Neogótico

estilo arquitetônico
 Nota: Para o estilo arquitetónico medieval, veja Arquitetura gótica.

Neogótico ou revivalismo gótico é um estilo de arquitetura revivalista originado em meados do século XVIII na Inglaterra. No século XIX, estilos neogóticos progressivamente mais sérios e instruídos procuraram reavivar as formas góticas medievais, em contraste com os estilos clássicos dominantes na época.

A Igreja Votiva em Viena (Áustria)

O movimento de revivalismo gótico teve uma influência significativa na Europa e nas Américas, e talvez tenha sido construída mais arquitetura gótica revivalista nos séculos XIX e XX do que durante o movimento gótico original.

Continuidade e ressurgimento editar

Considera-se geralmente que a arquitetura gótica nasceu com a Basílica de Saint-Denis, em Paris, em 1140,[1] e terminou sua carreira como estilo dominante no início do século XVI.[2] Contudo, a arquitetura gótica não morreu completamente, perdurando em diversos outros projetos de catedrais e na construção de templos rurais em distritos isolados da França, Inglaterra, Espanha, Alemanha e na Polônia.[3]

 
Torre Tom, de Sir Christopher Wren
 
A desaparecida Abadia de Fonthill

Em Bolonha, o arquiteto barroco Carlo Rainaldi construiu em 1646 abóbadas góticas (completadas em 1658) para a Basílica de San Petronio, que estava em construção desde 1390; ali o contexto gótico da estrutura suplantou considerações a respeito de estilos mais contemporâneos.[4] Da mesma forma, arquitetura gótica sobreviveu em ambientes urbanos durante o fim do século XVII, como é evidente em Oxford e Cambridge, onde reformas e acréscimos neogóticos aos edifícios foram considerados mais adequados ao estilo das estruturas originais do que poderia ser o barroco vigente na época. A Torre Tom de Sir Christopher Wren, no Christ Church College da Universidade de Oxford, e mais tarde as torres ocidentais da Abadia de Westminster, de Nicholas Hawksmoor, confundem as fronteiras entre o gótico remanescente e o neogótico recém-criado.[5]

Em meados do século XVIII, com o surgimento do romantismo, um crescente interesse sobre a Idade Média, relíquias e curiosidades antigas. Entre alguns eruditos influentes deu margem a uma abordagem mais apreciativa quanto a algumas manifestações artísticas medievais, começando com a arquitetura, a arte funerária da nobreza, vitrais e manuscritos iluminados. Outras artes góticas continuaram a ser consideradas bárbaras e rudes, como a tapeçaria e o trabalho em metal.[6] Na literatura inglesa, o revivalismo gótico e o romantismo deram origem à novela gótica, gênero inaugurado por O Castelo de Otranto (1764) de Horace Walpole, e inspirado em um gênero de poesia medieval que parece emergir da poesia pseudo-bárdica do Ossian.[7] Poemas como Idílios do Rei, de Alfred Tennyson, projetam temas modernos em cenários medievais dos romances Arturianos. Na literatura germânica o revivalismo gótico também teve raízes em tendências literárias.[8]

Associações sentimentais e nacionalistas com figuras históricas foram tão fortes, neste início de ressurgimento, como interesses puramente estéticos. Alguns poucos britânicos, e logo alguns alemães, começaram a apreciar o caráter pitoresco das ruínas — o pitoresco começava a ser uma qualidade estética — e os efeitos suavizantes do tempo. Os detalhes góticos da Villa Twickenham, de Walpole, apelavam para os gostos rococó da época.[9][10] Por volta de 1770 arquitetos completamente neoclássicos como Robert Adam e James Wyatt foram capazes de prover detalhes góticos para salas, bibliotecas e capelas para uma visão romântica de uma abadia gótica, a Abadia de Fonthill, em Wiltshire.[11] O Castelo de Inveraray, construído em 1746 com projeto de William Adam, assinala os primeiros sinais neogóticos na Escócia.[12] O estilo Gothick era uma manifestação do artificialismo pitoresco encontrado em outras artes — estes templos ornamentais e casas de verão ignoravam a lógica estrutural do verdadeiro edifício gótico e eram com efeito construções Palladianas, apenas com arcos de ogiva.[13]

