Ondjango Feminista

colectivo feminista de activismo e educação em prol da realização dos direitos humanos de todas as mulheres e meninas em Angola
Ondjango Feminista
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O Ondjango Feminista é um colectivo feminista angolano, criado em 2016, pioneiro na organização política de mulheres, cujo foco se centra num activismo situado nas questões particulares do contexto africano.[1][2][3]

História editar

O colectivo surgiu de uma ideia de Sizaltina Cutaia e Áurea Mouzinho[4], durante um encontro num fórum feminista africano, no Zimbábue. Posteriormente juntou-se Florita Telo.[5]

Em Junho de 2016, o colectivo começou a organizar encontros mensais, para debater temas relacionados com os direitos das mulheres.[5]

A 18 de Março de 2018, organizou a Marcha das Mulheres pela Despenalização do Aborto, em Luanda. Esta manifestação foi organizada na sequência da revisão do Código Penal de 1886, herdado do período colonial português, que propunha proibir totalmente a interrupção voluntária da gravidez (IVG), prevendo penas de quatro a dez anos de prisão. Mais de uma centena de mulheres e homens participaram, tendo marchado desde o cemitério do Santana até ao Largo das Heroínas.[6][7][8][9]

O Ondjango Feminista baseia-se numa «agenda feminista transformadora», questionando os mecanismos de opressão patriarcal através da valorização das diferenças ideológicas das suas componentes. A partir da Carta de Princípios Feministas para as Feministas Africanas, elaborado a partir do Fórum Feminista Africano (Acra, Gana, entre 15 e 19 de Novembro de 2006)[10][11], o Ondjango reenvidica «o direito de teorizar para nós mesmas, escrever para nós mesmas, e falar por nós mesmas enquanto feministas africanas».[3]

Actividades e Projectos editar

Entre as actividades que o colectivo tem vindo a desenvolver, têm-se destacado a organização da Escola Feminista, a publicação periódica do jornal Tuba! Informe[12] e um amplo Estudo sobre a situação da mulher zungueira. Estas duas publicações focam-se nos direitos reprodutivos e sexuais, a luta pelos direitos das zungueiras e pela protecção do trabalho feminino no mercado informal, o combate à violência doméstica e à violência institucional.[3]

 
Logotipo do Ondjango Feminista

A 25 de novembro de 2017, no âmbito do Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, o Ondjango Feminista organizou uma marcha de repúdio à violência contra as mulheres, sob o lema “Parem de matar as mulheres”. No final da marcha revelou que a violência contra as mulheres é o direito humano mais violado em Angola, com cerca de 62 mil mulheres vítimas de violência no ano anterior. Várias dezenas de pessoas, homens e mulheres de diferentes origens, desde as tradicionais zungueiras a políticos e activistas cívicos juntaram-se em Luanda, protestando contra os abusos sobre as mulheres. O manifesto desta marcha criticou a disparidade entre o discurso político e a crescente onda de violência contra a mulheres angolanas.[13][14][15]

A marcha percorreu algumas ruas da capital e terminou no Largo das Heroínas, no centro de Luanda, com discursos e testemunhos de casos de violência. As reincvidicações passaram pelo fim dos maus tratos, da mortalidade materna, a fuga paternal, os direitos de terra das mulheres e os direitos das zungueiras.[2]

Em dezembro de 2021, Ondjango Feminista organizou uma primeira edição de um exposição colectiva intitulada “Em Dependência”, que teve lugar no Centro Cultural Brasil Angola (CCBA), em Luanda. A mostra, que contou com obras de 10 artistas, pretendia, através da representação artística, trazer reflexões sobre como as mulheres, de modo geral, se relacionam com "a ideia de independência nacional: o ideal, a realidade, a memória, a política, o quotidiano, e tudo o resto".[16][17]

Entre os dias 25 e 31 de julho de 2022, co-organizou com o Goethe-Instituto Angola o festival de cinema "Pulungunza! Lutas de Mulheres no Cinema", focado no tema da luta das mulheres pela igualdade e justiça social. O festival exibiu produções cinematográficas da África subsariana e europeias (Alemanha, Espanha, França e Portugal), sobre a conquista desses direitos, seguidas de debates.[18][19]

Deste colectivo fazem parte mulheres como a cantora Aline Frazão[20], a professora Leopoldina Fekayamãle[21], a advogada e activista Florita Telo[22], e a filósofa Laurinda Gouveia[23].

