Napoleão Nunes Maia Filho
Napoleão Nunes Maia Filho (Limoeiro do Norte, 30 de dezembro de 1945) é um jurista e magistrado brasileiro. Foi ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e professor da Universidade Federal do Ceará e da Universidade Federal de Pernambuco.
Napoleão Nunes Maia Filho | |
Ministro do Superior Tribunal de Justiça do Brasil | |
Período | 23 de maio de 2007 até 20 de dezembro de 2020 |
Nomeação por | Luiz Inácio Lula da Silva |
Antecessor(a) | Jorge Scartezzini |
Sucessor(a) | Messod Azulay |
Ministro do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil | |
Período | 11 de setembro de 2014 29 de agosto de 2018[1] |
Antecessor(a) | Maria Thereza de Assis Moura |
Dados pessoais | |
Nascimento | 30 de dezembro de 1945 (78 anos) Limoeiro do Norte, Ceará |
Alma mater | Faculdade de Direito do Ceará |
Religião | Protestantismo[2] |
É irmão mais velho dos poetas Luciano Maia e Virgílio Maia, sendo, todos os três, membros da Academia Cearense de Letras. Foi eleito para suceder a escritora Rachel de Queirós.[3]
Em 2017, o jornal Valor Econômico noticiou que sócios e executivos do Grupo OAS mencionaram, em acordo de delação premiada, o nome de pessoas do Poder Judiciário ligados ao favorecimento ilegal de empreiteiras na justiça, entre elas Napoleão Nunes Maia Filho.[4] Segundo O Estado de S. Paulo, o ministro também teria atuado em favor da empresa JBS, em ação envolvendo Joesley Batista.[5] Após o vazamento das denúncias, Napoleão Nunes Maia Filho reagiu dizendo apenas esperar que “a ira do profeta” caísse sob aqueles que o julgavam, fazendo com isso gesto simulando uma decapitação.[6]
Carreira
editarNasceu em Limoeiro do Norte, Ceará, filho de Maria do Carmo Pitombeira Nunes (falecida em 1964[7]) e de Napoleão Nunes Maia (falecido em 1967[8]), fazendeiro e político que chegou a ser candidato a prefeito municipal, em 1950, pela União Democrática Nacional.[9]
Obteve os graus de bacharel (1971) e mestre (1981) em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Recebeu da referida universidade, em 2006, o título de notório saber jurídico. Também em 2006, recebeu o título de livre-docente da Universidade Estadual Vale do Acaraú.[10]
Em sua carreira, foi advogado, procurador do Estado do Ceará, assessor da presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (vaga destinada a jurista), juiz federal (tendo ingressado na magistratura federal em 1991)[11] e juiz do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.[10]
Integrou lista tríplice para assumir vaga destinada a membro de tribunal regional federal no Superior Tribunal de Justiça, obtendo a maior votação e sendo indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tomou posse em 23 de maio de 2007. É o quarto juiz do TRF da 5ª Região a integrar o STJ.[10]
Em 11 de setembro de 2014, assumiu a vaga de ministro substituto no Tribunal Superior Eleitoral, substituindo a ministra Maria Thereza de Assis Moura, que se tornara ministra efetiva.[12] Em 30 de agosto de 2016, tomou posse como ministro efetivo, também em substituição a Assis Moura, que encerrou seu biênio na corte.[13]
Em 3 de outubro de 2017, foi eleito Corregedor-Geral do TSE, substituindo Herman Benjamin.[14] Deixou a corte em 28 de agosto de 2018, após o término de seu biênio como efetivo.[15]
Aposentou-se no dia 20 de dezembro de 2020.[16]
Julgamento do processo de cassação da chapa Dilma–Temer
editarComo membro efetivo do TSE, participou da votação do processo de cassação da chapa Dilma–Temer, ocorrido em 9 de junho de 2017. Após o voto favorável à cassação do relator Herman Benjamin, Maia abriu a divergência, entendendo que não fora provado abuso de poder político e econômico. Argumentou, ainda, que os depoimentos de ex-executivos da Organização Odebrecht (atual Novonor) em colaboração premiada não poderiam ser aceitos porque o juízo eleitoral não pode ampliar a causa de pedir do processo:
“ | Esse princípio é uma das garantias processuais mais relevantes, é uma garantia da pessoa processada que a decisão do juiz fica dentro que foi pedido contra ele, porque é contra o que foi pedido que a pessoa se defende. | ” |