A geração posterior tomou mais a sério a arquitetura gótica,[14] e abriu caminho para publicações sobre história da arquitetura eclesiástica na Inglaterra que receberam diversas edições e ainda eram republicadas em 1881, caso da Attempt to discriminate the styles of English architecture from the Conquest to the Reformation, preceded by a sketch of the Grecian and Roman orders, with notices of nearly five hundred English buildings, de Thomas Rickman, escrita em 1814.[15]

Romantismo e Nacionalismo editar

O neogótico francês nasceu como um aspecto menor da anglomania, começando por volta de 1780. Quando Alexandre de Laborde, erudito francês, disse que "a arquitetura gótica tem uma beleza própria", a ideia era nova para a maioria dos leitores franceses.[16] Em 1828 Alexandre Brogniart, diretor da Manufatura de Sèvres, realizou diversos esmaltes de grandes proporções para a capela real de Luis Felipe.[17]

 
Basílica de Santa Clotilde, Paris

Arcisse de Caumont lançou sólidas bases para o ressurgimento gótico na França, fundando a Societé des Antiquaires de Normandy, e publicando um grande trabalho sobre arquitetura normanda em 1830.[18] No ano seguinte apareceu a novela de Victor Hugo, Notre Dame de Paris, onde a grande catedral francesa era de uma só vez cenário e protagonista desta obra de ficção que ganhou enorme popularidade.[19] No mesmo ano a monarquia francesa criou o posto de Inspetor-Geral de Monumentos Antigos, ocupado em 1833 por Prosper Merimée, que se tornaria o secretário de uma nova comissão que incumbiria Eugène Viollet-le-Duc de relatar as condições da Abadia de Vézelay, em 1840.[20] A seguir Viollet-le-Duc começaria então a restaurar os edifícios mais simbólicos da França, incluindo a Catedral de Notre Dame, Vézelay, a Cidadela de Carcassone, o Castelo Roquetaillade, a Abadia do Monte Saint-Michel e o Palácio Papal de Avinhão.[21]

Para o primeiro edifício neogótico significativo na França, a Basílica de Santa Clotilde, em Paris, iniciada em 1846 e consagrada em 1857, o arquiteto escolhido foi, significativamente, de origem alemã, François-Christian Gau (1790–1853). Enquanto isso, na Alemanha, começou a renascer o interesse pela Catedral de Colônia, iniciada em 1248 e ainda inacabada na época. Os trabalhos reiniciaram em 1824, marcando a entrada alemã na corrente revivalista.[22] Reichensperger não tinha dúvidas quanto à posição central da catedral na cultura germânica; "A Catedral de Colônia é alemã em sua essência, é um monumento nacional no sentido mais amplo da palavra, e provavelmente o monumento mais esplêndido que nos foi transmitido do passado".[23]

 
Fachada do Duomo de Milão, construída no início do século XIX
 
Fachada do Duomo de Florença, construída no fim do século XIX

A Catedral de São Vito em Praga, iniciada em 1344, também foi concluída em meados do século XIX e início do século XX.[24] Em Florença, a parcialmente completa fachada do Duomo, erguida para as núpcias entre as casas Medici e Lorena em 1588-1589, foi desmantelada, e assim permaneceu até 1864, quando foi organizado um concurso para definir uma nova fachada, mais afeita ao estilo da estrutura de Arnolfo di Cambio e ao campanário ao lado. O vencedor deste concurso foi Emilio de Fabris, que terminou as obras em 1887 com a policromia e mosaicos que hoje vemos.[25] Nos Estados Unidos, a primeira igreja neogótica foi a Trinity Church on the Green, em New Haven, Connecticut. Foi projetada por Ithiel Town entre 1812 e 1814, enquanto ele estava construindo sua igreja central em estilo federalista.[26]

Por causa do nacionalismo romântico no início do século XIX, os alemães, franceses e ingleses reivindicaram a arquitetura gótica original como originária de seus próprios países. Os ingleses cunharam o termo "Early English" para "gótico", um termo que implicava que a arquitetura gótica era uma criação inglesa. Em sua edição de 1832 de Notre Dame de Paris, o autor Victor Hugo disse "vamos inspirar na nação, se for possível, o amor pela arquitetura nacional", implicando que o gótico era um patrimônio nacional da França. Na Alemanha, com a conclusão da Catedral de Colônia na década de 1880, em sua época o edifício mais alto do mundo, a catedral era vista como o auge da arquitetura gótica.[27] Outras grandes finalizações de catedrais foram a Regensburgo (com torres gêmeas concluídas de 1869 a 1872),[28] a de Ulm (com uma torre de 161 metros de 1890)[29] e a Catedral de São Vito em Praga (1844-1929).[30]

