As Normas de Merton foram descritas em 1942 pelo sociólogo Robert K. Merton.[1] Merton descreveu "quatro conjuntos de imperativos institucionais que determinam o ethos da ciência moderna: comunismo, universalismo, comunicação, desinteresse e ceticismo organizado".[2]

A importância das Normas de Merton é o suporte ao problema da demarcação entre a ciência e as pseudociências.[3] Ao não respeitarem estas normas, as alegações das pseudociências não são aceitas e por isso combatidas pela comunidade científica.[4]

Os quatro termos foram arranjados para formar o acrônimo CUDOS, a partir das iniciais na língua inglesa. É usado para designar os princípios que devem nortear uma boa pesquisa científica. "Originalidade" não fazia parte da lista de Merton, e foi acrescentada por John Ziman em 1984.[5] No debate acadêmico contemporâneo essas normas podem então ser descritas da seguinte maneira:[6]

  • Comunismo[7] - implica que os resultados científicos são propriedade comum de toda a sociedade.
  • Universalismo - significa que todos os cientistas podem contribuir para a ciência, independentemente de raça, nacionalidade, cultura ou gênero.
  • Desinteresse - considera que os cientistas devem agir em busca dos interesses coletivos do empreendimento científico, que estão acima de seus interesses pessoais,[8] não devendo ser remunerados pelas descobertas.
  • Originalidade - exige que as demandas científicas contribuam com novidades, seja um novo problema, uma nova abordagem, novos dados, uma nova teoria ou uma nova explicação.[6]
  • Ceticismo (Ceticismo Organizado) - ceticismo determina que alegações científicas devem ser expostas a uma análise crítica contínua.

Contra-normas editar

Em oposição às Normas de Merton, geralmente se apresentam as suas respectivas contra-normas.[9]

  • Isolamento (sigilo, misantropia) - geralmente é usado para manter as descobertas em segredo para obteção de patentes que gerem lucros ou para garantir a primazia de publicações.
  • Particularismo - significa que, teoricamente, não há limites para as pessoas que contribuem para o conjunto de conhecimentos. Na prática isso é um problema real, especialmente considerando a proporção de pesquisadores em países ricos comparados com os cientistas dos países pobres. Isso pode ser considerado também em relação a outras formas de diversidade. Além disso, os cientistas julgam as contribuições para a ciência com base nos seus próprios conhecimentos pessoais.
  • Interesses - surgem porque os cientistas têm preocupações legítimas em jogo na recepção de suas pesquisas. Artigos bem recebidos podem levar a boas perspectivas em suas carreiras, enquanto que, inversamente, sendo desacreditados podem prejudicar a recepção de suas futuras publicações, financiamentos e salários.
  • Dogmatismo - ocorre porque as carreiras dos cientistas são construídas sobre uma premissa particular(teoria) verdadeira. Isso cria um paradoxo quando se trata de afirmar explicações científicas.

Ver também editar

Referências

  1. Merton, Robert K (1973). The Sociology of Science: Theoretical and Empirical Investigations. Chicago: University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-52091-9. OCLC 755754 
  2. Macfarlane, Bruce; Ming Cheng (2008). «Communism, Universalism and Disinterestedness: Re-examining Contemporary Support among Academics for Merton's Scientific Norms» (PDF). Springer. Journal of Academic Ethics (6): 67-78. doi:10.1007/s10805-008-9055-y 
  3. Hansson, Sven Ove (10 de fevereiro de 2014). «Science and Pseudo-Science». The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Consultado em 21 de setembro de 2014 
  4. Pracontal, Michel (2004). A impostura científica em dez lições. São Paulo: Editora UNESP. ISBN 85-7139-521-7 
  5. Ziman, John (1984). An Introduction to sciences studies. [S.l.]: Cambridge University Press 
  6. a b Ziman, John (2000). Real Science: what it is, and what it means. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-77229-7. OCLC 41834678 
  7. Oliveira, Marcos Barbosa de (2011). «Formas de autonomia da ciência». Scientiae Studia. 9 (3): 527–561. ISSN 1678-3166. doi:10.1590/S1678-31662011000300005. Barber (1952) substituiu communism por communalism, por motivos decorrentes do macarthismo reinante nos Estados Unidos (cf. Merton & Barber, 2006, p. 295, nota115). Uma boa parte da literatura posterior incorporou essa mudança terminológica. 
  8. Godfrey-Smith, Peter (2003). Theory and Reality. Chicago: University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-30062-7 
  9. Mitroff, Ian I (1974). «Norms and Counter-Norms in a Select Group of the Apollo Moon Scientists: A Case Study of the Ambivalence of Scientists». American Sociological Review. 39 (4): 579–595. doi:10.2307/2094423. Consultado em 22 de setembro de 2014 

Bibliografia editar