No seu entendimento, o processo deveria ser julgado somente de acordo com os termos que constavam na petição protocolada logo após a eleição.[17] Por quatro votos a três, a chapa foi absolvida das acusações.[18]
Na manhã do dia da votação, o jornal Valor Econômico noticiou que sócios e executivos do Grupo OAS mencionaram, buscando acordo de delação premiada, os nomes de mais de duas dúzias de pessoas ligadas ao Poder Judiciário, entre eles o de Napoleão Nunes Maia Filho.[19] Segundo O Estado de S. Paulo, o ministro intercedera em favor da JBS em ação envolvendo Joesley Batista e a Eldorado Celulose.[20] Na tarde do mesmo dia, um de seus filhos, cujo nome não foi divulgado, foi filmado tentando entrar no plenário do tribunal portando um envelope[21] e sendo barrado por não vestir paletó e gravata.[22] Na ocasião, o jovem foi acompanhado por seguranças da instituição até a entrada privativa, onde encontrou o ministro, que deixou a sessão antes do intervalo para o almoço. Ambos saíram da sede do tribunal de carro.[17] Posteriormente, durante a leitura de seu voto, o ministro alegou que o envelope continha fotos de sua neta[21] e repudiou as acusações, bem como a conotação acusatória das notícias acerca do ocorrido:
“ | Um site altamente dinâmico e consultado do Brasil publicou uma notícia dizendo que um homem misterioso, portando um envelope, tentou forçar a entrada no TSE para entregar isto ao ministro Napoleão. 'Homem misterioso' e 'envelope', dentro da nossa linguagem, têm um significado [...] Eu passei hoje momentos de grande revolta e de desejo de que esta pessoa sofra em si ou na sua família o que me fez passar. Era simplesmente um envelope com as fotos de uma criança. | ” |
No plenário, o ministro negou ter relação com os delatores e criticou o instrumento de colaboração premiada:
“ | Se isto não terminar, o final não será bom. Todos nós estamos sujeito ao alcance dessas pessoas [delatores]. O sujeito fica indefeso diante disso, deve amargurar isso no coração?[23] | ” |
Além disso, rogou que a “ira do profeta” (a qual descreveu com um gesto simbolizando uma degola) recaísse sobre aqueles que o “mediram”:
“ | Eu recebi da diaconia da minha igreja em Fortaleza uma pergunta sobre isso, esse negócio da OAS. Eu respondi ao pastor simplesmente assim: 'Com a medida que me medem, serão medidos. E sobre ele desabe a ira do profeta'. É uma anátema[nota 1] islâmica. Ira do profeta, não vou dizer o que é, mas vou fazer um gesto do que é a ira do profeta. É isso que eu quero que caia sobre eles. | ” |
Em maio de 2018, o ministro declarou ter adoecido em virtude das acusações e criticou a imprensa por repercuti-las:
“ | Será que é apenas informação colocar um magistrado na capa de revista apontando que fez esse ou aquele ilícito? É liberdade de imprensa? podemos dizer apenas informando e fazendo propaganda psicológica adversa, subliminar contra reputação, conceito, a paz de espírito … Morro de medo disso porque conheço uma pessoa que adoeceu por conta disso. Uma pessoa que vejo todo santo dia de manhã quando faço a barba. Vítima de insídia. Não consegui desfazer isso. [Publicam] apenas informando que fulano de tal disse isso … Eu na lama.. Informar é isso? [25]
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” |
Vida pessoal
editarÉ pai de três filhos: Mário Henrique Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia e Mônica Maria Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia Bonfim, ambos graduados em direito, frutos de seu casamento com Maria de Fátima Aguiar Goulart Ribeiro, e de Rômulo dos Santos Ferreira Nunes Maia.
Obras
editarÉ autor de trabalhos na área jurídica e em poesia:
Notas e referências
Notas
- ↑ “Anátema”, substantivo masculino, é conceito relacionado ao cristianismo, não ao islã.[24]
Referências
- ↑ «Ministros provenientes do STJ». Tribunal Superior Eleitoral. Consultado em 4 de abril de 2021
- ↑ «Após filho barrado, ministro desabafa, critica delação e faz gesto da ira do profeta». Uol. 9 de junho de 2017. Consultado em 9 de junho de 2017.