O neogótico não se limitou à arquitetura. Mobília neogótica é encontrável na Inglaterra desde c. 1740, como por exemplo na mansão de Lady Promfet em Arlingtons Street, Londres, e a Abbotsford,[desambiguação necessária] de Sir Walter Scott, exemplifica o gótico regência em seu mobiliário.[31] Decorações neogóticas foram produzidas com baixo custo em papel de parede e cerâmicas. O catálogo da Grande Exposição de 1851 está repleto de objetos em estilo neogótico, desde rendados e tapetes até maquinaria pesada.[32]

A influência de Pugin e Ruskin editar

 
St. Alban, Macclesfield, desenhada por Pugin

No fim da década de 1820, ainda um jovem, Augustus Pugin trabalhava para dois empregadores muito conhecidos, fornecendo desenhos góticos para objetos de luxo.[33] Para Morel e Seddon, moveleiros reais, ele criou desenhos góticos para a redecoração de ambientes no Palácio de Windsor.[34] Para o ourives real Rundell Bridge & Co. ele fez desenhos para pratarias a partir de 1828, usando um vocabulário formal gótico anglo-francês, o qual ele ainda seguiria em produções posteriores para o novo Palácio de Westminster.[35] Entre 1821 e 1838 ele e seu pai publicaram uma série de volumes sobre desenho arquitetural. O título do primeiro era Specimens of Gothic Architecture, e os 3 seguintes receberam o nome de Exemples of Gothic Architecture, que seriam reimpressos e permaneceriam como padrão para revivalistas góticos por pelo menos um século.[36] Em Contrasts Pugin manifestou sua admiração não só pela arte medieval, mas por todo o ethos medieval, dizendo que a arquitetura gótica era o produto de uma sociedade mais pura. Pugin acreditava que o gótico era uma arquitetura verdadeiramente cristã, e até mesmo afirmou que "o arco ogival era produto da fé católica". Seu edifício mais famoso é as Casas do Parlamento, em Londres, que ele desenhou em dois períodos entre 1836 e 1852, junto com seu colaborador Charles Barry. Pugin encarregou-se das decorações e Barry do arcabouço simétrico do edifício.[37]

John Ruskin complementou as idéias de Pugin em seus dois livros, que tiveram enorme influência: The Seven Lamps of Architecture (1849) e The Stones of Venice (1853). Encontrando seu ideal arquitetônico em Veneza, Ruskin propôs que os edifícios góticos suplantavam toda outra arquitetura por causa do "sacrifício" dos pedreiros em esculpir com grande minúcia cada pedra.[38] Ruskin fez pela arquitetura civil o que Pugin fez pela religiosa.[39] Sua obra-prima é o projeto de decoração interna e externa do novo edifício do Parlamento, que havia sido destruído por um incêndio em 1834.[40][41]

Viollet-le-Duc e o gótico metálico editar

 
Sainte-Chapelle, restaurada por Viollet-le-Duc

Mesmo não tendo a França participado do movimento desde seus inícios, ela foi capaz de produzir um ativista incomparável na pessoa de Eugène Viollet-le-Duc. Sendo ao mesmo tempo um arquiteto de primeira linha e um teórico influente e poderoso, seu talento especial residiu no terreno da restauração. Ele considerava válido restaurar edifícios a um estado de completude que não foi conhecido nem mesmo por seus criadores originais, e aplicou suas teorias em Notre Dame, em Carcassone e na Sainte-Chapelle, onde não hesitou em substituir elementos originais da cantaria medieval.[42] Sua abordagem lógica do gótico estava em flagrante contraste com as origens românticas do movimento, e foi considerada por alguns como um prelúdio para a honestidade estrutural típica do modernismo.[43][44]

