Planalto de Lasíti

O planalto de Lasíti (em grego: Οροπέδιο Λασιθίου; romaniz.:Oropédio Lasitíou), por vezes grafado Lassithi ou Lasithi, é um planalto endorreico e um município do centro-leste da ilha de Creta, Grécia, pertecente à unidade regional de Lasíti. O município, cuja capital é Tzermiado,[2] tem 129,976 km² de área e em 2011 tinha 2 387 habitantes (densidade: 18,4 hab./km²).[1]

Grécia Planalto de Lasíti

Οροπέδιο Λασιθίου

Oropédio Lasitíou

 
  Município  
Vista de parte do planalto de Lasíti
Vista de parte do planalto de Lasíti
Vista de parte do planalto de Lasíti
Localização
Localização do município do Planalto de Lasíti em Creta
Localização do município do Planalto de Lasíti em Creta
Localização do município do Planalto de Lasíti em Creta
Planalto de Lasíti está localizado em: Creta
Planalto de Lasíti
Localização do planalto de Lasíti em Creta
Planalto de Lasíti está localizado em: Grécia
Planalto de Lasíti
Localização do planalto de Lasíti na Grécia
Coordenadas 35° 11' N 25° 28' E
País Grécia
Região Creta
Unidade regional Lasíti
Administração
Capital Tzermiado
Características geográficas
Área total 129,976 km²
População total (2011) [1] 2 387 hab.
Densidade 18,4 hab./km²
Altitude 840 m
Código postal 920700
Sítio www.oropedio.gr
O planalto coberto de neve em março de 2011

Descrição editar

O planalto propriamente dito situa-se a uma altitude média de 840 metros de altitude, cerca de 23 km a sul da costa de Mália, 45 km a oeste de Ágios Nikolaos e 55 km a sudeste de Heraclião (distâncias por estrada).

É uma área na cordilheira dos montes Dícti, cercada por montanhas, mais altas do lado sul, com aproximadamente 11 km na direção leste-oeste e 6 km na direção norte-sul. É uma zona agrícola muito fértil, famosa pelas suas aldeias tradicionais e ainda mais pelos seus moinhos de vento, que na realidade são bombas de elevação de água, que há séculos que são usadas para irrigação.[3] Estes moinhos, que no passado chegaram a ser 10 000, estão em grande parte abandonados em favor de bombas diesel e elétricas. Devido à natureza endorreica do planalto e ao facto de existir uma camada de rocha impermeável imediatamente abaixo do solo, o nível freático está muito próximo da superfície, o que faz com que todos os enterramentos nos cemitérios sejam acima do solo, em mausoléus de pedra ou caixas de pedra decoradas.

Os habitantes do planalto vivem sobretudo da agricultura e pecuária. O turismo também tem alguma importância na economia local.[3]

História editar

A fertilidade do planalto, devida à escorrência superficial da fusão das neves das montanhas em volta, atraiu habitantes desde o Neolítico (6 000 a.C.).[4] Seguiram-se os minoicos e dóricos e a região é continuamente habitada desde então, exceto durante um período que começou em 1293 e durou mais de dois séculos, durante a ocupação veneziana de Creta. Durante esse período, devido às frequentes rebeliões e forte resistência, as aldeias foram demolidas, o cultivo foi proibido e os locais foram forçados a abandonar às suas terras e proibidos de regressar; quem desobedecesse sujeitava-se à pena de morte. Um manuscrito veneziano do século XIII descreve o problemático planalto de Lasíti como a "spina nel cuore [di Venezia]" ("o espinho no coração de Veneza"). Mais tarde, no início do século XV, os governantes venezianos autorizaram refugiados do Peloponeso oriental, na Grécia continental, a fixarem-se na área e a cultivar a terra novamente. Para assegurar boas colheitas, os venezianos desenharam um extenso sistema de valas de drenagem, chamadas localmente línies (λίνιες), que foi construído entre 1514 e 1560 e ainda é usado atualmente. As valas levam a água para Chónos (Χώνος), uma dolina na orla ocidental do planalto.

Em janeiro de 1823, durante a guerra de independência da Grécia, Hassan Paxá comandou um exército de tropas otomanas e egípcias enviadas por Mehmet Ali, que ocupou o planalto e matou a maior parte dos seus habitantes que não tinham fugido para as montanhas. Em maio de 1867, durante a Grande Revolta Cretense, tropas otomanas e egípcias sob o comando de Omar Paxá e Ismail Selim Paxá marcharam novamente para a região com o objetivo de infligir um golpe decisivo nos revoltosos que usavam o planalto como o seu refúgio. Depois de combates ferozes, os rebeldes em desvantagem numérica foram derrotados e forçados a retirar para as encostas da serra de Dícti. Entre 21 e 29 de maio, muitos dos habitantes das aldeias foram massacrados ou feitos escravos, as suas casas foram incendiadas depois de saqueadas, as colheitas foram destruídas e o gado foi morto.[5] O mosteiro de Kroustalenia, que tinha sido a sede do comité revolucionário, foi também demolido.

