Os Lobos é um filme mudo português de ficção e drama, com intertítulos, realizado por Rino Lupo em 1923. Tomando como base a obra teatral "Os Lobos: Tragédia Rústica em Três Actos" (1920) de Francisco Lage e João Corréa d'Oliveira, a longa-metragem tornou-se num dos maiores sucessos cinematográficos portugueses da década de 1920, chegando a ter difusão internacional e ser apontada como uma das principais influências para o estilo cinematográfico e a narrativa poética da "escola de cinema portuguesa" durante as décadas seguintes.[1][2][3][4][5]

Os Lobos
Os Lobos (PRT)
Os Lobos (filme)
Portugal Portugal
1923 •  p&b •  80 min 
Género drama
Direção Rino Lupo
Produção Carlos Cudell Goetz
Roteiro Rino Lupo
Francisco Lage e João Corréa d´Oliveira
Elenco José Soveral
Branca de Oliveira
Sarah Cunha
Joaquim Avelar
Joaquim Almada
Eduardo Ríos
Francisco Amores
Joaquim Moreira
Flora Frizzo
Aida de Oliveira
Manuel Baptista
Ricardina Maia
Jeanne Nancray
Carmencita Díaz
Palmira Avelar
Santos Castro
Carmen Alves
Música António Tomás de Lima
Nicholas McNair
Cinematografia Artur Costa de Macedo
Edição Rino Lupo
Companhia(s) produtora(s) Ibéria Film
Lançamento 1923
Idioma intertítulos em português

Produção editar

Inspirado pelo cinema do Norte da Europa e na obra teatral originalmente ambientada em Castro Laboreiro dos dramaturgos portugueses Francisco Lage e João Corréa d'Oliveira, com apenas uma cena inicial filmada em estúdio, onde surgem os escritores da peça e o realizador a convidarem o espectador a conhecer a sua narrativa, Os Lobos foi filmado apenas em décors exteriores, com recurso à luz natural, durante os meses de novembro de 1922 e janeiro e fevereiro de 1923, imortalizando as paisagens naturais da Foz do Douro e da Serra da Estrela, assim como do Porto de Leixões, em Matosinhos, e das localidades de Nelas, distrito de Viseu, e São Romão e Valezim, em Seia, distrito da Guarda, tais como eram no início do século XX.[6] Desejando recriar um naturalismo realista, o realizador optou por seleccionar actores quase todos desconhecidos do grande público, sendo as únicas excepções Joaquim Almada e Sarah Cunha, que já tinham interpretado a peça original quando esta estreou no Teatro Nacional de Almeida Garrett.[7][8]

Conhecido por não cumprir prazos ou ter qualquer disciplina de produção, durante as filmagens o projecto ultrapassou cinco vezes o orçamento previsto de 50 contos, obrigando a produtora cinematográfica portuense Ibéria Film Lda. a encerrar a sua actividade ainda durante a montagem do filme.[9]

Apesar da falência da sua produtora, através do financiamento de alguns patrocinadores privados, Os Lobos teve a sua ante-estreia a 2 de maio de 1923 e estreia a 7 de maio do mesmo ano, com oito partes, no animatógrafo, teatro e salão de festas Jardim Passos Manoel, no Porto, seguindo-se a sua distribuição e exibição em várias salas de cinema, feiras e espaços improvisados para a projecção do filme em todo país, como no Salão Foz e Chiado Terrasse de Lisboa, a 12 de maio de 1924, com seis partes.[10] Devido ao enorme sucesso que teve a nível nacional, após uma nova montagem, o filme foi também exibido além fronteiras, nomeadamente através da distribuição realizada pela Gaumont em França.[11]

Sinopse editar

Após cumprir uma pena por um crime passional, Ruivo, um lobo do mar, chega a uma aldeia da Serra da Cabreira, dominada pela tradição patriarcal, onde a mulher ocupa-se das lidas do lar ou recolhe lenha e o homem vela pelos rebanhos ou abate árvores de que fará carvão, convertendo-se num elemento de fascínio e de desagregação da estrutura arcaica.[12][13]

Elenco editar

Equipa Técnica editar

Realização

  • Realização: Rino Lupo[14]

Argumento

  • Obra original: "Os Lobos: Tragédia Rústica em Três Actos" (1921) de Francisco Lage e João Corréa d'Oliveira
  • Argumento Adaptado: Rino Lupo

