Populismo de direita

ideologia política
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Populismo de direita é uma ideologia política que combina ideais da direita política com uma retórica e temas populistas. De acordo com a definição do cientista político neerlandês Cas Mudde, o populismo é uma ideologia política que divide a sociedade em duas entidades homogêneas e antagônicas: o povo e as elites. Na perspectiva de direita, as elites políticas e o Estado são intrinsecamente corruptos e burocráticos,[1] portanto, há uma retórica que apela para os indivíduos que se identificam com políticas "anti-Estado" e com a visão de que indivíduos de outras tendências políticas são adversários (comumente associados com o globalismo ou a extrema-esquerda).[2][3]

Em sentido horário do topo:
O ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro e o ex-presidente dos EUA Donald Trump em 2019; O Presidente da Argentina Javier Milei e sua vice Victoria Villarruel durante suas posses em 2023; A primeira-ministra da Itália Giorgia Meloni discursando no CPAC em 2022; O Presidente de El Salvador Nayib Bukele em 2019. Todos exemplos de populistas de direita.

Tal como o populismo de esquerda, o populismo de direita emprega sentimentos contra o elitismo, oposição ao Estabelecimento e um discurso que busca a simpatia de "pessoas comuns". No entanto, os populistas de direita concentram-se geralmente em questões culturais, afirmando frequentemente defender valores tradicionais e identidade nacional contra o progressismo e o multiculturalismo enquanto os populistas de esquerda empregam mais frequentemente argumentos econômicos e atacam o neoliberalismo e o papel das grandes corporações na sociedade.[2][4]

Frente a dilemas contemporâneos como as mudanças climáticas e o combate a pandemias, muitos populistas de direita se mantém antiambientalistas[5] e contrários a medidas como lockdowns e vacinação obrigatória.[6][7][8][9] A criminalidade também é uma pauta recorrente entre eles, com sua defesa da lei e ordem assumindo um caráter punitivista.[10]

Na Europa, o populismo de direita também se distingue do nacional-populismo pois, ainda que ambos tenham uma postura socialmente conservadora, eurocética[11] e crítica da imigração (especialmente de muçulmanos),[12] o nacional-populismo tende ao nacionalismo econômico[13][14][15] e ao bem-estarismo chauvinista,[16][17][18][19] rejeitando a globalização,[20][21] enquanto o populismo de direita rejeita o globalismo mas apoia políticas de livre mercado e conservadorismo fiscal.[22][23][24][25] Apesar das diferenças, é comum serem usados como sinônimos e descritos como totalitários.[26]

A partir dos anos 1990, partidos populistas de direita se estabeleceram nas legislaturas de várias democracias, como Canadá, Noruega, França, Israel, Polônia, Rússia, Romênia e Chile. Participaram de governos de coalizão na Suíça, Áustria, Países Baixos, Nova Zelândia e Itália.[27] Embora os movimentos de extrema-direita nos Estados Unidos tenham sido estudados separadamente, onde são normalmente chamados de "direitistas radicais", alguns autores consideram que eles são parte do mesmo fenômeno.[28] O populismo de direita é distinto do conservadorismo, mas vários partidos populistas de direita têm suas raízes em partidos políticos conservadores.[29] Muitos populistas de direita europeus no século XXI se mostram russófilos em suas campanhas políticas.[30]

