Pastores que andais na serra

"Pastores que andais na serra" (com o estribilho: "Anjos e arcanjos em Jerusalém") é uma canção de Natal tradicional portuguesa originária de Trás-os-Montes.[1] A mesma melodia é também utilizada em cantigas de Reis ou Janeiras.[2]

História editar

Uma das primeiras recolhas da melodia em questão foi realizada pela etnomusicóloga norte-americana Laura Boulton em 1955. Esta versão, "Quem diremos nós que viva", originária da freguesia de Barqueiros no concelho de Mesão Frio, foi coligida e transcrita (ainda que de forma deficitária) para uma coleção de canções de Natal portuguesas.[2] Embora as coplas sejam significativamente diferentes da versão atualmente mais conhecida, a melodia e o estribilho são muito semelhantes.

A versão mais popular hoje em dia resulta do trabalho de harmonização do compositor português Fernando Lapa no ano de 2001.[3]

Letra editar

O estribilho de ambas as versões tem como tema a adoração do Menino Jesus pelos anjos e a anunciação aos pastores. A versão recolhida por Laura Boulton é uma sequência de vivas aos habitantes da localidade, com especial consideração pelo clérigo e o médico. A versão de Fernando Lapa apresenta duas quadras tradicionais não relacionadas. A primeira delas faz referência a uma lenda da tradição ibérica segundo a qual o rosmaninho foi abençoado por Maria com poderes medicinais por ter servido de estendal à roupa do seu filho.[4] Esta trova também surge, embora com algumas diferenças, na canção de Natal de Vila Nova de Foz Coa "Os pastores, em Belém".[5]

 
Boticelli: A Natividade Mística (c. 1500-1501).
Recolha de Laura Boulton Versão de Fernando Lapa

Estribilho:
Anjos, arcanjos em Jerusalém,
O Menino Deus nasceu em Belém.

Estribilho:
Anjos e arcanjos em Jerusalém,
O Manso Cordeiro nasceu em Belém.

Coplas:
Quem diremos nós que viva?
Lá na folha do vira-o-vento?
Vivam senhores e senhoras
Que estão das portas para dentro.

Coplas:
Pastores que andais na serra,
Não corteis o rosmaninho.
É onde a Senhora estende
Os paninhos do Menino.

Quem diremos nós que viva?
Na folhinha da nabiça?
Viva o senhor abade
No altar a dizer missa.

Deitai os olhos ao céu
E lá vereis uma luz;
Lá vereis camas e berços
Para o Menino Jesus.[3]

Quem diremos nós que viva?
No grãozinho do arroz?
Viva o senhor doutor
Por muitos anos e bos.[2]

Discografia editar

  • 1955Christmas Songs of Portugal. Coro (popular) feminino. Folkways Records. Faixa 1: "Quem Diremos Nós Viva?".[2]
  • 2003Um Natal português. Vários. Numérica. Faixa 4: "Pastores que Andais na Serra".[3]
  • 2008Fernando Lapa. Coro Académico da Universidade do Minho. Numérica. Faixa 13: "Pastores que Andais na Serra".[3]
  • 2007Penela da Beira a cantar. Grupo de Cantares de Penela da Beira. Numérica. Faixa 9: "Anjos Arcanjos".[6]

Ver também editar

Ligações externas editar

Referências

  1. Simão Cardoso (2010). «Pastores que andais na serra». O Canto na Liturgia. Consultado em 30 de setembro de 2015 
  2. a b c d Laura Boulton (1955). Christmas Songs of Portugal (PDF) (em inglês). Washington D. C.: Folkways Records 
  3. a b c d Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Pastores que Andais na Serra». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa. Consultado em 30 de setembro de 2015 
  4. Caballero, Fernán (1855). «VIII». La estrella de Vandalia. cuadro de costumbres (em Castelhano) 1 ed. Madrid: Imprensa de Antonio Andrés Babi. p. 69-70. 135 páginas 
  5. Chaves, Luís (1939). Revista Lusitana: O Natal no folclore e na arte popular. 37 1 ed. Lisboa: Livraria Clássica Editora. p. 92 
  6. http://fonoteca.cm-lisboa.pt/cgi-bin/info3.pl?25186&CD&0