Durante a ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial, entre 1941 e 1944, os cumes em volta do planalto foram usados como esconderijos por combatentes locais da resistência.

Sítios arqueológicos editar

No planalto e suas imediações há várias cavernas com interesse arqueológico, das quais a mais célebre é a de Psicro (Ψυχρό), situada numa encosta íngreme acima da aldeia com o mesmo nome, conhecida como Diktaion Andron (Δικταίον Άντρον) e que se pensa poder ser a Caverna Ideana, onde segundo a mitologia grega nasceu o deus Zeus e foi onde este se escondeu com a sua amante Europa depois de a ter raptado. A caverna de Psicro foi um santuário minoico e micénico.

Nas montanhas imediatamente a norte do planalto situa-se o sítio arqueológico de Carfi, que se acredita ter sido o último reduto da civilização minoica.

Estudos genéticos da população editar

 
Rua de Tzermiado

Devido ao seu isolamento — a primeira estrada que ligou o planalto ao exterior só foi aberta na década de 1970 — a área atraiu a atenção dos estudiosos de genética genética populacional. Um estudo do DNA-Y realizado em 2007 mostrou que as amostras de DNA-Y recolhidas no planalto de Lasíti diferiam significativamente das recolhidas nas terras baixas de Creta, o que pode ser uma indicação de que a região serviu de refúgio a populações minoicas.[6]

Um estudo do DNA mitocondrial de amostras de ossos de um ossário minoico do planalto, datadas de há 4 400–3 700 anos, mostrou que essas amostras estão mais próximos geneticamente das recolhidas em populações moderna do planalto, bem como de outras populações da Grécia e da Europa ocidental e do norte, do que das recolhidas no Egito e outras partes do Norte de África. Segundo os autores desse estudo, esses resultados são consistentes com a hipótese do planalto ter servido como refúgio dos últimos minoicos e que os atuais nativos do planalto são portadores da assinatura genética materna da população minoica.[7]

Notas e referências editar

  1. a b «Resultados do censo de 2011» (XLS). www.statistics.gr (em grego). Serviço Estatístico Nacional da Grécia 
  2. «Lei "Kallikratis" (reforma administrativa)» (PDF). www.kedke.gr (em grego). Ministério do Interior da Grécia. 11 de agosto de 2010. Consultado em 1 de março de 2014 
  3. a b Fisher, John; Garvey, Geoff (2007), The Rough Guide to Crete, ISBN 978-1-84353-837-0 (em inglês) 7ª ed. , Nova Iorque, Londres, Deli: Rough Guides, p. 170–172 
  4. Watrous, Livingston Vance (1982), «Lasithi: A History of Settlement on a Highland Plain in Crete», Princeton: American School of Classical Studies in Athens, Hesperia (em inglês) (Supplement 18) 
  5. Panagiotakis, G. (2 de junho de 2006), « (As batalhas no Planalto de Lasíti na grande revolução de 1866-1869, durante a terceira década de maio 1867», A. Mykoniati, www.patris.gr (em grego), consultado em 1 de março de 2014 
  6. Martinez, Laisel; Underhill, Peter A.; Zhivotovsky, Lev A.; Gayden, Tenzin; Moschonas, Nicholas K. (janeiro de 2007), «Paleolithic Y-haplogroup heritage predominates in a Cretan highland plateau», European Society of Human Genetics. Nature Publishing Group, European Journal of Human Genetics, ISSN 1018-4813 (em inglês), 15 (4): 485–493, PMID 17264870, doi:10.1038/sj.ejhg.5201769, consultado em 1 de março de 2014  |nome6= sem |sobrenome6= em Authors list (ajuda)
  7. Hughey, Jeffrey R.; Peristera, Paschou; Drineas, Petros; Mastropaolo, Donald; Lotakis, Dimitra M. (2013), «A European population in Minoan Bronze Age Crete», Macmillan, Nature Communications, ISSN 2041-1723 (em inglês), 4, doi:10.1038/ncomms2871, consultado em 1 de março de 2014  horizontal tab character character in |first6= at position 38 (ajuda); |nome6= sem |sobrenome6= em Authors list (ajuda)


 
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