Ver também editar

Referências

  1. Girit, Selin (10 de dezembro de 2023). «O populismo é uma ameaça à democracia?». BBC News Brasil. Consultado em 23 de janeiro de 2024 
  2. a b Akkerman, Agnes (2003) "Populism and Democracy: Challenge or Pathology?" (em inglês) Acta Politica n.38, pp.147-159
  3. «'O populismo de direita perde força onde se percebe os efeitos deletérios do capitalismo'». CartaCapital. 28 de dezembro de 2021. Consultado em 23 de janeiro de 2024 
  4. Greven 2016.
  5. Bierbach, Mara (26 de fevereiro de 2019). «Climate protection: Where do the EU's right-wing populists stand?». Deutsche Welle (em inglês). Consultado em 5 de junho de 2019 
  6. Gruber, Mirjam; Isetti, Giulia; Ghirardello, Linda; Walder, Maximilian (5 de julho de 2023). «Populism in Times of a Pandemic: A Cross-Country Critical Discourse Analysis of Right-Wing and Left-Wing Populist Parties in Europe». Populism (em inglês) (2): 147–171. ISSN 2588-8072. doi:10.1163/25888072-bja10049. Consultado em 6 de fevereiro de 2024 
  7. Vazquez, Daniel Arias; Schlegel, Rogerio (6 de maio de 2022). «Covid-19, Fundeb e o populismo do governo Bolsonaro nas relações federativas». Revista Brasileira de Ciência Política: e255785. ISSN 0103-3352. doi:10.1590/0103-3352.2022.38.255785. Consultado em 6 de fevereiro de 2024 
  8. «Populistas estimulam protestos contra passaporte de vacina na França e Itália». Estado de Minas. 3 de agosto de 2021. Consultado em 6 de fevereiro de 2024 
  9. Giovanaz, Daniel (4 de outubro de 2021). «Bolsonarismo tem raízes em um Brasil construído à margem do Estado, afirmam pesquisadores». Brasil de Fato. Consultado em 6 de fevereiro de 2024 
  10. Bonner, Michelle (8 de junho de 2021). «O que é o populismo punitivista? Uma tipologia baseada na comunicação midiática». USP. MATRIZes. 15 (1) 
  11. Buruma, Ian (10 de março de 2017). «How the Dutch Stopped Being Decent and Dull». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 23 de janeiro de 2024 
  12. Kallis, Aristotle (2018). «Part I: Ideology and Discourse – The Radical Right and Islamophobia». In: Rydgren, Jens. The Oxford Handbook of the Radical Right (em inglês). Oxford and New York: Oxford University Press. pp. 42–60. ISBN 9780190274559. LCCN 2017025436. doi:10.1093/oxfordhb/9780190274559.013.3 
  13. «The New Nationalism». Online Library of Law & Liberty (em inglês). 8 de dezembro de 2016. Consultado em 24 de março de 2017 
  14. Taub, Amanda (8 julho de 2016). «A Central Conflict of 21st-Century Politics: Who Belongs?». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 24 de março de 2017 
  15. «The End of Reaganism». Politico (em inglês). Consultado em 24 de março de 2017 
  16. Edsall, Thomas (16 de dezembro de 2014). «The Rise of 'Welfare Chauvinism'». The New York Times (em inglês). Consultado em 4 de janeiro de 2015 
  17. Rippon, Haydn (4 de maio de 2012). «The European far right: actually right? Or left? Or something altogether different?». The Conversation (em inglês). Consultado em 4 de janeiro de 2015 
  18. Matlack, Carol (20 de novembro de 2013). «The Far-Left Economics of France's Far Right». Bloomberg. Consultado em 4 de janeiro de 2015 
  19. Busemeyer, Marius R.; Rathgeb, Philip; Sahm, Alexander H. J. (2 de março de 2021). «Authoritarian values and the welfare state: the social policy preferences of radical right voters». West European Politics (em inglês). 45: 77–101. ISSN 0140-2382. doi:10.1080/01402382.2021.1886497 
  20. Rydgren, Jens, ed. (2018). «Part I: Ideology and Discourse – The Radical Right and Islamophobia». The Oxford Handbook of the Radical Right (em inglês). Oxford and New York: Oxford University Press. pp. 42–60. ISBN 9780190274559. LCCN 2017025436. doi:10.1093/oxfordhb/9780190274559.013.3 
  21. North, Bonnie. «The Rise of Right-Wing Nationalist Political Parties in Europe» (em inglês). Consultado em 24 de março de 2017 
  22. Zembylas, Michalinos. Affect and the Rise of Right-Wing Populism. (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  23. «¿Por qué los libertarios viran hacia la extrema derecha?». El Cuaderno (em espanhol). 23 de março de 2019. Consultado em 23 de janeiro de 2024 
  24. «Right-Libertarian Populism - ECPS» (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024 
  25. Zwolinski, Matt (20 de outubro de 2023). «Javier Milei's Libertarian Populism». Project Syndicate (em inglês). Consultado em 23 de janeiro de 2024 
  26. Wolin, Sheldon (2008). Democracy Inc.: Managed Democracy and the Specter of Inverted Totalitarianism (em inglês). Princeton University Press.
  27. Norris 2005, p. 3.
  28. Kaplan & Weinberg 1998, pp. 1–2.
  29. Kaplan & Weinberg 1998, pp. 10–13.
  30. «Europeans favoring right-wing populist parties are more positive on Putin». Pew Research Center (em inglês). 24 de janeiro de 2017 

Bibliografia editar

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