (Quinta de São José dos Montes).[31]

Viveu também nesta aldeia o filantropo Dr. Ribeiro, médico "João Semana" especializado em estomatologia, que dava consultas ao povo geralmente sem nada cobrar e, por vezes, ainda pagando do seu próprio bolso os medicamentos que receitava aos doentes.

Também era desta aldeia o Engenheiro Óscar Soares, histórico sindicalista democrata socialista da CGTP[32], tendo tido funções de direção na Cooperativa dos Olivicultores dos Montes, fundada por um antepassado seu.

No século XX, havia nesta aldeia:

  • Lagares de azeite;
  • Moagem de trigo, ao fundo da Calçada de Santa Sofia;
  • Loja de fazendas (tecidos), em frente ao recinto do Centro Desportivo Cultural e Recreativo dos Montes;
  • Gabinete de atendimento do fisco, no Vimieiro junto ao entroncamento com o Caminho da Fonte;
  • Consultório médico (do Dr. Ribeiro), na Estrada dos Montes, em frente ao cruzamento com a estrada do Casal do Rijo e com a Azinhaga do Vimieiro;
  • Botica (farmácia), na casa do consultório médico, no início da Azinhaga do Vimieiro;
  • Sala de audiências com Juiz de Paz, localizada no Casal do Soeiro a Sudeste do Lagar da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores dos Montes;
  • Escola de ensino primário, construida no tempo da ditadura salazarista[33], na extremidade ocidental da "Rua da Pereira";
  • Jardim de infância, no recinto da escola.
  • Barbeiro-cirurgião (barbearia e execução de extrações dentárias), no Vimieiro, num anexo da antiga taberna do Varandas, localizada depois do Caminho da Fonte (do mesmo lado) e antes da curva e contracurva da rua;
  • Talho, no Casal do Soeiro, na rua sem saída que segue para Sul a partir do Largo Tenente Graça Soeiro.
  • Biblioteca na Rua da Mina de Santa Sofia, por baixo do adro da capela.
  • Mina seca, junto à antiga biblioteca. Possivelmente uma mina extinta de extração de minério. Entrada encerrada permanentemente com betão, desde meados do século XX.
  • Caneiros de pesca, no leito do Zêzere, submersos pela água da barragem.
  • Azenhas e rodízios, na margem da ribeira do Alqueidão. O rodízio que se localiza nesta ribeira, junto ao nível máximo da Albufeira encontra-se em relativo bom estado de conservação, apesar de abandonado.

À semelhança das restantes áreas rurais de Portugal, esta localidade sofreu uma importante diminuição demográfica com o êxodo para as grandes cidades do litoral e para o estrangeiro,em meados do século XX.[34]

O filme de curta-metragem "Cinzas e Brasas" de 2015, do cineasta Manuel Mozos, foi filmado nos Montes, nomeadamente na casa do saudoso Professor Eduardo Guedes, na praia da aldeia.[35] O Professor Eduardo Guedes, mundialmente famoso pela sua obra cinematográfica, passava grande parte do seu tempo nos Montes a pescar achigã à cana, no seu típico barco de três tábuas.[36]

Lugares editar

Esta aldeia de povoamento semi-concentrado é actualmente composta pelos seguintes lugares:[37]

Santa Sofia, Estrada dos Montes, Cabeça da Moura, Vimieiro, Portela do Casal, Lameiras, Sombreireiros,[8] Casal de Pêro Afonso, Vale Lourenço, Casal do Soeiro, Casal da Pereira, Casal do Rijo, Casal da Pipa e Tapada Palheirinha (Praia dos Montes, antigamente designada de Areias).

