Saíra-apunhalada

esécie de ave
(Redirecionado de Nemosia rourei)

A saíra-apunhalada[4] (nome científico: Nemosia rourei) é uma ave da família dos traupídeos (Thraupidae) que ocorre apenas no bioma da Mata Atlântica brasileira e se encontra em perigo crítico de extinção.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaSaíra-apunhalada
Ilustração de 1872 no vigésimo volume do Journal für Ornithologie
Ilustração de 1872 no vigésimo volume do Journal für Ornithologie
Estado de conservação
Espécie em perigo crítico
Em perigo crítico (IUCN 3.1) [1][2]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Thraupidae
Tribo: Thraupini
Género: Nemosia
Espécie: N. rourei
Nome binomial
Nemosia rourei
(Cabanis, 1870)[3]
Distribuição geográfica
Distribuição da saíra-apunhalada no na região sudeste do Brasil
Distribuição da saíra-apunhalada no na região sudeste do Brasil
Sinónimos
Nemousia rourii

Etimologia editar

De acordo com o Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi (DHPT), derivou do tupi sa'ira no sentido de "saíra, saí". Antenor Nascentes assumiu que seja uma forma desnasalada do tupi sa'i rã, que derivou de rana, e que significaria "semelhante ao saí". Foi registrado em 1898 como sayra.[5]

Descrição editar

A saíra-apunhalada tem uma mancha vermelha na garganta e no centro da parte superior do peito que contrasta com o branco do resto do peito e da barriga. Em sua cabeça há uma máscara preta que se estende da testa através dos olhos, até a nuca, com uma pequena linha branca correndo acima dela. A parte superior é cinza, mais escura na parte de trás. As asas e a cauda de ponta quadrada são pretas, com tons de azul nas coberturas das asas primárias e secundárias e manchas cinzentas nos forros e ombros terciários. As penas sob a cauda são pretas e longas, com pontas brancas. As pernas são rosa opaco e a íris é amarelo escuro.[6][7]

Distribuição e habitat editar

Os últimos registros da espécie ocorreram na Fazenda Pindobas IV, localizada em Conceição do Castelo, Espírito Santo, onde poucos indivíduos têm sido vistos desde 1998. Até esse último registro, a saíra-apunhalada só era conhecida pelo animal usado na sua classificação taxonômica no século XIX, coletado em Muriaé, Minas Gerais (existem dúvidas com relação ao local, talvez tenha sido em Macaé, Rio de Janeiro), e pelo registro visual de oito aves em 1941 no Espírito Santo.[1][8][9] Há relatos de prováveis registros visuais, em 1992, na Reserva Biológica Augusto Ruschi (Santa Teresa, Espírito Santo), e na Fazenda Pedra Bonita, em Minas Gerais. Porém, expedições posteriores na Fazenda Pedra Bonita não tiveram sucesso no registro da espécie.[1][6][10]

Em janeiro e em novembro de 2019 foram avistadas duas aves na Reserva Particular Águia Branca, uma área de 17 quilômetros quadrados protegida desde 2017.[11] Nos dias 3 e 11 de junho de 2020, G. S. de Oliveira observou 5 indivíduos se alimentando na borda da floresta na fazenda de Santi Pizzol, que faz fronteira com a Reserva Particular Águia Branca, e fotografou alguns.[11][12] Vive no dossel da floresta úmida montana, em altitudes entre 850 e 1 250 metros.[1]

Comportamento editar

A saíra-apunhalada forrageia no interior das copas das árvores altas, ocasionalmente mais baixas em direção à borda da floresta, e parece favorecer incrustados de musgo e líquen. Entre um e dez indivíduos são normalmente encontrados juntos. Está associada a bandos mistos, tendo sido registado com mais de 30 espécies diferentes. Aves individuais foram observadas aparentemente agindo como sentinelas para coespecíficos dentro de um bando. Sua dieta supostamente é a base de artrópodes. A construção de ninhos foi observada no final de novembro. Foi registrado que vive até mais de seis anos de idade.[1]

Situação editar

A saíra-apunhalada foi classificada como criticamente ameaçado na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN) devido à sua população extremamente baixa, estimada entre 30 a 250 indivíduos adultos, e concentrada em uma única área em dois a cinco locais. Outras populações podem existir, mas presume-se que sejam pequenas e em declínio.[13] Em 2005, foi classificado como criticamente em perigo na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[14] em 2010, como criticamente ameaçada na Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais;[15] em 2014, como criticamente em perigo na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;[16] e em 2018, como criticamente em perigo no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).[17][18]