Ao longo de toda a sua carreira ele permaneceu num impasse a respeito da propriedade da combinação de metal e pedra na construção de um edifício. Na verdade o ferro vinha sendo usado desde o início do revivalismo, mas com Ruskin e as exigências do gótico arqueológico a respeito da verdade estrutural, o ferro, seja aparente ou não, foi considerado inadequado para uma edificação gótica.[45] Este argumento começou a ser derrubado em meados do século XIX, à medida que foram sendo erguidas grandes estruturas pré-fabricadas como o Palácio de Cristal,[desambiguação necessária] de ferro e vidro, e o pátio envidraçado da Universidade de Oxford, e que pareceram encarnar princípios góticos através do ferro. Entre 1863 e 1872 Viollet-le-Duc publicou seus Entretiens sur l’architecture, um conjunto de ousados projetos para edifícios que combinavam ferro e pedra. Embora a maioria jamais tenha sido construído efetivamente, influenciaram diversas gerações de desenhistas e arquitetos, especialmente Gaudí na Espanha e Bucknall na Inglaterra. A flexibilidade e força proporcionadas pelas estruturas de metal possibilitaram aos projetistas neogóticos novas soluções estruturais que teriam sido impossíveis apenas com a pedra.[46]

Eclesiologia editar

Na Inglaterra a Igreja nacional estava experimentando um ressurgimento da ideologia e ritualismo anglo-católicos na forma do Movimento de Oxford, e se tornou desejável que se construísse muitas igrejas novas para reunir a população em crescimento, o que encontrou imediatamente muitos apoiadores nas universidades onde o movimento eclesiológico estava se formando. Seus proponentes afirmavam que o gótico era o único estilo adequado para uma igreja paroquial, e privilegiaram um momento específico na era gótica, o gótico decorado. A revista do movimento, The Ecclesiologist, era tão ácida em suas críticas a toda edificação que não se alinhasse aos seus padrões rigorosos que chegou a tomar corpo um movimento chamado gótico arqueológico, que produziu alguns dos prédios mais convincentemente medievais de toda a corrente neogótica.[47]

Mesmo com toda esta influência, o movimento revivalista não teve uma uniformidade de princípios. Alguns advogavam uma inspiração eclesiológica estrita, enquanto outros se contentavam com o aspecto puramente estético, combinando-o com outros estilos ou adotando simplificações.[48]

Século XX editar

Em torno de 1872 o revivalismo gótico estava maduro o bastante na Inglaterra para que Charles Locke Eastlake, um influente professor, produzisse uma História do Revivalismo Gótico, mas um ensaio mais extenso seria publicado apenas em 1928 por Kenneth Clark, no qual ele descreveu o neogótico como "o movimento artístico mais difundido e influente que a Inglaterra já produziu".[49]

 
Prédios do Boston College

Na virada do século XX, desenvolvimentos tecnológicos como a lâmpada elétrica, o elevador e a estrutura metálica levaram muitos arquitetos a considerar a cantaria pesada como obsoleta. Estruturas de ferro assumiram as funções de abóbadas de nervuras e arcobotantes. Alguns usaram decorações neogóticas para adornar esqueletos metálicos subjacentes, como no caso do arranha-céu Woolworth Building de Cass Gilbert, de 1913,[50] em Nova Iorque, e a Tribune Tower de Raymond Hood, em Chicago, de 1922.

Em torno da metade do século o neogótico havia sido suplantado pelo modernismo. Não obstante, o revivalismo gótico continuou a exercer influência, até porque alguns de seus projetos mais importantes ainda estavam em fase de construção na segunda metade do século, como a Catedral de Liverpool, de Giles Gilbert Scott.[51] A reconstrução do campus da Universidade de Yale por James Gamble Rodgers, e os primeiros prédios do Boston College, de Charles Donagh Maginnis, contribuíram para estabelecer uma tradição neogótica na arquitetura de educandários americanos.[52][53]

Um arquiteto importante como Ralph Adams Cram, autor da ambiciosa Catedral de São João, o Divino, em Nova Iorque, afirmou que "o estilo concebido e aperfeiçoado por nossos ancestrais é incontestavelmente uma herança nossa".[54] Embora o número de novos projetos neogóticos declinasse rapidamente, alguns ainda apareceram, como a Catedral de Bury St. Edmunds, construída entre 1950 e 2000.[55]

