Ortografia do crioulo cabo-verdiano

O crioulo cabo-verdiano tem sido escrito há mais de um século, mas nunca teve uma ortografia uniforme. Este artigo aborda algumas ortografias que têm sido usadas para a escrita do mesmo.

Proposta de A. P. Brito

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A proposta de António de Paula Brito[1] [2], remonta a 1888, mas só veio a ser conhecida em 1984. Trata-se de um sistema fonético que foi utilizado na obra «Apontamentos para a Gramática do Crioulo que se Fala na Ilha de Santiago», da autoria do próprio A. P. Brito.

  • Como sistema fonético, tem tendência para que cada letra represente apenas um som, e que cada som seja representado por apenas uma letra.
  • O som [s] é representado apenas pela letra s, mesmo entre vogais.
  • O som [z] é representado sempre pela letra z.
  • O som [ɲ] é representado pelo dígrafo nh.
  • O som [ʧ] é representado pelo dígrafo ch.
  • O som [ʤ] é representado pelo dígrafo jh.
  • O som [ʃ] é representado sempre pela letra x.
  • O som [ʒ] é representado sempre pela letra j.
  • O som [k] é representado sempre pela letra k.
  • O som [ɡ] é representado sempre pela letra g, mesmo antes das letras e e i.
  • A nasalidade das vogais é representada sempre com um til sobreposto, portanto, ã, , ĩ, õ e ũ.
  • A letra e nunca tem o valor de [i] ou de [ɨ].
  • A letra o nunca tem o valor de [u].

A escrita de E. Tavares

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Eugénio Tavares foi um dos primeiros poetas a escrever em crioulo. Embora ele não tenha explicitamente desenvolvido um sistema de escrita, ele merece menção pelo volume de obras em crioulo que ele produziu[3]. Trata-se de um sistema etimológico, e como tal apoia-se nas regras de ortografia do português, mas adaptadas às características próprias do crioulo da Brava.

  • O som [s] é representado conforme a grafia do étimo em português: por c antes de e ou i, por ç, por s ou por ss.
  • O som [z] é representado contorne a grafia do étimo em português: por s ou por z.
  • O som [ɲ] é representado por nh.
  • O som [ʧ] é representado por ch.
  • O som [ʤ] é representado por j.
  • O som [ʃ] é representado por x.
  • O som [ʒ] é representado por g antes de e ou i, ou por j (o que pode causar confusão com [ʤ]).
  • O som [k] é representado conforme a grafia do étimo em português: por c ou por qu antes de e ou i.
  • O som [ɡ] é representado conforme a grafia do étimo em português: por g ou por gu antes de e ou i.
  • A nasalidade das vogais é representada depois das vogais, ora com a letra n, ora com a letra m.
  • A letra e tem valor de [i] na conjunção copulativa e no fim das palavras. Noutros casos (inclusive em posição átona) é pronunciada [i], [e] ou [ɛ].
  • A letra o tem o valor de [u] apenas no fim das palavras. Noutros casos (inclusive em posição átona) ou é pronunciada [o] ou [ɔ]
  • Nos monossílabos, as vogais geralmente levam um acento gráfico, mesmo quando a grafia usada por E. Tavares não corresponde à pronúncia. Ex.: o que E. Tavares escreve como cré, é, na realidade é pronunciado [kɾe], [e], [so] (com ê e ô fechados).

A escrita de S. Frusoni

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Sérgio Frusoni foi um poeta de meados do séc. XX que escreveu em crioulo. Tal como E. Tavares, produziu extensa obra[4] e merece igualmente menção pela escrita etimológica que ele usou, mas neste caso adaptada às características próprias do crioulo de São Vicente.

