Néstor García Canclini

Néstor García Canclini (La Plata, Argentina, 1939) é um antropólogo argentino contemporâneo.

Néstor García Canclini
Néstor García Canclini
Nascimento 1 de dezembro de 1939 (84 anos)
La Plata
Residência Cidade do México
Cidadania Argentina
Alma mater
Ocupação antropólogo, sociólogo
Prêmios
Empregador(a) Universidade de Buenos Aires, Universidade Nacional de La Plata

O foco de seu trabalho é a pós-modernidade e a cultura a partir de ponto de vista latino-americano. É considerado um dos maiores investigadores em comunicação, estudos culturais e sociologia da América Latina.[1]

Estudou Filosofia e concluiu o doutorado em 1975 na Universidade Nacional da Prata. Três anos depois, concluiu o doutorado na Universidade de Paris - X (Nanterre).

Atuou como docente nas universidades da Prata (1966-1975) e Buenos Aires (1974-1975).

Foi também professor nas universidades de Stanford, Austin, Barcelona e São Paulo.[2]

É professor desde 1990 da Universidad Autónoma Metropolitana no México, onde está radicado.[3]

Linha de trabalho

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Um de seus livros lançados no Brasil com o título Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade abriu uma nova linha para estudos culturais no continente.[2]

Outro deles, Consumidores e Cidadãos(1995), propôs a politização do consumo e rompeu a forma tradicional de analisar hábitos televisivos. [2] Para ele, o consumo nunca é um fenômeno passivo, como se era acreditado em outras teorias da comunicação. A noção de consumo está carregada de um certo condicionamento que vem da produção e da circulação. A televisão no século XX estaria se tornando um meio intermedial entre os diversos meios de comunicação que começaram a surgir, sobretudo, a internet. A televisão apresenta um papel ambíguo, ora se apresenta como complementar a outros meios, ora como uma concorrente.

Um dos conceitos principais de seus estudos é o de Hibridação. Para ele, hibridação consiste em considerar as intersecções entre as culturas para estabelecer como objeto de estudo ciências sociais esses cruzamentos, fusões, conflitos e contradições. Canclini fala dos conceitos de diferença, vindo da antropologia, desigualdade, vindo da sociologia, e conexão-desconexão, vindo da comunicação. Para ele, essas são diferentes formas de ver a organização social, mas não se excluem, já que mesmo na ausência de diferenças pode haver desigualdade, e mesmo em uma sociedade igualitária pode haver problemas de comunicação. O objetivo, então, seria descobrir e estudar as relações entre essas disciplinas. A noção de hibridação é útil para reunir vários processos que foram estudados separados. Não é, no entanto, uma noção circular, cíclica, completa em si mesma. Assim como existem fusões, algumas tradições permanecem e antagonismos continuam a existir. Negociações e contradições são próprias do processo de hibridação.

Canclini critica os estudos culturais norte-americanos por estes terem chegado a um lugar sem saída devido às concepções críticas humanísticas produzidas pelos autores. Assim, teria acontecido uma Hipertextualização , sem levar tanto em conta o contexto dos processos socioeconômicos, mas apenas análises de gênero e etnia. Acredita que na América Latina, apesar dos poucos instrumentos técnicos para fazer uma análise elaborada, a questão socioeconômica foi mais tratada, sendo, assim o estudo latino americano mais completo.

No livro Cidades e cidadãos imaginados pelos meios de comunicação, Canclini diz que as cidades são imaginadas pelos meios de comunicação como lugares onde tudo o que rompe com a ordem urbana é modificado pela mídia. "o processo de hibridização significa o rompimento das fronteiras que separavam as culturas tradicionais, a cultura de elites e a cultura de massas" (CANCLINI, 1990, p. 18) .[4]Os cidadãos são imaginados como legitimadores da “veracidade” construída pelos meios de comunicação. São esses cidadãos que justificam esta “veracidade” ante os poderes econômicos e políticos.

Além disso, ele afirma que a aparição do jornal foi decisiva para a instauração da noção moderna de esfera pública, e este meio continua oferecendo mais oportunidades que os demais para a elaboração do debate sobre os assuntos públicos. Segundo o autor, "o jornal revela diariamente que a vida pública tem raízes na cidade, no entanto, essa esfera micro (cidade) estaria ligada diretamente com o mesopúblico (as milhões de pessoas que interagem no contexto do Estado-nação) e com o macropúblico (os circuitos de alcance supranacional e ainda global, representados pelas agências transnacionais de notícias, as empresas produtoras de filmes e programas de televisão)", ou seja, as mais diversas esferas se relacionam entre si de maneira a convocar um debate.