No Brasil editar

 
Catedral de São Paulo
 
Basílica Menor de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Construída pelos Arautos do Evangelho na divisa entre Cotia e Embu das Artes-SP

O neogótico popularizou-se no Brasil perto do final do reinado de D. Pedro II, especialmente a partir da década de 1880. As três igrejas neogóticas mais antigas do Brasil são a igreja de Nossa Senhora do Amparo em Teresina, Piauí (1852), a Matriz de Nossa Senhora da Purificação, em Bom Princípio (1871), a igreja do Santuário do Caraça, em Minas Gerais, construída entre 1876 e 1883 em substituição a uma igreja colonial e a basílica do Sagrado Coração de Jesus em Diamantina-MG (1884-1889), as duas últimas projetos do padre Julio Clavelin. Outra igreja neogótica pioneira é a Catedral de Petrópolis, começada em 1884 mas só concluída cerca de 1925, que abriga os túmulos do Imperador e sua família. No Rio de Janeiro, então capital, foram construídos muitos edifícios neste estilo a partir da década de 1880, como o pitoresco Palácio da Ilha Fiscal, construído sobre uma ilha na Baía da Guanabara entre 1881 e 1889, a Igreja da Imaculada Conceição em Botafogo (1888-1892), a Igreja Metodista do Catete (1886) e outros. O neomanuelino, variante portuguesa do neogótico, aparece por primeira vez nessa época no Real Gabinete Português de Leitura, edificado entre 1880 e 1887 no centro do Rio.

O neogótico foi muito empregado em todo tipo de edifícios seculares e militares, incluindo casas particulares, mas foi particularmente popular em edifícios religiosos. Em São Paulo capital, a primeira igreja neogótica foi a Igreja Luterana de Martinho Lutero (1906-1908), seguida uns anos mais tarde pela monumental Catedral da Sé, construída a partir de 1913 e inaugurada apenas em 1954. Entre 1930 e 1954 a Igreja de Santa Ifigênia, também em estilo neogótico, foi a catedral da cidade. Outras catedrais neogóticas incluem a Catedral de Santos (1909-1967), a Catedral da Boa Viagem em Belo Horizonte (começada em 1913), a Catedral de Vitória (1920-1970) e outras. Igrejas neogóticas tardias começaram a ser construídas até pelo menos a década de 1930, como a Catedral Metropolitana de Fortaleza, começada em 1939 e inaugurada apenas em 1978.

No Rio Grande do Sul o neogótico foi o estilo preferido para a construção de uma infinidade de capelas e templos, especialmente nas regiões de colonizações italiana e alemã, entre fins do século XIX e começo do século XX. Dentre estes são exemplos interessantes a Catedral de Caxias do Sul, começada em 1895 como igreja paroquial, e a Capela do Santo Sepulcro, na mesma cidade, Igreja Matriz de N. S. de Lourdes em Flores da Cunha, a Igreja Cristo Rei em Bento Gonçalves, a Igreja Matriz de São Pedro em Garibaldi, e a Matriz de São Luiz Gonzaga, em Veranópolis. Também a cidade de Santa Cruz do Sul, de colonização alemã, possui uma catedral com uma vigorosa e original interpretação do estilo gótico, construída entre 1928 e 1936. Outro exemplo de destaque na mesma região é a Igreja de São Sebastião Mártir em Venâncio Aires. Outros exemplos importantes são as igrejas construídas por carmelitas espanhóis, sendo uma dedicada a Nossa Senhora do Carmo em Uruguaiana, outra de mesma invocação em Rio Grande, e a Igreja de Santa Teresinha, em Porto Alegre, construída entre 1924 e 1931, todas seguindo os mesmos padrões e pureza de linhas.

Outro exemplo de catedral neogótica é a Catedral Sagrado Coração de Jesus e Cristo Rei situada na cidade de Petrolina interior de Pernambuco. [1] Na cidade de Feira de Santana, Bahia, há um outro exemplo de uma arquitetura neogótica, a Paróquia Senhor dos Passos, que teve o início da sua construção em 09 de outubro de 1921 e a conclusão das obras em 17 de maio de 1964.

A mais recente igreja neogótica do Brasil, é a Basílica Menor de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, construída a partir de 2004 na divisa entre Cotia e Embu das Artes, pela associação Arautos do Evangelho.