Produção

Fotografia

Director de Fotografia: Artur Costa de Macedo

Montagem

  • Direcção de Montagem: Rino Lupo
  • Laboratório de Imagem: Invicta Film (negativo) e Gaumont (cópias)

Design

Banda Sonora

Distribuição

Restauro e Festivais editar

Oitenta e oito anos após a sua estreia original e com a descoberta de uma cópia da longa-metragem de Rino Lupo, considerada uma obra prima do cinema mudo europeu, em França, Os Lobos foi restaurado em 2011, sendo posteriormente integrado na programação de vários festivais de cinema pela Europa, como o II Festival de Cinema Português no Reino Unido.[16]

Em 2017, através de um trabalho de resgate de memória pela Cinemateca Portuguesa, os filmes Mulheres da Beira e Os Lobos foram tratados e restaurados, recebendo um novo lançamento em DVD, com a música original de António Tomás de Lima e Nicholas McNair.[17][18] A campanha inaugurou uma série de edições dedicada à ficção portuguesa realizada entre 1896 e 1930, assim como um novo interesse e despertar para a carreira esquecida de Rino Lupo, gerando o documentário Lupo em 2019.[19][20]

Ver também editar

Referências editar

  1. N. Lourenço, Inês (26 de setembro de 2019). «Resgatar o cinema mudo de Rino Lupo». Diário de Notícias 
  2. Sight and Sound (em inglês). [S.l.]: British Film Institute. 1948 
  3. Castro, Francisco Martín Peredo; Venegas, Carmen García; Plata, Blanca Aguilar; Jacobo, Pilar Mandujano; Macedo, Alfonso Rodríguez; Orozco, Federico Dávalos; Arroyo, Jacquelinne Sánchez; Reséndiz, Isabel Lincoln Strange; García, Magda Lillalí Rendón (15 de janeiro de 2021). Tinta, papel, nitrato y celuloide: Diálogos entre cine, prensa y literatura en México (em espanhol). [S.l.]: UNAM, Dirección General de Publicaciones y Fomento Editorial 
  4. Kuhn, Annette; Westwell, Guy (21 de junho de 2012). A Dictionary of Film Studies (em inglês). [S.l.]: OUP Oxford 
  5. Tiempo de cine (em espanhol). [S.l.]: Cine Club Núcleo. 
  6. The Portuguese Cinema (em inglês). [S.l.]: Ministry of Mass Communication. 1975 
  7. Picchio, Luciana Stegagno (1969). História do teatro português. [S.l.]: Portugália Editora 
  8. Forum: revista de cinema e cultura. [S.l.]: Forum. 1979 
  9. «Cinema Português: 1923 Os Lobos». Instituto Camões 
  10. Marques, Antonio Henrique R. de Oliveira (1972). História de Portugal: desde os tempos mais antigos até ao governo do Sr. Marcelo Caitano. [S.l.]: Edições Ágora 
  11. Ribeiro, M. Felix (1983). Filmes, figuras e factos da história do cinema português, 1896-1949. [S.l.]: Cinemateca Portuguesa 
  12. Nascimento, Guilherme; Oliveira, Marco; Lopes, Frederico. «Os Lobos». CinePT | Cinema Portugues 
  13. Passarinho, Hugo (2019). O desenho no cartaz de cinema português : um caso de estudo de 1895 a 1960, Tese de mestrado, Desenho, Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas Artes
  14. Ramos, Jorge Leitão (2 de novembro de 2012). Dicionário do Cinema Português 1895-1961. [S.l.]: Leya 
  15. «Os Lobos de Rino Lupo». Gestos & Fragmentos | Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema. 19 de março de 2021 
  16. «Clássico português de 1923 estreia em Londres». TVI24. 2 de novembro de 2011 
  17. Lusa, Agência (7 de abril de 2017). «Cinemateca resgata do esquecimento filmes mudos de Rino Lupo em DVD». Observador 
  18. Mourinha, Jorge (12 de abril de 2017). «A Cinemateca leva-nos ao tempo da outra senhora (com música)». Público 
  19. Mourinha, Jorge (9 de abril de 2019). «A vida de Rino Lupo deu um filme». Público 
  20. «Documentário: Lupo». Rádio e Televisão de Portugal. 2019 

Ligações externas editar