Festo (sítio arqueológico)

Sítio arqueológico minoico
(Redirecionado de Phaistós)
 Nota: Este artigo é sobre o sítio arqueológico. Para o município moderno, veja Festo (município). Para outros significados, veja Festo.

Festo[1] (em grego: Φαιστός; romaniz.:Phaistós) é uma cidade antiga da ilha de Creta. Localiza-se na porção centro-sul da ilha, aproximadamente 5,6 quilômetros do Mar Mediterrâneo. Foi habitada desde cerca de 4 000 a.C.[2][3] Um palácio, datado da Idade do Bronze Médio (c. 1 900 a.C.), foi destruído possivelmente por um terremoto no final do período (c. séculos XVIII-XVII a.C.); Cnossos, juntamente com outros sítios minoicos, foi destruído na mesma época. O palácio acabou por ser reconstruído mais tarde.[4]

Festo
Faistó, Faistós, Faestos
Φαιστός
Festo (sítio arqueológico)
Ruínas de Festo

Bacia lustral
Localização atual
Festo está localizado em: Creta
Festo
Localização do sítio de Festo
Coordenadas 35° 03' 04" N 24° 48' 51" E
País  Grécia
Região Creta
Unidade regional Heraclião
Município Festo
Altitude 85 m
Dados históricos
Fundação 1 900 a.C.
Abandono 200 a.C.
Início da ocupação Idade do Bronze
Civilização Minoica
Notas
Arqueólogos Federico Halbherr, Luigi Pernier e Doro Levi
Acesso público Sim

Referências mitológicas editar

A referência a Festo na literatura da Grécia antiga é bastante frequente. Festo é referenciada por Homero como "bem povoada",[5][6] e os épicos homéricos indicam sua participação na Guerra de Troia.[7] O historiador Diodoro Sículo indica que Festo, junto com Cnossos e Cidônia, são as três cidades que foram fundadas pelo rei Minos em Creta.[8] Em vez disso, Pausânias e Estevão de Bizâncio suportam em seus textos que o fundador da cidade foi Festo, filho de Hércules ou Ropalo,[9] que governava Sicião (então sucessor de Ianisco[10]) e que em obediência a um oráculo migrou para Creta, deixando o reino para Zeuxipo, filho de Apolo.[11] A cidade está especialmente associada ao mítico rei de Creta Radamanto.[12]

História editar

O primeiro palácio foi construído por volta de 1 900 a.C., durante o período protopalaciano[13] e, assim como outros palácios (Cnossos, Mália), está localizado nas planícies mais férteis da ilha, permitindo que seus proprietários acumulassem riquezas, especialmente agrícolas, como evidenciados pelos grandes armazéns para produtos agrícolas encontrados nos palácios.[14] Foi posteriormente reconstruído duas vezes devido a extensivos danos por causas naturais (primeiro em torno de 1 700 a.C.; depois em 1 400 a.C.[12]).[15] Quando o palácio era destruído, os reconstrutores construíram o novo palácio sobre o antigo. Alabastro assim como outros materiais foram utilizados para a construção dos palácios. Em torno de 1 400 a.C. (1 420 a.C.[16] ou 1 375 a.C.[17]) os aqueus invadiram a ilha, no entanto, não foram encontrados substratos micênicos em Festo o que pode indicar que o sítio foi completamente abandonado.

O local foi reabitado durante o período geométrico, sendo que a partir do milênio I a.C. a cidade perdeu gradativamente sua influência na ilha devido a proeminente expansão da cidade vizinha de Gortina.[18] Festo possuía sua própria moeda, que tinha entre suas representações Europa sentada em um touro, Talos com asas, Hércules sem barba sendo coroado e Zeus na forma de um jovem nu sentado em uma árvore. As deusas Afrodite e Leto eram cultuadas. Segundo Estrabão, Epimênides era nativo da cidade.[19]

Durante o período helenístico Festo criou uma aliança com outras cidades autônomas de Creta, e com o rei de Pérgamo Eumenes II. Em 200 a.C.[12] Festo foi destruída por Gortina e desde então deixou de existir na história da ilha de Creta.[19]

Arqueologia editar

 
Dracma com efígie do gigante Talos, Festo
 
Lado A do Disco de Festo

A descoberta e identificação de Festo tiveram como principal base os textos de Estrabão,[20] que determinou a posição de Festo entre a cidade vizinha de Gortina, Mátala (porto de Festo) e do mar. Em 1884, o arqueólogo italiano Alberto visitou a área tendo acidentalmente encontrado oferendas funerárias protopalacianas perto da igreja de Santo Onofre, no norte da área, e a caverna de Camares (de onde provêm o nome de um estilo artístico minoico[21]) na encosta da montanha Psiloritis (Monte Ida). De 1900 em diante, as escavações foram feitas pela Escola Arqueológica Italiana de Atenas, que trouxe à luz as famosas ruínas de Festo. Festo foi escavada pela primeira vez pelos arqueólogos italianos Federico Halbherr e Luigi Pernier. Em 1908 Pernier encontrou nas ruínas de Festo o famoso Disco de Festo[22] (um disco de barro datado entre 1900 e 1 450 a.C.). Novas escavações em 1950-1971 foram conduzidas por Doro Levi que descobriu uma grande fração do palácio. Próximo as ruínas palacianas foram encontradas as criptas dos governantes locais.