Em Portugal editar

 Ver artigo principal: Estilo neomanuelino
 
Palácio da Pena, Sintra

Em Portugal o estilo gótico dominou a arquitetura no período entre o século XIII e os inícios do século XVI. Nessa última fase, o exuberante gótico português ficou conhecido como estilo manuelino. Como em outros países europeus, a partir do século XIX vários dos antigos edifícios góticos foram restaurados e muitas vezes parcialmente recriados, de maneira mais ou menos fantasiosa, em estilo neogótico ou, no caso específico de Portugal, em estilo neomanuelino. Assim, houve várias intervenções em edifícios como a Torre de Belém, o Mosteiro da Batalha e o Mosteiro dos Jerónimos, entre outros, que tentaram recuperar o antigo brilho destes emblemáticos monumentos. O Mosteiro dos Jerónimos, por exemplo, foi alvo de um grande restauro a partir de 1867 em que foram inteiramente remodelados em estilo neomanuelino a torre sineira e o antigo dormitório dos monges.

Por outro lado, também houve edifícios construídos de raiz em estilo neogótico e/ou neomanuelino desde a primeira metade do século XIX, acompanhando o espírito romântico vigente na época. Muitas destas primeiras experiências também incorporam toques orientalistas e exóticos, com citações da arquitetura islâmica. Exemplos importantes são a Palácio de Monserrate (depois de 1858) e o Palácio da Pena (depois de 1838), ambos em Sintra, este último sendo uma mistura caprichosa entre o neogótico, o neomanuelino e o neoislâmico.

O neomanuelino transformou-se em um dos estilos favoritos em Portugal, dando origem a obras como o Palácio Hotel do Buçaco, a Quinta da Regaleira, o Palácio dos Condes de Castro Guimarães, a Estação Ferroviária do Rossio, os Paços do Concelho de Sintra e Soure, entre muitos outros edifícios. O neogótico estrito está representado em menos edifícios. Um exemplo notável é o Elevador de Santa Justa (1898-1902), em Lisboa, uma estrutura de ferro decorada com motivos góticos.

