Noologia (do grego antigo νοῦς 'mente' + λόγος 'estudo') é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Seu objeto material é o fato psíquico e o objeto formal é esse fato psíquico examinado especificativamente no campo antropológico e no campo da noesis humana. O caráter antinômico entre a intuição (conhecimento do individual) e a razão (conhecimento do geral) é fundamento da disciplina da noologia.[1]

A Noologia é, em suas linhas gerais, a ciência do espírito (a Geistelehre dos alemães), e corresponde à Filosofia Metafísica dos escolásticos, pois não é apenas uma descrição do funcionar do psiquismo humano, mas sim uma especulação em torno dos temas noológicos transcendentais e metafísicos tal como a origem e o fim da alma humana e a prova ou não de sua existência.

Origem do nome editar

O termo noologia tem sua origem na palavra Nous ou Nóos, que em grego significa espírito somado à razão + logos (estudo, tratado).

Contemporaneidade editar

 
Representação gráfica do espírito, por Robert Fludd. In Utriusque cosmi maioris scilicet et minoris metaphysica, physica atqve technica historia (1619). Tomus II. Tractatus I, sectio I, liber X, "De triplici animae in corpore visione"

O termo noológico tem sido empregado contemporaneamente na filosofia para tudo o que concerne ao espírito e a especulação ou negação de sua existência.

Immanuel Kant editar

Em Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant usa o termo noologia como sinônimo de racionalismo, distinguindo-a de empirismo:

A respeito da questão sobre a origem do conhecimento – se ele deriva da razão, ou da experiência – Aristóteles pode ser considerado como o chefe dos empiristas e Platão dos noologistas. Sendo assim, John Locke seguiu Aristóteles e Leibniz seguiu Platão.[2]

Rudolf Eucken editar

O filósofo Rudolf Eucken, agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, chamou sua filosofia de noologia e a definiu como a relação entre a "expansão da realidade” e a "unidade interna e total independência”.[3]

Xavier Zubiri editar

Para Xavier Zubiri a noologia não se confunde com a metafísica, sendo anterior a esta. Sendo assim, a noologia seria uma espécie de filosofia primeira.[4]

Na noologia, a apreensão da realidade e a intelecção do sensitivo são fatos iguais. Mas ela os distingue em três etapas:

  1. Momento do afeto (ou noesis).
  2. Momento de alteridade (ou noema).
  3. Momento de imposição da força (ou noergia).

Mário Ferreira dos Santos editar

O filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos esquematizou o objeto da noologia da seguinte forma:[5]

Objetos da Noologia
1. Capacidade de reflexão. Não é apenas capaz de experimentar sensações, mas delas tomar consciência, bem como de si mesmo. Pode-se, portanto, salientar:

1.1. Consciência das sensações.
1.2. Consciência de si mesmo como receptor de sensações (pessoalidade).

2. Racionalidade. Capacidade de perceber relações entre os dados da percepção, captar nexos, que também surgem no nexo do funcionamento da razão. Funcionamento da intelectualidade.
3. Afetividade. Capacidade afetiva, que alcança uma consciência da frônese e da captação simbólica do acontecer. Penetração mística, através dos símbolos até a comunhão com o simbolizado.
4. Construção de conjunturas esquemáticas. Capacidade de coordenar esquemas para empreender conhecimentos mais amplos.
5. A Liberdade. Capacidade de afastar-se dos laços que os prendam à mera materialidade, à mera animalidade, podendo optar por valores superiores, que é, em suma a vontade, faculdade de afirmar ou de tender aos valores intelectualmente apreendidos. Não se deve confundir com o querer inconsciente, mero impulso animal.

Noologia e Neurociência editar

 Ver também : Noética

Edgar Douglas Adrian, neurocientista agraciado pelo Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina diz em seu famoso livro “A base da sensação":

O problema da conexão entre o cérebro e o espírito é tão enigmático para o fisiólogo quanto o é para o filósofo. Talvez uma profunda revisão de nossos sistemas de conhecimento possa explicar como um esquema de impulsos nervosos pode causar um pensamento, ou demonstrar que ambos fenômenos são, na realidade, a mesma coisa contemplada de diferente ponto de vista. Se tal revisão se levar a cabo, só espero ser capaz de entende-la."[6]

Noologia e Psicologia editar

A noologia não só examina o funcionar psicológico racional, como também as suas raízes intuitivas e afetivas, e penetra no âmbito da problemática gnosiológico-crítica, que pertence especificamente ao campo da Teoria do Conhecimento ou Gnosiologia. Diferencia-se da Psicologia pois ultrapassa o limite do que é controlável por meio de experimentos porque procura realidades para as quais não podemos aplicar o método experimental das ciências, sendo analisável apenas por uma óptica filosófica.

Noologia e Noogênese editar

Noologia (ciência da inteligência) - a ciência da teoria e experiências de inteligências, noogênese, ecologia de sistemas inteligentes, higiene da informação[7]

Ver também editar


Notas e referências

  1. Dos Santos, Mário Ferreira (2010). Filosofia e Cosmovisão 7ª ed. [S.l.]: É Realizações. p. 99. 287 páginas. ISBN 9781605204499 
  2. Kant, Immanuel (2009). Crítica da Razão Pura (em inglês) reimpressão ed. [S.l.]: Cosimo. p. 211. 504 páginas 
  3. "Eucken, Rudolf Christoph". Encyclopædia Britannica (12ª ed.). 1922.
  4. García, Juan José (2006). Inteligencia sentiente, reidad, Dios. Nociones fundamentales en la filosofía de Zubiri (PDF) (em espanhol). [S.l.]: Pamplona. pp. 1–73. ISSN 1696-0637. Consultado em 27 de março de 2017. Arquivado do original (PDF) em 26 de novembro de 2013 
  5. Dos Santos, Mário Ferreira (1961). Noologia Geral 7ª ed. [S.l.]: Logos. p. 158. 228 páginas 
  6. Adrian, Edgar Douglas (2009). The Basis of Sensation: The Action of the Sense Organs (em inglês) reimpressão ed. [S.l.]: Christopher. p. 14. 122 páginas. OCLC 609899968 
  7. Alexei Eryomin Noogenesis and Theory of Intellect. Krasnodar, 2005. — 356 p.

Ligações externas editar

 
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