Poema
Um poema é uma expressão textual de poesia[1]. Geralmente, é escrito em versos nos padrões de alguma forma fixa, a exemplo do soneto, da ode e da epopeia. O conteúdo é apresentado por um eu lírico e marcado por uma linguagem poética (ritmo, rima, metáfora etc.). Sua forma, geralmente, reflete o caráter do seu conteúdo, a saber, o gênero poético (lírico ou épico) e o tema[2]. Ele pode ser lido ou cantado, mas as composições poéticas feitas para serem cantadas não costumam receber esse nome, sendo chamadas apenas de canções[3].

Conceito
editarSegundo Afrânio Coutinho, "a palavra poema é, desde que adotada por Alfred de Vigny, no século XIX, a forma que encorpa a poesia lírica (não obstante se denominar a epopeia um "poema épico", e se poder encontrar lirismo em outros gêneros, como a ficção e o drama)"[1]. Sendo assim, o conceito de poesia é intrinsecamente ligado à produção do gênero literário de poesia, sendo um nome comum para designar qualquer obra resultante desse gênero.
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada— Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira. Exemplo de poema.
Algumas fontes, procurando uma definição formal de poema, dizem que ele é um texto escrito em versos, a exemplo do Dicionário Aulete, que o define como um "texto literário escrito em verso"[4]. Contudo, Aristóteles, no século IV a.C, já argumentava que a poesia não se define por isso, porque qualquer tipo de texto pode ser escrito em versos[5]. Além do mais, é bem conhecida a existência de poemas em prosa.
Decerto as pessoas associam poiein ao nome da métrica e chamam alguns de poetas elegíacos, e outros de poetas épicos. Isso, contudo, não significa classificá-los como poetas devido à imitação, mas devido à métrica de que compartilham; consequentemente, se um autor escreve sobre medicina ou física sob forma métrica, ainda assim as pessoas o designarão mediante esses termos. Todavia, Homero e Empédocles nada tem em comum, exceto a métrica que utilizaram – Aristóteles[5]
Ainda, Massaud Moisés observa que "o poema não é a sua apresentação formal, gráfica, é, sim, a soma de significantes e significados mediante os quais o poeta procura comunicar-se"[6].
Aspectos formais
editarOs poemas podem apresentar uma variedade de aspectos quanto à sua forma, dependendo do propósito dos seus autores. Em geral, eles contém ritmo prosódico, figuras de sonoridade, tropos e jogos de palavras, visto que esses são os principais artifícios da poesia[7].
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã.
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã.— Se eu morresse amanhã, de Álvares de Azevedo. Exemplo de poema.
O conteúdo do poema é apresentado por um eu lírico. Este é um conceito usado para descrever a voz que se manifesta em um poema, visto que nem sempre esta se identifica com a do seu autor[8] (por exemplo, na canção Pela décima vez, de Noel Rosa, se manifesta a voz de uma mulher, apesar do texto ser escrito por um homem).
Formas fixas
editarOs poemas são compostos de acordo com "moldes estruturais [...] segundo o critério de adequação entre linguagem e conteúdo, entre significante e significado"[9]. Esses moldes são popularmente conhecidos como formas fixas e ditam o número e o tipo dos versos, o esquema de rimas, o desenvolvimento do texto, dentre outras coisas. Dentre as formas fixas, estão o soneto, a ode, a epopeia, o haiku, etc.
Um soneto, por exemplo, é composto por quatorze versos métricos, dividido em quatro estrofes, dois quartetos e dois tercetos, sendo que os quartetos apresentam a proposição de um problema e o mesmo esquema de rimas, e os tercetos, a conclusão desse problema e um esquema de rimas distinto[10].
Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.
Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!
Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,
Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!— Remorso, de Olavo Bilac. Exemplo de soneto.
Leve-se em conta que o soneto, além de sua forma poética que expressa ritmo, métrica, sonoridade (rima) e poesia, também apresenta seu concretismo plástico, pois, para se apresentar graficamente, deve ser exposto de forma integral, mostrando toda sua beleza plástica.[11]
Contudo, desde o século XIX, com o advento da poesia moderna, diversos poemas têm sido compostos sem enquadrar-se em uma forma fixa definida, muitas vezes apresentando versos livres e brancos. Esse movimento não só desgastou o conceito das formas fixas como também operou diversas transformações em muitas delas.
Como se sabe, a partir da revolução romântica, com o liberalismo estético, paralelo ao político, religioso e filosófico, deu-se a desintegração das formas poéticas. Estas, com a modernidade, quase se reduziram a objetos de museu, sobretudo as chamadas formas fixas, ou poemas de forma fixa. – Massaud Moisés[12]
Referências
- ↑ a b COUTINHO, 2015, p. 83.
- ↑ COUTINHO, 2015, p. 87.
- ↑ AMORIM, Alexandre (27 de abril de 2010). «Ler uma canção, escutar um poema». Revista Educação Pública. Consultado em 10 de maio de 2025
- ↑ AULETE, Caldas (2011). Novíssimo Aulete dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon. p. 1079. ISBN 9788586368752
- ↑ a b ARISTÓTELES (2011). Poética. São Paulo: Edipro. pp. 38–39. ISBN 9788572837590
- ↑ MOISÉS, 2013, p. 72.
- ↑ COUTINHO, 2015, p. 82-83.
- ↑ DIANA, Daniela. «Eu lírico: o que é, como identificar e exemplos». Toda Matéria. Consultado em 10 de maio de 2025
- ↑ MOISÉS, 2013, p. 55-56.
- ↑ MOISÉS, 2013, p. 230-237.
- ↑ CAMELO, Paulo (2011). «Soneto». Recanto das Letras. Consultado em 11 de maio de 2025
- ↑ MOISÉS, 2013, p. 216.
Bibliografia
editar- COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Vozes, 2015. ISBN 9788532637475.
- MOISÉS, Massaud. A criação literária: poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012. ISBN 9788531611810.