As notícias, falsas segundo o ministro, geraram questionamentos por parte do pastor da igreja frequentada por ele no Ceará, seu Estado natal.
- ↑ Revista da Academia Cearense de Letras, ano CXII, edição 68, 2007. ISSN 0102-8820
- ↑ https://valor.globo.com/politica/noticia/2017/06/09/empresario-pode-citar-ministro-do-tse.ghtml Valor Econômico
- ↑ https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/06/09/interna_politica,601426/filho-de-ministro-napoleao-nunes-maia-tenta-invadir-plenario-do-julgam.shtml Correio Braziliense - Agência Estado
- ↑ https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/06/09/apos-filho-ser-barrado-no-tse-ministro-desabafa-em-plenario-e-faz-gesto-da-ira-do-profeta.htm UOL Política
- ↑ Virgílio Maia. «Discurso de Posse na Academia Cearense de Letras» (PDF). Revista da Academia Cearense de Letras, ano CIV, 2005. Consultado em 20 de julho de 2017
- ↑ «A Justiça como vocação». Diário do Nordeste. 26 de setembro de 2007. Consultado em 20 de julho de 2017
- ↑ Freitas, Maurilo. Blog Históra Política de Limoeiro do Norte - Capítulo II: A oligarquia Chaves e a política até 1945.
- ↑ a b c d e «Biografia no STJ»
- ↑ «Napoleão Nunes Maia Filho é nomeado ministro do STJ». Migalhas. 16 de maio de 2007. Consultado em 9 de fevereiro de 2017
- ↑ «Napoleão Nunes Maia toma posse como ministro substituto do TSE». amagis.com.br. Consultado em 21 de janeiro de 2020
- ↑ «Ministros tomam posse como corregedor-geral, efetivo e substituto no TSE». www.tse.jus.br. Consultado em 21 de janeiro de 2020
- ↑ «Ministro Napoleão Nunes Maia Filho é eleito corregedor-geral da Justiça Eleitoral». www.tse.jus.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020
- ↑ «Napoleão Nunes Maia Filho se despede do TSE e é homenageado em Plenário». www.tse.jus.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020
- ↑ «Napoleão Nunes Maia Filho se despede com homenagem em sua última sessão como ministro». Superior Tribunal de Justiça. 18 de dezembro de 2020. Consultado em 4 de janeiro de 2021.
O ministro, que completa 75 anos em 30 de dezembro, vai se aposentar neste domingo (20), conforme ato publicado no Diário Oficial da União.
- ↑ a b «Filho de ministro é retirado por seguranças do TSE». Congresso em Foco. 9 de junho de 2017. Consultado em 21 de janeiro de 2020
- ↑ «Veja os votos dos ministros do TSE no julgamento da chapa Dilma-Temer». G1. Consultado em 21 de janeiro de 2020
- ↑ «Empresário pode citar ministro do TSE». Valor Econômico. Consultado em 22 de janeiro de 2020
- ↑ Braziliense, Correio; Braziliense, Correio (9 de junho de 2017). «Filho de ministro Napoleão Nunes Maia tenta invadir plenário do julgamento». Correio Braziliense. Consultado em 22 de janeiro de 2020
- ↑ a b «VÍDEO: Filho de ministro é barrado ao tentar entrar no TSE sem paletó e gravata». G1. Consultado em 21 de janeiro de 2020
- ↑ «Filho de ministro do TSE é barrado em plenário e causa confusão». Valor Econômico. Consultado em 22 de janeiro de 2020
- ↑ «Ministro Napoleão se irrita em sessão do TSE e critica delações premiadas». Agência Brasil. 9 de junho de 2017. Consultado em 22 de janeiro de 2020
- ↑ Splendor, Veritatis (3 de dezembro de 2008). «Que seja anátema! (Gálatas 1,8-9)». Veritatis Splendor. Consultado em 22 de janeiro de 2020
- ↑ «Ministro do STJ diz que adoeceu após citação em delação». JOTA Info. Consultado em 23 de janeiro de 2020
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Academia Cearense de Letras - cadeira n.º 32 2004 — atualidade |
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