Referências

  1. Furneaux Jordan, Robert. A Concise History of Western Architecture. London: Thames & Hudson, 1979, p. 127
  2. Furneaux Jordan, p. 163.
  3. Furneaux Jordan, p. 165
  4. "Guarino Guarini: Italian architect, priest, mathematician, and theologian". In: Encyclopedia Britannica, consulta em 07/09/2018
  5. Macaulay, James. The Gothic Revival 1745–1845. Glasgow and London: Blackie, 1975, p. 31
  6. Aldrich, Megan. Gothic Revival. London: Phaidon Press, 2005, p. 140
  7. Charlesworth, Michael. The Gothic Revival 1720-1870 - Literary Sources and Documents: Blood and Ghosts. Vol. 1. Robertsbridge, East Sussex: Helm Information, 2002, p. 5
  8. Scott, Robson & Douglas, William. The Literary Background of the Gothic Revival in Germany - A chapter in the history of taste. Oxford: Clarendon Press, 1965
  9. Brooks, Alan & Pevsner, Nikolaus. Worcestershire. The Buildings of England. Yale University Press, 2007, p. 339
  10. Historic England. "Strawberry Hill (St Mary's Training College) (Grade I) (1261987)". National Heritage List for England
  11. Aldrich, pp. 82–83
  12. Gifford, John. William Adam 1689-1748: A Life and Times of Scotland's Universal Architect. Edinburgh: Mainstream Publishing, 1989, p. 161
  13. Cruft, Kitty; Dunbar, John; Fawcett, Richard. Borders. The Buildings of Scotland. New Haven, US and London: Yale University Press, 2006, p. 529
  14. Macauley, p. 174
  15. Rickman, Thomas. An Attempt to Discriminate the Styles of Architecture in England: From the Conquest to the Reformation. London: J. H. Parke, 1848, p. 47
  16. Bartlett, Robert. Medieval Panorama. Los Angeles: Getty Publications, 2001, p. 15
  17. "History of the Chapel Royal at Dreux". Chapelle Royale a Dreux Official Site.
  18. "Collections of the Musée de Normandie". Normandy Museum.
  19. Lowenthal, David. The Past is a Foreign Country - Revisited. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2015, p. 416
  20. Murphy, Kevin. Memory and Modernity: Viollet-le-Duc at Vézelay. Penn State University Press, 2020
  21. Midant, Jean-Paul. Viollet-le-Duc: The French Gothic Revival. Paris: L'Aventurine, 2002, pp. 19; 54; 96; 108
  22. "Western architecture – From the 19th to the early 20th century". In: Encyclopedia Britannica, consulta 06/05/2020
  23. Germann, Georg. Gothic Revival in Europe and Britain: Sources, Influences and Ideas. London: Lund Humphries, 1972 , p. 152
  24. Brichta, Tomas. Late Completion of Cologne and St-Vitus Cathedral (M.Arch). University of Edinburgh, 2014
  25. "Florence". Il Grande Museo del Duomo. Consulta 06/05/2020
  26. Jarvis, Samuel Farmar. An Address, Delivered in the City of New-Haven: At the Laying of the Corner-stone of Trinity Church, May 17th, 1814. Oliver Steele, 1814
  27. "Cologne Cathedral: History, Artworks, & Facts". In: Encyclopedia Britannica. Consulta 06/05/2020
  28. "About St. Peter's Cathedral". Infozentrum Domplatz, 15/07/2020
  29. "Ulm Minster (Ulm, 1890)". Structurae. Consulta 06/05/2020
  30. Forrest, F. G. "St. Vitus Cathedral". Prague Castle. Consulta 06/05/2020
  31. Lindfield, Peter. Georgian Gothic: Medievalist Architecture, Furniture and Interiors, 1730–1840. London: Boydell & Brewer, 2016, p. 224
  32. Pevsner, "Foreword".
  33. Aldrich, Megan Brewster & Atterbury, Paul. A.W.N. Pugin: Master of Gothic Revival. New Haven and London: Yale University Press, 1995, p. 372
  34. Hill, Lise. Britain's Medieval Castles. London: Praeger, 2006, pp. 74–75
  35. "Augustus Welby Northmore Pugin (1812–52)". The Victorian Web. Consulta 03/10/2008
  36. Hill, Rosemary. God's Architect: Pugin and the Building of Romantic Britain. London: Allen Lane, 2007, pp. 52–53
  37. Charlesworth, vol. 3, pp. 168–171
  38. Charlesworth, vol. 3, p. 343
  39. Dixon & Muthesius 1993, p. 160
  40. Hill 2007, p. 317
  41. Atterbury, Paul & Wainwright, Clive. Pugin: A Gothic Passion. New Haven and London: Yale University Press, 1994, p. 221
  42. Midant, pp. 54; 96
  43. Pevsner, Nikolaus. Ruskin and Viollet-Le-Duc: Englishness and Frenchness in the Appreciation of Gothic Architecture. London: Thames and Hudson, 1969, p. 18
  44. Midant, p. 35
  45. Midant, p. 154
  46. Pevsner, p. 34
  47. Clark, Kenneth. The Gothic Revival: An Essay in the History of Taste. London: John Murray, 1983, pp. 155–174
  48. Historic England. "Abney Park Cemetery, Hackney (1000789)". National Heritage List for England, 01/10/1987
  49. Steegman, John. Victorian Taste - A study of the Arts and Architecture from 1830 to 1870. Cambridge: Nelson's University Paperbacks, 1970, p. v
  50. «Estudo do Edifício Woolworth, Nova York». World Digital Library. 10 de dezembro de 1910. Consultado em 25 de julho de 2013 
  51. Historic England. "Anglican Cathedral Church of Christ, Liverpool (Grade I) (1361681)". National Heritage List for England. Consulta 05/05/2020
  52. Truettner, Julia M. Aspirations for Excellence: Alexander Jackson Davis and the First Campus Plan for the University of Michigan, 1838. University of Michigan Press, 2002, p. 49
  53. Marter, Joan M. & Regain, Melissa The Grove Encyclopedia of American Art, Volume 1. Oxford University Press, 2011, p. 362
  54. Bartlett 2001, p. 21
  55. Pearman, Hugh. "Return of the Goths: the last Anglican cathedral is nearly finished. And built to last 1,000 years". Gabion: Retained Writing on Architecture, 13/03/2005

Ligações externas editar

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Neogótico