Ver também editar

Referências

  1. C (10 de agosto de 1958). «Uma freguesia digna de melhor sorte». Cidade de Tomar. Consultado em 15 de julho de 2016 
  2. «Montes». Cidade de Tomar. 25 de novembro de 1956. Consultado em 2 de julho de 2016 
  3. a b S., M (6 de junho de 1954). «Montes». Cidade de Tomar. Consultado em 2 de julho de 2016 
  4. C (5 de outubro de 1952). «Notícias das Olalhas. Melhoramentos locais». Cidade de Tomar. Consultado em 15 de julho de 2016 
  5. S., M (31 de janeiro de 1954). «Notícias dos Montes». Cidade de Tomar. Consultado em 2 de julho de 2016 
  6. «Praia Fluvial de Montes – Tomar – Barragem Castelo Bode». Aquapolis. 3 de maio de 2021. Consultado em 11 de junho de 2021 
  7. V (25 de fevereiro de 1951). «Notícias dos Montes». Cidade de Tomar. Consultado em 2 de julho de 2016 
  8. a b c Artigo editorial. «Casamento». Cidade de Tomar. 22 de setembro de 1957. Consultado em 2 de julho de 2016 
  9. «Tomar - Duas Praias Fluviais com Qualidade de Ouro». Cidade de Tomar. 21 de junho de 2016. Consultado em 4 de julho de 2014 
  10. «Tomar — Quercus distingue praias de Alverangel, Montes e Vila Nova (Serra) com qualidade de "ouro"». Hertz. 3 de junho de 2019. Consultado em 9 de agosto de 2019 
  11. «TOMAR – Quercus distinguiu três praias nabantinas com 'Qualidade de Ouro'. Alverangel, Montes e Vila Nova na lista das melhores». Rádio Hertz. 17 de maio de 2023. Consultado em 18 de maio de 2023 
  12. Xavier, Ágata; Dias da Silva, Raquel (7 de agosto de 2019). «Bons Sons: o que fazer em Cem Soldos e Tomar». TimeOut. Consultado em 9 de agosto de 2019 
  13. «As 7 melhores praias fluviais de Tomar e arredores». VortexMag. 26 de maio de 2020. Consultado em 27 de maio de 2020 
  14. «TOMAR – Câmara avança para a colocação de uma pista de Wakeboard na Praia Fluvial dos Montes». Rádio Hertz Tomar. 1 de setembro de 2015. Consultado em 15 de julho de 2016 
  15. «Fontes públicas». Cidade de Tomar. 19 de fevereiro de 1939. Consultado em 2 de julho de 2016 
  16. a b «Os Problemas Rurais». Cidade de Tomar. 17 de maio de 1953. Consultado em 2 de julho de 2016 
  17. a b «Olalhas em Festa». O Templário. 11 de maio de 1952. Consultado em 15 de julho de 2016 
  18. «Junta de Freguesia de Olalhas: Inauguração da Rota das Águas neste Sábado». Cidade de Tomar. 9 de novembro de 2012. Consultado em 5 de julho de 2016 
  19. a b «A Festa de Santa Sofia». Cidade de Tomar. 8 de agosto de 1954. Consultado em 2 de julho de 2016 
  20. «Festas nos Montes». Cidade de Tomar. 10 de julho de 1955. Consultado em 2 de julho de 2016 
  21. Canha, Conceição (28 de agosto de 2005). «Festejos de Montes, mantêm tradições vivas». Cidade de Tomar. Consultado em 1 de julho de 2016 
  22. Batata, Carlos (1997). As Origens de Tomar - Carta Arqueológica do Concelho. Tomar: Centro de Estudos e Protecção do Património da Região de Tomar 
  23. Carvalho da Costa., António (1712). Corografia portuguesa, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal. [S.l.: s.n.] 
  24. «Olalhas – Diocese de Santarém». diocese-santarem.pt. Consultado em 19 de março de 2019 
  25. «Inauguração». Cidade de Tomar. 10 de novembro de 1957. Consultado em 2 de julho de 2016 
  26. «Cooperativa do lagar de azeite dos Montes. "Inauguração"». Cidade de Tomar. 24 de novembro de 1957. Consultado em 2 de julho de 2016 
  27. «Inauguração do lagar dos Montes. Conclusão». Cidade de Tomar. 24 de novembro de 1957. Consultado em 2 de julho de 2016 
  28. «Descubra Ferreira do Zêzere». Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere. 12 de junho de 2015. Consultado em 15 de julho de 2016 
  29. «Ponte sobre a ribeira da Louzã, na freguezia das Olalhas». A Emancipação. 13 de agosto de 1879. Consultado em 15 de julho de 2016 
  30. Pereira Mendes, José (12 de outubro de 1879). «Edital. A câmara municipal de Thomar». A Emancipação. Consultado em 15 de julho de 2016 
  31. «Quinta de São José dos Montes». 2012. Consultado em 8 de agosto de 2016 
  32. «Morreu Óscar Soares, histórico sindicalista socialista e da CGTP». www.dn.pt. Consultado em 21 de abril de 2023 
  33. Editorial (29 de maio de 1938). «Ao Povo do Concelho de Tomar». Cidade de Tomar. Consultado em 19 de junho de 2019 
  34. Graça Soeiro, António da (20 de março de 1955). «Valorize-se a propriedade rústica». Cidade de Tomar. Consultado em 19 de junho de 2019 
  35. «CINEPT - Cinema português. Cinzas e Brazas (2015)». Universidade da Beira Interior. Consultado em 27 de maio de 2020 
  36. Willemen, Paul (17 de outubro de 2000). «Obituary: Eduardo Guedes». The Guardian. Consultado em 27 de maio de 2020 
  37. Serrão, Marina (2008). «Paróquia de Olalhas [Tomar] - Arquivo Distrital de Santarém». Direção-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. Arquivo Distrital de Santarém. Consultado em 1 de julho de 2016 

Ligações externas editar

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