O Juízo Final (Hieronymus Bosch)
O Tríptico do Juízo Final é um quadro do pintor holandês Hieronymus Bosch, datável por volta de 1482 ou posterior, executado em óleo sobre tábua. Mede 163,7 centímetros de alto por 242 cm. de largo. Encontra-se na galeria de pinturas da Academia de Belas-Artes de Viena.
O Juízo Final Tábua central | |
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Autor | Hieronymus Bosch |
Data | circa 1482 |
Técnica | Óleo sobre tábua |
Dimensões | 163,7 cm × 242 cm |
Localização | Viena |
Há outro tríptico dedicado também ao Juízo Final realizado por Bosch, um pouco posterior (1506—1508) na Alte Pinakothek de Munique. Este Juízo Final de Viena permanece dentro da tradição. O da Alte Pinakothek constitui o apogeu da visão demoníaca de Bosch.
História
editarComo o restante de quadros de Bosch, carece de uma datação unânime entre os especialistas. A análise dendrocronológico data a tábua de 1482 ou posterior.[1]
Vermet identifica este tríptico com a obra encomendada em 1504 por Filipe I de Castela.[1] Em efeito, em 1504, uma entrada do arquivo de Lille fala do pagamento de trinta e seis livras por um Juízo Universal que "Monseigneur ordenara para o seu nobre prazer". Este Monseigneur é Filipe I, marido de Joana I de Castela, de nove pés de alto por onze de largo.[2] Embora não meça 9 x 11 pés, é possível que seja este Juízo Final do Museu de Viena, embora também poderia fazer referência ao de Munique.
Koldeweij descarta que seja o quadro encomendado por Filipe I. Acredita este autor que este tríptico, com o Carro de feno e o Jardim das Delícias, oferecem o desenvolvimento quase completo da história da cristandade, do Paraíso até o inferno, segundo a admonição formulada com tanto vigor na Devotio Moderna, para que os cristãos observassem a vida que levam na terra e tentassem melhorar, com fé e imitando a Cristo.[1]
Num inventário de 1659 aparece na galeria do arquiduque Leopoldo Guilherme da Áustria. No fim do século XVIII foi comprado pelo conde Lamberg-Spritzenstein. Por meio de um legado passou a fazer parte da gemäldegalerie (galeria de pinturas) da Academia de Belas Artes de Viena. Nos séculos XVII e XVIII foi restaurado e repintado, de modo que perdeu bastante cor. Isto levou a que alguns duvidem que seja uma pintura autógrafa de Bosch.[1]
Tríptico fechado
editarQuando o tríptico está fechado, veem-se as figuras de dois santos: à esquerda, Santiago Maior, com 167,7 centímetros de alto por 60 cm. de largo; à direita, São Bavão.
Estão pintados com grisaille sobre tábua. Embaixo há dois escudos vazios. As figuras estão executadas com firmeza, alheia à vibrante pincelada das grisailles de Bosch, pelo qual se acredita que as executou um copista sobre desenho do pintor.
Santiago é representado como um peregrino por um mundo cheio de maldade, podendo ser observado um grupo de cegos e paralíticos à esquerda; à direita há uma peleja; detrás, um enforcado, que poderia fazer referência a um milagre do santo, segundo A lenda dourada, a qual afirma que ressuscitou um enforcado acusado de um crime que não cometera.
Pela sua vez, São Bavão, protetor da Flandres, é representado como um jovem cavaleiro. No pulso esquerdo tem um falcão. Antes de entrar num convento, Bavão repartiu os seus bens entre os pobres, aqui representados por mendigos e tolhidos; a velha de perfil com uma criança nos ombros aparece num desenho atribuído a Bosch e que se conserva numa coleção particular de São Francisco (Cinotti e Baldass).[1]
Koldeweij acredita que a presença destes santos é justificada, no caso de Santiago Maior pela sua dupla qualidade de peregrino e apóstolo, enquanto o segundo, que dá esmola, pela sua função exemplar.[1]
Tríptico aberto
editarAo abrir o tríptico vê-se, de esquerda a direita: o pecado original, o Juízo Final e o Inferno. As cenas interiores estão realizadas ao óleo sobre tábua. Os painéis esquerdo e direito medem 167,7 x 60 cm enquanto o painel central mede 164 x 127 cm.