O nome do sítio também apareceu em textos em Linear A parcialmente decifrados, e é provavelmente semelhante à micênica "P-A-I-T-O" como escrito em Linear B. Vários koulourai (silos ou latrinas subterrâneas) foram encontrados em Festo.[23] Cerâmica dos períodos minoano médio e recente foi recuperada, estando inclusos itens policromados e imitações de trabalho em metal. Os itens encontrados em Festo incluem tigelas, copos, jarras altas e pitos imensos com padrões geométricos e zoomórficos, assim como joias.[18]

Em Festo é bem visível os restos da ala ocidental do palácio do período protopalaciano, uma ala rodeada por uma série de grandes pátios pavimentados em três níveis diferentes que foram adentrados por meio de duas entradas principais, bem como através de pelo menos cinco entradas menores. Este palácio foi semelhante ao de Cnossos, embora este fosse menor. Sobre suas ruínas um palácio foi construído,[4] no entanto, era menor que o anterior.[24] Festo possuía um teatro, assim como o sítio de Cnossos e, possivelmente, Mália.[23] Fontes subterrâneas ao palácio, assim como o pequeno rio Ieropótamo foram utilizados para abastecimento do palácio que ostentava um complexo sistema de saneamento de água, uma característica arquitetônica minoica.[12]

O palácio dispõe de um pátio central de 55 metros por 25 metros alinhado a dois pórticos com colunas alternadas e pilares e provido de grande número de corredores. Possuía alas residenciais, cultuais, ateliês e armazéns; estatuetas, vasos cultuais, criptas pilares, bacias lustrais, um forno e machados duplos talhados na pedra foram descobertos, assim como vários artefatos com inscrições em Linear A.[25] Os aposentos reais localizam-se na parte norte do palácio e receberam os respectivos nomes de "Mégaro do Rei" e "Mégaro da Rainha".[3]

Referências

  1. Machado, J. P.. Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, verbete "Festo".
  2. «Phaistos Palace Photos and Information» (em inglês). Matala-holidays.gr. Consultado em 11 de dezembro de 2011 
  3. a b «Festos» (em inglês). www.minoancrete.com. Consultado em 13 de dezembro de 2012 
  4. a b Faure 2009, p. 222-223.
  5. Homero. Ilíada século VIII a.C., p. V.648
  6. Homero. Odisseia século VIII a.C., p. V.269
  7. Homero. Ilíada século VIII a.C., p. 80; II. v. 569
  8. Diodoro Sículo século I a.C., p. 5.28.
  9. Pausânias 160–176, p. IV. 7.
  10. Pausânias 160–176, p. 2.6.6.
  11. Pausânias 160–176, p. 2.6.7.
  12. a b c d «Phaistos archaeological site» (em inglês). Ancient-greece.org. Consultado em 11 de dezembro de 2011 
  13. «Phaistos profile» (em inglês). www.minoancrete.com. Consultado em 11 de dezembro de 2011 
  14. Alexiou 1960, p. 23
  15. Salles 2008, p. 11.
  16. Roebuck 1966, p. 77.
  17. Welwei 2002, p. 12-18.
  18. a b C. Michael Hogan. «Phaistos Fieldnotes, The Modern Antiquarian (2007)» (em inglês). Themodernantiquarian.com. Consultado em 11 de dezembro de 2011 
  19. a b Estrabão século I, p. X.4.14.
  20. Estrabão século I, p. Χ.479.14.
  21. Alexiou 1960, p. 25.
  22. Haughton 2007, p. 115.
  23. a b «Middle Minoan Crete: Architecture» (em inglês). Dartmouth.edu. Consultado em 11 de dezembro de 2011 
  24. Alexiou 1960, p. 34.
  25. Alexiou 1960, p. 120.

Bibliografia editar

  • Alexiou, Sotiris (1960). La Crète minoenne (em francês). [S.l.: s.n.] 
  • Diodoro Sículo (século I a.C.). Biblioteca Histórica (em grego). [S.l.: s.n.] 
  • Estrabão (século I). Geographia (em grego). [S.l.: s.n.] 
  • Faure, Janine (2009). Grandes Enigmas da Humanidade (em francês). II – Fantasmas, Vidas Passadas, Premonições, Poderes Extraordinários, Monstros Humanos e dos Oceanos, Crianças Selvagens, Civilizações Desaparecidas, Pirâmides. [S.l.: s.n.] ISBN 978-85-7635-612-7 
  • Haughton, Brian (2007). Hidden History: Lost Civilizations, Secret Knowledge, and Ancient Mysteries (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 1564148971 
  • Homero (século VIII a.C.). Odisseia. [S.l.: s.n.]  Tradução em português: Odisseia. São Paulo: Martin Claret. 2011b. ISBN 85-7232-549-2 
  • Pausânias (160–176). Descrição da Grécia (em grego). [S.l.: s.n.] 
  • Roebuck, Carl (1966). The World of Ancient Times (em inglês). Nova Iorque: [s.n.] 
  • Salles, Catherine (2008). Larousse das Civilização Antigas. Vol. I Dos faraós à fundação de Roma. São Paulo: Larousse do Brasil. ISBN 978-85-7635-443-7 
  • Welwei, Karl-Wilhelm (2002). Die Griechische Frühzeit (em alemão). [S.l.: s.n.] ISBN 3406479855 

Ligações externas editar

 
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