Ainda nessa noção, o autor trata no texto sobre os meios de comunicação como mantenedores da ordem social. Segundo Canclini, uma descoberta que se confirma em diversas pesquisas dos últimos anos é que a imprensa, o rádio e a televisão contribuem para reproduzir, mais do que para alterar, a ordem social. Seus discursos têm uma relação de complementaridade com as estruturas socioeconômicas e com os lugares comuns da cultura política. Mesmo quando registram manifestações e testemunham a desigualdade, os meios editam as vozes excluídas de maneira a preservar o status quo.[4]

O autor fala também de características comuns dos cultural studies norte-americanos e dos estudos de cultura da América Latina. Cita como exemplos "a vocação transdisciplinária, a reflexão e investigação sobre cultura em relação a estrutura e poder, a divisão de classes e grupos de consumo na sociedade e o interesse de estudar sociológica ou socioantropologicamente os produtos culturais, não analisar isoladamente as obras de arte ou as obras literárias, mas vê-las na trama complexa de relações de produção cultural." [5]

É autor de estudos culturais interdisciplinares, ou seja, a cultura ou as culturas, bem como as suas interações, convergências e choques.[3]

Estudioso da globalização e das mudanças culturais na América Latina, seu trabalho é marcado pela análise e as mesclas entre culturas, etnias, referências midiáticas, populares e tradicionais.[2]

Alguns livros em espanhol
  • Arte popular y sociedad en América Latina, Grijalbo, México, 1977
  • La producción simbólica. Teoría y método en sociología del arte, Siglo XXI, México, 1979
  • Las culturas populares en el capitalismo, Nueva Imagen, México, 1982
  • ¿De qué estamos hablando cuando hablamos de lo popular?, CLAEH, Montevidéu, 1986
  • Cultura transnacional y culturas populares (ed. con R. Roncagliolo), Ipal, Lima, 1988
  • Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de la modernidad, Grijalbo, México, 1990
  • Cultura y Comunicación: entre lo global y lo local, Ediciones de Periodismo y Comunicación.
  • Las industrias culturales en la integración latinoamericana
  • La globalización imaginada, Paidós, Barcelona, 1999
  • Latinoamericanos buscando lugar en este siglo, Paidós, Buenos Aires, 2002
  • Lectores, espectadores e internautas, Gedisa, Barcelona, 2007
Títulos traduzidos para o português e lançados no Brasil
  • Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade, 1990[2]
  • Consumidores e cidadãos, 1995[1][2]
  • Leitores, espectadores e internauta, 2008,[1] Ed. Iluminuras, São Paulo
  • A globalização imaginada, (2003), Ed. Iluminuras, São Paulo
  • As Culturas Populares no Capitalismo,(1983), Ed. Brasiliense
  • O Mundo Inteiro como Lugar Estranho, 2016, Edusp - Editora da Universidade de São Paulo.
  • Diferentes, desiguais e desconectados: Mapas da Interculturalidade. 2009, Editora [[Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Prêmios

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Recebeu o título de pesquisador emérito do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.[1]

Uma de suas obras, Culturas Híbridas, recebeu o prêmio Book Award, concedido pelo Latin American Studies Association, por ter sido considerado o livro do ano em 2002 sobre a América Latina.[1]

Referências

  1. a b c d e Guaraldo, Tamara de Souza Brandão. (2010). Ler, assistir e interagir: os hábitos culturais discutidos por Nestor García Canclini Arquivado em 10 de outubro de 2010, no Wayback Machine.(tradução de Ana Goldberger). Bibliocom: São Paulo, n.7
  2. a b c d e f Folha de S.Paulo. (11 de julho de 2004). García Canclini abriu linha de estudo cultural
  3. a b Pires, Francisco Quinteiro. (7 de junho de 2007). Um homem feito de interrogações. O Estado de S.Paulo
  4. a b Canclini, Néstor. «Cidades e cidadãos imaginados pelos meios de comunicação» (PDF). Opinião Pública 
  5. «Garcia Canclini». Revista Univerciência. Consultado em 26 de junho de 2016. Arquivado do original em 13 de outubro de 2016