Postigo esquerdo: O Pecado original
editarAo contrário do postigo esquerdo do Jardim das Delícias, no que aparece Adão desperto, e com Deus apresentando-lhe Eva, aqui está dormido, com a criação de Eva que se depreende do seu costado e, num segundo plano, a tentação, com Eva pegando o fruto que lhe tende o demônio. Detrás observa-se a expulsão do Paraíso com um anjo que leva uma espada. Predominam os tons esverdeados na paisagem, formada por poucas árvores, mato e algumas rochas. No alto, aparece Deus criador.[1]
Tábua central: O Juízo Final
editarA fonte para esta representação do Juízo Final é o Apocalipse de João.[1] Na parte central, no alto, quase separado do restante da composição, aparece Jesus Cristo juiz, que está apoiado sobre um arco-iris enquanto aos lados, sobre nuvens, estão a Virgem Maria e são João Batista com um exíguo número de eleitos; no restante da composição foi representado o mundo do pecado e as penas impostas aos pecadores, cada um de eles torturado por diabos-grelos e figuras monstruosas, devido aos seus próprios vícios: abrasados, asados, ensartados, empalados, pendurados de ganchos de açougueiros, obrigados a beber, inseridos em estranhas máquinas, etc.
Ao contrário de outras representações do Juízo Final, em que justos e pecadores estão mais igualados, aqui predomina o número dos condenados, que sofrem diversos castigos, sem deixar quase espaço para os bem-aventurados.
Predominam os tons marrom, cada vez mais obscuros conforme se acercam ao horizonte, onde se vem construções em chamas. Apenas no alto há um intenso azul.[1]
Postigo direito: O Inferno
editarRepetem-se aqui os incêndios de estruturas, tão típicos da obra de Bosch, pois podem ser vistas similares ignições no painel direito d´O Carro de Feno, assim como no lateral direito de O jardim das delícias. São edifícios incendiados nos quais se vê que o fogo vêm desde embaixo, como inspirando-se nas então modernas armas de pólvora ou explosões, com o que os infernos que pinta Bosch acabam parecendo lugares de confrontação militar.[3]
Este postigo apresenta perfeita continuidade com o painel central, tanto em cromatismo quanto em conteúdo, pois na visão de Bosch,
“ | o inferno não é mais que uma extensão do Juízo universal: o príncipe das trevas, ao qual rendem homenagem seguidores e acólitos, ocupa o proscênio, enquanto as almas humanas condenadas, as quais s ão mostra na sua nudez, são expostas aos mais incríveis tormentos e suplícios. Neste quadro, Bosch não pronúncia uma homilia: na sua concepção, Deus e o seu Filho não encarnam o amor mas são os executores de uma justiça severa, quase mosaica | ” |
Predominam nestas cenas infernais as referências à "cozinha" e aos instrumentos feitos de metal: os avarentos são cozinhados em espetos, os iracundos pendurados de ganchos de açougue, e cozinhados numa grelha; alguns estão atravessados por facas; ao bebedor incha-se o ventre de vinho que sai, sem parar, de uma cuba; a mulher é picada pela serpente e roída por um escorpião; os agitados rodam o moinho sem descanso; os luxuriosos sofrem castigo ligados de três em três.[2]
Na Queda dos anjos deste Juízo Final aparecem diabos em figura de pedintes, devendo recordar-se que os lesados eram considerados popularmente no século XV como símbolo da presença do mal, do demônio e das bruxas.[1]
Bibliografia
editar- CARRASSAT, P. F. R., Maestros de la pintura, Spes Editorial, S.L., 2005. ISBN 84-8332-597-7
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k Eileen Romano (dir.), "Bosco", "Los grandes genios del arte", n.º 25, Unidad Editorial, S.A., 2005, ISBN 84-89780-69-2
- ↑ a b José Pijoán, “Jerónimo Bosch” em Summa Artis, Antología V, Espasa, pág. 132, 84-670-1356-7
- ↑ Juan Antonio Ramírez , "El Bosco: futurible divino y paraíso invertido ", em "Bosco", Los grandes genios del arte, n.º 25, Eileen Romano (dir.), Unidad Editorial, S.A., 2005, ISBN 84-89780-69-2
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em castelhano cujo título é «Tríptico del Juicio de Viena».