Ações de conservação editar

Está classificada como criticamente ameaçada em nível nacional no Brasil e protegida por Lei. Os proprietários da Fazenda Pindobas IV manifestaram interesse em proteger os remanescentes de mata nativa em sua propriedade. O sítio dos registros de 1941 em Itarana está listado como IBA (Área Importante para Observação de Aves) devido à sua importância às aves endêmicas da Mata Atlântica. Buscas pela espécie foram realizadas em outras localidades nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Recentemente foi concluído um projeto de pesquisa sobre a ecologia da espécie e existe um Plano de Ação à conservação da espécie em longo prazo. Em 2010, foi designado um corredor de 37 mil hectares para esta espécie, com o objetivo de conectar remanescentes florestais por meio do desenvolvimento de ações de conservação e restauração, promoção de atividades sustentáveis ​​e manejo adequado do solo (BirdLife International 2010). Também estão em andamento obras à criação de um refúgio de vida selvagem e reserva particular, abrangendo as cidades conhecidas e conectando os parques estaduais de Forno Grande e Pedra Azul. Promoção do ecoturismo e ações educativas e de alerta realizadas com a população local, completa o quadro de ações.[1]

Referências

  1. a b c d e f BirdLife International (2018). «Nemosia rourei». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2018: e.T22722293A130617765. doi:10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T22722293A130617765.en . Consultado em 28 de abril de 2022 
  2. Hilty, S. (2020). «Cherry-throated Tanager (Nemosia rourei), version 1.0». In: del Hoyo, J.; Elliot, A.; Sargatal, J.; Christie, D. A.; de Juana, E. Birds of the World. Ítaca, Nova Iorque: Laboratório Cornell de Ornitologia. doi:10.2173/bow.chttan1.01 
  3. Cabanis, J. (1870). «Ueber eine neue brasilische Nemosie oder Wald-Tangare, Nemosia Rourei nov. spec». Journal für Ornithologie (em alemão). 18: 459–460. ISSN 0021-8375 
  4. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 314. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  5. Grande Dicionário Houaiss, verbete saíra
  6. a b Bauer, Claudia; José Fernando Pacheco (2000). «Rediscovery of the Cherry-throated Tanager Nemosia rourei in southern Espírito Santo, Brazil». Bird Conservation International (em inglês). 10 (02): 97–108. ISSN 1474-0001 
  7. Venturini, A. C.; de Paz, P. R.; Kirwan, G. M. (2005). «A new locality and records of Cherry-throated Tanager Nemosia rourei in Espírito Santo, south-east Brazil, with fresh natural history data for the species». Cotinga. 24: 60–70 
  8. Sick, Helmut (1997). Ornitologia brasileira 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. 862 páginas. ISBN 9788520908167 
  9. Silveira, Luís Fábio; Costa Straube, Fernando; Paglia, Adriano Pereira (2008). Machado, Angelo Barbosa Monteiro; Drummond, Gláucia Moreira, eds. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção (PDF). 3. Brasília e Belo Horizonte: MMA e Fundação Biodiversitas. p. 575-577. ISBN 978-85-7738-102-9. Consultado em 28 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 1 de março de 2022 
  10. «Cherry-throated Tanager (Nemosia rourei) - BirdLife species factsheet» (em inglês). BirdLife Internacional. Consultado em 28 de abril de 2022. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2020 
  11. a b «Bird feared extinct seen again in Brazil». Birdguides. 11 de junho de 2020. Consultado em 28 de abril de 2022. Cópia arquivada em 15 de outubro de 2021 
  12. Howard, Jennifer (5 de junho de 2017). «Good News For Brazilian Bird On The Brink». American Bird Conservancy. Consultado em 28 de abril de 2022. Cópia arquivada em 15 de outubro de 2021 
  13. Lopes, Everton (10 de dezembro de 2015). «Raridade capixaba». Ciência Hoje. Consultado em 28 de abril de 2022. Cópia arquivada em 6 de março de 2016 
  14. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  15. «Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais» (PDF). Conselho Estadual de Política Ambiental - COPAM. 30 de abril de 2010. Consultado em 2 de abril de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 21 de janeiro de 2022 
  16. «PORTARIA N.º 444, de 17 de dezembro de 2014» (PDF). Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA). Consultado em 24 de julho de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de julho de 2022 
  17. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  18. «Nemosia rourei Cabanis, 1870». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 26 de abril de 2022. Cópia arquivada em 11 de abril de 2022 
 
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