Prémios e Reconhecimentos editar

O Ondjango Feminista foi nomeado na edição de 2021 do “Africans Rising Activism Awards”, na categoria de Movimento do Ano.[24]

Referências editar

  1. Pessoa, Bianca (18 de julho de 2022). «Entrevista - Desafios do feminismo em Angola». Capire. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  2. a b Welle (www.dw.com), Deutsche. «Mulheres marcham contra violência em Angola | DW | 25.11.2017». DW.COM. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  3. a b c Alfieri, Noemi. Deolinda Rodrigues: entre a escrita da história e a escrita biográfica. Recepção de uma guerrilheira e intelectual angolana. (PDF). [S.l.]: CHAM-NOVA FCSH/ UAc. p. 53. ISSN 2014-8526 
  4. «Mosaiko realiza debate sobre o Feminismo em Angola». Mosaiko. 12 de março de 2018. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  5. a b «"Não é fácil ser feminista em Angola"». Rede Angola - Notícias independentes sobre Angola. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  6. Flor, Aline. «Aborto: Angolanas exigem debate alargado sobre "criminalização das mulheres"». PÚBLICO. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  7. «Mulheres marcham contra criminalização total do aborto em Angola». VOA. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  8. «Marcha contra criminalização do aborto: "Criminalizar só agrava"». VOA. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  9. Lusa, Agência (21 de março de 2017). «Falta de consenso por causa do aborto adia votação do Código Penal». Rede Angola - Notícias independentes sobre Angola. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  10. «Carta de principios feministas para las feministas africanas». e-revistes.uji.es. 2016. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  11. Telo, Florita Cuhanga António (2017). «O PENSAMENTO FEMINISTA AFRICANO E A CARTA DOS PRINCÍPIOS FEMINISTAS PARA AS FEMINISTAS AFRICANAS» (PDF). WWC2017. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  12. «TUBA é educar!». www.ongoma.news. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  13. Lusa, Agência. «62 mil mulheres violentadas em Angola durante o ano passado, diz ONG». Observador. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  14. «Violência contra mulher é o direito humano mais violado em Angola -- ONG». www.dn.pt. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  15. SAPO. «Violência contra mulher é o direito humano mais violado em Angola». SAPO 24. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  16. grxnet.com. «Jornal de Angola - Notícias - Ondjango Feminista mostra arte no CCBA». Jornal de Angola. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  17. «Page not found». www.muzangala.com (em inglês). Consultado em 3 de outubro de 2022 
  18. «Luanda: Portugal representado no Festival "Pulungunza! Lutas de Mulheres no Cinema" - Camões - Instituto da Cooperação e da Língua». www.instituto-camoes.pt. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  19. «Festival de Cinema PULUNGUNZA! - Luta de Mulheres no Cinema». www.futuroscriativos.org. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  20. «Aline Frazão lança novo álbum de originais em março e marca dois concertos em Portugal». www.dn.pt. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  21. grxnet.com. «Jornal de Angola - Notícias - Professora dedicada à causa das mulheres». Jornal de Angola. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  22. Sociais, CES-Centro de Estudos. «Mulheres africanas fazendo ciência, produzindo conhecimentos, transformando o mundo». CES - Centro de Estudos Sociais. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  23. Gomes, Sofia. «Seminário "Ativismo em Angola: manual de resistência"». www.cecs.uminho.pt. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  24. «Ondjango Feminista indicado para o "Africans Rising Activism Awards" - Notícias de Angola». 18 de dezembro de 2021. Consultado em 3 de outubro de 2022