  • O som [s] é representado conforme a grafia do étimo em português: por c antes de e ou i, por ç, por s ou por ss.
  • O som [z] é representado conforme a grafia do étimo em português: por s ou por z.
  • O som [ɲ] é representado por nh.
  • O som [ʧ] é representado por tch.
  • O som [ʤ] é representado por dj.
  • O som [ʃ] é representado conforme a grafia do étimo em português: por ch ou por x.
  • O som [ʒ] é representado conforme a grafia do étimo em português: por g antes de e ou i, ou por j.
  • O som [ʎ] é representado por lh.
  • O som [k] é representado conforme a grafia do étimo em português: por c ou por qu antes de e ou i.
  • O som [ɡ] é representado conforme a grafia do étimo em português: por g ou por gu antes de e ou i.
  • A nasalidade das vogais é representada depois das vogais, ora com a letra n, ora com a letra m.
  • A letra e só tem valor de [i] na conjunção copulativa. Noutros casos (inclusive em posição átona) ou é pronunciada [e] ou [ɛ], ou representa a elisão dos sons [i] e [u] que desaparecem frequentemente no crioulo de São Vicente. No entanto, nas palavras d’, qu’, s’ S. Frusoni utiliza o apóstrofo.
  • A letra (inclusive em posição átona) o nunca tem o valor de [u].
  • Nos monossílabos, as vogais levam geralmente um acento gráfico.

A proposta do colóquio de Mindelo

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Em 1979 decorreu o Colóquio Linguístico de Mindelo na cidade do mesmo nome. Uma das resoluções saídas desse colóquio foi a adopção de um alfabeto experimental[1] para ser adoptado no ensino bilingue. Trata-se de um sistema fonético, que foi inspirado no Alfabeto de Referência Africano (African Reference Alphabet [4]), adoptado em Niamey em 1978, mas com algumas modificações adaptadas às especificidades do crioulo.

  • Como sistema fonético, tem tendência para que cada letra represente apenas um som, e que cada som seja representado por apenas uma letra.
  • O som [s] é representado apenas pela letra s, mesmo entre vogais.
  • O som [z] é representado sempre pela letra z.
  • O som [ɲ] é representado por .
  • O som [ʧ] é representado por ĉ.
  • O som [ʤ] é representado por ĵ.
  • O som [ʃ] é representado sempre por ŝ.
  • O som [ʒ] é representado sempre por .
  • O som [ʎ] é representado por l̂.
  • O som [ŋ] é representado por (n com trema).
  • O som [k] é representado sempre pela letra k.
  • O som [ɡ] é representado sempre pela letra g, mesmo antes das letras e e i.
  • A nasalidade das vogais é representada sempre com a letra n depois das vogais, portanto, an, en, in, on e un.
  • A letra e nunca tem o valor de [i] ou de [ɨ].
  • A letra o nunca tem o valor de [u].
  • O som [ɛ] é sempre representado por é.
  • O som [ɔ] é sempre representado por ó.

Apesar de esse sistema ter sido utilizado por alguns escritores, não chegou a ter aceitação. Isso deveu-se ao choque que um sistema fonético provocou ante os hábitos de escrita etimológica, e devido a dificuldades tipográficas em representar certos caracteres.

ALUPEC

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O ALUPEC é a convenção mais recente para a escrita do cabo-verdiano. Surgiu em 1994, da tentativa de compromisso entre a ortografia proposta em 1979 e hábitos de escrita etimológica, elaborado pela Grupo de Padronização da Língua Cabo-verdiana.[5]

 Ver artigo principal: ALUPEC

Referências

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  1. a b O caboverdiano em 45 lições (Veiga, Manuel – 2002)
  2. «Na diféza di un skrita pa kriolu di Kabu Verdi». Consultado em 22 de maio de 2007. Arquivado do original em 6 de abril de 2007 
  3. [1] [2] Letras de músicas de Eugénio Tavares
  4. [3] Arquivado em 7 de janeiro de 2006, no Wayback Machine. Poemas de Sérgio Frusoni
  5. (em inglês) Proposed Criteria of the Unified Alphabet for the Capeverdean Writing System Arquivado em 21 de setembro de 2007, no Wayback Machine.