Designa-se por poder temporal a influência de poder, tanto de governação como político, que exerce o Vaticano sobre as pessoas, em especial o poder do Vigário de Cristo - o Papa - em contraste com o seu poder espiritual sobre a Igreja Católica e outros grupos, também chamado de poder eterno.

Papa Bonifácio VIII, defensor da Plenitudo potestatis

Este poder ou actividade permitiu o autogoverno dos Estados Pontifícios, que actualmente se limitam ao Estado do Vaticano. No seu apogeu, os Estados Pontifícios tornaram-se um Estado com a sua própria moeda e legislatura, em pé de igualdade com qualquer outra nação da Europa. Há quem chame este estado nacional, governado por uma autoridade religiosa, uma "teocracia", comparando-se assim com alguns regimes islâmicos que vivem também uma forma de teocracia.

Alguns historiadores classificam a coroação de Carlos Magno, em 800, como o momento no qual a Igreja Católica começou a implementar uma política internacional do poder temporal.

O poder temporal sempre foi discutido em política, filosofia e teologia, sobretudo nos países onde o Vaticano exerce esse poder em vários graus, sendo que este poder é aplicado de formas distintas que variam com a personalidade do Papa, o contexto histórico internacional, e o apoio popular do povo católico.

Um exemplo do uso questionável dessa influência do poder sobre o mundo deu-se na época da Inquisição. Para alguns críticos, na época da Inquisição Católica, o poder temporal era exercido com mais influência e, portanto, estava mais distante dos Evangelhos e da Cúria Romana. A resposta mais popular a esse tipo de crítica é que o objetivo final dessa política é, ou foi, a extensão do Evangelho a todos os povos.

Por razões práticas, de Realpolitik, o poder temporal do Papa terminou em 20 de setembro de 1870, quando o exército italiano entrou em Roma e completou o movimento denominado Risorgimento. Formalmente, o poder temporal terminou em 1929 com o Tratado de Latrão que estabeleceu a convivência da Cidade do Vaticano com a Itália.

História editar

O Papa Gregório II desafiou o imperador bizantino imperador bizantino Leão III, o Isauriano como resultado da primeira controvérsia iconoclasta (726 d.C.) no Império Oriental, e preparou o caminho para uma longa série de revoltas, cismas e guerras civis que eventualmente levaram ao estabelecimento do poder temporal dos papas.

O poder temporal foi abolido por Napoleão Bonaparte, que dissolveu os Estados papais e incorporou Roma e Latium em seu Primeiro Império Francês, em 1809. O poder temporal foi restaurado pelas Grandes Potências na conclusão das Guerras Napoleónicas no Congresso de Viena de 1815]. O Código Napoleônico foi abolido, e a maioria dos funcionários públicos foi retirada do cargo. A oposição popular ao governo clerical corrupto reconstituído levou a numerosas revoltas, que foram suprimidas pela intervenção do exército austríaco.

Em novembro de 1848, após o assassinato de seu ministro Pellegrino Rossi, o Papa Pio IX fugiu de Roma. Durante uma manifestação política em fevereiro de 1849, um jovem herege, o abade Arduini, descreveu o poder temporal dos papas como uma "mentira histórica, uma impostura política e uma imoralidade religiosa".[1] Em 9 de fevereiro de 1849, a recém-eleita Assembleia Romana proclamou a República Romana. Posteriormente, a Constituição da República Romana[2] aboliu o poder temporal, embora a independência do papa como chefe da Igreja Católica tenha sido garantida pelo artigo 8º do "Principi fondamentali".

Ver também editar

Referências

  1. Jasper Ridley, Garibaldi, Viking Press (1976) p. 268
  2. «Cópia arquivada». Consultado em 8 de fevereiro de 2018. Arquivado do original em 27 de setembro de 2013